(Καππαδοκία)
A Capadócia (em turco: Kapadokya, em grego: Καππαδοκία; transl.: Kappadokía) é uma região histórica e turística da Anatólia central, na Turquia.
A noção de
"Capadócia" é tanto geográfica como histórica, tendo os seus
contornos variado consideravelmente, conforme as épocas e pontos de vista. O
geógrafo e historiador grego Heródoto considerava que a Capadócia estava
delimitada pelos Montes Tauro a sul, pelo Lago Tuz (em turco: Tuz Gölü) a
oeste, pelo rio Eufrates a leste, e pelo mar Negro a norte, uma área que,
com algumas variações, foi sucessivamente uma satrapia (província) persa,
satrapia do Império Macedónio, Reino da Capadócia e província romana.
Atualmente, o termo
Capadócia tanto pode referir-se a uma área de aproximadamente 15 000 km² entre
Aksaray, Hacıbektaş, Kayseri e Niğde, cuja população total não chega ao milhão de habitantes, como a uma área muito mais restrita, o triângulo com
aproximadamente 20 km de lado delimitado por Nevşehir, Avanos e Mustafapaşa, a sul de Ürgüp, sendo esta última zona a mais conhecida em termos turísticos. Em muitos
mapas, o nome da Capadócia não é mencionado, já que não corresponde a qualquer demarcação política.
(Capadócia com neve)
Em alguns contextos,
principalmente na Antiguidade, o termo Capadócia designa uma região ainda mais
vasta que a descrita por Heródoto, estendendo-se à costa mediterrânica a sul e
quase até o que é hoje a Arménia a norte. O historiador grego Estrabão chama
Cilícia à zona administrativa do que é hoje Kayseri, a antiga Cesareia e
Mazaca, um termo que é mais usualmente aplicado, pelo menos em registos mais
recentes, à região costeira do sul/sudeste da Anatólia.
As características
mais distintivas da região são as formações geológicas únicas, resultado de
fenómenos vulcânicos e da erosão, e o seu rico património histórico e cultural,
nomeadamente cidades subterrâneas e inúmeras habitações e igrejas escavadas em rocha,
muitas destas com admiráveis frescos.
Em 1985, o Parque Nacional de Göreme, uma
das áreas mais famosas da região, com 9 576 ha, foi declarada Património
Mundial pela UNESCO.
(Parque Nacional de Göreme)
A região é habitada
há milhares de anos continuamente. Algumas civilizações antigas floresceram
aqui, como a dos Hititas, tendo a região sido ocupada e sofrido influências de
outras civilizações originárias da Europa e da Ásia Menor, tendo todas elas
deixado a suas marcas.
(habitações
trogloditas)
As características
geológicas deram origem a paisagens que são frequentemente descritas como
lunares, se bem que a região não seja desértica. As rochas da região,
principalmente tufo calcário,[carece de fontes] adquiriram formas caprichosas
ao longo de milhões de anos de erosão, e são suficientemente macio para
permitir que os humanos construam as suas habitações escavando-as, em vez de
erigir edifícios, o que faz com que nessas paisagens lunares abundem cavernas
naturais e artificiais, algumas delas ainda habitadas.
A situação
geográfica da Capadócia, tornou-a encruzilhada de rotas comerciais importantes
ao longo dos séculos e tornou-a alvo de contínuas invasões. Para se refugiarem
durante as invasões e razias, os habitantes construíram refúgios subterrâneos,
por vezes verdadeiras cidades, supondo-se que as mais antigas podem remontar ao
tempo dos Hititas, há mais de 3 000 anos, e que muitas ainda estarão por
descobrir. Algumas podem ser visitadas, como é o caso das de Derinkuyu,
Kaymakli, Özkonak e Mazi. Estas cidades teem vários níveis — a de Kaymakli, por
exemplo, tem nove, embora apenas quatro estejam abertos ao público, estando as
outras reservadas para investigação arqueológica e antropológica, — e dispõem
de canais de ventilação, cavalariças, padarias, poços de água e tudo o mais
necessário para que os seus ocupantes, cujo número podia alcançar os 20 000,
pudessem resistir durante vários meses sem que fossem detectados pelos
invasores. Durante o período bizantino, algumas destas construções subterrâneas
foram transformadas em igrejas e decoradas com frescos nas paredes e tectos.
Origem e significado
do nome
Crê-se que o nome
Capadócia provém do vocábulo hitita Katpadukyant (terra de cavalos de raça). Outras fontes apontam a origem do nome nos persas, que chamaram à região
Katpatuka (igualmente "terra de cavalos de raça" ou de "terra de
belos cavalos"). No entanto, o termo Katpatuka não é de origem persa,
embora Heródoto referisse na sua descrição da conquista da Lídia pelos Hititas
que era esse o nome dado à região pelos persas. Os gregos chamavam à região
Leucosyri (Λευκόσυροι, (sírios brancos).
