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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

É uma casa portuguesa


As casas de papel, ou casas de armar, popularizaram-se a partir da década de 1930, graças à inclusão em revistas e suplementos infantis de jornais.
Um País para recortar e colar.
Em Abril de 1934, a revista A Arquitectura Portuguesa alertava para a proximidade do dia em que o nudismo se tornaria «um império absoluto no mundo». Pensem no total desguarnecimento de roupas em certas zonas balneares, apliquem-no à arquitectura e verão o dia em que «toda a construção se reduzirá a paredes lisas com buracos». Não é particularmente excitante. Na verdade, corresponde ao cenário mais vulgar dos nossos horrendos subúrbios – reflexo do tempo em que «as cidades serão construídas por cubos ou outros sólidos», e os arquitectos se tornarão os «arquidesgraçados» do futuro», como então descrevia o autor do artigo. Ao arrepio deste prognóstico, as casas de armar representaram no entretenimento sólido pelas várias gerações de crianças. Além de cola e tesoura, pedia-se paciência e perfeccionismo, uma dupla hoje tão fora de moda como as pobres Manas Perliquitetes. Ideologicamente, representavam um Portugal globalizado á escala regional, um outro Portugal dos Pequenitos, para quem não tinha televisão nem automóvel. Numa viagem à roda do quarto, planificava-se e construía-se um país de papel. Num extremo, a casa minhota, de pedra granítica e balcão de madeira alpendrado, com a latada a fazer sombra e, por baixo, a corte dos animais. No outro, as brancas açoteias algarvias, de um cubismo radical e ofuscante, uma espécie de antípodas onde as pessoas andavam em cima do telhado, coisa estranha. Mas bastava seguir as instruções à risca e tudo fazia sentido.

Fonte: Revista Notícias Magazine
Texto: Carla Maia de Almeida
Fotos da Net
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domingo, 26 de fevereiro de 2017

Matar o Bicho


Este costume de matar o bicho data do século XVI, e com êle o dizer popular.
Em 1529 tendo morrido em Paris uma dama da côrte, ao fazerem-lhe a autópsia encontraram-lhe um bicho, ainda vivo, alojado no coração.
Os médicos fartaram-se de fazer experiências, aplicando vários ingredientes para matar o verme e só conseguiram mergulhando-o em aguardente. Foi daqui que nasceu o conselho médico quinhentista deste tratamento preventivo matinal.

Fonte: Almanaque Ilustrado O Século (1931)
Texto/Autor: Desconhecido
Foto da net
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domingo, 19 de fevereiro de 2017

O maior avião do mundo



Voar foi desde a antiguidade um dos maiores sonhos do homem, como o atestam lendas da mitologia, nomeadamente a de Dédalo e do seu filho Ícaro, o jovem que quis chegar tão alto que derreteu as suas asas de cera e penas com o calor do sol. Visionários, como Leonardo DaVinci, Bartolomeu de Gusmão e Júlio Verne, imaginaram aeronaves mais ou menos realistas, algumas das quais levantaram mesmo voo, mas só ao virar do século XIX para o século XX o irmãos Wright conseguiram tornar realidade esse sonho milenar. Nos últimos 100 anos, contudo, a aviação não parou de fazer progressos, que quase parecem pôr em causa as leis da Física. É o caso do superjumbo Airbus A380, que fez o seu voo inaugural no dia 8 de Novembro do ano 2005 , e que era até essa data o maior avião do mundo.

Fonte: Revista Caras
Texto/Autor: desconhecido
Foto da net
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terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Cartas de amor de grandes mulheres

Cartas de amor de grandes mulheres. Para que os homens não esqueçam.

Catarina de Aragão (1485-1536)


Meu senhor e adorado esposo: enalteço-me a vós. A hora da minha morte aproxima-se rapidamente e, sendo este o caso, o amor terno que vos devo força-me com poucas palavras, a lembrar-vos da saúde e salvaguarda da vossa alma, que devereis preferir a todas as palavras e que colocais à frente do cuidado e afecto de vosso próprio corpo, através do qual me haveis causado muita miséria e a vós muitos cuidados. Da minha parte, perdoo-vos a todos, sim, eu desejo e rezo devotadamente a Deus para que Ele também vos perdoe. De resto, entrego-vos Mary, nossa filha, suplicando que sejais um bom pai para ela, tal como outrora desejei. Também vos imploro, em nome das minhas criadas, que lhes entregueis dotes do matrimónio, o que não será muito, sendo elas apenas três. Para todos os meus outros criados, solicito mais um ano de pagamento do que lhes é devido, para que não fiquem privados de recursos. Por último, prometo eu que os meus olhos vos desejam mais do que a qualquer outra coisa.

Catarina de Aragão
Para Henrique VIII, de quem foi a primeira mulher pouco antes de morrer.

