História de Portugal
A Lusitânia
Os lusitanos, vulneráveis
antepassados dos portugueses, viviam na orla ocidental da Ibéria. Duas
fronteiras naturais os confinavam, a norte e a sul – o Douro e o Tejo.
Primitivamente, aquele era o nome de uma simples tribo, que pelas suas
qualidades de energia e tenacidade na defesa, se tornou mais notada dos
estranhos. O nome generalizou-se a outras tribos, depois a outros povos
limítrofes, que, todavia, não divergiam muito pelos caracteres étnicos. Estavam
nesse caso os calaicos, que habitavam ao norte do Douro, nas terras altas do
Noroeste.
Os dados antropológicos,
embora precários, porquanto os nossos antepassados usavam a cremação, são,
contudo, conducentes a provar que eles eram os descendentes da população
neo-eneolítica da região. Influências culturais tinham-nas recebido de outros
povos, que vieram comerciar, e até estabelecer colónias e feitorias, nos pontos
periféricos da Península. Ainda no século XII a.C. os fenícios, que então
possuíam o monopólio do comércio no Mediterrâneo, haviam fundado Gades (Cádis).
Nesse entreposto, como em outros que depois foram surgindo, recebiam dos
naturais da Península o produto das suas riquezas mineiras, que eles não sabiam
aproveitar, e trocavam por artefactos e produtos do Levante. Málaca (Málaga) e
Hispalis (Sevilha) foram de fundação fenícia. O nome de Lisboa “Olissipo”
parece de origem fenícia. Significaria “baía formosa”. No século VII a.C.,
começaram os gregos a desapossar os fenícios do domínio do comércio peninsular.
Sagunto, na costa oriental da Espanha, foi uma das cidades por eles fundadas.
(Aníbal,
militar e homem de estado cartaginês. Pormenor de pintura de 1527 (Museu de
Clermont-Ferrand.)
A invasão Céltica do século
VI a.C., foi mais profunda, embora muito menos importante em benefícios de
civilização. É uma primeira invasão dos bárbaros do Norte, dez séculos antes
das grandes migrações medievais. Um ramo dos célticos estabeleceu-se ao norte
do Douro, ocupando ainda parte da Galiza. Outro fixou-se na região de entre
Tejo e Guadiana. Mas a terra montanhosa a que depois se chamou Algarve, extremo
sudoeste da Meseta, continuou a ser habitada pelos cúneos ou cinetes.
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Os Lusitanos
“[…] A norte do Tejo fica a
Lusitânia, a maior das tribos ibéricas e que foi combatida pelos romanos
durante muito tempo. A lado Sul da Lusitânia forma-o o Tejo; os lados oeste e
norte, o oceano; o lado leste, carpetanos, Vetões e Calaicos […] Umas trinta tribos
habitam o território entre o Tejo e os Ártabros. Apesar de o território ser
rico em frutos e gado e pela quantidade de ouro, prata e outros metais, a maior
parte dos habitantes, deixando de viver da terra, viviam do roubo e em guerra
permanente […], até que os Romanos acabaram com isto, sujeitando-os e
transformando a maior parte das cidades em povoados não fortificados […]. Os
lusitanos são muito inclinados a sacrifícios e examinam as entranhas, mas sem
as extraírem […]. Também cortam as mãos dos prisioneiros e dedicam as direitas
aos seus deuses […]. Tomam as suas refeições sentadas, tendo bancos de pedra
dispostos em redor dos muros. Dão a presidência aos de mais idade e categoria
social. Lançam do alto dos rochedos os condenados á morte e apedrejam os que
mataram os seus pais, fora das cidades ou além-fronteiras. Casam-se com os
Gregos.”
In Geografia, III de
Estrabão
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Certos termos célticos
persistiram na linguagem das populações do país, sobretudo na composição dos
nomes de cidades e povoações, como por exemplo o elemento briga, que
aparece em Conímbriga e Caetóbriga. Aquele termo significava “monte
fortificado”. As povoações dos lusitanos, como as dos antigos romanos, eram
edificadas em eminências do terreno, para mais fácil defesa. Os inúmeros
castros (crastos na linguagem popular), restos de povoações fortificadas no
cimo de colinas, e que se encontram no nosso país de Norte a Sul, não são de
proveniência romana, como se julgou. Já existiam, havia muito, antes da romanização
da Península e com ela receberam aquela designação de castros, e ainda
as de citânias e cividades.