A fama dos cavalos
da região remonta, pelo menos, ao tempo dos assírios. Há registos dos reis
Assurbanípal (século VII a.C.), da Assíria, Dario I (521–485 a.C.) e o seu filho
Xerxes I (519–465 a.C.), da Pérsia, terem recebido como presente cavalos da
Capadócia, e Estrabão relata que os cavalos faziam parte do tributo da região
aos persas.
(Detalhe assírio no
Museu das Civilizações da Anatólia, Ancara)
Geografia e geologia
(O vulcão Argeu
(Erciyes Dağı), a montanha mais
alta da Capadócia e da Anatólia Central (3 917 m))
(O vulcão Hasan (3
268 m))
Toda a região se
encontra num planalto com aproximadamente 1 000 m de altitude, o que, aliado à
sua situação muito interior, explica o seu clima marcadamente continental, com Verões quentes e secos e Invernos frios com neve. A precipitação é esparsa e a
maior parte da região é semi árida quando não mesmo árida.
A paisagem única da
região é o resultado da ação de forças naturais ao longo de milhões de anos.
Há 60 milhões de
anos formou-se a cordilheira de Tauro, na Anatólia meridional, ao mesmo tempo
que se formavam os Alpes. A formação daquela cordilheira deu origem a numerosas
elevações e depressões na Anatólia central.
A atividade dos
vulcões da Capadócia, nomeadamente o Argeu (Erciyes), Hasan, Acıgöl, Göllü e
Melendiz, entre o Miocénico superior, há cerca de 10 milhões de anos, até ao
Pliocénico, há cerca de 2 milhões de anos, cobriram a região de estratos
ignimbriticos de diferentes densidades. No início do Quaternário,
depositaram-se lavas basálticas bastante mais duras. Calcula-se que, só o
Erciyes terá originado depósitos que cobriram 10 000 km² com uma espessura
entre 100 e 500 metros.
Sob o efeito do
arrefecimento do clima no Quaternário, a crosta basáltica abriu fendas e o solo
desagregou-se, permitindo que a água e neve se infiltrassem e acentuassem a
erosão, mais acentuada nos estratos mais macios, isolando cones de material
mais resistente e escavando vales. Durante os períodos mais secos, foi a erosão
dos ventos e da areia por eles levantada que foi mais determinante na
modificação da paisagem. Este tipo de erosão é mais notável na superfície dos
cones. Quando na parte superior destas elevações existe rocha basáltica, mais
resistente ao efeito abrasivo, são formadas as chamadas chaminés de fadas, as
quais são cones coroados por grandes pedras praticamente planas, que tanto
aparecem isoladas, como em grupo, criando paisagens insólitas. Com a continuação
do efeito da erosão, os pedestais dos blocos basálticos acabam por colapsar.
(Vista de um vale
com chaminés de fadas)
(Alguns locais mais
interessantes para o visitante da Capadócia)
(O vale de Avcilar,
na região de Nevşehir)
As zonas sem basalto
deram origem a vales, as zonas de tufo macio desagregaram-se completamente,
formando zonas planas poeirentas, enquanto que nas encostas, a erosão esculpiu
desfiladeiros, mesas, escarpas, pirâmides de 15 a 30 metros, picos, agulhas que
por vezes lembram minaretes, cones e chaminés de fadas. A erosão continua nos
nossos dias: os picos e cones atuais vão desaparecendo lentamente, ao mesmo
tempo que outros se estão a formar nas encostas à beira dos planaltos.
A tufa desagregada
dá origem a um solo muito fértil quando é irrigado e adubado com o fertilizante
típico da zona, fezes de pombo.
Embora os vulcões se
tenham praticamente extinguido no 2º milénio a.C., há indícios de erupções mais
tardias, nomeadamente uma em 253 a.C.