Abigail Adams (1744-1818)



A enorme distância entre nós faz que o tempo me pareça muito longo. Parece que já passou um mês desde que me deixaste. A grande ansiedade que sinto pelo meu país, por ti e pela tua família torna o dia entediante e a noite desagradável. As pedras e areias movediças aparecem por todo o lado. O caminho que podes tomar ou tomarás está no seio do futuro. A incerteza e a expectativa deixam na mente uma grande esfera de acção. Alguma vez um Reino ou um Estado reconquistou a sua liberdade tendo sido invadido sem se derramar sangue? Não consigo pensar em tal coisa sem sentir aversão. No entanto, é-nos dito que os infortúnios de Esparta foram ocasionados pela grande solicitude que tinham pela tranquilidade presente, e com um excessivo amor pela paz negligenciaram os meios para garantirem que tal fosse certa e duradoura. Era seu dever terem reflectido. Diz Polibuis que, como não há nada mais desejável ou vantajoso do que a paz, quando encontrada na justiça e na honra, também não há nada mais vergonhoso e, ao mesmo tempo, mais pernicioso, quando é obtida por más medidas e comprada com o custo da liberdade (…). Quero tanto saber notícias tuas. Espero com impaciência ter-te na fase de acção. Talvez o primeiro de Setembro, ou o mês de Setembro, sejam de tão grande importância para a Grã-Bretanha como os Idos de Março o foram para César. Desejo-te também todo o Estado como bênção privada, e que a sabedoria, que é vantajosa tanto para a instrução como para a edificação, te conduza neste dia difícil. O pequeno floco de lã lembra-se do papá e, carinhosamente, deseja vê-lo. Assim como a tua mais afectuosa.

Abigail Adams
Para o marido, John Adams, primeiro Vice-Presidente dos Estados Unidos em 1789 e segundo Presidente do mesmo país em 1797.
Mãe de John Quincy Adams, sexto presidente dos EUA.

Mary Wollstonecraft (1759-1797)



Fico contente por descobrir que outras pessoas possam estar irracionalmente tão bem como eu; (…) não estou chateada contigo, meu amor, pois acho que é uma prova de estupidez, e também um afecto turvo, o que vai dar ao mesmo quando o temperamento é governado por uma esquadra e uma bússola. Não há nada de pitoresco na igualdade recta e as paixões dão sempre elegância às acções. A lembrança faz que o meu coração esteja ligado a ti; mas não está ligado ao teu lado que ganha dinheiro. Não posso estar seriamente desagradada com o empenho que aumenta a minha auto-estima, ou antes, deveria esperá-lo da tua parte. Não. Tenho o teu rosto honesto diante de mim – descontraído pela ternura, um pouco – pouco magoada pelos meus caprichos. E os teus olhos, a cintilar com simpatia. Sinto os teus lábios mais macios do que o macio e repouso a minha face na tua, esquecendo-me do mundo. Não deixarei a cor do amor de fora da pintura – o brilho rosado; e o desejo espalhou-o pelas minhas próprias bochechas, acredito, pois sinto-as a arder, enquanto uma lágrima deliciosa treme no meu olho, que será toda tua, se uma grande emoção direccionada para o pai da natureza, que me fez desta forma aberta à felicidade, não deu mais calor ao sentimento que divide. Devo fazer uma pausa. Preciso dizer-te que fico tranquila depois de te escrever? Não sei porquê, mas tenho mais confiança no teu afecto quando estás ausente do que quando estás presente; além disso, acho que deves amar-me, porque, deixa-me dizê-lo com a sinceridade do meu coração, acredito merecer o teu carinho, porque sou verdadeira e tenho um grau de sensibilidade que consegues ver e apreciar. Sinceramente tua.

Mary Wollstonecraft
Escritora, Primeira feminista a reivindicar direitos para as mulheres, para  Gilbert Imlay, Soldado Americano, empresário e reconhecido mulherengo, que a deixou ainda antes do nascimento da filha em comum.

Imperatriz Josefina (1763-1814)



Milhares e milhares de agradecimentos carinhosos por não te teres esquecido de mim. O meu filho trouxe-me agora a tua carta. Li-a com excitação, e no entanto gastei muito tempo com ela; pois não havia nela uma palavra que não me fizesse chorar. Mas essas lágrimas eram tão doces. Encontrei novamente o meu coração, e como ele sempre será, há sentimentos que vivem por si mesmos e que só podem terminar juntamente com ele. Ficaria eu em desespero se a minha carta te tivesse desagradado; não me lembro exactamente das expressões que usei, mas conheço cada sentimento doloroso que me ditou as palavras, fruto do desapontamento de não ter recebido notícias tuas. Escrevi-ta aquando da minha partida de Malmaison e desde então quantas vezes não desejei ter-te escrito mais vezes! Mas entendo os motivos por detrás do teu silêncio, e temia que uma carta tua me pudesse deixar triste. A que te envio foi revitalizadora para mim. Fica contente; tão contente quanto mereces; é todo o meu coração que fala contigo. Tu também me deste a minha dose de alegria, uma partilha sentida vivamente; para mim, nada iguala uma demonstração da lembrança. Adeus meu amigo; agradeço-te com tanto carinho quanto o amor que sinto por ti.

