O Convento de Nossa Senhora do Desterro é um antigo
convento dos frades da Terceira Ordem Regular de São Francisco, localizado no
concelho de Monchique, no distrito de Faro, em Portugal. Foi fundado em 1631, e
apresenta uma arquitetura no estilo Manuelino. O edifício foi gravemente
danificado pelo Sismo de 1755, tendo depois sido reconstruído. Posteriormente
foi expropriado e dividido em várias parcelas, tendo sido algum tempo depois
abandonado, chegando a um avançado estado de ruína. O complexo do Convento
incluía igualmente uma magnólia monumental, que foi classificada em 1947, mas
que acabou por morrer em 2016.
O convento está situado no alto de um cerro, junto
à vila de Monchique, possuindo acesso por um arruamento denominado de Caminho
do Convento. O convento situa-se num local arborizado, de onde se desfruta de
um amplo panorama sobre a vila de Monchique.
Arquitetura e composição
O edifício do convento foi construído no estilo
Manuelino. Tem uma forma de quadrilátero, cuja zona oriental era ocupada pelo
primeiro átrio, onde foi instalado um brasão de armas da família Silva, e pela
nave da igreja e capela-mor. O átrio era denominado de portaria, sendo
utilizado, segundo uma tradição local, para oferecer alimento aos pobres da
vila.
A face Norte era composta por uma antiga sacristia
e uma capela, enquanto que a área Sul era formada por outras celas, e a fachada
da igreja com a sua torre. O lado poente consistia na frente da mesma capela e
por diversas celas, sendo também aí situado o refeitório e outra entrada do
convento.
Junto aos lados do refeitório situavam-se as mesas para os frades,
enquanto que ao fundo existia uma mesa mais pequena, provavelmente para o
superior do convento e outros membros importantes. A parede por detrás desta
mesa estava decorada com um painel de azulejos, representando o quadro A Última
Ceia, de Leonardo da Vinci.
No canto esquerdo da sala, junto à entrada, estava
situado um púlpito para a leitura, enquanto que no lado direito localizava-se a
cozinha. No espaço central do edifício situava-se o claustro, rodeado por uma
arcada com corredor, decorado como painéis de azulejos representando cruzes da
Via Sacra. Na face Sul do claustro estava a entrada para a casa mortuária. O
convento estava dedicado a Nossa Senhora do Desterro, cuja imagem foi guardada
na Ermida de São Sebastião.
O complexo do convento incluía igualmente uma
quinta, onde se situa a Fonte dos Passarinhos, que já esteve decorada com
azulejos representando aves.
Nesta quinta também estava situada uma magnólia,
que de acordo com a tradição, foi levada da Índia pelo fundador do convento, e
que foi classificada como de Interesse Público em 1947. A árvore, que chegou a
ser a maior magnólia da Europa, foi considerada um dos ex-Libris do concelho de
Monchique.
Na altura do seu falecimento, tinha um tronco com 5,58 m de
perímetro à altura de 1,30 m, uma copa com cerca de 30 m de diâmetro, e uma
altura de 27 m, tendo a sua idade sido calculada em mais de 200 anos.
História
o convento foi fundado no ano de 1631 por Pero da
Silva, que ocupou depois a função de Vice-Rei da Índia. O convento pertencia à
Franciscanos Terceiros. A sua criação está ligada a uma lenda, na qual dois
mareantes que estavam em perigo no oceano fizeram uma promessa de construir uma
igreja na primeira povoação em território português que vissem à chegada. Segundo
a mesma lenda, um dos navegantes trazia consigo uma pequena imagem de Nossa
Senhora em marfim, oriunda da Índia, que após o seu falecimento foi venerada
como relíquia pelos frades do convento. Durante uma tempestade em 1834, um dos
frades teria levado a imagem dentro do hábito, tendo sido entregue a uma
senhora para a guardar.
O edifício foi destruído pelo Sismo de 1755, tendo
sido depois reconstruído. Foi encerrado em 1834, no âmbito do processo de
extinção das ordens religiosas em Portugal, tendo sido nacionalizado e vendido
em hasta pública em 1842. Foi vendido em frações a vários proprietários, passando
a ter uma utilização residencial. Posteriormente o complexo foi abandonado,
tendo chegado a um avançado estado de ruína.