Algumas das povoações
mais importantes da região:
Aksaray
Avanos
Göreme
Gülagaç
Gülşehir
Kayseri (Mazaca da
Antiguidade, Cesareia romana e bizantina)
Nevşehir (antiga Nissa)
Niğde
Uçhisar
Ürgüp
Alguns dos locais
com mais interesse para o visitante:
Museu ao ar livre de
Göreme;
Peribacalar vadisi
(vale das chaminés de fada);
Cidades subterrâneas
de Derinkuyu, Özkonak, Tatlarin, Mazi e Acigöl;
Vale de Zelve;
Vale de Soganli;
Vale de Soganli;
Vale de Ihlara
Gomeda;
Diversas igrejas
bizantinas, a maior parte das quais em cavernas, como sejam as de El Nazar e
Aynali
História
Çatalhüyük e
Puruskanda
Çatalhüyük foi um
povoado Neolítico situado a sul do que é hoje Konya, aproximadamente 200 km a
este-sudeste de Aksaray. Durante alguns anos apontado por muitos como o mais
antigo exemplo conhecido de povoamento urbano em todo o mundo, data do 7º
milénio a.C.. Aí foi encontrado o que se considera o começo da história da
Anatólia. Trata-se de um fresco mural, que apresenta em primeiro plano as casas
da localidade, e ao fundo um vulcão fumegante em erupção. Crê-se que esse
vulcão sejam o Hasan Dag, distante aproximadamente 300 km de Çatalhüyük. O
fresco está exposto no Museu das Civilizações da Anatólia, em Ancara, e é provavelmente
a pintura paisagística mais antiga do mundo.
Entre o 6º e o 5º
milénios a.C., a Capadócia tinha vários principados independentes. A cidade
mais importante desse período era Puruskanda. No século XXIII a.C. 17 destes
principados uniram-se para lutar contra o rei acádio Naram-Sin, no que foi a
primeira de muitas alianças na história da Anatólia e Capadócia.
Os primeiros
habitantes conhecidos da Capadócia foram os hatitas, cuja capital, Hattusa,
situada a aproximadamente 200&km a norte de Nevşehir, seria posteriormente a
capital dos Hititas. A civilização hatita remonta ao 4º milénio a.C., época dos achados mais antigos de Alacahöyük, a estação
arqueológica mais importante dessa civilização, situada a pouco mais de 20 km a
norte de Hattusa.
Colónias comerciais
assírias
No início do 2º
milénio a.C., a Anatólia viveu um período florescente, tendo atraído numerosos
habitantes. Os assírios, célebres pelas suas qualidades comerciais,
instalaram-se na região, atraídos pelas suas riquezas, principalmente minerais,
organizando bazares chamados kârum. O kârum mais importante foi o da cidadela
de Kanesh (hoje Kültepe), a Neša dos hititas. Os assírios vendiam estanho,
têxteis e perfumes, e compravam ouro prata e cobre.
Este tipo de
comércio durou aproximadamente 150 anos, tendo acabado devido a guerras entre
reinos da região. Em 1925, uma equipa de arqueólogos descobriu em Kültepe as
Tábuas da Capadócia, que descrevem a colónia mercantil dos tempos assírios e
que são o documento escrito mais antigo sobre a história da Capadócia.
(Ríton (vaso ritual)
em terracota em forma de leão datado do século XVIII ou XIX a.C. encontrado em
Kültepe)
Império hitita
Há poucas certezas
quanto à origem da civilização hitita, embora alguns acreditem que são
originários precisamente da Capadócia, mas é certo que ela floresceu na
Anatólia central, com a Capadócia incluída, no 2º milénio a.C. tendo Hattusa
(perto da atual Boğazkale, até recentemente, Boğazköy) como capital.
Os hititas fundaram
vários povoados em conjunto com os habitantes locais e constituíram um império
que se estendia até à Babilónia. O império durou cerca de 600 ou 700 anos, e
pôs fim à dinastia semita de Hamurabi na Babilónia. Os séculos XV e XVI a.C.
foram especialmente importantes na história hitita, marcando o apogeu da
civilização. Alguns séculos mais tarde, as guerras com o Antigo Egito, que
culminariam no célebre tratado de paz de Kadesh, de 1286 a.C., desgastaram o
império, que acabaria por desmoronar-se cerca de 1200 a.C., com a chegada de
invasores provenientes da Europa oriental, os povos do mar e os frígios.
Após a queda do
império hitita, e até ao século VII a.C., a Capadócia atravessou o período mais
obscuro da sua história. Cerca de 1 100 a.C. foi invadida pelo rei assírio
Tiglate-Pileser I, sendo reconquistado pelos frígios no século IX a.C. e pela
Lídia, em 696 a.C.. Os Medos ocupam parte do território alguns anos mais tarde,
e os Cimérios fazem algumas incursões entre 650 e 630 a.C.
(Vasos rituais
hititas do século XVI a.C. encontrados em Hatusa, expostos no Museu das
Civilizações da Anatólia, Ancara)
Império Persa
Aqueménida
(Cappadoce )
A Capadócia foi
conquistada pelos persas aqueménidas em 546 a.C., durante o reinado de Ciro II,
tendo-se mantido nessa situação até à conquista por Alexandre Magno, dois
séculos mais tarde.
Os persas dividiram
a Anatólia em províncias (satrapias) cuja administração estava a cargo de
governadores (sátrapa) nomeados pelo imperador. Desde o reinado de Dario I que
a Capadócia integrou a terceira satrapia. Embora formalmente fazendo parte do
Império Aqueménida, a Capadócia mantém uma grande autonomia, sendo dirigida por
uma aristocracia local de tipo feudal.
