segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Os cinco pilares da Fé Islâmica

Os cinco pilares da Fé Islâmica



A religião Islâmica á baseada em seis pilares que constituem normas para a crença: crer em Deus, nos Anjos, nos Livros Sagrados, nos Mensageiros, no Dia do Juízo Final e na predestinação e em cinco pilares que constroem e sustentam a fé.

1 – Testemunho de Fé (chahada)


 Aceitar e recitar: «Não há outro Deus a não ser Deus e Muhammad é o mensageiro de Deus.» Em árabe, a primeira parte é: La ilahaillal-lah («Não há outro Deus a não ser Deus»). A segunda parte é: Muhammad Rassul-lah («Muhammad é o Mensageiro de Deus»). Este testemunho inicial é primordial pois resume os postulados da religião: a fé no Deus único, no seu Profeta, na sua mensagem. Ao professar este testemunho, o fiel está convertido ao islão.

2 – Oração (salat)



São cinco as orações diárias, realizadas na alvorada, ao meio-dia, a meio da tarde, ao créspulo e à noite. Nas mesquitas, as orações são dirigidas por uma pessoa versada no Alcorão e escolhida pela comunidade. Antes das orações, o fiel deve fazer a limpeza de partes do seu corpo com água (ablução) e voltar o rosto em direcção a Meca para orar.

3 – Caridade (zakat)


Os muçulmanos devem ser generosos para com os mais necessitados. O zakat corresponde à separação de uma parte do dinheiro ganho e destinado caritativamente aos necessitados. Todas as coisas pertencem a Deus. Os bens e a riqueza, portanto, foram confiadas aos seres humanos para que façam bom uso delas. Através do pagamento de zakat os bens são purificados. O piedoso deve também dar tanto quanto possa como caridade e fazê-lo de preferência em segredo.

4 – Jejum (saum)



O jejum é uma purificação pessoal, através da privação, por períodos determinados das necessidades do corpo: alimentação, bebida e prática de relações sexuais. Durante o Ramadão, o nono mês do calendário islâmico, é obrigatório jejuar desde a alvorada até ao pôr-do-sol. O não cumprimento do jejum só é facultado aos doentes, aos idosos, às mulheres grávidas e que amamentam, e aos que estiverem em viagem; todos deverão, porém, jejuar o mesmo número de dias num outro período do ano. Em caso de incapacidade física total para jejuar, a pessoa deverá alimentar um necessitado pelo número de dias em que não faz jejum.

5 – Peregrinação a Meca (hajj)



Pelo menos uma vez na vida, todo o muçulmano adulto que disponha de meios para realizar uma peregrinação a Meca, deve fazê-lo. Os peregrinos vestem roupas simples (ihram), que eliminam as distinções de classes e cultura, para que todos fiquem iguais perante Deus. Os homens vão de cabeça rapada e as mulheres cortam o cabelo. Os rituais do hajj consistem em circundar sete vezes a Caaba e percorrer sete vezes a distância entre os montes Safa e Marwa.

Fonte: Revista Esperança
Texto/Autor: desconhecido
Foto da net
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domingo, 19 de fevereiro de 2017

O maior avião do mundo



Voar foi desde a antiguidade um dos maiores sonhos do homem, como o atestam lendas da mitologia, nomeadamente a de Dédalo e do seu filho Ícaro, o jovem que quis chegar tão alto que derreteu as suas asas de cera e penas com o calor do sol. Visionários, como Leonardo DaVinci, Bartolomeu de Gusmão e Júlio Verne, imaginaram aeronaves mais ou menos realistas, algumas das quais levantaram mesmo voo, mas só ao virar do século XIX para o século XX o irmãos Wright conseguiram tornar realidade esse sonho milenar. Nos últimos 100 anos, contudo, a aviação não parou de fazer progressos, que quase parecem pôr em causa as leis da Física. É o caso do superjumbo Airbus A380, que fez o seu voo inaugural no dia 8 de Novembro do ano 2005 , e que era até essa data o maior avião do mundo.

Fonte: Revista Caras
Texto/Autor: desconhecido
Foto da net
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sábado, 18 de fevereiro de 2017

O Barão de Forrester

O Barão de Forrester

Barão de Forrester

Um dos maiores paladinos do Vinho do Porto

Foi no Pego do Cachão que morreu tragado pelas Águas do Douro

No dia 12 de Maio de 1861 morreu afogado no rio Douro, no lugar do Cachão, com 52 anos incompletos, o Barão de Forrester – José James Forrester -, escritor, artista e viticultor escocês, que tanto se distinguiu na propaganda do Douro e dos vinhos do Porto.

Mapa Barão de Forrester

Camilo Castelo Branco descreve assim, magistralmente, em algumas linhas, o desastre que tanto impressionou o País: « No dia 12, um alegre domingo, saíram todos, o Barão de Forrester e vários amigos, do «Vesúvio», na intensão de jantarem na Régua. O Douro tinha engrossado com a chuva de dois dias e a rapidez da corrente era caudalosa. Aproando ao ponto do «Cachão», formidável sorvedouro em que a onda referve e redemoinha vertiginosamente, o barco fez um corcovo, estalou, abriu um golpe e mergulhou no declive da catadupa. O Barão sofrera a pancada do mastro, quando se lançava à corrente, nadando. Ainda fez algum esforço para apegar à margem; mas, fatigado de bracejar no teso da corrente ou aturdido pelo golpe, estrebuchou alguns segundos na agonia e desapareceu.»

