O desejo de comer carne
coloca uma questão ética, desde que os seres humanos conseguiram uma produção
agrícola fiável: precisamos, realmente, de matar animais para viver? Mas há
mais: os gases e os dejectos de todas essas galinhas, porcos e vacas estão a
contribuir para as mudanças climáticas. A ideia da carne de imitação nunca foi,
por isso, tão atractiva.
No ano de 2010, cientistas
da Universidade do Missiouri (EUA) anunciaram que, após mais de uma década de
investigação, tinham criado o primeiro produto de soja que não só pode ser
preparado para saber a galinha, como se desfaz na boca da mesma maneira. O
mundo vegetariano anda em pulgas para ter acesso à invenção. «Juntamente com o
presunto, o frango sempre foi o santo Graal», diz Seth Tibbott, 59 anos, decano
dos inventores da carne de soja.
A empresa de Tibbott, a
Turtle Island Foods, tornou-se famosa pelo peru falso bem apaladado. Mas
Tibbott diz que os esforços para criar um frango falso credível chocam com a
textura magra da ave e com o seu sabor delicado. «O peru tem um sabor parecido
com o da caça», diz, «e é mais fácil imitar sabores fortes.»
Tibbott está agora a
estudar a possibilidade de comprar a invenção do Missiouri. Segundo a
Associação de Alimentos de Soja da América do Norte, as vendas anuais de
produtos de soja totalizaram 3 300 milhões de Euros em 2008, contra os 240
milhões em 1992. Mas 3300 milhões são, para usar uma metáfora alimentar, apenas
pevides. Os norte americanos gastam cerca de meio bilião de dólares em carne,
todos os anos. Uma alternativa que conseguisse conquistar nem que fosse 10%
deste mercado faria alguém muito rico.
Galinha ‘in vitro’
Há muito que os
especialistas de saúde pública anseiam por uma carne de soja credível, pois ela
é uma excelente fonte de proteína e tem menos gordura e colesterol do que a de
animais. Mas embora a galinha falsa do Missiouri tenha a consistência certa, ainda lhe falta ser
temperada e fortemente salgada para saber a carne. Daí que a próxima fronteira
da alimentação verde seja a carne real criada
in vitro – que não é cortada de um animal, mas de um prato de
laboratório, e que oferece todo o sabor sem a carnificina de gado.
A Organização People for
the Ethical Treatment of Animals (PETA) oferece um prémio de 1 milhão de dólares
(800 mil Euros) a quem consiga colocar no mercado galinha in vitro até 2012. Tal como muita coisa que a PETA faz é uma
habilidade publicitária: segundo Jason Matheny, um vegetariano que gere uma
firma de capital de risco chamada New Harvest, a carne in vitro está «pelo menos a dez anos de distância».
Entretanto, Tibbott e
outros defensores de soja, incluindo os cientistas da Universidade de
Missioury, acreditam que podem preencher a lacuna, oferecendo carnes falsas mas
realistas. Quem sabe? Talvez um dia possamos encomendar uma fajita de galinha com picante, feita de
soja. Podemos até nem dar pela diferença, mas o planeta vai dar.
Primeiro
Pega-se numa mistura seca
de proteína de soja em pó e farinha de trigo, junta-se água e deita-se num
processador de comida industrial. Inicialmente, parece uma massa de bolo. Mas,
à medida que passa pelas rodas do misturador e é aquecida a, precisamente, 175
graus, a massa começa a ganhar firmeza e forma estrias complexas. Os cientistas
precisaram de muitos anos para chegar à temperatura certa, e mais uns tantos
para descobrir como arrefecer o bolo de soja rapidamente, antes de se desfazer.
Fonte: Revista Visão (8 de
Julho de 2010)
Texto/Autor: Revista TIME
por John Cloud
Fotos da net
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