As províncias
estavam ligadas ao porto de Éfeso (perto da atual cidade de Selçuk, na
província de Esmirna [em turco: Izmir]) pela Estrada Real Persa, que começava
nessa cidade e passava pelas cidades de Sardes (antiga capital do Reino da
Lídia, em turco: Sart) e Mazaca (atualmente Kayseri), chegando até à
Mesopotâmia e Susa, a capital do império. Os sátrapas enviavam para a Pérsia os
impostos que cobravam em forma de ouro, carneiros, burros e os famosos cavalos
da Capadócia.
Capadócia helenística
(Cappadoccia, foto aérea da Cidade)
Durante as campanhas
de Alexandre, o Grande contra os Aqueménidas, os sátrapas da Capadócia
combateram pelos estes últimos. Coube a Antígono Monoftalmo, general de
Alexandre, lutar na Capadócia para manter as estradas que passavam pelo território.
Após a morte de
Alexandre em 323 a.C. e a partilha do seu império, a Capadócia tornou-se
satrapia de Eumenes de Cardia, um dos aliados do regente Pérdicas. Ariarate,
que havia lutado por Dario III em Gaugamela, foi derrotado e executado por Pérdicas.
Após várias lutas (as Guerras dos Diádocos), a Capadócia foi incorporada no
reino de Seleuco Nicator.
Um sobrinho do
antigo sátrapa Ariarate, também chamado Ariarate, tomou posse de parte da
Capadócia, que foi aceite por Seleuco como um reino semi-dependente, e
conseguiu a independência de facto durante o reinado do sucessor de Seleuco,
Antíoco Sóter, pois este estava mais preocupado com a guerra contra o Egito
Ptolemaico.
Período romano
Reino da Capadócia
Antes de ser anexada
pelo Império Romano, o Reino da Capadócia era um dos muitos reinos sucessores
do grande Império Macedônico de Alexandre, o Grande. A região foi governada
pela dinastia Ariarátida10 de 331 a 95 a.C. O primeiro contato com a República
Romana aconteceu no reinado de Ariarate IV, quando os capadócios se aliaram ao
rei selêucida Antíoco, o Grande, durante a Guerra romano-síria de 192-188 a.C.
Depois da vitória
romana sobre Antíoco, Ariarate iniciou uma relação amistosa com a República ao
emtregar a mão de sua filha ao rei de Pérgamo, um aliado romano. Os reis
ariarátidas passaram, a partir daí, a ser grandes aliados de Roma no oriente,
agindo como um estado-tampão contra o Império Selêucida, que reivindicava o
domínio sobre a região. O Reino da Capadócia também apoiou Roma na Terceira
Guerra Macedônica contra Perseu da Macedônia entre 171 e 166 a.C. A vitória de
Roma sobre ambos ajudou a estabelecer a República como uma das grandes
potências do Mediterrâneo oriental.
Quando o rei Átalo
III (r. 138-133 a.C.) morreu sem filhos em 133 a.C., ele deixou o Reino de
Pérgamo para Roma. Eumenes III reivindicou o trono, ocupando a região. Em 130
a.C., o rei capadócio Ariarate V apoiou o cônsul romano Públio Licínio Crasso
Dives Muciano em sua fracassada tentativa de depor Eumenes III e ambos morreram
na batalha contra ele. A morte do rei resultou na ascensão de seu filho, ainda
menor, Ariarate VI.
Mitrídates V, do
Reino do Ponto, aproveitou-se da situação e passou a controlar o trono
capadócio ao casar sua filha, Laódice com jovem rei. Mitrídates em seguida
invadiu a Capadócia e transformando a região num protetorado do Ponto. Embora
aidna nominalmente independente, a influência pôntica sobre a Capadócia continuou
no reinado do filho de Mitrídates V, Mitrídates VI.
Em 116 a.C.,
Ariarate VI foi assasssinado pelo nobre capadócio Górdio por ordem de
Mitrídates VI, que então instalou Laódice, sua irmã e viúva de Ariarate IV,
como regência para o jovem Ariarate VII, seu sobrinho, solidificando ainda mais
o controle do Ponto sobre o reino. Depois de casar-se com Laódice, o rei
Nicomedes III da Bitínia tentou anexar a Capadócia ao Reino da Bitínia e depôs
Ariarate VII. Mitrídates VI não esperou muito e invadiu a Capadócia, expulsando
Nicomedes III e restaurando Ariarate VII. A Capadócia voltou novamente para a
esfera de influência do Ponto.