Marie-Joseph Tascher de La Pagerie
Para Napoleão Bonaparte, coroado Imperador de França em 1804, com quem se casara em 1796.

Clara Wieck Schumann (1819-1896)



Desejas apenas um simples «sim»? Uma palavra tão pequena – mas tão importante. Não deve um coração tão cheio de amor indiscritível como o meu proferir esta pequena palavra com toda a sua força? Eu faço-o e a minha mais profunda alma sussurra-te sempre. As tristezas do meu coração, as muitas lágrimas, poderei descrevê-las perante ti – oh, não! Talvez o destino ordene que nos vejamos mais cedo e nessa altura – atua intensão parece-me arriscada e, no entanto, um coração apaixonado não tem os perigos em consideração. Mas mais uma vez digo-te «sim». Tornará Deus o dia do meu décimo oitavo aniversário num dia infortúnio? Oh , não! Isso seria demasiado horrível. Para além disso, sinto há muito que «tem de ser», nada no mundo poderá convencer-me a afastar-me do que acho correcto, e hei-de mostrar ao meu pai que o mais jovem dos corações também pode ser constante no seu propósito. A tua Clara.

Clara Wieck Schumann
Reputada Pianista, para o futuro marido, o compositor Robert Schumann, que acabara de a pedir em casamento.

Rainha Vitória (1819-1901)



Escreveste-me numa das tuas cartas acerca da nossa estada em Windsor, mas, querido Alberto, não compreendeste, de todo, o problema. Esqueceste-te. Meu querido amor, que sou a soberana, e esse facto não pode parar ou esperar pelo que for. O parlamento está em funções e quase todos os dias ocorre algo que pode requerer a minha presença. É-me portanto impossível ausentar-me de Londres, pelo que dois ou três dias já são tempo demais para me ausentar. Não descanso por um momento se não estou presente, e se não oiço e vejo o que se está a passar, e toda a gente, incluindo as minhas tias (que muito sabem destas coisas), diz que devo voltar após o segundo dia, pois, porque devo estar rodeada da minha corte, não a posso deixar sozinha. Este é também o meu verdadeiro desejo. Relativamente ao Brasão: não tens direitos enquanto príncipe inglês, e o tio Leopold não tem direito se dividir o Brasão inglês, mas a Soberana tem o poder de o permitir por Ordem Real: isto foi feito ao meu tio Leopold pelo príncipe regente e eu fá-lo-ei novamente por ti. Mas só pode ser feito por Ordem Real. Irei, então, sem demora, mandar gravar um selo para ti… Li nos jornais que tu, querido Alberto, recebeste muitas Ordens; e que a rainha de Espanha te enviará o Tosão de Ouro… Adeus, queridíssimo Alberto, e pensa bastante na tua fiel Vitória R.

Rainha Vitória
Para o marido, Alberto, Príncipe Consorte.


Imperatriz Alexandra da Rússia (1872-1918)


Querido amor, os meus telegramas não podem ser muito calorosos, pois passam por muitas mãos militares – mas lerás todo o meu amor e desejo nas entrelinhas. Meu doce, de se alguma forma não o sentires, deverás chamar o Feodorov – e fica de olho nos Fredericks. As minhas orações mais sérias irão seguir-te dia e noite. Recomendo-te à protecção de nosso Senhor – possa Ele guardar-te, conduzir-te e trazer-te de regresso em segurança e são. Abençoo-te e amo-te, como raramente alguma vez um homem foi amado – e beijo todos os sítios amados e aperto-te com ternura de encontro ao meu coração. Para sempre tua. Da tua velhinha esposazinha. A imagem ficará esta noite debaixo da minha almofada, antes de ta dar com a minha bênção fervorosa.

Imperatriz Alexandra da Rússia
Para o marido, O Czar NicolauII da Rússia

Ofélia Queiroz (1900-1991



Fernando, há já quatro dias que não me aparece e nem ao menos se digna escrever-me. Sempre a mesma forma de proceder. Vejo que não faço nada de si, porque compreendo perfeitamente que é para me aborrecer que assim procede, que me terá mesmo chamado parva algumas vezes. Como o Fernando não tem motivos para acabar, procede então da forma que procede. Pois bem, eu assim não estou resolvida a continuar. Não sou o seu ideal, compreendo-o claramente, unicamente o que lastimo é que só quase ao fim de um ano o senhor o tenha compreendido. Porque se gostasse de mim não procedia como procede, pois que não teria coragem. Os feitios contrafazem-se. O essencial é gostar-se. Está a sua vontade feita. Desejo-lhe felicidades.

Ofélia Queiroz
Para o namorado Fernando Pessoa.