Cachão da Valeira

Este desastre, pelas circunstâncias em que se deu e ainda pelo facto de apenas ter vitimado o Barão de Forrester, foi durante muitos anos motivo de estranhas e singulares versões, tanto mais que o seu cadáver nunca apareceu. Admitiram-se ou bordaram-se lendas e fantasias à volta do sinistro do Cachão da Valeira  e chegou-se mesmo a admitir um crime; mas nada se averiguou…

Convento da Serra do Pilar antes do cerco do Porto de 1832 – gravura do Barão de Forrester tirada da rampa da Corticeira – á direita ficava a Capela do Senhor do Carvalhinho, erguida pelos Padres Jesuítas e por eles mantida até 1761 quando foram expulsos. Serviu de quartel da marinha de D. Pedro durante o cerco e, a partir de 1840, foi a primeira fábrica de cerâmica do Carvalhinho, donde lhe veio a marca. Mais acima ainda se vê um pouco da Muralha Fernandina. Por baixo do convento encontra-se a Capela do Senhor d’Além e a Ponte das Barcas.

O Barão de Forrester, comerciante e viticultor, foi uma figura destaque no Porto de há um século; dedicou o melhor de sua inteligência e actividade ao Douro, procurando por todas as formas acreditar o famoso Vinho do Porto; e de 1843 a 1860 publicou trinta trabalhos, escrevendo-os e ilustrando-os com desenhos, muitos deles excelentes cópias do natural.
Os seus opúsculos «A crise comercial explica-se» e «A verdadeira causa da crise comercial no Porto» contribuíram grandemente para debelar o pânico e estimular as energias dos durienses que ficaram com as vinhas devastadas em 1859; e, seguindo os conselhos e alvitres que lhes sugeriu, conseguiram, em breve espaço de tempo, restabelecer o crédito da Praça do Porto.

Feira de S. Miguel, pintura do Barão de Forrester datada de 1835

Ficaram famosos os mapas que levantou: «O País Vinhateiro do Alto Douro», publicado em legendas em português e inglês e mandado reeditar pela Câmara dos Comuns da Grã-Bretanha, e o «Douro Português e o País Adjacente», de grandes dimensões, que aquela mesma Câmara mandou incorporar no «Blue Book».
As marcas que lançou nos mercados nacionais e estrangeiros conquistaram grande prestígio, tal o cuidado que pôs no trato e cultivo das excelentes vinhas que possuía no Douro e no fabrico de vinhos generosos da sua lavra.História da Pousada Barão Forrester

História da Pousada Barão Forrester

José James era popularíssimo no Porto e no Douro, tanto entre colónia inglesa como na melhor sociedade, destacando-se pela elegância do trajar e pelos requintes de uma educação esmerada. Afável, atencioso, escritor, artista e grande negociante de vinhos licorosos – os vinhos que ele próprio tratava - , usufruía bem justificado renome, tendo ficado famosas as reuniões que dava na sua casa apalaçada da Ramada Alta.

A Gravura do Barão de Forrester 1835

Camilo publicou em 1884 uma tremenda «charge» aos saraus do Barão de Forrester, metendo impiedosamente a ridículo os portuenses e convidados que lhe frequentavam a casa. Desforçava-se, certamente de, de qualquer pretensa injúria dos amigos do Barão, pois este, quando o opúsculo apareceu, já era morto há 23 anos. E no rodopio da bordoada não escapou ninguém e até os mortos levaram para o seu tabaco, e com a mesma crueldade com que tratou a gente da Assembleia Portuense, os de «Palheiro», como ele os classificou.

Pousada

O folheto provocou ruidoso escândalo, mas não diminuiu o prestígio da memória do Barão nem daqueles que reunia à sua volta, tanto mais que, das mazelas apontadas e acerbamente criticadas, a maior era a de gostarem e abusarem de libações do magnífico Vinho do Porto.

Fonte: Almanaque Diário de Notícias (1954)
Texto/Autor: Desconhecido
Fotos da Net /http://portoarc.blogspot.pt
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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Pássaros sabem quando estão a ser observados

Os estorninhos não comem quando alguém está a olhar para eles



Uma investigação curiosa conseguiu demonstrar que os pássaros sabem reconhecer quando um ser humano está a olhar para eles. A experiência foi feita por investigadores britânicos da Universidade de Bristol, que partiram de um princípio básico: na natureza, os predadores tendem a olhar fixamente para a sua presa antes de a atacarem. É por isso lógico que as potenciais presas, como pássaros de pequena dimensão, tenham desenvolvido uma defesa que lhes permita reconhecer um olhar fixo neles próprios.
Para testar esta ideia, os investigadores colocaram estorninhos em gaiolas e perceberam que os pássaros não comem quando alguém está a olhar para eles. No entanto, se a mesma pessoa está junto à gaiola, no mesmo local, mas a olhar noutra direcção, que não a do pássaro, este come sem qualquer problema.
Para os investigadores, esta é a demonstração de que os animais conseguem captar sinais subtis como o olhar.