Pelo mesmo tempo que se
produz a invasão céltica, as costas peninsulares são afanosamente procuradas
pelos mercadores cartagineses, que em vários pontos fundam estabelecimentos ou
povoações, absorvendo muitas das antigas colónias dos seus parentes fenícios,
designada então por Tartessos. Os novos exploradores de Espanha dominam
toda a Bética (Andaluzia), e são levados a pensar na conquista militar da Península,
quando expulsos pelos romanos da Sicília e das ilhas próximas, na chamada
Primeira Guerra Púnica. A ocupação do litoral do Mediterrâneo é feita por
Amílcar Barca, notável chefe militar, que tem de ir subjugar, no Ocidente, as
tribos revoltadas dos lusitanos (238 a.C.).
morre em plena guerra com os vetões, povo que vivia no planalto de Castela.
Seu genro Asdrúbal, por um governo de brandura, conciliação e alianças, firma a
posição dos cartagineses na Ibéria. Estabelece a capital numa povoação por ele
fundada à beira do Mediterrâneo, em face da Á
África, Nova Cartago
(Cartagena).
A Asdrúbal sucede no governo
da Espanha cartaginesa um filho de Amílcar, o arrojado Aníbal, que submete todo
o Ocidente peninsular. No litoral do antigo país dos cúneos (Algarve), funda Portus
Hannibalis (Portimão ou Alvor).
Um conflito entre Sagunto,
aliada de Roma, e várias cidades aliadas de Aníbal, dá aos romanos o pretexto
para o início da luta que deveria por termo ao crescente império dos
cartagineses (Segunda Guerra Púnica). Aníbal toma Sagunto, marcha para a
Itália, vence os romanos em canas e vai repousar nas delícias de Cápua, não se
atrevendo a assaltar Roma. O senado romano, porém, decreta a destruição do
poderio cartaginês ordenando a conquista da Espanha (218 a.C.).
(Cipião,
o Africano, ao apoderar-se de Nova Cartago, completa a conquista do litoral
mediterrânico.)
Na conquista da Ibéria
distinguem-se uma série de generais romanos, pertencentes á mesma família, a
dos Cipiões. Públio, Cornélio, Cipião, chamado “o Africano” pelas suas vitórias
em África, completa a conquista do litoral mediterrâneo, apoderando-se de Nova
Cartago (210 ou 209 a.C.).
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Juramento de Viriato
“ Os Lusitanos, carecendo ao
princípio de um chefe apropriado, apresentaram-se aios romanos como fácil presa
na sua luta; mais tarde, quando tiveram Viriato por chefe, infligiram grandes
reveses aos Romanos. Este era, por certo, um dos Lusitanos que viviam junto ao
mar oceano e, sendo pastor desde criança, viveu habituado à vida na montanha
[…] Acostumou-se a comer pouco, fazendo muitos exercícios, a dormir apenas o
necessário e, resumindo, inseparável das suas armas e mantendo lutas com feras
e ladrões, tornou-se famoso entre o seu povo, sendo eleito seu chefe […] Saindo
vitorioso nos combates, fez-se admirar pelos seu valor e gozou também fama de
excelente general […] nunca se mostrou como um bandido, mas como um chefe, e
lutou contra os Romanos, vencendo-os em muitas batalhas […]
In Biblioteca Histórica,
XXXIII, 1 de Diodoro Siculo
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Mas os povos do interior
mostraram-se insubmissos. A luta torna-se feroz. Por 193 a.C., os lusitanos
fazem valer a sua bravura. Derrotam um outro Cipião. No Ocidente Ibérico, Roma
encontra uma resistência que só subjugará ao fim de longa e pertinaz luta. O
pretor da Espanha, Sérvio Galba, é por eles vencido e vinga a derrota com uma
tremenda matança de lusitanos, que astuciosamente atraíra com promessas de aliança
perpétua (150 a.C.).
Mas o enérgico povo do
Ocidente reage. Tem por chefe Viriato, um pastor, como pastores são os
montanheses que o elegeram.