Em 1911, João Ribeiro Cristino da Silva relatou,
num artigo da revista O Occidente, que a igreja do convento já se encontrava
parcialmente arruinada.
Em 1915 terá sido feita a primeira referência à
magnólia, no Boletim Trimestral da Associação Protetora da Árvore, onde foi
relatado que «a soberba Magnólia de Monchique que representa a melhor árvore,
do género, de que por enquanto temos conhecimento.». Em 1947, a magnólia foi
classificada como de Interesse Público pelo Diário do Governo n.º 105, Série
II, de 8 de Maio.
Durante a Década de 1970, o convento, então já em
ruínas, foi ocupado por várias pessoas de baixos recursos, incluindo um casal
que assinou um contrato com os proprietários para o arrendamento do edifício. Em
1983, a autarquia iniciou o processo para a aquisição dos terrenos do convento,
tendo dois anos depois conseguido já obter várias partes do edifício. Em 2003,
foi aberto o concurso público internacional para a realização de obras de recuperação
no edifício do convento, e em 2004 o projeto foi autorizado pelo Instituto
Português do Património Arquitetónico, no valor de cerca de cinco milhões de
Euros. Em 2007, as antigas instalações do convento estavam ocupadas por uma
família de sete indivíduos, que tinham montado estruturas para animais
domésticos no claustro.
A magnólia morreu em 2016, após um período de
doença de cerca de dez anos. Em Março de 2017, a autarquia organizou uma
iniciativa em sua memória, no âmbito do Dia da Árvore, que incluiu a plantação
de dez magnólias por crianças, seis no local da antiga árvore, duas na Escola
EB 23 Manuel do Nascimento e outras duas na Quinta da Vila, junto às Piscinas
Municipais. Em 29 de Abril desse ano, a Vicentina - Associação para o
Desenvolvimento do Sudoeste organizou uma peça teatral no convento, no âmbito
do programa Momentos Fantásticos com o Património – Sítios com história. Também
em 2017, a autarquia de Monchique estava a preparar a aquisição do convento,
devido ao seu valor histórico e ao estado de ruína em que se encontrava. Este
processo foi complicado devido ao grande número de proprietários, tendo o
presidente da Câmara Municipal, Rui André, explicado que a autarquia estava a
propor a compra das partes cujos donos eram conhecidos, enquanto que as
restantes porções seriam expropriadas. O fim destas obras seria reabilitar o
edifício, de forma a garantir a segurança dos visitantes, e a possibilitar a
organização de eventos culturais ou religiosos na antiga igreja. O passo
seguinte seria a instalação de um ou hotel ou pousada de luxo que aproveitaria
parcialmente o convento e os terrenos em redor. O projeto aprovado em 2004
incluía a instalação de 28 camas em 24 quartos, dois dos quais em suite e outros
dois preparados para mobilidade reduzida. No piso térreo seriam instaladas uma receção,
um espaço para o culto religioso e outro para a sacristia, duas salas de estar
de dimensões diferentes, sendo a maior ligada à sala para refeições para
hóspedes, uma cozinha, instalações sanitárias e uma sala de refeições para
funcionários. No primeiro andar estaria a entrada principal, uma receção com
sala de estar, um escritório para a administração, treze quartos duplos, uma
suite e um quarto para deficientes, e um espaço para vários serviços. O segundo
andar seria ocupado por sete quartos, uma sala de estar com bar, e a copa de
piso. Os terrenos em redor do convento também seriam recuperados, incluindo os
tanques e a emblemática Fonte dos Passarinhos, e seria instalada uma piscina,
um espaço técnico e instalações sanitárias. Nesta altura, também tinha sido
criada uma petição pública para a recuperação do convento e alojar a família
residente no seu interior, mas falhou em obter apoio suficiente para este
empreendimento.
Durante o Incêndio de Monchique de 2018, o edifício
esteve ameaçado pelas chamas, tendo sido salvo devido à intervenção dos filhos
do casal, apesar da imprensa ter anunciado que o convento tinha sido destruído.
Foto: net
© Carlos Coelho