Fonte: Revista Notícias Sábado
Texto/Autor: Filomena Naves (Ornitologia)
Foto da net
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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Há quarenta e um anos sem varíola


A vacinação em massa permitiu pela primeira vez na história da humanidade a erradicação completa de uma doença.
Em 1966, a Organização Mundial de Saúde lançou o Programa de Erradicação, Global da Varíola, uma iniciativa que permitiu organizar campanhas de vacinação em todos os lugares do Mundo. Em poucos anos equipas especialmente formadas para o efeito vacinaram todas as pessoas, do interior das aldeias recônditas dos continentes africanos, asiático e sul-americano até às multidões de peregrinos que acorriam a Meca, dos soldados europeus às populações nómadas do Afeganistão. Valeu a pena: 


em 1950 contavam-se cinquenta milhões de pessoas infectadas, dispersas pelos cinco continentes, em 1973 havia trinta mil, confinadas a cinco países: Somália, Botswana, Paquistão, Bangladesh e Etiópia, onde se registou o último caso, em 1976. Da varíola, uma doença transmissível de pessoa para pessoa e altamente letal, restam agora os stocks de vírus, que se encontram guardados a sete chaves em dois laboratórios de alta segurança. Neste ano de 2017 celebram-se trinta e seis anos de erradicação oficial da doença. Estamos todos de parabéns!

Fonte: Revista Notícias Magazine
Texto/Autor: Desconhecido
Fotos da net
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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

À Mesa

Kava-kava


Da família das pimentas, produz um efeito calmante, relaxa os músculos, reduz consideravelmente a ansiedade quanto ao desempenho sexual e estimula os órgãos genitais. É também muito recomendado para os casos de ejaculação precoce.

Wasabi


É um tempero em pasta utilizado na culinária japonesa que, pelo seu gosto picante, o torna num condimento afrodisíaco. O rabanete japonês é também bastante popular, não somente para ser utilizado na arte da cozinha, muitas pessoas usam-no mesmo durante o sexo.

Óleo de girassol


Acredita-se que as sementes desta planta rica em vitamina E são capazes de curar pessoas que sofrem de infertilidade. Se colocadas na beira da janela numa casa onde haja mulher grávida, o filho será segundo uma lenda húngara, um homem viril.

Maracujá


Conhecido mundialmente como a fruta da paixão ‘o maracujá tem um grande poder afrodisíaco, por possuir uma vasta variedade de vitaminas, de sais minerais e de um potente vermífugo identificado nas suas sementes. A combinação de todos os nutrientes dá-lhe poder antioxidante.

Tomilho


É uma planta que desde a Antiguidade tem efeitos terapêuticos. Desde então, o seu aroma passou a ser considerado afrodisíaco. Uma tradição recomenda que basta amassar alguns ramos de tomilho e aspirar o perfume para que a energia fique recuperada.

Vinho

Uma pequena dose aumenta a concentração de hormonas na corrente sanguínea, provocando um aumento da líbido e por ser rico em polifenóis, substância responsável pelo relaxamento do organismo, tem um efeito desinibidor. Contudo é preciso beber com moderação.

Alcaçuz


Na antiga China usava-se esta planta para aumentar o impulso sexual. Segundo pesquisadores americanos que realizaram um estudo sobre como aromas estimulam a excitação sexual, ficou provado que o alcaçuz aumenta em 13% o fluxo sanguíneo do órgão genital masculino.

Uvas

Nas orgias gregas e romanas, esta fruta nunca faltava porque a sua ingestão predispõe os amantes para o envolvimento e para o romance. As uvas de casca branca, por serem ricas em frutose, vitaminas C e B e glucose, são aquelas que mais estimulam e aceleram a energia sexual.

Gengibre


Excitante e digestivo estimula a imunidade e produz um afluxo de sangue aos órgãos genitais, aumentando o desejo sexual. Uma lenda conta que Madame Du Barry, cortesã francesa Luís XV, misturava gengibre com gemas de ovos para induzir os seus amantes.

Kiwi


Além de ser um formidável antioxidante e de o seu consumo combater a infertilidade masculina, esta é a fruta ideal para quem quiser que o seu apetite sexual seja despertado ao rubro. A vitamina C estimula as glândulas responsáveis pelo impulso sexual, fomenta a líbido e diminui o ‘stress’.

Aipo


Planta apiácea rica em selénio e vitamina B, formidável estimulante da glândula pituitária, que por sua vez, excita todas as outras glândulas produtoras de hormonas sexuais. Excelente para os músculos e forte ajuda para a liquefacção sanguínea, os romanos dedicavam o aipo a Plutão – deus do sexo e do inferno.

Marmelo


Devido á sua cor, fragância e alta concentração de sementes, os gregos dedicaram este fruto a Afrodite. Muitas cerimónias de casamento incluem o consumo de um marmelo para dar sorte e desejar prazer aos recém-casados. Não é á toa que se costuma dizer ‘estão na marmelada’ quando alguém está a namorar.

Abacate


Os azetecas chamavam-lhe ‘ahuacati’ (testículo) pela semelhança existente entre a sua forma e esta parte do corpo. Cozinhavam o fruto com cebola e as mulheres só tinham permissão de provar a iguaria em noites especiais, aquelas em que o marido chamava ‘noite de amor’.

Codorniz


Além de conter vitaminas, cobre, ferro e magnésio, nutrientes essenciais para uma boa formação hormonal, a codorniz, segundo a lenda secular consegue ter diversas relações sexuais num curto espaço de tempo e transmite esse espírito aos seus ovos.

Pau de cabinda


Esta planta secular em tradição é um autêntico afrodisíaco 100% natural, os seus efeitos são diversos e comprovados mundialmente, combate a impotência, origina erecções fortes e duradoiras, estimula o orgasmo feminino e aumenta para o dobro o apetite sexual.

