quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Anne Frank

Faltou um mês para dois anos, entre 1942 e 1944, tinha Anne 13 - 15. Foi acoitada, com a família, num sótão que deixou os seus pensamentos de criança para a posteridade. Fê-lo, naquele que viria a ser um dos diários mais lidos do mundo, senão mesmo o mais lido. O Diário de Anne Frank, onde nos fala do que "via" na rua. Via um castanheiro grande e robusto, o melhor dos confidentes, sempre ali, ao pé, de pé, a suavizar-lhe a solidão.


Árvore de Anne Frank escapa à serra eléctrica


As ávores morrem de pé. Com dignidade. Mesmo que tenham entre 150 e 170 anos, 27 toneladas e um fungo letal que lhe corrói os " ossos ". É o caso do Castanheiro de Anne Frank, bem no centro de Amesterdão - a árvore que a jovem Holandesa judia mirava, quando escondida, durante 25 meses, num sótão, com a família, para fugir à insanidade nazi (1939-45).
Podem aqueles troncos ser história? História? Podem. E assim o entendeu um grupo de empenhados cidadãos Holandeses, que , depois de a hipótese ser aventada em 2007, mobilizou esforços nacionais e internacionais para impedir a morte da árvore, com recurso à serra eléctrica.
Espécie de meu - dela- pé de laranja lima, ao qual tudo se desabafa, mas numa versão real e trágica (Anne acabaria por morrer no campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha), o castanheiro foi salvo in extremis. Ao contrário da sua menina, cujos dias alegrava, e que acabaria por morrer vítima de tifo.
Mantê-la viva durante, pelo menos, mais cinco, dez, 15 anos, no máximo, vai custar caro, mas não têm preço as palavras: «Quase todas as manhãs vou ao sótão tirar a poeira dos meus pulmões. Do meu lugar fovorito no chão, olho para o céu azul e o castanheiro desfolhado, em cujos galhos brilham pequenas gotas de chuva, como prata, vejo ainda gaivotas e outros pássaros que deslizam no vento. Enquanto isto existir, e quero viver para ver, estes raios de sol o céu azul - enquanto isto durar, não poderei ser infeliz.»
Custar caro significa o quê? Isto a sair dos bolsos da Fundação de Apoio à Árvore de Anne Frank: 50 mil euros para uma estrutura metal que manterá a árvore de pé; 20 mil euros para os cuidados necessários e outros dez mil anuais para a manutenção. Entretanto, várias amostras do castanheiro foram já retiradas, por forma a deixa-las crescer numa espécie de berçário, para o caso de ser imperiosa a substituição.
Concomitantemente, vão ser testados alguns medicamentos susceptíveis de matar o agente causador da infecção, que a deixou parcialmente podre.
Para este desfecho foi necessária a arbritagem legal. de um lado, ecologistas e guardadores de memórias, ecologistas ciosos; do outro, o proprietário, em cujo jardim a árvore se agigantou, temendo a queda e eventuais danos humanos e materiais; no meio, o doutro magistrado. Que, sensibilizado, decidiu: salvar-se!
Peter Dejong -AP
in Diário de Notícias 24/01/08