Anos depois, em 101
a.C., o rei pôntico mandou assassinar Ariarate VII e instalou Ariarate IX, seu
filho de apenas oito anos, no trono como um rei-fantoche. Apenas uma criança,
Ariarate IX não conseguiu manter o controle do reino e seus nobres se
revoltaram em 97 a.C., escolhendo Ariarate VIII, filho de Ariarate VII como
rei. Mitrídates novamente agiu rapidamente e esmagou a revolta, exilando
Ariarate VIII e restaurando seu filho ao trono.
Reino cliente de
Roma (95 a.C. - 14 d.C.)
Por causa da
instabilidade na Capadócia, Nicomedes III da Bitínia enviou uma embaixada a
Roma em 95 a.C. reivindicando a região para si. Mitrídates VI fez o mesmo,
buscando a permissão de Roma para anexar a Capadócia. O Senado Romano, porém,
não autorizou nenhum dos dois a se apoderar da região.
Ao invés disso, os
senadores exigiram que tanto Ponto quanto Bitínia se retirassem da Capadócia e
garantiu sua independência, depondo Ariarate IX. Com o apoio militar do
governador romano da Cilícia, Lúcio Cornélio Sula, Ariobarzanes I foi instalado
como novo rei ainda no mesmo ano e o Reino da Capadócia tornou-se um reino
cliente da República Romana.
Em 93 a.C., tropas
do Reino da Armênia de Tigranes, o Grande, genro de Mitrídates VI, invadiram a
Capadócia a pedido do rei pôntico. Tigranes depôs Ariobarzanes I, que fugiu
para Roma, e coroou Górdio como novo rei cliente da Capadócia, só que desta vez
subordinado à Armênia.
Com a Capadócia
assegurada, Mitrídates invadiu o Reino da Bitínia e derrotou o rei Nicomedes
IV, que foi forçado a fugir para a Itália, em 90 a.C. Uma delegação senatorial
foi enviada ao oriente para restaurar tanto Nicomedes IV quanto Ariobarzanes I
aos seus respectivos tronos e, apesar da Guerra Social ainda estar sendo
travada na Itália, os romanos conseguiram repor os dois, sinal da influência
cada vez maior da República na região.
Guerras Mitridáticas
(88-63 a.C.)
Em 89 a.C., depois
de ter firmado a paz com os romanos e da restauração de Ariobarzanes I ao trono
capadócio, Mitrídates VI novamente invadiu a Capadócia, reinstalando seu filho
Ariarate IX, dando início à Primeira Guerra Mitridática (89-85 a.C.), na qual Roma
enfrentou o Reino do Ponto e seu aliado, o Reino da Armênia.
Lúcio Cornélio Sula
assumiu o comando das tropas na região em 87 a.C. e derrotou decisivamente
Mitrídates VI e seus aliados em 85 a.C. Com pressa para voltar para Roma por
causa do aumento das tensões políticas, Sula impôs termos leves a Mitrídates:
ele deveria desistir de controlar a Bitínia e a Capadócia, reinstalando
Ariobarzanes I e Nicomedes IV como reis clientes romanos. Em troca, Roma
permitiu que Mitrídates VI continuasse reinando sobre o Ponto.
Quando Nicomedes IV
morreu, em 74 a.C., ele deixou o Reino da Bitínia como herança aos romanos, mas
deixou um vácuo de poder na Ásia Menor que permitiu que Mitrídates VI invadisse
e conqusitasse o reino sem rei. Quando ficou clara a intenção de Mitrídates VI
sobre os protetorados romanos na Ásia Menor, inclusive a Capadócia, Roma
iniciou a Terceira Guerra Mitridática para encerrar definitivamente a ameaça
pôntica. Despachando desta vez o cônsul Lúcio Licínio Lúculo para a Ásia, Roma
conseguiu expulsar o Ponto e a Armênia da região, reafirmando a dominância
romana sobre os reinos clientes asiáticos em 71 a.C. e conquistando o Ponto no
processo. Quando Mitrídates VI fugiu para a Armênia, Lúculo invadiu o reino
também em 69 a.C.
Apesar do sucesso
inicial, Lúculo não conseguiu encerrar decisivamente a guerra. Em 66 a.C.,
Mitrídates VI e Tigranes conseguiram retomar seus respectivos reinos e Lúculo
foi convocado a Roma. O senado enviou Pompeu Magno para o oriente para tentar
acabar de vez com a instabilidade. Ao ser derrotado por ele, Mitrídates VI
novamente fugiu para a Armênia, mas, desta vez, Tigranes se recusou a
recebê-lo, forçando-o a fugir para o norte, através do Mar Negro, para o Reino
do Bósforo, cujo rei era o seu filho Macares do Bósforo, efetivamente
encerrando a guerra em 65 a.C.