Fonte: Revista Maria
Texto/Autor: Botica da Saúde (Dr.Custódio César, Nutricionista)
Fotos da net
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terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Cartas de amor de grandes mulheres

Cartas de amor de grandes mulheres. Para que os homens não esqueçam.

Catarina de Aragão (1485-1536)


Meu senhor e adorado esposo: enalteço-me a vós. A hora da minha morte aproxima-se rapidamente e, sendo este o caso, o amor terno que vos devo força-me com poucas palavras, a lembrar-vos da saúde e salvaguarda da vossa alma, que devereis preferir a todas as palavras e que colocais à frente do cuidado e afecto de vosso próprio corpo, através do qual me haveis causado muita miséria e a vós muitos cuidados. Da minha parte, perdoo-vos a todos, sim, eu desejo e rezo devotadamente a Deus para que Ele também vos perdoe. De resto, entrego-vos Mary, nossa filha, suplicando que sejais um bom pai para ela, tal como outrora desejei. Também vos imploro, em nome das minhas criadas, que lhes entregueis dotes do matrimónio, o que não será muito, sendo elas apenas três. Para todos os meus outros criados, solicito mais um ano de pagamento do que lhes é devido, para que não fiquem privados de recursos. Por último, prometo eu que os meus olhos vos desejam mais do que a qualquer outra coisa.

Catarina de Aragão
Para Henrique VIII, de quem foi a primeira mulher pouco antes de morrer.

Abigail Adams (1744-1818)



A enorme distância entre nós faz que o tempo me pareça muito longo. Parece que já passou um mês desde que me deixaste. A grande ansiedade que sinto pelo meu país, por ti e pela tua família torna o dia entediante e a noite desagradável. As pedras e areias movediças aparecem por todo o lado. O caminho que podes tomar ou tomarás está no seio do futuro. A incerteza e a expectativa deixam na mente uma grande esfera de acção. Alguma vez um Reino ou um Estado reconquistou a sua liberdade tendo sido invadido sem se derramar sangue? Não consigo pensar em tal coisa sem sentir aversão. No entanto, é-nos dito que os infortúnios de Esparta foram ocasionados pela grande solicitude que tinham pela tranquilidade presente, e com um excessivo amor pela paz negligenciaram os meios para garantirem que tal fosse certa e duradoura. Era seu dever terem reflectido. Diz Polibuis que, como não há nada mais desejável ou vantajoso do que a paz, quando encontrada na justiça e na honra, também não há nada mais vergonhoso e, ao mesmo tempo, mais pernicioso, quando é obtida por más medidas e comprada com o custo da liberdade (…). Quero tanto saber notícias tuas. Espero com impaciência ter-te na fase de acção. Talvez o primeiro de Setembro, ou o mês de Setembro, sejam de tão grande importância para a Grã-Bretanha como os Idos de Março o foram para César. Desejo-te também todo o Estado como bênção privada, e que a sabedoria, que é vantajosa tanto para a instrução como para a edificação, te conduza neste dia difícil. O pequeno floco de lã lembra-se do papá e, carinhosamente, deseja vê-lo. Assim como a tua mais afectuosa.

Abigail Adams
Para o marido, John Adams, primeiro Vice-Presidente dos Estados Unidos em 1789 e segundo Presidente do mesmo país em 1797.
Mãe de John Quincy Adams, sexto presidente dos EUA.

Mary Wollstonecraft (1759-1797)



Fico contente por descobrir que outras pessoas possam estar irracionalmente tão bem como eu; (…) não estou chateada contigo, meu amor, pois acho que é uma prova de estupidez, e também um afecto turvo, o que vai dar ao mesmo quando o temperamento é governado por uma esquadra e uma bússola. Não há nada de pitoresco na igualdade recta e as paixões dão sempre elegância às acções. A lembrança faz que o meu coração esteja ligado a ti; mas não está ligado ao teu lado que ganha dinheiro. Não posso estar seriamente desagradada com o empenho que aumenta a minha auto-estima, ou antes, deveria esperá-lo da tua parte. Não. Tenho o teu rosto honesto diante de mim – descontraído pela ternura, um pouco – pouco magoada pelos meus caprichos. E os teus olhos, a cintilar com simpatia. Sinto os teus lábios mais macios do que o macio e repouso a minha face na tua, esquecendo-me do mundo. Não deixarei a cor do amor de fora da pintura – o brilho rosado; e o desejo espalhou-o pelas minhas próprias bochechas, acredito, pois sinto-as a arder, enquanto uma lágrima deliciosa treme no meu olho, que será toda tua, se uma grande emoção direccionada para o pai da natureza, que me fez desta forma aberta à felicidade, não deu mais calor ao sentimento que divide. Devo fazer uma pausa. Preciso dizer-te que fico tranquila depois de te escrever? Não sei porquê, mas tenho mais confiança no teu afecto quando estás ausente do que quando estás presente; além disso, acho que deves amar-me, porque, deixa-me dizê-lo com a sinceridade do meu coração, acredito merecer o teu carinho, porque sou verdadeira e tenho um grau de sensibilidade que consegues ver e apreciar. Sinceramente tua.

Mary Wollstonecraft
Escritora, Primeira feminista a reivindicar direitos para as mulheres, para  Gilbert Imlay, Soldado Americano, empresário e reconhecido mulherengo, que a deixou ainda antes do nascimento da filha em comum.

