Viveu há 500 anos e o seu nome
ainda é um sinónimo de cinismo, crueldade e falta de escrúpulos. Injustiça?
Parece que era um marido carinhoso e um bom pai.
O ano de 1513 foi péssimo para
Nicolau Maquiavel. Perdeu o emprego na segunda Chancelaria do Governo de
Florença e foi obrigado a pagar uma multa de mil florins. O ditador Piero
Soderini acabara de ser derrubado, regressando o poder às mãos da poderosa família
dos Médici.
Acusado de conspiração contra
os novos governantes, Maquiavel foi preso e torturado durante 22 dias e
desterrado para a aldeia de Sant’Andrea.
O pensador queria voltar à
política rapidamente. Sem possibilidades de sustentar a família, escreveu no
desterro O Príncipe, para
impressionar os novos líderes. O livro pretendia mostrar que só um governante
forte podia unificar os fragmentados reinos italianos. O Príncipe entraria na história como um manual para atingir os fins
sem olhar a meios, uma espécie de guia do político sem escrúpulos.
Maquiavel nunca mais voltaria à
política até morrer em 1527.
Uma nova biografia, Machiavelli, escrita pelo historiador
Milles J. Unger, afirma que o pensador italiano era extremoso para com os seus
seis filhos (quatro rapazes e duas raparigas) e tratava a mulher, Marietta
Corsini, como uma princesa. Tinha até uma veia romântica que passava para o
papel em poesia e em peças de teatro.
Diz Unger na introdução: “O
nome de Maquiavel transformou-se hoje num adjectivo que descreve um acto cínico
ou a sede de poder sem consciência. Este estereótipo é errado e injusto.” O
autor defende que a obra de Maquiavel foi mal interpretada. O florentino foi
pioneiro na defesa de um governo independente da Igreja e expressou uma visão
realista da brutal natureza humana. Talvez por isso mesmo, o Vaticano o excomungou
e, no teatro, foi dezenas de vezes representado como o Diabo.
Mas uma Característica
essencial está presente na biografia: a ambição que marcou toda a vida de
Maquiavel. Unger descreve as suas origens humildes, a adolescência sem meios
para estudar, os tempos livres, ocupados com leituras, prostitutas e jogo.
Com 29 anos, entrou para o
governo e começou a integrar missões de diplomacia e espionagem da República de
Florença, negociando com Luís XII, de França, com o Papa Alexandre VI e com o
seu filho César Bórgia – sua inspiração para o Príncipe.
Fonte: Revista Sábado
Texto/Autor: Tiago Carrasco
Foto da Net
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