O peixe-aranha é utilizado como
acepipe astronómico em zonas do nosso País – é comparado à pescada
-,nomeadamente em Porto Covo, no Alentejo.
A fama do peixe-aranha é
conhecida por todos. Escondido na areia a poucos centímetros de profundidade,
este peixe solitário provoca dores intensas nos banhistas mais incautos,
através das suas picadas venenosas. No entanto, o homem é uma vítima inocente
deste animal. O peixe-aranha desfere a picada sempre que se sente ameaçado e
tanto o veneno como o esconder na areia são apenas técnicas de defesa.
As picadas têm origem nos três
primeiros espinhos da barbatana dorsal e também num outro existente em cada uma
das membranas branquiais. Outra característica é a sua grande vitalidade, que
lhe permite resistir várias horas fora de água ou mesmo manter activo o veneno
depois de morto. Este pormenor faz dos pescadores vítimas frequentes, no
momento em que procuram soltar o peixe do anzol.
Os primeiros socorros para o
veneno do peixe-aranha consistem em submergir a zona afectada em água quente.
Esta acção deve ser realizada nos 30 minutos seguintes á picada e visa a
destruição da toxina, fruto da sua sensibilidade a altas temperaturas. Quando
tal for impossível, aconselha-se o
recurso a técnicas improvisadas, como o aproximar de um cigarro ou de outra
fonte de calor. Qualquer que seja a terapêutica, deve-se ter o cuidado
necessário para evitar queimaduras. Na maioria das situações estes
procedimentos são suficientes para atenuar o efeito do veneno. Contudo, a
consulta médica torna-se indispensável sempre que a vítima apresentar sintomas
de vómitos, convulsões, dificuldades respiratórias, febre ou dores de cabeça.
Isto acontece sobretudo com pessoas pertencentes a grupos de risco, como
crianças, idosos ou grávidas. Para os portugueses, há muito que se tornou banal
o convívio com este pequeno terrorista, uma vez que a sua presença é comum no
litoral do País e nos Açores. E como os
portugueses são mestres na arte gastronómica, a cozinha nacional soube tirar
proveito deste convívio pouco desejável, fazendo do peixe-aranha um ingrediente
de diversos pratos, como as caldeiradas. Desfaz-se assim o mito do peixe
predador que vê as pessoas como suas presas.
Fonte: Jornal DN
Texto: João Silva