Imperatriz Josefina (1763-1814)



Milhares e milhares de agradecimentos carinhosos por não te teres esquecido de mim. O meu filho trouxe-me agora a tua carta. Li-a com excitação, e no entanto gastei muito tempo com ela; pois não havia nela uma palavra que não me fizesse chorar. Mas essas lágrimas eram tão doces. Encontrei novamente o meu coração, e como ele sempre será, há sentimentos que vivem por si mesmos e que só podem terminar juntamente com ele. Ficaria eu em desespero se a minha carta te tivesse desagradado; não me lembro exactamente das expressões que usei, mas conheço cada sentimento doloroso que me ditou as palavras, fruto do desapontamento de não ter recebido notícias tuas. Escrevi-ta aquando da minha partida de Malmaison e desde então quantas vezes não desejei ter-te escrito mais vezes! Mas entendo os motivos por detrás do teu silêncio, e temia que uma carta tua me pudesse deixar triste. A que te envio foi revitalizadora para mim. Fica contente; tão contente quanto mereces; é todo o meu coração que fala contigo. Tu também me deste a minha dose de alegria, uma partilha sentida vivamente; para mim, nada iguala uma demonstração da lembrança. Adeus meu amigo; agradeço-te com tanto carinho quanto o amor que sinto por ti.

Marie-Joseph Tascher de La Pagerie
Para Napoleão Bonaparte, coroado Imperador de França em 1804, com quem se casara em 1796.

Clara Wieck Schumann (1819-1896)



Desejas apenas um simples «sim»? Uma palavra tão pequena – mas tão importante. Não deve um coração tão cheio de amor indiscritível como o meu proferir esta pequena palavra com toda a sua força? Eu faço-o e a minha mais profunda alma sussurra-te sempre. As tristezas do meu coração, as muitas lágrimas, poderei descrevê-las perante ti – oh, não! Talvez o destino ordene que nos vejamos mais cedo e nessa altura – atua intensão parece-me arriscada e, no entanto, um coração apaixonado não tem os perigos em consideração. Mas mais uma vez digo-te «sim». Tornará Deus o dia do meu décimo oitavo aniversário num dia infortúnio? Oh , não! Isso seria demasiado horrível. Para além disso, sinto há muito que «tem de ser», nada no mundo poderá convencer-me a afastar-me do que acho correcto, e hei-de mostrar ao meu pai que o mais jovem dos corações também pode ser constante no seu propósito. A tua Clara.

Clara Wieck Schumann
Reputada Pianista, para o futuro marido, o compositor Robert Schumann, que acabara de a pedir em casamento.

Rainha Vitória (1819-1901)



Escreveste-me numa das tuas cartas acerca da nossa estada em Windsor, mas, querido Alberto, não compreendeste, de todo, o problema. Esqueceste-te. Meu querido amor, que sou a soberana, e esse facto não pode parar ou esperar pelo que for. O parlamento está em funções e quase todos os dias ocorre algo que pode requerer a minha presença. É-me portanto impossível ausentar-me de Londres, pelo que dois ou três dias já são tempo demais para me ausentar. Não descanso por um momento se não estou presente, e se não oiço e vejo o que se está a passar, e toda a gente, incluindo as minhas tias (que muito sabem destas coisas), diz que devo voltar após o segundo dia, pois, porque devo estar rodeada da minha corte, não a posso deixar sozinha. Este é também o meu verdadeiro desejo. Relativamente ao Brasão: não tens direitos enquanto príncipe inglês, e o tio Leopold não tem direito se dividir o Brasão inglês, mas a Soberana tem o poder de o permitir por Ordem Real: isto foi feito ao meu tio Leopold pelo príncipe regente e eu fá-lo-ei novamente por ti. Mas só pode ser feito por Ordem Real. Irei, então, sem demora, mandar gravar um selo para ti… Li nos jornais que tu, querido Alberto, recebeste muitas Ordens; e que a rainha de Espanha te enviará o Tosão de Ouro… Adeus, queridíssimo Alberto, e pensa bastante na tua fiel Vitória R.

Rainha Vitória
Para o marido, Alberto, Príncipe Consorte.


Imperatriz Alexandra da Rússia (1872-1918)


Querido amor, os meus telegramas não podem ser muito calorosos, pois passam por muitas mãos militares – mas lerás todo o meu amor e desejo nas entrelinhas. Meu doce, de se alguma forma não o sentires, deverás chamar o Feodorov – e fica de olho nos Fredericks. As minhas orações mais sérias irão seguir-te dia e noite. Recomendo-te à protecção de nosso Senhor – possa Ele guardar-te, conduzir-te e trazer-te de regresso em segurança e são. Abençoo-te e amo-te, como raramente alguma vez um homem foi amado – e beijo todos os sítios amados e aperto-te com ternura de encontro ao meu coração. Para sempre tua. Da tua velhinha esposazinha. A imagem ficará esta noite debaixo da minha almofada, antes de ta dar com a minha bênção fervorosa.

