sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Búzios

Conchas mitológicas


O Búzio é um molusco que possui uma concha em forma espiral. É o próprio animal que a constrói ao longo da sua vida, através da segregação de minerais que ficam depositados junto á abertura da concha, local onde vive a maior parte do tempo. Diz a cultura popular que é possível ouvir o som do mar, se encostarmos o nosso ouvido à “boca” do búzio. Independentemente da veracidade da história muitos atribuem uma conotação simbólica a estas conchas, talvez pela sua beleza ou pelo eco que produzem.
Os maiores exemplos desta simbologia são os jogos de búzios, uma prática da cultura Yoruba, muito comum em África e no interior brasileiro. Estes rituais permitem aos sacerdotes e médiuns das comunidades contactar com os Orixas, as divindades mitológicas desta cultura. O jogo mais conhecido é o Merindilogun, que consiste em lançar 16 búzios e analisar as combinações de resultados, ou seja se a concha cai com a abertura para cima ou para baixo. São 256 as combinações possíveis e existem várias formas de arremessos. 


São as proporções de abertos e fechados que vão definir o Odu, que nestas culturas simboliza o caminho de vida que cada pessoa tem. Existem muitas variações deste jogo. Umas envolvem cânticos invocatórios noutras fazem-se perguntas directamente aos Orixas, outras ainda exigem um conjunto mais elaborado de acessórios. Todos estes rituais têm origem turca muitíssimo remota e são para nós – europeus – realidades muito distantes, a que muitas vezes associamos a ideia de crendice.


No que diz respeito aos portugueses, continuamos a preferir coleccionar as conchas e admirar a sua beleza ou a imitar outras culturas e fazer alguns ornamentos típicos de verão, como brincos e fios para o pescoço. Os mais práticos e defensores da nossa tradição preferem-nos bem grelhados com molho de manteiga. No entanto, há também quem continue a procurar nos búzios o fundo do mar.

Fonte: Jornal DN
Texto: João Silva
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