quarta-feira, 20 de março de 2013

O Cheiro dos livros antigos


Existem determinados cheiros que são característicos e o papel velho é imbatível. Se entrarmos num alfarrabista ou numa biblioteca repleta de livros antigos, reconhecemo-lo de imediato. Uma equipa de cientistas químicos da Universidade de Londres estudou o odor exalado pelos livros antigos e concluiu que este tem origem na reação produzida entre a composição orgânica do livro e uma série de fatores, como o calor, a luz, a humidade e principalmente, os produtos químicos usados na sua produção.
 
Com o passar do tempo cada livro fica repleto de componentes orgânicos muito voláteis que circulam pelo ar e acabam por ficar impregnados nas páginas.
 
Estiveram em investigação as propriedades da madeira que fazem o papel e também a tinta do texto e das ilustrações. Sobre o ponto de vista químico, a maior razão do apodrecimento dos livros é a sua acidez, que acelera o processo de deterioração e acentua o cheiro.
 
É muito comum encontrar elevados níveis de acidez em livros impressos nos séculos XIX e XX, o que explica o odor típico das publicações mais antigas descrito, pelo grupo de trabalho, como, “a combinação de folhas de erva com um penetrante odor de ácidos e um toque de baunilha que sobressai do mofo”.
 
O papel também absorve os cheiros do seu meio envolvente, como o fumo das lareiras por exemplo. O local ideal para preservar livros é num local fresco, seco e sem luz direta. O estudo é relevante para a preservação de documentos antigos de valor inestimável.
 
Fonte: http://cienciahoje.pt (adaptado)
Mikii

terça-feira, 19 de março de 2013

Torre de Belém

Grandes Monumentos portugueses
 
Jóia do estilo Manuelino e ex-líbris de Portugal
 
Construida em homenagem ao patrono de Lisboa, São Vicente, no local onde se encontrava ancorada a grande Nau, a Torre de Belém ficou a dever-se ao arquiteto Francisco de Arruda, que iniciou a sua construção em 1514.
 
A Torre de São Vicente de Belém foi mandada erguer por D. Manuel, destinando-se a terminar a nova obra de defesa da barra de Lisboa, iniciada por D. João II. O baluarte foi construído entre 1514 e 1520, tendo como arquiteto Francisco de Arruda, que provavelmente trabalhou sobre orientação de Boitaca. Destinava-se a substituir a Grande Nau, até então fundeada a meio do Tejo, cruzando fogo com a fortaleza de São Sebastião da Caparica.
 
A estrutura é construída pela torre de habitação acastelada, ainda de tradição medieval, e pela fortificação abaluartada, de conceção moderna e desenho poligonal, adaptada à primeira utilização de pirobalística em Portugal.
 
 
E é particularmente aqui, no projeto experimentalista do baluarte, que se revela o génio de um dos maiores arquitetos de D. Manuel. Recém-chegado do Norte de África, onde a sua já considerável experiencia fora aplicada nas obras de várias praças- fortes, Francisco de Arruda foi capaz de criar uma fortaleza digna da capital de vocação universal que era a efervescente Lisboa manuelina. A silhueta da torre, imponente e terrífica guardiã da cidade e do Tejo, porta da larga via marítima por onde se espraiava o Império, era também imagem do período áureo que se vivia no reino.
 
O baluarte tem disposição essencialmente funcional, cobrindo ampla área de fogo. A torre, de quatro pisos abobadados, é um eco assumido das tradicionais torres de menagem. Torre e baluarte possuem sugestivas guaritas cilíndricas nos ângulos, cuja tipologia reflete uma simbólica influência magrebina e orientalizante.
 
A minuciosa ornamentação manuelina, de inspiração fantástica, completa o discurso militar do conjunto, que sabe ainda evocar – na conjugação de perfil e função, e na poética de elementos como a amurada engalanada de escudos, ou as escotilhas e grossos calabres marítimos – a sua malograda antecessora feita de madeira.
Fonte: Sílvia Leite / Ippar
 
Emblema de prestígio da capital desde o séc.XVI
 
 
Construído como fortaleza, a Torre de Belém fazia parte do primeiro plano integrado de defesa de uma cidade. Neste aspeto fazia parte de um projeto pioneiro de D. João II, que envolvia a Fortaleza de Cascais e a de São Sebastião da Caparica, para defender a entrada da barra.
 
Temos de pensar que estávamos face a uma Lisboa muito cosmopolita, que tinha a atenção do mundo sobre ela e sobre todas aquelas coisas novas que chegavam desses outros mundos, de além-mar. Era o início de uma primeira globalização. Como dizia Fernando Pessoa, “ o mar passou a unir e já não a separar”.
 
Construída no tempo de D. Manuel, o monarca quis colocar à entrada da sua capital um emblema de prestígio. Por isso é que todas as insígnias reais estão postas em grande exuberância: o escudo de Portugal, a esfera armilar, a Cruz de Cristo. Essa arquitetura também constitui uma inovação. Deixa de ser o velho torreão medieval, sozinho, e passa a ter um corpo avançado, para o mar, como se fosse um galeão, à época, apresentando dois registos de fogo de onde os canhões podiam disparar contra quem indevidamente quisesse entrar em Lisboa.

 
 
Todos os povos têm elementos diferenciadores e penso que, nesse especto, a Torre de Belém constitui um pólo identificador de um país.
 
É um dos monumentos onde o estilo manuelino se assume como elemento diferenciador, que a UNESCO reforçou ao classificar a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerónimos como património da Humanidade. Esta arquitetura tem realmente muito a ver com um povo que teve um contacto pioneiro, através da navegação, com outros povos, culturas e civilizações. E que com esse contexto e com tudo aquilo que recebeu expressou-a na sua arte e nos seus edifícios.
 
A época da construção da Torre de Belém foi aquela em que Portugal deu um dos seus maiores contributos à história da humanidade, o que a Torre, no lavor da sua pedra, consubstancia.
 
Depoimento
Isabel Cruz Almeida
Diretora do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém
Fonte: Jornal de Notícias
Mikii