Claire Clairmont (1798-1879)



Pediste-me que te escrevesse pouco e tenho tanto para dizer. Também me fizeste acreditar que era uma fantasia que me levava a estimar o afecto que tenho por ti. Não pode ser uma fantasia, porque foste ao longo do último ano, o objecto acerca do qual todos os momentos solitários me levaram a meditar. Não espero que me ames, não sou merecedora do teu amor. Sinto que és superior, no entanto, para minha surpresa, mais para minha alegria, traíste paixões que acreditava já não viverem no teu peito. Tenho eu de viver com sofrimento o querer da felicidade? Devo rejeitá-la quando me é oferecida? Posso parecer-te imprudente, imoral; as minhas opiniões detestáveis, a minha teoria depravada; mas pelo menos o tempo há-de mostrar que amo carinhosamente e com afecto, que sou incapaz de algo que se aproxime da vingança ou da malícia; asseguro-te, o teu futuro será meu e tudo o que fizeres ou disseres não será por mim questionado. Tens alguma objecção ao plano que se segue? Na quinta-feira à noite podemos sair juntos da cidade por algum caminho ou correio com a distância de dez ou vinte milhas. Aí seremos livres ou desconhecidos; podemos voltar cedo, na manhã seguinte. Arranjei aqui as coisas para que não seja levantada a mínima suspeita. Reza para que aí aconteça o mesmo. Permites que, por dois momentos, eu me acomode aí contigo? Não ficarei um único instante depois de me dizeres para partir. É que é possível dizer e fazer num curto espaço de tempo, num encontro, o que não é possível escrevendo. Faz o que quiseres, ou vai onde quiseres, recusa ver-me e comporta-te com maldade, nunca hei-de esquecer-te. Vou sempre lembrar a tua ternura e a estranha originalidade do teu rosto. Tendo tu sido visto uma vez, não mais és esquecido. Talvez esta seja a última vez que te escrevo. Mais uma vez, então, deixa-me assegurar-te que não sou ingrata. Agiste honradamente em todas as coisas e só me irrita a estranheza da minha maneira de ser e que, até agora, algo como a minha timidez não me tenha permitido expressá-lo pessoalmente.

Claire Clairmont
Para Lord Byron, de quem Claire teve uma filha, numa altura em que Byron já não estava interessado na relação.

Fonte: Revista Notícias Magazine
Texto: Do Livro (Cartas de Amor de Grandes Mulheres)
Autor: Ursula Doyle
Fotos da Net
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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Lenços enamorados


Museu Alberto Sampaio 

«Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.» O poeta Camões escreveu-o há séculos e o verso não deixa de ser uma afirmação pejada de contemporaneidade. O povo por seu turno, di-lo de forma mais seca: «A tradição já não é o que era.»
Não é, nem poderia ser, pois tudo o que fica pela tradição acaba por morrer. Por isso, recuperar e valorizar a tradição acrescentando-lhes elementos contemporâneos é o que está na base do projecto dos Lenços Enamorados, que teve ínicio em 2012 em Guimarães e que se prolongou até 2014.
Na génese do projecto liderado pela Câmara de Guimarães e pelo Museu Alberto Sampaio está  a revitalização  do Bordado de Guimarães através da antiga tradição minhota dos Lenços dos Namorados, que aqui ganhou outra denominação.
Nos dias que correm, a troca de presentes entre namorados é comum e quase sem significado, tendo-se mesmo instituído um dia dedicado ao namoro, precisamente o 14 de Fevereiro que amanhã se assinala.


 De conversados a namorados

Porém, há cerca de 155 anos, as coisas eram bastantes diferentes e nem sequer de namorados se falava. Os relacionamentos amorosos eram mais discretos e contidos e o que realmente acontecia eram conversas, daí que à época os namorados fossem designados por «conversados».
É então que surge a tradição dos Lenços dos Namorados, que resistiu até inícios do século XX, caindo em desuso com o advento da modernidade. Por altura da oficialização da relação, a rapariga oferecia um lenço bordado por si ao seu «conversado», que este passava a usar como sinal de compromisso.


«Os motivos bordados eram normalmente florais, integrando imagens relacionadas com o amor, com o coração ou as setas, para além de um poema. Há lenços muito trabalhados, mas também alguns muito simples, com um pequeno bordado num dos cantos e o resto liso», explica Maria José Meireles, investigadora do Museu Alberto Sampaio.
Esta é uma tradição que tem raízes no Minho, mas que se estende um pouco por todo o país.
Emprestar contemporaneidade à secular tradição é, segundo todos os intervenientes no projecto vimaranense, a única forma de esta sobreviver ao passar dos anos. Assim através da recriação desta tradição, na versão dos Lenços dos Namorados, relembra-se a história e preserva-se a arte de recamar de Guimarães.


«Só valorizamos o passado se o catapultarmos para o futuro», sustenta Francisca Abreu, vereadora da Cultura da autarquia de Guimarães, responsável por  A Oficina, entidade que há anos trabalha na recuperação e valorização do bordado de Guimarães.
«Quando começamos a trabalhar e a investigar o Bordado de Guimarães, pensámos que uma forma de o manter vivo era também trazê-lo para a contemporaneidade, deixando de fazer aquele lenço dos namorados a que estávamos habituados e que continha sempre erros de português», recorda Isabel Fernandes, directora do Museu Alberto Sampaio, prosseguindo: «Então, criámos os Lenços Enamorados, com poesia do melhor que temos na língua portuguesa e desenhos de artistas plásticos consagrados, a fim de serem trabalhados com o bordado de Guimarães.»