Entre os lusitanos o
processo favorito de combate é o de guerrilhas. Os romanos, habituados a
combater em campo raso, qualificam o processo de desleal. Chamando-lhe latrocinium.
(Legionários romanos
assaltam a cidade. Baixo-relevo da coluna de Marco Aurélio (Museu da
Civilização Romana, Roma).
O guerreiro lusitano usava
um escudo redondo com dois pés de diâmetro, que suspendia do pescoço, e brandia
o punhal, a lança de ponta de bronze, o alfange curvo, dardos de ferro. Vestia
cota de linho sobre a qual trazia o sagum (manto grosseiro que descia ao
joelho), preso com uma fíbula. Usava em geral os cabelos compridos e soltos,
atando-os com uma fita durante o combate; frequentemente protegia a cabeça com
capacete cónico, de couro. Batalhava tanto a pé, como a cavalo. Exercitava-se
continuamente nos jogos de destreza, no arremesso do dardo, no pugilato, na equitação,
em combates simulados.
Viriato organiza um exército
regular e invade a Turdetânia, no Sul da Península, vencendo as hostes romanas
(146 a.C.). Depois de vários anos de guerrilhas, em que os soldados de Roma não
levam a palma, o chefe lusitano trata a paz com o governador Quinto Fábio
Serviliano. Um outro Cipião, Quinto Servílio, leva o Senado romano a anular a
paz e encarrega-se de prosseguir a luta. Mas não consegue vencer pelas armas o
caudilho do Ocidente. Suborna três dos companheiros de Viriato, que o
assassinam (139 a.C.).
(Morte de Viriato. Quadro de
Jose de Madrazo y Agudo (Museu Nacional do Prado)
Morte de Viriato
“Audaz, Ditalco e Minuro, da
cidade do Urso, vendo que o grande prestígio de Viriato estava sendo afectado
pelos Romanos, temeram por si mesmos e decidiram prestar aos romanos um favor
mediante o qual pudessem obter a sua própria segurança […] Sabendo que Viriato
estava ansioso por acabar com a guerra, prometeram-lhe que convenceriam Cipião
a firmar um acordo de paz se os enviasse como embaixadores para negociar o fim
da luta. Como o chefe o consentisse de muito bom grado, apresentaram-se ante
Cipião e facilmente o persuadiram que lhes concedesse garantia de segurança
mediante promessa de que assassinariam Viriato. Uma vez que deram e receberam
por outro lado garantias sobre o tratado, regressaram prontamente ao
acampamento; depois de anunciar que tinham convencido os Romanos no referente á
paz, deram a Viriato enormes esperanças, ao tanto se empenharem em afastar o
mais possível da sua mente o verdadeiro propósito. Acreditados por ele mercê da
amizade, depois de entrarem durante a noite ocultamente na sua tenda e matarem
Viriato com golpes certeiros de espada, escaparam rapidamente do acampamento e,
valendo-se de caminhos intransitáveis pela montanha, chegaram salvos ao
encontro de Cipião.”
in Biblioteca Histórica,
XXXIII, 21 de Diodoro Siculo
(Monumento
a Viriato em Viseu)
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Dezenas de anos se passam
sem que o governo de Roma posso considerar-se senhor absoluto do Ocidente da
Ibéria. Na Itália estala a guerra civil, o conflito entre Mário e Sila. Mário
nomeia propretor da Espanha um partidário seu, Sertório (83 a.C.), o qual é
pouco depois destituído por Sila, quando este alcança o poder. Sertório vagueia,
fugitivo, pelas costas do Sul e pela África, até que no ano de 80 a.C., os
lusitanos o convidam a tomar a direcção da resistência contra Roma. O novo
chefe chega a derrotar o grande Pompeu (76 a.C.), mas de regresso á Lusitânia é
vítima de traição de Perpena, seu lugar-tenente. Este, que numa correria pelas
terras do Norte conquistara Cale, já então romana, conjurou-se com outros
lusitanos e assassinou Sertório num banquete (72 a.C.).
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Lusitanos e Portugueses
“Temos examinado as relações
que se poderiam dar entre nós e aquela porção de tribos célticas denominadas de
lusitanos. – Qual é o resultado de tudo o que fica dito? – que é impossível ir
entroncar com elas a nossa história ou delas descer logicamente a esta. Tudo
falta; a conveniência de limites territoriais, a identidade da raça, a filiação
da língua, para estabelecermos uma transição natural entre esses povos bárbaros
e nós.
