As casas de papel, ou
casas de armar, popularizaram-se a partir da década de 1930, graças à inclusão
em revistas e suplementos infantis de jornais.
Um País para recortar e
colar.
Em Abril de 1934, a
revista A Arquitectura Portuguesa alertava para a proximidade do dia em que o
nudismo se tornaria «um império absoluto no mundo». Pensem no total
desguarnecimento de roupas em certas zonas balneares, apliquem-no à
arquitectura e verão o dia em que «toda a construção se reduzirá a paredes lisas
com buracos». Não é particularmente excitante. Na verdade, corresponde ao
cenário mais vulgar dos nossos horrendos subúrbios – reflexo do tempo em que
«as cidades serão construídas por cubos ou outros sólidos», e os arquitectos se
tornarão os «arquidesgraçados» do futuro», como então descrevia o autor do
artigo. Ao arrepio deste prognóstico, as casas de armar representaram no
entretenimento sólido pelas várias gerações de crianças. Além de cola e
tesoura, pedia-se paciência e perfeccionismo, uma dupla hoje tão fora de moda
como as pobres Manas Perliquitetes. Ideologicamente, representavam um Portugal
globalizado á escala regional, um outro Portugal dos Pequenitos, para quem não
tinha televisão nem automóvel. Numa viagem à roda do quarto, planificava-se e
construía-se um país de papel. Num extremo, a casa minhota, de pedra granítica
e balcão de madeira alpendrado, com a latada a fazer sombra e, por baixo, a
corte dos animais. No outro, as brancas açoteias algarvias, de um cubismo
radical e ofuscante, uma espécie de antípodas onde as pessoas andavam em cima
do telhado, coisa estranha. Mas bastava seguir as instruções à risca e tudo
fazia sentido.
Fonte: Revista Notícias
Magazine
Texto: Carla Maia de
Almeida
Fotos da Net
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