Imperatriz Alexandra da Rússia
Para o marido, O Czar NicolauII da Rússia

Ofélia Queiroz (1900-1991



Fernando, há já quatro dias que não me aparece e nem ao menos se digna escrever-me. Sempre a mesma forma de proceder. Vejo que não faço nada de si, porque compreendo perfeitamente que é para me aborrecer que assim procede, que me terá mesmo chamado parva algumas vezes. Como o Fernando não tem motivos para acabar, procede então da forma que procede. Pois bem, eu assim não estou resolvida a continuar. Não sou o seu ideal, compreendo-o claramente, unicamente o que lastimo é que só quase ao fim de um ano o senhor o tenha compreendido. Porque se gostasse de mim não procedia como procede, pois que não teria coragem. Os feitios contrafazem-se. O essencial é gostar-se. Está a sua vontade feita. Desejo-lhe felicidades.

Ofélia Queiroz
Para o namorado Fernando Pessoa.

Claire Clairmont (1798-1879)



Pediste-me que te escrevesse pouco e tenho tanto para dizer. Também me fizeste acreditar que era uma fantasia que me levava a estimar o afecto que tenho por ti. Não pode ser uma fantasia, porque foste ao longo do último ano, o objecto acerca do qual todos os momentos solitários me levaram a meditar. Não espero que me ames, não sou merecedora do teu amor. Sinto que és superior, no entanto, para minha surpresa, mais para minha alegria, traíste paixões que acreditava já não viverem no teu peito. Tenho eu de viver com sofrimento o querer da felicidade? Devo rejeitá-la quando me é oferecida? Posso parecer-te imprudente, imoral; as minhas opiniões detestáveis, a minha teoria depravada; mas pelo menos o tempo há-de mostrar que amo carinhosamente e com afecto, que sou incapaz de algo que se aproxime da vingança ou da malícia; asseguro-te, o teu futuro será meu e tudo o que fizeres ou disseres não será por mim questionado. Tens alguma objecção ao plano que se segue? Na quinta-feira à noite podemos sair juntos da cidade por algum caminho ou correio com a distância de dez ou vinte milhas. Aí seremos livres ou desconhecidos; podemos voltar cedo, na manhã seguinte. Arranjei aqui as coisas para que não seja levantada a mínima suspeita. Reza para que aí aconteça o mesmo. Permites que, por dois momentos, eu me acomode aí contigo? Não ficarei um único instante depois de me dizeres para partir. É que é possível dizer e fazer num curto espaço de tempo, num encontro, o que não é possível escrevendo. Faz o que quiseres, ou vai onde quiseres, recusa ver-me e comporta-te com maldade, nunca hei-de esquecer-te. Vou sempre lembrar a tua ternura e a estranha originalidade do teu rosto. Tendo tu sido visto uma vez, não mais és esquecido. Talvez esta seja a última vez que te escrevo. Mais uma vez, então, deixa-me assegurar-te que não sou ingrata. Agiste honradamente em todas as coisas e só me irrita a estranheza da minha maneira de ser e que, até agora, algo como a minha timidez não me tenha permitido expressá-lo pessoalmente.

Claire Clairmont
Para Lord Byron, de quem Claire teve uma filha, numa altura em que Byron já não estava interessado na relação.

Fonte: Revista Notícias Magazine
Texto: Do Livro (Cartas de Amor de Grandes Mulheres)
Autor: Ursula Doyle
Fotos da Net
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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Lenços enamorados


Museu Alberto Sampaio 

«Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.» O poeta Camões escreveu-o há séculos e o verso não deixa de ser uma afirmação pejada de contemporaneidade. O povo por seu turno, di-lo de forma mais seca: «A tradição já não é o que era.»
Não é, nem poderia ser, pois tudo o que fica pela tradição acaba por morrer. Por isso, recuperar e valorizar a tradição acrescentando-lhes elementos contemporâneos é o que está na base do projecto dos Lenços Enamorados, que teve ínicio em 2012 em Guimarães e que se prolongou até 2014.
Na génese do projecto liderado pela Câmara de Guimarães e pelo Museu Alberto Sampaio está  a revitalização  do Bordado de Guimarães através da antiga tradição minhota dos Lenços dos Namorados, que aqui ganhou outra denominação.
Nos dias que correm, a troca de presentes entre namorados é comum e quase sem significado, tendo-se mesmo instituído um dia dedicado ao namoro, precisamente o 14 de Fevereiro que amanhã se assinala.


 De conversados a namorados

Porém, há cerca de 155 anos, as coisas eram bastantes diferentes e nem sequer de namorados se falava. Os relacionamentos amorosos eram mais discretos e contidos e o que realmente acontecia eram conversas, daí que à época os namorados fossem designados por «conversados».
É então que surge a tradição dos Lenços dos Namorados, que resistiu até inícios do século XX, caindo em desuso com o advento da modernidade. Por altura da oficialização da relação, a rapariga oferecia um lenço bordado por si ao seu «conversado», que este passava a usar como sinal de compromisso.


«Os motivos bordados eram normalmente florais, integrando imagens relacionadas com o amor, com o coração ou as setas, para além de um poema. Há lenços muito trabalhados, mas também alguns muito simples, com um pequeno bordado num dos cantos e o resto liso», explica Maria José Meireles, investigadora do Museu Alberto Sampaio.
Esta é uma tradição que tem raízes no Minho, mas que se estende um pouco por todo o país.
Emprestar contemporaneidade à secular tradição é, segundo todos os intervenientes no projecto vimaranense, a única forma de esta sobreviver ao passar dos anos. Assim através da recriação desta tradição, na versão dos Lenços dos Namorados, relembra-se a história e preserva-se a arte de recamar de Guimarães.