[…] Por outra parte é
evidente que a antiga raça céltica, não só da Lusitânia, mas também de qualquer
outra parte da Península, se corrompeu, desaparecendo por fim na sucessão de
tantas invasões e conquistas como as que passaram por este solo. É sobretudo em
virtude do domínio romano que transformou radicalmente a sociedade.”
In História de Portugal, de
Alexandre Herculano
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(Júlio César, o grande
Imperador romano. Pintura de Alexandre Abel de Pujol.)
Caio Júlio César, o grande
César, vem governar a Espanha em 61 a.C.. Saqueia várias cidades da Lusitânia,
que lhe ofereceram resistência. Essa resistência manifesta-se sobretudo no
Norte. Os pastores do Hermínio (Serra da Estrela [?]) descem às terras baixas,
sendo batidos e repelidos até ao mar. mas as cidades do Sul recebem o enviado
Senado amigavelmente. Nessas, a romanização começara já a fazer-se. César
honra-as, dando-lhes o nome. Scallabis (depois santarém) passa a
denominar-se oficialmente Praesidium Julium. Olissipo transforma-se em Felicitas
Julia, Ébora em Liberalitas Julia. No local da moderna Beja, funda
César uma nova povoação, Pax Julia.
A guerra entre Pompeu e
César repercute-se em Espanha. César vem várias vezes à Península para submeter
os partidários daquele. Num dado momento a Bética é o reduto dos filhos de
Pompeu, que, após a morte do pai, ainda resistem. O ditador de Roma vence-os
definitivamente em Munda (45 a. C.).
Ao morrer, sob os golpes dos
conjurados Júlio César deixava a Espanha submetida, mas não inteiramente. Nas
Astúrias, na Galiza, incluindo a região de Entre Douro e Minho, ainda dominava
a rebeldia. É Octaviano Augusto que vem pessoalmente ao Ocidente da Península
completar a obra de submissão (25 a.C.). Brácara (depois Braga) recebe o
qualificativo de Augusta, que é dado a outras cidades da Espanha. A
Península está, finalmente, pacificada, e em breve tempo a romanização é
completa. As instituições políticas e administrativas são impostas. Mas os
costumes, a linguagem, a religião são adoptados pelas populações. A Espanha é
em tudo uma província do Império. Cada povoado de certa importância torna-se um
município à maneira romana, em que o povo tem direitos soberanos. Garantem-se
os interesses locais – o que estava nos hábitos de gente lusitana.
Parte da população da
Lusitânia, a das serranias do Centro e do Norte, vivia da pastoreação.
Alimentava-se de glandes de carvalho, que reduzia a farinha para fabricar pão.
Nas terras baixas dispersava-se uma população de agricultores, que cultivavam a
vinha e os cereais – trigo, centeio, cevada-, criavam gados e fabricavam
manteiga. No litoral e nas margens dos rios, onde mais densamente se agrupavam,
alimentavam-se também de peixe e de marisco. Para a pesca serviam-se de
embarcações de couro ou de troncos escavados e afeiçoados como barcos. O azeite
servia-lhes para untar os corpos, tornando-os mais ágeis para os exercícios
físicos.
Já usavam as águas minerais
como terapêutica. Apesar de fabricarem o vinho, mostravam-se sóbrios. Bebidas
prediletas eram a água, o leite de cabra e a cerveja de cevada. Só nos festins
usavam o vinho. Bebiam por vasos de madeira. A sua cerâmica era um tanto
primitiva; não conheciam a princípio a roda do oleiro: modelavam à mão vasos
sem ornatos de grande simplicidade, meras incisões, e estampavam-nos ou
pintavam-nos.
Vestiam-se de lã ou de pele
de cabra, os homens de negro, as mulheres de cor. Ornavam-se com colares,
manilhas, arrecadas, braceletes e outras joias de ouro, trabalhadas por
martelagem ou pelo processo da filigrana.
