Conchas mitológicas
O Búzio é um molusco que possui
uma concha em forma espiral. É o próprio animal que a constrói ao longo da sua
vida, através da segregação de minerais que ficam depositados junto á abertura
da concha, local onde vive a maior parte do tempo. Diz a cultura popular que é
possível ouvir o som do mar, se encostarmos o nosso ouvido à “boca” do búzio.
Independentemente da veracidade da história muitos atribuem uma conotação
simbólica a estas conchas, talvez pela sua beleza ou pelo eco que produzem.
Os maiores exemplos desta
simbologia são os jogos de búzios, uma prática da cultura Yoruba, muito comum
em África e no interior brasileiro. Estes rituais permitem aos sacerdotes e
médiuns das comunidades contactar com os Orixas, as divindades mitológicas desta
cultura. O jogo mais conhecido é o Merindilogun, que consiste em lançar 16
búzios e analisar as combinações de resultados, ou seja se a concha cai com a
abertura para cima ou para baixo. São 256 as combinações possíveis e existem
várias formas de arremessos.
São as proporções de abertos e fechados que vão
definir o Odu, que nestas culturas simboliza o caminho de vida que cada pessoa
tem. Existem muitas variações deste jogo. Umas envolvem cânticos invocatórios
noutras fazem-se perguntas directamente aos Orixas, outras ainda exigem um
conjunto mais elaborado de acessórios. Todos estes rituais têm origem turca
muitíssimo remota e são para nós – europeus – realidades muito distantes, a que
muitas vezes associamos a ideia de crendice.
No que diz respeito aos portugueses,
continuamos a preferir coleccionar as conchas e admirar a sua beleza ou a
imitar outras culturas e fazer alguns ornamentos típicos de verão, como brincos
e fios para o pescoço. Os mais práticos e defensores da nossa tradição
preferem-nos bem grelhados com molho de manteiga. No entanto, há também quem
continue a procurar nos búzios o fundo do mar.
Fonte: Jornal DN
Texto: João Silva
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