Palácio Duques de Aveiro
Diz-se que o povo da
cidade saía da missa de Todos-os-Santos quando a terra tremeu. O maremoto e o
incêndio aumentaram a tragédia.
Pintura antes do Terramoto de 1755
O que fez o Marquês de
Pombal? Mandou enterrar os mortos e tratar os feridos. Esta frase é um clássico
dos manuais da escola primária sobre História de Portugal, uma expressão
impressionante para qualquer criança. As imagens de destruição completavam o
quadro. Era a história do Terramoto de 1755, o maior abalo sísmico de que há
registo.
Nessa manhã de 1 de
Novembro, Lisboa perdeu dez mil dos 250 mil habitantes que tinha na época e
teve de socorrer um número de pessoas muito superior a este.
Terreiro do Paço antes do Terramoto
Segundo textos de então,
eram 9 horas e 35 minutos quando se ouviu um “estrondo subterrâneo” e a terra
começou a tremer; primeiro com lentidão, depois num crescendo de intensidade e
de violência. O abalo durou vários minutos – cada autor mede o tempo de forma
diferente – e deixou a cidade antiga desfeita em ruínas. Logo a seguir três
ondas gigantes – “três grandes serras de água”, conta um autor - entraram pela
barra do Tejo e inundaram as zonas mais baixas da cidade. O fluxo e o refluxo
das águas atingiu tal dimensão que se via “o centro” do rio,” nunca de vista
humana investigado”. Pelo menos duas réplicas do sismo, de menor intensidade,
foram ainda sentidas nessa manhã.
Painel de azulejos com a Praça do Rossio antes do Terramoto
À destruição causada pela
terra e pela água, juntaram-se os efeitos do “desatino” dos outros dois
elementos – o fogo e o ar. Muitos edifícios foram devastados, nos dias a
seguir, por um incêndio incontrolável, agravado por ventos fortíssimos.
Ilustração (fantasiosa) do Terramoto de Lisboa
Pode imaginar-se o pânico
e o sofrimento dos lisboetas de então. Mas a destruição da cidade, vista à
distância de mais de dois séculos, pode ser considerada providencial. Lisboa
tinha atingido um ponto de saturação, com a população a aumentar rapidamente –
em 1729 os habitantes eram apenas 200 mil – e dificilmente se criaram condições
para criar infra-estruturas adequadas a uma cidade medieval de ruas estreitas e
tortuosas.
O reinado de D. João V,
com os seus inúmeros e grandiosos projectos, terminara cinco anos antes. D.
José ordenou em 1752 a construção de uma grande e luxuosa sala de espectáculos
– o Teatro da Ópera ou a Ópera do Tejo, a cujo palco subiu, em 2 de Abril, a
ópera Allessandro nell’India. O Terramoto deitou por terra este edifício.
Paço Real, OTerreiro do Paço em 1650, meados do séc.XVIII. Óleo sobre tela de Dirk Stoop, patente no Museu da Cidade, em Lisboa
A verdade é que a cidade
contava com um forte grupo de arquitectos entre os quais se destacam os grandes
nomes da reconstrução: Eugénio dos Santos, o militar que definiu a estratégia,
Manuel da Maia, já idoso, e Carlos Mardel, entre outros.
Parte da destruição causada pelo Terramoto e fogo
Foi o Marquês de Pombal
quem assumiu com rapidez e eficácia o controlo da reconstrução, integrada numa
estratégia de poder que lhe permitiu governar durante 20 anos. Como apontava
Siza Vieira, no arranque da construção do Chiado depois do incêndio de 1989, os
arquitectos de Lisboa pombalina dependiam do Marquês e nunca tiveram mais do
que uma delegação de poderes.
Convento do Carmo em ruínas
As dificuldades
burocráticas em que ficou preso o Gabinete do Chiado- no âmbito da Câmara
Municipal de Lisboa – foi um entrave à rapidez dos trabalhos. Não se vivia um
tempo de poder absoluto e os direitos dos proprietários não podiam ser
atropelados. Basta dizer que só o caso do edifício dos Grandes Armazéns do
Chiado demoraram nove anos a ter uma solução legal.
Depois Desenho do Terreiro do Paço, atribuido a Carlos Mardel, já com a estátua de D. José ao centro.
Três edifícios ficaram
ainda por reconstruir, mas os projectos ficaram prontos a arrancar. Um deles é,
tantos anos depois, uma vítima do Terramoto de 1755 – “O Leonel” vistosamente
escorado na Rua do Carmo à espera do resultado de um estudo que o Laboratório
Nacional de Engenharia Civil encomendou. Passa mesmo ali a falha sísmica que
atravessa o edifício dos Armazéns do Chiado e se prolonga até às ruínas do
Convento do Carmo que o mesmíssimo Terramoto derrubou.
Fonte: Revista Focus
Texto/Autor: Ana Sousa Dias
Fotos da Revista e da Net
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