Luís Pasteur, filho dum surrador de couros, discípulo dilecto do insigne químico João Baptista Dumas, em cujo laboratório se apurou a sua genial perspicácia, teve uma suprema ambição, que lhe deu glória e a admiração do Mundo – a luta da ciência em vencer a morte. Nenhum sábio moderno se pode comparar a Pasteur, que foi grande, imensamente grande, até na modéstia: quando, na casinha humilde onde nascera, foi colocada lápida comemorativa de tão excelsa data, ele, sem conseguir reter as lágrimas, exclamou comovidamente: «Ó meu pai e minha mãe, meus queridos ausentes, que vivestes aqui, longe de todas as vaidades, é a vós que tudo devo quanto hoje sou»!
Nunca ninguém se apegou tanto
ao valor da experiência que esse iminentíssimo director do laboratório da Rua
Ulm: baniu do campo científico a crença na inspiração, para substituir para
método experimental, que sempre conduz às mais belas e úteis descobertas.
Pasteur praticou o método experimental com maravilhosa habilidade e penetração.
Diante de um fenómeno já estudado por outros, sujeitava-o à sua portentosa
crítica experimental, e tendo cuidado punha em seus estudos que conseguia
eliminar, a pouco e pouco, o erro, para, vitoriosamente, encontrar a verdade,
em todo o seu esplendor apoteótico. Como ele se encantava diante das retortas e
do microscópio, em busca do mistério que envolve a origem e restauração da
vida! Foi ele, em audácias de génio, que soube descobrir o vasto mundo dos
micróbios, mundo novo, onde o mal existia num inimigo infinitamente pequeno, e
a sua doutrina surge nos preceitos seguintes: os fenómenos da vida devem-se ao
trabalho de agentes biológicos; estes agentes são os infinitamente pequenos,
que se encontram em todos os organismos; eles mesmo contêm em si o remédio aos
males que possam causar. Assim num autêntico milagre cientifico , Pasteur cria
a microbiologia, o primeiro passo dado no combate contra a Morte, sombra
tétrica que aflige a Humanidade inteira.
Estuda o vírus carbunculoso e
descobre o poder da imunidade da vacina correspondente. Trava discussão com os
veterinários de Turim, e, depois de lhes mostrar o motivo porque se frustraram
as experiências, ei-lo, corajosamente, ante da prova realizada em
Pouilly-le-Fort, num rebanho de cinquenta carneiros. Fica vencedor, e a gloria pertence
à França, a essa França que ele tanto ama, e as homenagens, logo prestadas ao
seu saber e admirável sagacidade, quase o intimidam, como o hino nacional
tocado em sua honra, no famoso congresso internacional de Medicina, em Londres,
hino que ele supõe ser executado para anunciar a presença do Príncipe de Gales.
As descobertas deste sábio
apresentam-se tão extraordinárias que abrangem a Medicina, a Veterinária, a
Agricultura e as Indústrias. A França deve-lhe tudo: é o processo de conservar
os vinhos; a maneira de evitar a doença nos bichos-da-seda, para produzirem
casulos bons; o melhor fabrico de cerveja; a cura da cólera das galinhas, pela
vacinação.
Torna-se quase divino quando
enfrenta, heroicamente, a luta contra a hidrofobia, ensaiando a inoculação da
saliva dos cães raivosos em coelhos sãos! Estamos a vê-lo, com o tubo de vidro
na boca, inclinado sobre um cão, sugando, sem receio da morte, a perigosíssima
saliva! Dramática experiência a do soro anti-rábico, numa criança alsaciana,
que, ao fim de trinta e um dias, se
encontra curada!
Pasteur merece as palavras
seguintes, que um notável médico-escritor, em 1895, escreveu como preito de
admiração: «Bendito seja este Moisés da Ciência! Glória àquele que trabalhou
denodadamente para diminuir o padecimento sobre a Terra»!
Fonte: Almanaque Diário de
Notícias (1954)
Texto/ Autor: Desconhecido
Foto da Net
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