Moedas da Índia Portuguesa regressam ao mercado
Interesse coleccionista volta finalmente depois do 25 de Abril
(Algumas das medas de maior valor licitadas em Lisboa)
Foi um dos maiores leilões de sempre da numismática nacional. Os 687 lotes que a Numisma levou ontem à praça em Lisboa, com valores base que atingiam os 43 mil euros, eram o espólio de uma só colecção, de pessoa ou instituição que pediu o anonimato. Mas para Javier Salgado, principal responsável da Numisma, logo a primeira sessão (manhã) “ultrapassou, em valor, todas as expectativas, quer da empresa quer do vendedor”.
O volume das peças postas á venda era tal que a Numisma revelou inovar, realizando a primeira sessão do leilão logo de manhã, “ o que é inédito”, disse ao DN Javier Salgado. Mais duas sessões, uma durante a tarde e outra à noite.
O DN assistiu ao leilão da manhã, onde se tratava de arranjar comprador para cerca de 300 moedas da Índia Portuguesa, desde o reinado de D. Manuel I até D. Miguel. “Depois do 25 de Abril o interesse pelas moedas da Índia decaiu imenso, mas hoje senti que esta a renascer”, sustentou Javier Salgado, no final da sessão. “ O meu cepticismo era tal que cheguei a pensar num leilão por correspondência”, confessou. Mas, tal como acontece já hoje com outras ex províncias ultramarinas, como Angola e Moçambique, os investidores, coleccionadores e principalmente várias instituições públicas e privadas nacionais estão a regressar ao interesse por esse tipo de moedas, não só pelo seu valor intrínseco mas também numa perspectiva histórica. Como sempre nestes casos, o Banco de Portugal foi uma das instituições que se fizeram representar nos lances. Destaque para a venda de uma moeda de 10 Bazarucos de 1724, cunhada em Damão, que atingiu o preço de 1700 euros, o mesmo conseguido com o leilão de Xerafim de 1737. Aliás, raras foram as moedas ou lotes com praça vazia. Por outro lado, na sessão da manhã, quase tudo foi arrematado pela sala, que contava com cerca de 20 investidores e coleccionadores, não tendo as ordens prévias conseguido grande sucesso.
Destaque ainda para as peças anteriores à nacionalidade, bem como outras em muito bom estado de conservação datadas da IV Dinastia, entre as quais um Ouro Meia peça 1821, que foi á praça por 800 euros. Mas as estrelas do leilão da Numisma foram mesmo a moeda Oito Escudos Ouro de Carlos III e as raridades do reinado de D. Sebastião.
Destaques e preciosidades não faltaram
Não era, nem de longe, a peça mais cara posta ontem à venda pela Numisma: mas a moeda mandada cunhar em 1782 por Carlos III de Espanha tinha uma história que a outras faltava. É que se trata de um exemplar que foi ao fundo ao largo de Peniche, quando o navio San Pedro de Alcântara viajava do Peru para Espanha, transportando mais de 150 toneladas de moedas de ouro e prata. Resgatada, a peça encontra-se ainda em muito bom estado de conservação e era acompanhada de uma gravura sobre o naufrágio, da autoria de um paisagista francês, uma carta náutica de Peniche e um livro sobre o acidente. Mas as moedas mais caras eram mesmo as do reinado D. Sebastião.
Tratava-se de um Ouro engenhoso não datado, muito raro, que foi á praça por 43 mil euros. Outra moeda contemporânea ouro São Vicente - só saiu da colecção por um valor superior a 27 500 euros. Destaque ainda para uma moeda de prata do reinado de D. Dinis, com alto teor de metal.
Mikii
Fonte: Jornal Diário de Notícias
Por Márcio Alves Candoso
26 de Setembro de 2008