Dois por ano

A iniciativa entronca na criação de 14 lenços, numa evocação do dia 14 de Fevereiro, Dia dos Namorados. Inicialmente, o projecto tinha por objectivo a exibição dos 14 lenços num único acto, mas os responsáveis optaram pela  apresentação de dois lenços por ano, prolongando a iniciativa até 2014. Tentando revitalizar uma outra tradição vimaranense, os responsáveis decidiram que Dezembro era a altura ideal para promover a iniciativa, coincidindo com as festividades em honra de Santa Luzia, em que tradicionalmente as raparigas oferecem as «passarinhas» aos namorados e estes os «sardões» às pretendidas. Refira-se que sardões e passarinhas são um doce local feito de açúcar em forma dos pequenos répteis e aves.


«A tradição só se mantém se se for incorporando elementos novos, senão as pessoas não se identificam», assevera a vereadora vimaranense, justificando a escolha dos poetas e artistas plásticos que participaram no projecto, que já deu à estampa quatro Lenços Enamorados. Até ao momento assinaram trabalhos os poetas António Ramos Rosa e Casimiro de Brito (2008), Albano Martins e Fernando Guimarães (2009), e os artistas plásticos José de Guimarães e João Machado (2008) e, na última edição, Joana Vasconcelos e Helena Cardoso.
Para esta última, o convite foi uma honra e um orgulho, mas as restrições, que se prendem com as normas da tradição, cercearam-lhe a criatividade. «O que queria era fazer do Lenço Enamorado uma peça de escultura», começa por referir a também estilista, acrescentando: «Isso é que era um desafio… Com os mesmos bordados e a mesma tradição, que são as silvas e os poemas de amor, deviam deixar-nos sem normas…»


Para a criadora, «O tamanho do lenço foi restritivo, pois queria fazer uma coisa muito maior, com outra visualidade, e se calhar não era quadrado. Depois seria todo branco, porque Portugal, a nível de bordado, tem um lugar fantástico no Mundo. Poucos países bordam como nós, a branco».
«Para morrer não era necessário a morte. Bastava o teu corpo.» Foi sobre este poema de Albano Martins que Helena Cardoso trabalhou o seu lenço: «Segui as normas, fui buscar as silvas, que são o entrelaçar do amor, mas depois tive uma dificuldade, quando descobri que o poema era erótico.»
Já para a bordadeira Adélia Faria, que corporizou as ideias de Helena Cardoso, esta foi «uma experiência riquíssima». Para a bordadeira, que pela segunda vez trabalha com a estilista depois de bordar umas roupas para um desfile, este «foi um trabalho exigente, mas muito aliciante».

À jovem artista Joana Vasconcelos calhou o estimulante poema de Fernando Guimarães: «Podemos encontrar em tudo o que esperamos um fruto só que exista na direcção dos ramos.»


Por seu turno, a bordadeira Isabel Oliveira, responsável pela execução do lenço, não regateia encómios à iniciativa: «É um prazer enorme e este trabalho mais contemporâneo dá-nos mais gozo, tanto nesta colecção dos Lenços Enamorados que começamos em 2008, como também noutros trabalhos que nos encomendam.»

Renovar a tradição

Para a Investigadora Maria José Meireles, que actualmente desenvolve um profundo estudo sobre os têxteis da região, «a iniciativa dos Lenços Enamorados tenta não só recuperar a tradição, como o bordado de Guimarães, mas também estimular a criatividade, senão as coisas morrem. Se as coisas se mantêm imutáveis acabam por desaparecer».


Uma aliança de metal precioso, um peluche, um telemóvel ou outro qualquer gadget, sinal dos tempos do progresso tecnológico que se vivem, são as trocas mais frequentes entre enamorados, mas a tentativa de preservar uma tradição como a dos Lenços dos Namorados, mais ainda quando, como está a fazer a secular cidade de Guimarães, se lhe empresta o cunho da modernidade, é um trunfo para a riqueza de qualquer povo.
«Todas as tradições, de carácter poético ou plástico, devem ser sempre renovadas, porque há um espírito novo do tempo e as artes devem estar sempre vivas e a acompanhar as pessoas», sustenta Firmino Mendes, responsável pela escolha dos poetas para o projecto.