«Só valorizamos o passado se o catapultarmos para o futuro», sustenta Francisca Abreu, vereadora da Cultura da autarquia de Guimarães, responsável por  A Oficina, entidade que há anos trabalha na recuperação e valorização do bordado de Guimarães.
«Quando começamos a trabalhar e a investigar o Bordado de Guimarães, pensámos que uma forma de o manter vivo era também trazê-lo para a contemporaneidade, deixando de fazer aquele lenço dos namorados a que estávamos habituados e que continha sempre erros de português», recorda Isabel Fernandes, directora do Museu Alberto Sampaio, prosseguindo: «Então, criámos os Lenços Enamorados, com poesia do melhor que temos na língua portuguesa e desenhos de artistas plásticos consagrados, a fim de serem trabalhados com o bordado de Guimarães.»



Dois por ano

A iniciativa entronca na criação de 14 lenços, numa evocação do dia 14 de Fevereiro, Dia dos Namorados. Inicialmente, o projecto tinha por objectivo a exibição dos 14 lenços num único acto, mas os responsáveis optaram pela  apresentação de dois lenços por ano, prolongando a iniciativa até 2014. Tentando revitalizar uma outra tradição vimaranense, os responsáveis decidiram que Dezembro era a altura ideal para promover a iniciativa, coincidindo com as festividades em honra de Santa Luzia, em que tradicionalmente as raparigas oferecem as «passarinhas» aos namorados e estes os «sardões» às pretendidas. Refira-se que sardões e passarinhas são um doce local feito de açúcar em forma dos pequenos répteis e aves.


«A tradição só se mantém se se for incorporando elementos novos, senão as pessoas não se identificam», assevera a vereadora vimaranense, justificando a escolha dos poetas e artistas plásticos que participaram no projecto, que já deu à estampa quatro Lenços Enamorados. Até ao momento assinaram trabalhos os poetas António Ramos Rosa e Casimiro de Brito (2008), Albano Martins e Fernando Guimarães (2009), e os artistas plásticos José de Guimarães e João Machado (2008) e, na última edição, Joana Vasconcelos e Helena Cardoso.
Para esta última, o convite foi uma honra e um orgulho, mas as restrições, que se prendem com as normas da tradição, cercearam-lhe a criatividade. «O que queria era fazer do Lenço Enamorado uma peça de escultura», começa por referir a também estilista, acrescentando: «Isso é que era um desafio… Com os mesmos bordados e a mesma tradição, que são as silvas e os poemas de amor, deviam deixar-nos sem normas…»


Para a criadora, «O tamanho do lenço foi restritivo, pois queria fazer uma coisa muito maior, com outra visualidade, e se calhar não era quadrado. Depois seria todo branco, porque Portugal, a nível de bordado, tem um lugar fantástico no Mundo. Poucos países bordam como nós, a branco».
«Para morrer não era necessário a morte. Bastava o teu corpo.» Foi sobre este poema de Albano Martins que Helena Cardoso trabalhou o seu lenço: «Segui as normas, fui buscar as silvas, que são o entrelaçar do amor, mas depois tive uma dificuldade, quando descobri que o poema era erótico.»
Já para a bordadeira Adélia Faria, que corporizou as ideias de Helena Cardoso, esta foi «uma experiência riquíssima». Para a bordadeira, que pela segunda vez trabalha com a estilista depois de bordar umas roupas para um desfile, este «foi um trabalho exigente, mas muito aliciante».

À jovem artista Joana Vasconcelos calhou o estimulante poema de Fernando Guimarães: «Podemos encontrar em tudo o que esperamos um fruto só que exista na direcção dos ramos.»


Por seu turno, a bordadeira Isabel Oliveira, responsável pela execução do lenço, não regateia encómios à iniciativa: «É um prazer enorme e este trabalho mais contemporâneo dá-nos mais gozo, tanto nesta colecção dos Lenços Enamorados que começamos em 2008, como também noutros trabalhos que nos encomendam.»

Renovar a tradição

Para a Investigadora Maria José Meireles, que actualmente desenvolve um profundo estudo sobre os têxteis da região, «a iniciativa dos Lenços Enamorados tenta não só recuperar a tradição, como o bordado de Guimarães, mas também estimular a criatividade, senão as coisas morrem. Se as coisas se mantêm imutáveis acabam por desaparecer».


Uma aliança de metal precioso, um peluche, um telemóvel ou outro qualquer gadget, sinal dos tempos do progresso tecnológico que se vivem, são as trocas mais frequentes entre enamorados, mas a tentativa de preservar uma tradição como a dos Lenços dos Namorados, mais ainda quando, como está a fazer a secular cidade de Guimarães, se lhe empresta o cunho da modernidade, é um trunfo para a riqueza de qualquer povo.
«Todas as tradições, de carácter poético ou plástico, devem ser sempre renovadas, porque há um espírito novo do tempo e as artes devem estar sempre vivas e a acompanhar as pessoas», sustenta Firmino Mendes, responsável pela escolha dos poetas para o projecto.