Conímbriga
“[…] será preciso
preocupar-se, nos edifícios particulares, com o modo como se devem situar as
diversas peças destinadas ao uso exclusivo ao dono da casa, e como serão as que
são comuns com os estranhos […]. Nas peças que se chamam reservadas, como os
quartos, salas de jantar, banhos e outras destinadas a usos semelhantes, não
podem entrar todos, mas apenas os que tiverem sido convidados. Ao contrário,
nas chamadas comuns pode entrar qualquer pessoa, mesmo sem ser convidada, tais
como nos vestíbulos, átrios, pátios […]. Para as pessoas de fortuna medíocre
não são necessários vestíbulos magníficos, nem grandes salões, nem átrios,
porque essas pessoas vão cortejar as outras, enquanto a elas ninguém as vem
procurar […]. Ao contrário, para advogados e homens de letras as casas devem
ser elegantes e amplas, capazes de receber muitas pessoas. Finalmente para os
nobiles e para os que, no exercício dos seus cargos ou magistraturas, devem
conceder audiência aos cidadãos, devem construir-se vestíbulos sumptuosos,
jardins e áleas de acordo com o decoro e respeitabilidade das pessoas, e para
além disso com bibliotecas, pinacotecas e basílicas instaladas de maneira que
possam rivalizar em magnificência com os edifícios públicos; porque com frequência
nestas casas realizam-se assembleias ou reuniões particulares, ou ainda
julgamentos arbitrais.”
Vitrúvio
Viviam em casas pequenas,
que no Norte eram circulares e no restante quadrangulares, edificadas de pedras
soltas, sendo os pavimentos térreos.
Os cadáveres eram cremados.
Todavia, os lusitanos praticavam o culto dos mortos. Professavam um politeísmo
confuso, usando o sacrifício de animais. Representavam, em esculturas
rudimentares, os seus guerreiros e os seus deuses.
Com a romanização, o tipo de
construção das habitações modificou-se. Adoptou-se a telha para os tectos, os
tijolos e mosaicos para os pavimentos.
Templos Romanos
“a composição da construção
dos tempos, depende da simetria, cujas regras devem, por isso, ser observadas
pelos arquitectos. Nasce a simetria da proporção que os gregos chamam analogia.
A proporção é uma correspondência de medidas entre uma determinada parte das
componentes de cada obra e os eu conjunto: desta correspondência depende a
relação das proporções […] Do mesmo modo, as partes de que se compõem os
edifícios sagrados devem ter correspondência exacta em dimensões entre cada uma
das suas partes e a sua total magnitude […]. Será períptero aquele [templo] que
tenha tanto na fachada como na parte posterior seis colunas e em cada lado,
onze [o de Évora apenas tinha nove colunas de cada lado], incluindo as dos
ângulos, separadas das paredes da nave pela mesma distância que entre elas,
formando assim em redor; no interior do templo, um lugar próprio para passear,
como no pórtico de Metelo, o templo de Júpiter Stator; construído por
Hermodoro, e o edifício de Mário […] no templo da Honra e do Valor; obra de
Murcio.”
In Da Arquitectura de
Vitrúvio.
A Lusitânia beneficiou
enormemente da cultura romana. Teve templos, teatros, circos, termas, pontes,
aquedutos, vilas, arcos de triunfo e estradas militares de modelo romano. De
Olissipo partiam três estradas para Augusta Emérita, Capital da Lusitânia, a Mérida
actual, passando uma por Caetóbriga (Setúbal), salácia (Alcácer do Sal) e
Ébora; outra por Scallabis; outra por Aritium (?). para o Norte seguia a que
terminava em Brácara. Lisboa era assim o centro de uma rede de vias, embora não
fosse a capital da divisão jurisdicional a que pertencia – o conventus
scallabitanus (sede em Scallabis).
(A Torre de Centum, em
Belmonte, é uma construção romana, de planta rectangular, volume único e três
pisos sobre a qual ainda hoje, de concreto, muito pouco se sabe.)
O latim vulgar, falado pelos
soldados romanos, generalizou-se; passou a ser a língua da Península,
perdendo-se a tradição dos antigos falares. O desenvolvimento económico foi
considerável. As indústrias primitivas progrediram na calma segurança da Paz Romana.