A Palavra aos poetas



Firmino Mendes, poeta vimaranense actualmente a viver em Lisboa, foi o escolhido para seleccionar os 14 criadores que emprestaram os seus «poemas de amor, não extensos e que, de preferência, fugissem ao esquema da quadra». Sem critérios específicos, Firmino Mendes escolheu poetas de língua portuguesa consagrados, sem qualquer distinção geográfica, mas que representassem a universalidade da língua de Fernando Pessoa. A lista integra os nomes de Agripina Costa Marques, Albano Martins, Ana Luísa Amaral, Ana Paula Tavares (Angola), António Ramos Rosa, Arménio Vieira (Cabo Verde), Carlos Poças Falcão, Casimiro de Brito, Fernando Guimarães, Firmino Mendes, Luís Carlos Patraquim (Moçambique), Manuel António Pina e Silva Chueire (Brasil). Para o poeta Fernando Guimarães, esta é uma forma de «comunicação estimulante, porque tende para o amor», deixando ainda uma palavra sobre a iniciativa: «Guimarães encontra nas linhas dos bordados as linhas que a ligam ao passado.» Amantes incorrigiveis, os poetas encontram nas palavras mais banais a beleza do amor e da eternidade, como fez, para um lenço em 2008, António Ramos Rosa: «Na tua luz eu descubro/O meu verdadeiro fundo/Se eu te perdesse a ti/Perderia o sol do mundo.»

Um fio que vem do Século XIX



O que hoje é conhecido como bordado de Guimarães tem raízes no século XIX e nasce da apropriação pelas mulheres do povo de uma arte até aí quase exclusiva das classes nobres e da burguesia. A origem reside no bordado a branco – que segundo a estilista e artista plástica Helena Cardoso é uma riqueza ímpar de Portugal – quando as lavradeiras sentiam necessidade de adornar o vestuário, especialmente o domingueiro, dando-lhe  magnificência e maior ostentação. «As mulheres do povo vão aproveitar os pontos mais volumosos desse bordado a branco e começam a bordar consoante a sua própria sensibilidade e sem regras», conta Maria José Meireles, investigadora do Museu Alberto Sampaio, de Guimarães, referindo que este não é um bordado muito cuidado, pois «elas enchiam quase o pano todo com ponto muito cheio, exuberante, volumoso, repetitivo e assimétrico». As lavradeiras passam a bordar as camisas dos maridos a branco e os coletes para elas, geralmente, a vermelho, apesar de usarem ainda outras cores.
Até aos nossos dias o bordado de Guimarães passou por diversas fases e não pode dizer-se que seja um bordado contínuo, que foi evoluindo – passou por várias épocas e da miscelânea dessas influências a tradições é que surge o bordado actual. Após a apropriação do bordado pelo povo, a chegada da industrialização, em finais do século XIX, leva a uma quebra de importância do bordado, «pois muitas das lavradeiras vão trabalhar para as fábricas», explica a investigadora. É nesta altura que as senhoras da cidade começam também a bordar, salvando o bordado da extinção. Com os linhos da industrialização surgem nas lojas os atoalhados e demais têxteis para o lar «com um bordado que mais tarde se começou a chamar de Guimarães», revela.
Com as lavradeiras nas fábricas, as empresas recorrem às casas de bordados da Lixa, que fazem um bordado ligeiramente diferente, ao mesmo tempo que algumas das lavradeiras mais velhas continuam a fazer o bordado de memória, sem grandes regras, como afinal ele tinha nascido e resistido ao tempo.


Já em plena época nacionalista do século XX, a Escola Francisco de Holanda passa a leccionar no curso de formação feminina a disciplina de Lavores, o que vai aperfeiçoar e normalizar o bordado de Guimarães. A espontaneidade e a enorme criatividade de que o bordado viveu até meados do século passado são, então, restringidas. E como alguns dos professores eram originários de Viana do Castelo, o bordado vimaranense sofre nova influência vizinha, desta feita do bordado feito na cidade da foz do Lima. É um período de fraco progresso do bordado de Guimarães, que finalmente tem regras definidas: monocromia, podendo utilizar-se apenas cinco cores (branco, vermelho, azul, preto e bege), 21 pontos definidos e feito com linha de algodão. Quanto a motivos, o bordado vimaranense nunca fez escola, sendo predominantes os motivos rurais e os geométricos feitos ao sabor da sensibilidade e saber de cada bordadeira.
Com a Revolução de 25 de Abril de 1974 e o advento da Liberdade e da igualdade entre os sexos, o bordado sofre nova quebra, uma vez que as mulheres rejeitam as aulas de lavores. Então, nos anos 1980, por altura da candidatura de Guimarães a Património da Humanidade, a Câmara promove cursos de artesanato, um dos quais de bordados. «As professoras são as antigas alunas da Escola Francisco de Holanda e o resultado é um bordado mais perfeito, fruto do amadurecimento de todas as influências que sofreram enquanto alunas», conta Maria José Meireles.


A nova vida do bordado de Guimarães, entretanto certificado pela autarquia, é assegurada por bordadeiras que passaram por esses cursos e que aplicam o bordado, já não tanto em atoalhados, mas em vestidos de cerimónias, como de noiva e de baile, e ainda noutras peças tradicionais e mais pequenas, como lenços, bomboneiras, naperons, marcadores de livros e suportes para utensílios de cozinha, entre muitas outras.
Hoje, Isabel Oliveira, maria Conceição Pereira e Adélia Faria são as três bordadeiras que alimentam a loja d’A Oficina, estrutura criada pela Câmara para divulgar as artes tradicionais de Guimarães, e que continuam a bordar um fio que vem desde o século XIX e que tenta ganhar nova vida.

