(Mapa da antiga Jônia, no lado oriental do mar Egeu.)
A Escola Jónica é a primeira
a ser conhecida dentre as várias escolas filosóficas da Grécia Antiga, fonte
donde emanaram as mais remotas luzes da cultura ocidental.
Temos de remontar ao século VI a.C., à cidade de Mileto, capital da Jónia, na Ásia Menor. Aí encontramos uma filosofia – o vocábulo, constituído por Pitágoras, aparece pela primeira vez com Heródoto – bem diferente da actual: uma filosofia influenciada por Teogonias e Cosmogonias, aceitando ingénuas explicações tradicionais; filosofia que a evolução da vida pública e privada, como a religião, tornava necessária na Grécia.
(Pitágoras
sobre o propósito da vida e o significado da sabedoria.)
Os «físicos» procuravam, em
investigações de caracter prático, explicar a formação do Universo, tornando-o
inteligível, bem como o aparecimento do homem nesse Universo: inteligível sendo
para eles tudo o que pode reduzir-se a um princípio.
A multiplicidade de aspectos
do mundo actual deve corresponder uma origem simples. O processo seria,
portanto, passar dessa multiplicidade à unidade, justificando racionalmente a
evolução, passar do sensível ao inteligível.
Três nomes cumpre citar falando dos «físicos» de Mileto, a saber: Tales, Anaximandro e Anaximeno. O primeiro nada escreveu e os restantes, autores de obras sobre a Natureza, são como Tales, apenas conhecidos através de informações de Aristóteles e seus contemporâneos.
(Aristóteles
(384 a.C.) - Teologia e Moral.)
Aristóteles apresenta-os como investigadores buscando a matéria constituitiva das coisas, mas nada nos permite afirmar que tenham levado tão fundo as suas pesquisas, muito embora procurassem um princípio que desse a explicação do Universo.
(Tales de Mileto foi um
importante pensador, filósofo e matemático grego pré-socrático. É considerado,
por alguns, o "Pai da Ciência" e da "Filosofia Ocidental")
Para Tales a quem atribuíram
estudos de astrologia, previsão de eclipes e ensino da imortalidade da alma,
esse princípio era a água – o elemento húmido – certamente pela observação
directa da maneira como se geram e formam animais e plantas naquele elemento (a
geração espontânea era então aceita). Da água saíram tôdas as coisas.
Ao infinito, o «apeiron» como lhe chamava, atribuía poder creador Anaximandro; um infinito de matéria indeterminada, caos de elementos indistintos. A diferença qualitativa está já marcada desde o começo das coisas. O «apeiron» não é sólido nem líquido, quente ou frio; é, antes, a origem do sólido e do líquido, do quente como do frio.
(Anaximenes de Mileto “O ar
infinito é o princípio original do qual provém tudo que caminha para a
existência”)
Anaximenes precisa a natureza do Infinito de Anaximandro, identificando-o ao Ar. O Universo é um ser grande que uma vida anima; a respiração é-lhe indispensável, por isso, o Ar é causa primeira que envolve o mundo inteiro com seu poder criador e penetra em todas as coisas como a alma no ser vivo.
(Anaximandro de Mileto (em
grego antigo Ἀναξίμανδρος;
Mileto, Jônia;
c. 610 aC - c. 545 aC) foi um filósofo
e geógrafo da Grécia Antiga. Discípulo e seguidor de Tales, e
companheiro e professor de Anaxímenes,
considerava que o princípio
de todas as coisas (arché) é o apeiron. Ele é creditado
com apenas um livro, conhecido como On Nature. O livro se perdeu-se e a sua
palavra chegou até a atualidade através de comentários doxográficos de outros
autores. A ele também é creditado um mapa terrestre, a medição dos solstícios e
equinócios por meio de um gnômon, trabalhos para determinar à distância e o
tamanho das estrelas e a afirmação de que a Terra é cilíndrica e ocupa o centro
do universo.)
Explicação do Universo feita
por causa simples e naturais, no que diferem, portanto, estes pensadores das
primitivas teogonias e cosmogonias, que aceitavam plenamente o maravilhoso
mitológico.
Nestes filósofos há, se não
um passo para o ateísmo, uma diminuição de importância do papel divino na
criação.
Fundados nessas, hoje
consideradas ingénuas investigações descrevem-nos o mundo das maneiras mais
variadas: Para Teles e Anaximeno, um disco plano flutuando respectivamente nas
águas e no ar; para Anaximandro, uma coluna cilíndrica de base em diâmetro
igual a 1/3 da altura, sendo a base superior – onde vivem os homens – abaulada.
O problema da matéria – como
atrás foi dito – não se pode bem afirmar que tenha sido posto por estes sábios,
como Aristóteles pretende. Eles buscavam antes, levados por uma curiosidade
compreensível num povo de navegadores, resolver problemas de técnica científica
e, explicar fenómenos astronómicos, propagando a notável herança de Egípcios e
Assírios.
São mais importantes como divulgadores, estando a sua originalidade, sobretudo na escolha de imagens – quási sempre tiradas da arte da observação directa – e o seu mérito no interesse com que se lançam na busca do inacessível.
Fonte: Revista Ver e Crer
Nº3 Julho 1945
Texto: Nuno Gaivão
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