A cristianização desta
província do Império começou cedo. Já a perseguição de Nero (século I depois de
Cristo) atingiu os cristãos da Espanha. Os primeiros propagadores da nova fé
foram os mercadores e navegadores do Mar do Levante que visitavam as costas da
Ibéria. Quando da perseguição de Diocleciano (304), houve mártires em Olissipo,
Brácara e Ébora. No tempo do Império Constantino (século IV) o cristianismo
recebeu consagração oficial com o Édito de Milão, e a Igreja organizou-se na
Espanha ao mesmo tempo que na Itália. Na segunda metade do século, a Lusitânia
estava dividida, eclesiasticamente, em quatro dioceses, pelo menos: Brácara,
Olissipo, Ébora e Ossónoba (Faro).
(Vista parcial das termas de
São Cucufate, localidade no actual Alentejo onde se encontram vestígios de três
fases de construções romanas.)
Súmula e actualização
Mescla étnica
Na Península Ibérica, como
em outras Penínsulas, deu-se a sobreposição, ao longo do tempo, de numerosas
civilizações correspondentes a povos cujo movimento migratório era aqui
interrompido pelo mar. os vestígios arqueológicos são abundantes no território
português, e revelam presença de populações desde o Paleolítico superior (há
cerca de 500 000 anos), documentando-se todas as sucessivas técnicas do trabalho
da pedra até ao período dos metais.
A riqueza mineira atrai
exploradores de cobre e estanho desde os inícios da idade do bronze. O castro
de Zambujal, em Torres Vedras, construído por recolectores de metais vindos do
Oriente, é o mais antigo vestígio da exploração económica do território.
Ligadas com as influências orientais estão as duas culturas mais típicas do
ocidente peninsular: a cultura megalítica, caracterizada por construções de
grandes pedras, e a cultura campaniforme, na região do Tejo, caracterizada por
vasos cerâmicos em forma de campânula. Desde os inícios do primeiro milénio
a.C. verificaram-se sucessivas invasões de povos originários do centro da
Europa (Celtas) que já usavam instrumentos de ferro e eram hábeis artífices do
Ouro (as actuais arrecadas do Minho são uma sobrevivência dessa técnica). Esses
povos misturaram-se com as populações já instaladas, e originaram as tribos
celtibéricas. Os Lusitanos são celtiberos que viviam entre o Douro e o Tejo.
Para norte do Douro viviam os Calaios, também de origem céltica.
(Évora: Templo romano,
século I. O aparecimento de um fragmento da estátua da divindade feminina (mão
com romã) permite saber que se trata de um templo consagrado à Deusa Juno.)
Domínio Romano
Em 219 a.C. desembarcaram na Península Ibérica as
primeiras tropas romanas, e cerca de duzentos anos depois toda a Península (com
excepção do País dos Bascos) estava submetida e romanizada. Foi especialmente
difícil a submissão da Lusitânia, tendo ficado célebre a resistência de
Viriato, Chefe dos Lusitanos. A acção colonizadora romana eliminou quase
completamente as diferenciações culturais e linguísticas, e conduziu á formação
de uma população homogénea: a população hispano-romana. A anterior organização
económico-social dos povos indígenas (baseada nas tribos, propriedade colectiva
e economia de subsistência) foi substituída por uma organização colonial. Todo
o território foi organizado com vista á exploração dos recursos locais:
agricultura articulada com a exportação dos principais produtos (sobretudo o
vinho), exploração de minérios, pesca e exportação de peixe conservado em sal.
Generalizou-se o emprego da
moeda como instrumento de troca; havia várias cunhagens de moeda local. A
unidade agrícola predominante era a vila, constituída por um núcleo de terras
férteis que o proprietário explorava directamente com escravos e por parcelas
dispersas, cultivadas por colonos semilivres que entregavam uma parte da
produção ao proprietário da vila; com a decadência económica do século III, a
situação dos colonos aproximou-se da dos escravos. Uma rede de estradas, a
construção de pontes e a acção da administração conferiam unidade social às
províncias romanas: a Galécia, co capital em Brácara, a Lusitânia, com capital
em Mérida.
José Hermano Saraiva
Fonte: Enciclopédia História
de Portugal -Vol 1
Autor/Texto: Ângelo Ribeiro
/José Hermano Saraiva
Fotos da net