Quando Macares se
recusou a entrar em guerra contra Roma, Mitrídates VI mandou matá-lo e assumiu
pessoalmente o trono. Enquanto Mitrídates estava ansioso para enfrentar os
romanos novamente, seu filho mais novo, Fárnaces II era da opinião contrária e
começou a armar para depor o pai. Seus planos foram descobertos, mas o
exército, que não tinha intenção alguma de enfrentar Pompeu e suas forças
novamente, apoiou Fárnaces e, depois de marchar contra Mitrídates, obrigou-o a
se suicidar em 63 a.C. Fárnaces II rapidamente enviou uma embaixada a Pompeu
com ofertas de submissão. O general romano aceitou os termos propostos e, em
troca, nomeou Fárnaces II como rei cliente de Roma no Reino do Bósforo.
Com Mitrídates VI fora
do cenário político na Ásia Menor, Pompeu anexou definitivamente a Bitínia, o
Ponto e a Cilícia à República Romana como províncias. Ele também invadiu a
Armênia em 64 a.C. e conseguiu que Tigranes se submetesse também como rei
cliente, o que permitiu que ele fosse para o sul e anexasse oficialmente a o
Reino da Síria depois de depor seu rei, Antíoco XIII Asiático. Depois da morte
de Ariobarzanes I, Pompeu, num de seus últimos atos no oriente antes de seu
retorno triunfal a Roma, instalou o filho dele, Ariobarzanes II como novo rei
da Capadócia.
Ariobarzanes II
reinou até 51 a.C., quando foi assassinado por forças leais ao vizinho Império
Parta. O Senado Romano declarou seu filho, Ariobarzanes III como herdeiro
legítimo e, com o apoio militar do governador romano da Cilícia, Marco Túlio
Cícero, instalou-o no trono capadócio. Em 50 a.C., Ariobarzanes III, com a
ajuda de Cícero, descobriram um complô para depô-lo liderado por Atenais
Filostórgos II, sua própria mãe, que pretendia instalar Ariarate X, seu irmão
caçula, no trono. Juntos, Cícero e Ariobarzanes III exilaram Atenais, que era
filha de Mitrídates VI, da Capadócia.
Guerras civis em
Roma
A Capadócia aumentou
muito a sua importância durante as guerras civis romanas. Quando Júlio César
cruzou o Rubicão em 49 a.C. e começou a sua guerra civil, muitos membros do
Senado, liderados por Pompeu, fugiram para o oriente. O rei capadócio
Ariobarzanes III apoiou Pompeu contra César como retribuição pelo apoio dele ao
seu pai anos antes. Porém, depois da vitória de César na Batalha de Farsalo e o
subsequente assassinato de Pompeu em 48 a.C., Ariobarzanes mudou de lado e
declarou sua lealdade a César, que nomeou Cneu Domício Calvino como governador
da Ásia como poderes para agir em seu nome na região enquanto ele lidava com
seus adversários no Egito.
Com os romanos
distraídos pela guerra civil, Fárnaces II, o rei cliente do Reino do Bósforo e
filho mais novo de Mitrídates VI, decidiu aproveitar a oportunidade e
conquistou a Cólquida e a Armênia Menor, territórios que estavam subordinados à
província romana do Ponto. Os monarcas da Capadócia e da Galácia, Ariobarzanes
III e Deiótaro, respectivamente, pediram proteção a Calvino e logo as forças
romanas se envolveram na disputa com Fárnaces II. Os dois exércitos finalmente
se encontraram na Batalha de Nicópolis, na Anatólia oriental, na qual Fárnaces
derrotou o exército romano e conquistou a maior parte da Capadócia, do Ponto e
da Bitínia.
Depois de derrotar
as forças ptolemaicas na Batalha do Nilo, César deixou o Egito em 47 a.C. e
marchou através da Síria, Cilícia e Capadócia para enfrentar Fárnaces. Quando
ele soube da chegada das forças veteranas de César, Fárnaces enviou emissários
para tentar a paz, mas César não os recebeu. Os dois se encontraram na Batalha
de Zela e César conseguiu derrotar Fárnaces de forma decisiva, reafirmando o
poder romano na Ásia Menor. Quando voltou para o seu reino no Bósforo, Fárnaces
II foi assassinado pelo genro, Asandro. Como retribuição, César nomeou-o o novo
rei cliente do Bósforo. César então incorporou a Armênia Menor à Capadócia para
servir como estado-tampão contra futuras agressões vindas das potências
orientais, como os partas.
