Drácula, sangue por sangue
Para os ocidentais, Vlad
Tepes é o Conde Drácula. Para os Romenos é um príncipe sanguinário mas justo, o
defensor do povo, que só empalava traidores e ladrões.
As opiniões dos
historiadores romenos dividem-se alguns comparam Vlad Tepes a Drácon de Atenas
(legislador grego do século VII a.C.) e veem-no como um génio político; outros
consideram-no um celerado sádico.
“O Empalador” continua a
ser uma figura muito presente no imaginário colectivo e dos decepcionados com a
sociedade de hoje, a corrupção e a injustiça invocam-no novamente, como fez
outrora o grande poeta romeno Mihai Eminescu (no final do Século XIX): “Porque
não voltas, Senhor Vlad, o Empalador?”
O historiador Bogdan Ioan
critica a tendência de alguns estudiosos para fantasiar sobre Vlad Tepes.
Alerta para que a historiografia romena tem tendência para apresentar o voivoda
(príncipe) como protector dos pobres e dos justos, bem como um governante
organizador. Para Bogdan, “O Empalador” foi “um tirano brutal e um monstro
desumano”. “Deviamos ter vergonha, e não apresenta-lo como um modelo de bravura
e patriotismo”, escreveu.
Tanto
bom quanto mau. E vilão?
Outros historiadores, como
Constantine C. Giurescu, justificam os seus actos de crueldade com o superior
interesse da nação: “As torturas e as execuções não eram caprichos; tinham a
sua razão de ser num mundo onde ainda não tinha sido inventado o principio
da diversidade de opinião”. Os massacres
teriam, portanto, justificação, já que visavam instalar ordem e a honestidade,
e consolar o reino.
No entanto, a imagem mais
desfavorável de Vlad, “O Empalador”, encontra-se nas crónicas germânicas e
eslavas. Alguns especialistas desacreditam-nas totalmente, dizendo que são
absolutamente falsas. Outros embora conscientes de que contêm elementos
inventados, destinados a impressionar um público ávido de sensionalismo, acham
que são documentos com valor histórico.
O historiador Lucian Boia
acredita que se criou em torno de Vlad Tepes um mito de Rei duro, mas justo,
que matava os nobres gananciosos e corruptos: “ É uma mitologia que ainda está
muito viva na Roménia e de que os romenos
deviam passar a desconfiar. É o característico culto romeno do líder,
resultado de uma sociedade camponesa, respeitosa do príncipe. Vlad Tepes é o soberano
que tem sempre razão, contra uma elite ávida de riqueza e poder. O seu sucesso
prendeu-se com a veneração por um povo insuficientemente politizado, que adora
os dirigentes, sejam eles príncipes, reis, presidentes comunistas ou
pós-comunistas”.
Outro historiador, Neagu
Djuvara, descreve, no seu livro O Scurt?
Istoire a Românilor Povestit? Celor Tineri (Breve história dos romenos
contada aos jovens), a execução por empalação: “Era uma agonia terrível.
Espetava-se uma grande estaca no chão e o condenado era como que crucificado
nela. Depois – coisa terrível só de se dizer – untava-se um pau com sebo e
introduzia-se-lhe entre as nádegas; mas muito lentamente, para não causar morte
imediata. Não devia perfurar o fígado nem o coração, antes se pretendia que
saísse pelo pescoço. E o homem ficava em exposição, para que os corvos lhe
comessem os olhos”.
Embora lhe tenham criado
uma imagem de monarca justo, próximo do povo, as crónicas eslavas contam, que
certa vez, o voivoda ordenou a reunião dos mendigos e doentes do território,
trancou-os numa casa, alimentou-os à saciedade e, em seguida, ateou fogo ao
edifício.
Um tirano demente e
vingativo
Os saxões da Transilvânia
contam-se entre as vítimas de Vlad Tepes. Descontentes com as facilidades
comerciais concedidas pelo governante romeno, os saxões de Sibiu e de Brasov
deram apoio e abrigo a vários pretendentes ao trono. Como resultado, “O
Empalador” cruzou várias vezes as montanhas dos Cárpatos para assolar as
aldeias da região de Tara Barsei (Burzenland, no Sul da Transilvânia). Rezam as
crónicas que o governante confiscou a fortuna de 600 comerciantes de
Burzenland, antes de os empalar.
As crónicas descrevem
também o cinismo do voivoda: terá obrigado um pretendente ao trono a cavar a
sua própria sepultura antes de o matar; e terá empalado o comandante otomano
Hamza com uma vara maior do que a de outros turcos.
Uma das histórias eslavas que,
ao que parece, era leitura de cabeceira de Ivan, “ O Terrível”, narra um
episódio em que alguns turcos se recusaram a descobrir-se perante ele; Vlad
ordenou que os turbantes fossem pregados às suas cabeças. Está escrito que,
certa vez, na estrada, encontrou um homem com uma camisa suja; foi a casa dele
e mandou empalar a mulher ali mesmo, para puni-la pela sua preguiça.
O que é garantido, para lá
das histórias improváveis surgidas da imaginação delirante dos contemporâneos,
é que Vlad Tepes foi um homem de rara crueldade, mesmo para a época. O original
do seu famoso retracto, que aparece nos manuais escolares, está ainda hoje no
castelo de Ambras, perto de Innsbruck, num museu dos horrores, entre outras
monstruosidades imortalizadas em pintura.
Fonte: Jornal Evenimentul
Zilei (Bucareste)
Texto/Autor: Andreea Dogar
Fotos da net
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