A Palavra aos poetas



Firmino Mendes, poeta vimaranense actualmente a viver em Lisboa, foi o escolhido para seleccionar os 14 criadores que emprestaram os seus «poemas de amor, não extensos e que, de preferência, fugissem ao esquema da quadra». Sem critérios específicos, Firmino Mendes escolheu poetas de língua portuguesa consagrados, sem qualquer distinção geográfica, mas que representassem a universalidade da língua de Fernando Pessoa. A lista integra os nomes de Agripina Costa Marques, Albano Martins, Ana Luísa Amaral, Ana Paula Tavares (Angola), António Ramos Rosa, Arménio Vieira (Cabo Verde), Carlos Poças Falcão, Casimiro de Brito, Fernando Guimarães, Firmino Mendes, Luís Carlos Patraquim (Moçambique), Manuel António Pina e Silva Chueire (Brasil). Para o poeta Fernando Guimarães, esta é uma forma de «comunicação estimulante, porque tende para o amor», deixando ainda uma palavra sobre a iniciativa: «Guimarães encontra nas linhas dos bordados as linhas que a ligam ao passado.» Amantes incorrigiveis, os poetas encontram nas palavras mais banais a beleza do amor e da eternidade, como fez, para um lenço em 2008, António Ramos Rosa: «Na tua luz eu descubro/O meu verdadeiro fundo/Se eu te perdesse a ti/Perderia o sol do mundo.»

Um fio que vem do Século XIX



O que hoje é conhecido como bordado de Guimarães tem raízes no século XIX e nasce da apropriação pelas mulheres do povo de uma arte até aí quase exclusiva das classes nobres e da burguesia. A origem reside no bordado a branco – que segundo a estilista e artista plástica Helena Cardoso é uma riqueza ímpar de Portugal – quando as lavradeiras sentiam necessidade de adornar o vestuário, especialmente o domingueiro, dando-lhe  magnificência e maior ostentação. «As mulheres do povo vão aproveitar os pontos mais volumosos desse bordado a branco e começam a bordar consoante a sua própria sensibilidade e sem regras», conta Maria José Meireles, investigadora do Museu Alberto Sampaio, de Guimarães, referindo que este não é um bordado muito cuidado, pois «elas enchiam quase o pano todo com ponto muito cheio, exuberante, volumoso, repetitivo e assimétrico». As lavradeiras passam a bordar as camisas dos maridos a branco e os coletes para elas, geralmente, a vermelho, apesar de usarem ainda outras cores.
Até aos nossos dias o bordado de Guimarães passou por diversas fases e não pode dizer-se que seja um bordado contínuo, que foi evoluindo – passou por várias épocas e da miscelânea dessas influências a tradições é que surge o bordado actual. Após a apropriação do bordado pelo povo, a chegada da industrialização, em finais do século XIX, leva a uma quebra de importância do bordado, «pois muitas das lavradeiras vão trabalhar para as fábricas», explica a investigadora. É nesta altura que as senhoras da cidade começam também a bordar, salvando o bordado da extinção. Com os linhos da industrialização surgem nas lojas os atoalhados e demais têxteis para o lar «com um bordado que mais tarde se começou a chamar de Guimarães», revela.
Com as lavradeiras nas fábricas, as empresas recorrem às casas de bordados da Lixa, que fazem um bordado ligeiramente diferente, ao mesmo tempo que algumas das lavradeiras mais velhas continuam a fazer o bordado de memória, sem grandes regras, como afinal ele tinha nascido e resistido ao tempo.


Já em plena época nacionalista do século XX, a Escola Francisco de Holanda passa a leccionar no curso de formação feminina a disciplina de Lavores, o que vai aperfeiçoar e normalizar o bordado de Guimarães. A espontaneidade e a enorme criatividade de que o bordado viveu até meados do século passado são, então, restringidas. E como alguns dos professores eram originários de Viana do Castelo, o bordado vimaranense sofre nova influência vizinha, desta feita do bordado feito na cidade da foz do Lima. É um período de fraco progresso do bordado de Guimarães, que finalmente tem regras definidas: monocromia, podendo utilizar-se apenas cinco cores (branco, vermelho, azul, preto e bege), 21 pontos definidos e feito com linha de algodão. Quanto a motivos, o bordado vimaranense nunca fez escola, sendo predominantes os motivos rurais e os geométricos feitos ao sabor da sensibilidade e saber de cada bordadeira.
Com a Revolução de 25 de Abril de 1974 e o advento da Liberdade e da igualdade entre os sexos, o bordado sofre nova quebra, uma vez que as mulheres rejeitam as aulas de lavores. Então, nos anos 1980, por altura da candidatura de Guimarães a Património da Humanidade, a Câmara promove cursos de artesanato, um dos quais de bordados. «As professoras são as antigas alunas da Escola Francisco de Holanda e o resultado é um bordado mais perfeito, fruto do amadurecimento de todas as influências que sofreram enquanto alunas», conta Maria José Meireles.


A nova vida do bordado de Guimarães, entretanto certificado pela autarquia, é assegurada por bordadeiras que passaram por esses cursos e que aplicam o bordado, já não tanto em atoalhados, mas em vestidos de cerimónias, como de noiva e de baile, e ainda noutras peças tradicionais e mais pequenas, como lenços, bomboneiras, naperons, marcadores de livros e suportes para utensílios de cozinha, entre muitas outras.
Hoje, Isabel Oliveira, maria Conceição Pereira e Adélia Faria são as três bordadeiras que alimentam a loja d’A Oficina, estrutura criada pela Câmara para divulgar as artes tradicionais de Guimarães, e que continuam a bordar um fio que vem desde o século XIX e que tenta ganhar nova vida.

Fonte: Revista Notícias Magazine 14 /02/2010
Texto/Autor: Pedro Vasco Oliveira
Fotos da net
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