César foi
assassinado em 15 de março de 44 a.C. pelos senadores liderados por Marco Júnio
Bruto e Caio Cássio Longino. Os "Libertadores" então fugiram da
Itália e assumiram o comando das províncias e reinos clientes orientais ,
incluindo a Capadócia, em 43 a.C. Quando Ariobarzanes III reclamou contra a
elevada interfer~encia romana em seu reino, Cássio mandou matá-lo e instalou
seu irmão mais novo, Ariarate X no lugar em 42 a.C. Ainda no mesmo ano, depois
da derrota de Bruto e Cássio pelo Segundo Triunvirato na Batalha de Filipos, o
triúnviro Marco Antônio assumiu o comando das províncias e dos reinos cliente
orientais. Em 36 a.C., Marco Antônio executou Ariarate X e instalou [{Arquelau
da Capadócia|Arquelau]] como novo rei da Capadócia.
O Segundo
Triunvirato expirou em 33 a.C., encerrando também o direito legal de Marco
Antônio de governar a metade oriental da República. Sem ele, também se
intensificaram as lutas entre Marco Antônio e Otaviano pelo poder. Este
construiu sua base de apoio no ocidente enquanto Antônio se aproximou da rainha
egípcia Cleópatra. Quando Otaviano declarou guerra ao Egito, Marco Antônio,
apoiado pelos reinos clientes orientais (inclusive a Capadócia), marchou para
lá para enfrentá-lo. A derrota de Marco Antônio na Batalha de Ácio em 31 a.C.
assegurou a posição de Otaviano como único senhor do mundo romano. Arquelau
declarou sua lealdade e conseguiu manter-se no trono.
Quando Otaviano
tornou-se "Augusto", o primeiro imperador romano, em 27 a.C., a
Capadócia tornou-se um importante e confiável estado cliente e manteve a sua
independência sob o reorganizado Império Romano. Augusto considerava Arquelau
um monarca confiável e se comprometeu a não converter a Capadócia uma
província. Como recompensa por sua lealdade, Augusto premiou-o ainda com os
territórios da Cilícia ao longo do Mediterrâneo e a Armênia Menor na costa do
Mar Negro em 25 a.C., encarregando-o da missão de eliminar a pirataria que
grassava nas duas regiões e para formar um estado-tampão entre Roma e o Império
Parta.
Província romana e
bizantina
("Igreja
Escura" em Göreme)
(Fresco da
"Igreja Escura" en Göreme)
Império Seljúcida
Os seljúcidas,
considerados os antepassados diretos dos turcos ocidentais, começaram a chegar
à Capadócia após a Batalha de Manziquerta, em 1071, na qual as forças de Alp
Arslan derrotaram o exército bizantino de Romano IV Diógenes, tendo conquistado
aos poucos toda a região. Depois da conquista de Kayseri em 1082, os seljúcidas
promoveram uma grande expansão urbanística, construindo mesquitas em Kayseri,
Aksaray, Niğde e outras cidades, e uma escola de medicina em 1206. Construíram também inúmeros caravançarais (literalmente
palácios de caravanas), estalagens fortificadas para uso dos mercadores
viajantes da Rota da Seda, que aí podiam pernoitar e descansar e segurança.
Alguns caravançarais tinham outros serviços para além dos de hotelaria, como enfermarias,
cavalariças e mesquitas. Em toda a Turquia se encontram caravançarais,
distanciando aproximadamente 30 km uns dos outros. Em tempos de guerra serviam
como postos de defesa do território. Entre eles, destacam-se o de Agzikarahan,
também chamado de Hoca Mesud, que se encontra a 13 km de Aksaray e foi
construído no século XIII, e o de Sultanhanı, a 40 km da mesma cidade.
Nos séculos
seguintes, a Anatólia em geral e a Capadócia foram palco de inúmeros conflitos
entre seljúcidas, bizantinos e cruzados. Estes últimos tomaram a capital
seljúcida de Iznik (antiga Niceia), obrigando os vencidos a fugir para Konya.
Os seljúcidas criaram as bases para o Império Otomano, que se formou no século
XV — os otomanos procediam de um dos sultanatos seljúcidas, tendo-se revoltado
e ganho a independência sob a liderança de Osman I "Gazi" (triunfador
ou combatente da fé). O termo otomano, em turco: osmanli, provém do seu nome.
Império Otomano
A Capadócia cai sob
o domínio otomano no século XIV. Lentamente, uma parte considerável da sua
população passa a ser muçulmana e adota a língua turca. Desenvolve-se uma
língua intermédia, o capadócio, que sobrevive até à saída das populações gregas
(cristãs) em 1923, na sequência do Tratado de Lausanne, que pôs fim à guerra
greco-turca e determinou a troca de populações entre a Grécia e a Turquia com
base na religião.
No século XVIII são
abandonados os últimos mosteiros trogloditas. No mesmo século, o grão-vizir
Ibrahim Paxá faz da sua pequena aldeia natal Nevşehir a capital regional que ainda hoje é e que é por vezes apontada
como a comunidade mais rica de toda a Turquia apesar da sua aparência
relativamente modesta.