Fonte: Revista Notícias Magazine 14 /02/2010
Texto/Autor: Pedro Vasco Oliveira
Fotos da net
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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Amêijoa com 405 anos


Nem elefantes, nem mamutes, nem tartarugas, nem peixes pré-históricos. O animal mais velho do mundo é uma amêijoa. A surpreendente descoberta foi feita por um grupo de cientistas ingleses no fundo do Oceano Atlântico, a norte da Islândia. Depois de analisado e testado, chegaram à conclusão de que o bivalve tinha 405 anos.
Tinha, porque entre a recolha do oceano e a análise da sua concha, a amêijoa morreu.
Ming foi o nome dado pelos cientistas a um exemplar de amêijoa oceânica, encontrada no ano de 2006, e cuja idade foi inicialmente datada em 405 anos, através do método de contagem dos anéis da concha. Com esta notícia, Ming passou a fazer parte do Guinness Book por ser o molusco mais velho descoberto até à presente data. O recorde de Ming ultrapassa o de uma outra sua parente com 220 anos encontrada em 1982.

Uma segunda revisão dos anéis revelou que a idade real de Ming era afinal de 507 anos. A anterior estimativa foi subestimada devido à compressão dos anéis da concha (tal como se faz para saber a idade das árvores), havendo alguns anéis que ficavam sobrepostos sobre outros. A este método tradicional foram feitos outros testes mais avançados, entre os quais o teste do Carbono 14, podendo-se assim ter a certeza de que este molusco nasceu no ano de 1499 (mais ano, menos ano), na época da dinastia Ming na China, e apenas sete anos após a primeira viagem de Cristóvão Colombo até ao continente americano.
Para se ter uma ideia de longevidade, no seu primeiro ano de vida, Portugal estava sob o domínio Espanhol, Filipe II era o rei e William Shakespeare apresentava as suas primeiras obras. Quando completou 308 anos, Portugal passou a ser uma Republica. Alan Wanamaker, um dos cientistas afirmou ao ‘Sunday Times’ que não fazia ideia de que a amêijoa pudesse ser tão velha. Até que se deparou com a descoberta de mais de 400 linhas nas conchas. Em comparação com outros animais do planeta, convém referir que a mais velha tartaruga das ilhas Galápagos chegou aos 176 anos e um esturjão alcança os 150 anos de vida.

Fonte: Revista Notícias Sábado
Fonte/Autor : RS
Foto da net
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terça-feira, 24 de janeiro de 2017

A Origem francesa dos mariachi

Se pensava que não há nada mais tipicamente mexicano do que um mariachi, saiba que a origem da palavra é gaulesa.



O termo remonta a finais do século XIX, quando Napoleão III, apoiado pelos conservadores mexicanos, propôs o arquiduque Maximiliano da Áustria (na foto) para Imperador do México. Aqui, todos os festejos se faziam acompanhar por uma banda, cujas canções (muitas em referência às batalhas durante as guerras napoleónicas) faziam furor. Os casamentos eram as festas mais populares. Crê-se que o termo mariachi deriva da expressão francesa para ‘casamento’ (mariage).

Fonte: Revista Domingo
Texto/Autor: Desconhecido
Foto da Net
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quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Cerveja

A Loura que todos associam ao verão
Uma aliada da saúde

Já sabíamos que é a bebida alcoólica mais consumida em todo o Mundo. O que nunca se disse é que a cerveja protege contra os enfartes.

(A Estela de Hamurabi, onde estão escritas as leis mais antigas sobre a cerveja, no Museu do Louvre, em Paris)

A primeira cerveja de que há conhecimento foi fabricada há cerca de 5500 anos, pelos sumérios, um povo que habitava a Mesopotâmia. A estes é atribuída uma notável arte cervejeira a partir de um cereal que mais tarde seria chamado de cevada. Por ser uma nutritiva e agradável fonte de líquidos, era distribuída aos trabalhadores.

(Na altura essa bebida foi baptizada de Cerevisia, provavelmente em homenagem a Ceres, conhecida como sendo a “deusa das plantas que brotam” )(principalmente dos grãos).

(O primeiro documento escrito relatando o processo de produção de cerveja é uma placa de barro com inscrições cuneiformes, chamado de Hino à Ninkasi, escrito por um poeta Sumério, datado de 1800 a.C. Porém o Hino em si prova-se muito mais antigo que a escritura encontrada.)

Os sumérios difundiram a sua técnica a outros povos da Antiguidade, como os Assírios e os babilónios, que por sua vez a passaram a hebreus e a egípcios, entre outros. Mas foram os romanos que a difundiram pela Europa. No inicio da Idade Média, os mosteiros Europeus dedicaram-se à fabricação da bebida, que adquiriu o seu sabor característico pelas mãos dos monges. No tempo da quaresma, os padres alimentavam-se exclusivamente da cerveja. Em Portugal, esta bebida é consumida desde o século XII.
Uma das características principais desta beberagem é a sua capacidade de formar espuma abundante e estável. Para que esta seja realçada, o copo deve estar limpo e seco, sem vestígios de gordura. As cervejas são ricas em aromas e gostos diversos, de acordo com as matérias-primas, o processo de produção utilizado e a levedura escolhida.

