segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Império do Luxo (Capitulo I)

Diamantes quase eternos


Existe no nosso planeta um território sem fronteiras. É um espaço cujo limite será o infinito povoado por cidadãos, que evoluem noutra dimensão apenas através de gostos exóticos e exclusivos. Chama-se Império do Luxo.


Desde a criação do Homem, que se verificou uma luta pelo direito à diferença. Se politicamente os esforços vão no sentido inverso, socialmente constata-se que o acesso a um estilo de vida mais restrito, a aquisição de bens especiais e a vaidade humana, são realidades indestrutíveis. Diferente entre iguais, é o objectivo próprio da ambição individual de cada ser. A pensar nesta mesma filosofia, nasceram personalidades cuja vida foi dedicada a proporcionar aos outros o acesso àquilo que só muito dinheiro consegue garantir.


Num universo repleto de marcas, de ideias consumistas e de autênticos ícones sociais, iremos descobrir ao longo de 10 capítulos, quem inventou, encontrou, promoveu e fabricou, os mais apelativos produtos de aparato e ostentação, que conhecemos através dos rótulos, com que sonhamos. E se tudo começou com a fricção de duas pedras, que originaram o fogo, a nossa história também se pode iniciar da mesma forma, mas apenas com uma: o diamante!

Erotismo



A imagem feminina como se pode apreciar através de Isabeli Fontana está permanentemente associada a jóias, quase transmitindo a ideia de que tudo quanto é belo será raro… e caro!

São mundialmente conhecidas, marcas que comercializam jóias de excepção: Tiffany’s, Van Cleef & Arpels, Cartier, Boucheron, Fred, Harry Winston e tantos outros joalheiros, cujas criações ofuscam tanto pelo trabalho de lapidação, como pela imaginação que constitui o seu design, sempre diferente e permanentemente capaz de surpreender pela originalidade, qualidade e meticulosidade aplicadas na sua elaboração. Por detrás desta enorme visibilidade, esconde-se uma empresa que explora o famoso minério, desde a África do Sul até á Rússia: De Beers!


Criada e controlada pela família Oppenheimer, esta multinacional com escritórios espalhados pelo Mundo inteiro, tem a sua sede em Juanesburgo, onde o Harry, Frederick, bisneto do fundador, gere este império avaliado em biliões de dólares, que sozinho representa metade das erxportações de toda a África do Sul.(Harry e Nicky Uma sucessão quase dinástica na família Oppenheimer)


(Harry e Nicky Uma sucessão quase dinástica na família Oppenheimer)

Responsável por cerca de 85 por cento da extracção mundial de diamantes, a De Beers pode ser considerada monopolista no mercado do “brilho”. De origem Holandesa, a família Oppenheimer prima pela descrição e por um comportamento quase tímido. Deve salientar-se que nesta esfera, os negócios se tratam com enorme confidencialidade, embora transpirem alguns números. Em 1977 por exemplo, a De Beers pagou á União Soviética o montante de 500 milhões de dólares, pelos direitos exclusivos da comercialização de diamantes retirados do subsolo soviético.
A dinastia Oppenheimer, e a sua megaempresa, mantêm-se com enorme destaque na liderança internacional do mercado de pedras preciosas, criando uma dependência absoluta, aos seus compradores finais, ou seja a joalharia mundial.

Bailes, guerras e comunicação


Talvez o leitor não saiba que os colares, anéis, pulseiras, brincos ou coroas, elaborados com diamantes de diversos tipos e origens, partilham a sua matéria prima com simples cabos eléctricos, que recorrem ao diamante industrial, específico de determinadas minas, para obter melhor qualidade de transmissão.
As guerrilhas africanas, assim como as suas eternas lutas pelo podes, são financiadas, com alguma regularidade, pelo nobre minério, que não é aparentemente tão inocente como aparenta, quando colocado em volta de um pescoço de Hollywood, de uma aristocrata austríaca, ou de um modelo da casa Cartier. Para além do fascínio que reconhecidamente exerce sobre as mulheres, esta simples pedra, responsável por tantos conflitos, pode também salvar vidas.
Também no cinema os diamantes ornamentaram os mais ilustres corpos, dando o mote a numerosos filmes como A Pantera Cor-de-Rosa Volta a Atacar, Pequeno-Almoço no Tiffany’s, Os Diamantes são Eternos – 007 e tantos outros.
Sempre que as palavras luxo e riqueza são mencionadas, a joalharia está presente. Mesmo nas grandes convulsões internacionais, nas crises económicas, ou nas crashes bolsistas, os diamantes são a melhor forma de transportar dinheiro. O pequeno volume que ocupam e, o interesse que criam à sua volta, permitem ao seu detentor a rápida realização de liquidez. Antuérpia é historicamente a plataforma giratória para transacções rápidas, mas Nova Iorque também tem um estatuto de relevo. As grandes marcas de joalharia que já citámos, e eventos ao estilo dos Oscars de Hollywood, do festival de Cannes ou dos Bailes do Mónaco, são apenas o lado mediático de um negócio multimilionário, insensível a tendências de moda ou á ditadura feroz dos estilistas. Eles são intemporais. Como cantava Shirley Bassey, Diamonds are Forever… (Os Diamantes são eternos) ou será que a saudosa Marylin Monroe detinha a verdade ao interpretar Diamonds are a Girl’s Best Friend? (Os Diamantes São os Melhores Amigos da Mulher?).

Portugal na Rota


No Século XVI, os portugueses descobrem o caminho marítimo para a Índia. Na altura eram os judeus que controlavam o mercado mundial de diamantes, cujas extracções se concentrava justamente em território indiano. A comunidade judaica estabelecida em Portugal, e na época constituída por judeus não europeus, rapidamente fez acordos com os oficiais da armada portuguesa, para que os mesmos negociassem as valiosas pedras, directamente em Goa, transportando-as depois para Lisboa a bordo das caravelas lusas, transformando-a na entrada europeia para este mercado.

Burton – Taylor


Em 1966 foi extraída de uma mina sul-africana, uma gema fabulosa com cerca de 244 carates. Adquirida pela casa Harry Winston, a pedra foi talhada e polida em forma de pêra e posteriormente vendida a Vera Krupp, mulher do rei do aço, Alfred Krupp, agora com “apenas “ 66 carates, ficando conhecido por Krupp Diamond. Três anos depois a sua proprietária levou a leilão, sendo a Cartier, quem venceu a licitação. No dia seguinte, o actor Richard Burton, comprou-a ao conhecido joalheiro, por montante não revelado, e ofereceu-o à sua mulher Elizabeth Taylor, passando então a ser conhecido por Diamante Burton – Taylor.
Dez anos após esta oferta, Elizabeth leva novamente a jóia a leilão, obtendo três milhões de dólares, por parte de um comprador saudita. A verba foi oferecida pela actriz a um fundo de solidariedade, para a construção de um hospital no Botswana, curiosamente um país com enormes jazidas deste minério, mas escandalosamente pobre! Nos nossos dias, o valor seria substancialmente superior, mas regista-se o acto de nobreza da famosa actriz.

Fonte: Revista Nova Gente
Texto: Miguel Soares
Foto da net
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