Século XX e
actualidade
(Balonismo, uma das
atrações turísticas da região)
A Capadócia é uma
região turística importante, atraindo visitantes tanto da Turquia, como de
países vizinhos desde há muito. A sua popularidade na Europa e do resto do
mundo foi muito impulsionada nas décadas de 1930 e 1940 com a publicação dos
trabalhos do sacerdote francês Guillaume de Jerphanion sobre as igrejas da
região.12 Na segunda metade do século XX assistiu-se a um grande crescimento da
procura turística na Capadócia. Nos anos 1970 e 1980 a vintena de hotéis
existentes então não satisfazia a grande procura, tendo os locais começado a
arrendar quartos e transformar as suas propriedade para poder acolher
visitantes, ao mesmo tempo que novos hotéis eram construídos. Em grande parte,
as novas construções respeitam a paisagem e não chocam com as construções
tradicionais. Segundo dados oficiais de 2005, a região recebeu 850 mil turistas
estrangeiros e 1 milhão de nacionais.
Esta procura
revitalizou a economia regional, pois a indústria turística não é a única a ser
beneficiada; os produtores de cerâmica, têxteis e outro tipo de artesanato
viram também o seu mercado muito alargado.
Cristianismo na
Capadócia
(A "Igreja com
Sandálias" em turco: Çarikli Kilise), em Göreme)
A região tem um
papel muito especial na tradição cristã. Durante os primeiros anos do
cristianismo, a Capadócia foi um terreno fértil para a expansão da nova
religião, em parte pela sua proximidade das Sete igrejas da Ásia, mencionadas
no livro do Apocalipse do Novo Testamento, e de Antioquia (atual Antakya),
onde São Pedro
fundou a primeira comunidade cristã.
(fresco na Igreja
das Maçãs de Göreme)
São Paulo efetuou
três viagens à Capadócia entre 44 e 58. Muitos dos primeiros cristãos habitavam
a região, tendo as cidades subterrâneas sido usadas como refúgio pelos
primeiros cristãos durante as perseguições de que foram alvo. Durante os
séculos II, III e IV. Aí nasceram nessa época pelo menos os seguintes santos e
teólogos:
São Mamede, São
Basílio Magno e Gregório de Nissa, de Cesareia (atual Kayseri).
Cesário de
Nanzianzo, Gregório de Nanzianzo, o Velho e Gregório de Nanzianzo, o Novo, de
Nanzianzo, uma antiga cidade onde agora se encontra a pequena aldeia de
Berkalar (também chamada de Nenizi) e Gülagaç, entre Aksaray e Nevşehir.
Basílio, Gregório de
Nissa e Gregório de Nanzianzo, o Novo, são chamados os Padres ou Filósofos
Capadócios na literatura cristã, sendo apontados como importantes teólogos,
tendo desenvolvido, por exemplo a doutrina da Trindade.13
Outro clérigo famoso
originário da região foi João II da Capadócia, patriarca de Constantinopla
entre 518 e 520, que, apesar do seu curto patriarcado, ficou famoso por ter
marcado o fim de um cisma de 34 anos entre as igrejas orientais e ocidentais,
originado no Concílio de Calcedónia.
(Interior de igreja
troglodita em Göreme)
Apesar do assunto
ser controverso, segundo a lenda, São Jorge também teria nascido na região,
embora tenha ido para a Palestina, de onde a mãe era originária, ainda em
criança. A lenda de São Jorge e do dragão tomou forma na Idade Média, sendo o
santo convertido em padroeiro de muitos estados e coroas da Europa,
nomeadamente de Aragão, Portugal, Inglaterra e Génova, entre outros. A Cruz de
São Jorge ainda hoje está presente nas bandeiras da Geórgia, Inglaterra,
Sardenha, Barcelona e Aragão e nos brasões de Génova e Pádua.
Existem entre 4005 e
600nt 1 igrejas na região, muitas delas escavadas em rochas, das quais largas
dezenas são interessantes de visitar. As mais antigas datam provavelmente do
século VI, embora a maor parte date dos séculos X e XI, o período que vai desde
o fim das incursões árabes, até à chegada dos seljúcidas.
Naturais da
Capadócia
São Jorge (século
III-IV) — segundo a lenda, teria nascido na região, mas o tema é controverso
entre os historiadores.
São Mamede
São Basílio Magno
Gregório de Nissa
Cesário de Nazianzo
Gregório de
Nazianzo, o Velho
Gregório de
Nazianzo, o Novo
Fonte: http://pt.wikipedia.org
Fotos da net
© Carlos Coelho