Os Portugueses e a Cerveja

Segundo dados fornecidos pela Associação Portuguesa de Produtores de Cerveja, no ano de 2003 produziram-se 735 milhões de litros desta bebida. O consumo total rondou os 601 milhões de litros, sendo que cada habitante bebeu aproximadamente 60 litros.

Cerveja Milagrosa

Beber cerveja de forma moderada apresenta vários benefícios para a saúde.
Coração – Ajuda a manter o nível de HDL, colesterol benéfico ao organismo. Diminui o risco de doenças cardiovasculares. Protege contra enfartes do miocárdio.
Cancro da Mama – Compostos presentes na cerveja podem inibir o crescimento do cancro da mama.
Digestão – A cerveja aumenta a produção de ácidos no estômago, estimulando o fluxo de sangue e facilitando a digestão.
Diurese – A cerveja tem um efeito diurético superior à água.

Matérias-Primas da Cerveja

Água – De preferência muito pura.
Cevada – Utilizada por ser muito rica em amido. Para a sua transformação em malte, os grãos são macerados em água até germinarem.
Lúpulo – Planta utilizada para aromatizar a cerveja. É ela que lhe confere o travo amargo que é característico desta bebida.
Levedura – É um organismo molecular que actua nos açucares provenientes do malte, transformando-os em álcool. O paladar e o carácter da cerveja dependem muito da levedura utilizada.

Fonte: Revista Nova Gente nº 1456
32/04/NG – Infografia Impala/ Luís Gaspar
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terça-feira, 11 de outubro de 2016

Não eram demónios

Não eram demónios, apenas alucinações


Quando os gregos praticavam os ritos de Eleusis em honra da Deusa Demeter e da sua filha Perséfone, bebiam uma poção chamada ‘kykeon’ que os induzia a estados de êxtase e que, por conseguinte, os levava a ter alicinações. Hoje, crê-se que a substância responsável por estas viagens imaginárias era o claviceps purpúrea, um fungo que parasita os cereais (principalmente o centeio). Possuidores de alcalóides, que têm como núcleo o ácido lisérgico, não só fazem a pessoa ‘flipar’ como intoxicam, e muito, o organismo humano. O seu efeito produz gangrena nos dedos, nariz e orelhas. Provoca também ataques epilépticos e asfixia. Em abundância, pode até causar a morte.
Até ao século XVII foram muitos os que comeram pão contaminado e que juraram a pés juntos ver demónios. É o caso de Santo António quando andava de eremita. Daí que o mal fosse conhecido por fogo de Santo António. Os antonianos consagraram-se suas vítimas e encomendaram o quadro que ilustra esta peça de Brueghel. O resultado é simplesmente alucinante.

Fonte: Revista Domingo
Foto da revista
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sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Búzios

Conchas mitológicas


O Búzio é um molusco que possui uma concha em forma espiral. É o próprio animal que a constrói ao longo da sua vida, através da segregação de minerais que ficam depositados junto á abertura da concha, local onde vive a maior parte do tempo. Diz a cultura popular que é possível ouvir o som do mar, se encostarmos o nosso ouvido à “boca” do búzio. Independentemente da veracidade da história muitos atribuem uma conotação simbólica a estas conchas, talvez pela sua beleza ou pelo eco que produzem.
Os maiores exemplos desta simbologia são os jogos de búzios, uma prática da cultura Yoruba, muito comum em África e no interior brasileiro. Estes rituais permitem aos sacerdotes e médiuns das comunidades contactar com os Orixas, as divindades mitológicas desta cultura. O jogo mais conhecido é o Merindilogun, que consiste em lançar 16 búzios e analisar as combinações de resultados, ou seja se a concha cai com a abertura para cima ou para baixo. São 256 as combinações possíveis e existem várias formas de arremessos. 


São as proporções de abertos e fechados que vão definir o Odu, que nestas culturas simboliza o caminho de vida que cada pessoa tem. Existem muitas variações deste jogo. Umas envolvem cânticos invocatórios noutras fazem-se perguntas directamente aos Orixas, outras ainda exigem um conjunto mais elaborado de acessórios. Todos estes rituais têm origem turca muitíssimo remota e são para nós – europeus – realidades muito distantes, a que muitas vezes associamos a ideia de crendice.


No que diz respeito aos portugueses, continuamos a preferir coleccionar as conchas e admirar a sua beleza ou a imitar outras culturas e fazer alguns ornamentos típicos de verão, como brincos e fios para o pescoço. Os mais práticos e defensores da nossa tradição preferem-nos bem grelhados com molho de manteiga. No entanto, há também quem continue a procurar nos búzios o fundo do mar.

Fonte: Jornal DN
Texto: João Silva
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