segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

É uma casa portuguesa


As casas de papel, ou casas de armar, popularizaram-se a partir da década de 1930, graças à inclusão em revistas e suplementos infantis de jornais.
Um País para recortar e colar.
Em Abril de 1934, a revista A Arquitectura Portuguesa alertava para a proximidade do dia em que o nudismo se tornaria «um império absoluto no mundo». Pensem no total desguarnecimento de roupas em certas zonas balneares, apliquem-no à arquitectura e verão o dia em que «toda a construção se reduzirá a paredes lisas com buracos». Não é particularmente excitante. Na verdade, corresponde ao cenário mais vulgar dos nossos horrendos subúrbios – reflexo do tempo em que «as cidades serão construídas por cubos ou outros sólidos», e os arquitectos se tornarão os «arquidesgraçados» do futuro», como então descrevia o autor do artigo. Ao arrepio deste prognóstico, as casas de armar representaram no entretenimento sólido pelas várias gerações de crianças. Além de cola e tesoura, pedia-se paciência e perfeccionismo, uma dupla hoje tão fora de moda como as pobres Manas Perliquitetes. Ideologicamente, representavam um Portugal globalizado á escala regional, um outro Portugal dos Pequenitos, para quem não tinha televisão nem automóvel. Numa viagem à roda do quarto, planificava-se e construía-se um país de papel. Num extremo, a casa minhota, de pedra granítica e balcão de madeira alpendrado, com a latada a fazer sombra e, por baixo, a corte dos animais. No outro, as brancas açoteias algarvias, de um cubismo radical e ofuscante, uma espécie de antípodas onde as pessoas andavam em cima do telhado, coisa estranha. Mas bastava seguir as instruções à risca e tudo fazia sentido.

Fonte: Revista Notícias Magazine
Texto: Carla Maia de Almeida
Fotos da Net
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