quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

James Dean

James Dean persiste na qualidade de ícone de juventude revoltada. Com uma genialidade única, revelou ser, na tela e na sua vida, uma pessoa de extrema sensibilidade. Barrou o tempo; nunca aceitou o fim, a não ser pela imortalidade. Viveu revoltado e carente.



Encarnou o papel de adolescente do seu tempo – um pós-guerra conturbado, em que as bases conservadoras da sociedade americana insistiam em fechar os olhos a Nagasaki e Hiroshima. Desajustado, confundido entre a violência e a ternura, marcou o fim da época das grandes estrelas e o começo dos efémeros ídolos da juventude – um estilo de vida marginal às leis do homem comum. Seduziu, como nenhum outro, o público e a crítica. 57 anos após a sua morte, James Dean continua imperturbado nas nossas memórias; a lenda da eterna rebeldia, presa a uns olhos demasiado tristes para serem esquecidos.

Uma família destroçada

James Tyron Dean nasceu a 2 de Fevereiro de 1932, na pequena cidade de Marion. Antes de completar dois anos, os seus pais já lhe detectavam alguns comportamentos anormais. Depois da morte da sua mãe, vítima de cancro, Dean foi adoptado pelos seus tios, em Fairmount.




Os anos de juventude que se seguiam trouxeram-lhe um sabor amargo; não teve grandes amigos na adolescência: “A vida apunhalou-me aos nove anos quando levou a minha mãe. Eu era o menino dos seus olhos. Foi a pessoa que mais me acarinhou. Quem sabe em excesso.” Com o seu pai em inúmeras dificuldades financeiras, depois do dinheiro gasto com o tratamento da mãe, a relação entre os dois deteriorou-se.




Curiosamente o actor nunca gostou de brinquedos – tinha pressa de crescer, de viver rápido, rápido demais.

O início de carreira

Numa tentativa de agradar a seu pai, Dean começa a estudar Direito. Contudo, compreende rapidamente que a advocacia não é para si e opta pela representação. Inscreve-se na Escola Dramática de James Whitmore e, em 1950, quando conclui o curso, muda-se para Los Angeles para integrar uma companhia de teatro.




Nessa altura, um dos seus colegas entra em contacto com um produtor de televisão, que procurava a cara certa para um anúncio da Pepsi-Cola. Quando é escolhido, entre inúmeras figuras, entusiasma-se e decide dar um passo de gigante, rumo ao estrelato. Viaja para Nova Iorque, onde entra para a famosa academia Actors Studio. A fama de temperamental e conflituoso aumenta e muitos dos seus colegas acusam-no de excêntrico e narcisista.




Tudo isto o leva a deixar a academia. Apesar de a sua grande estreia no teatro, See the Jaguar, ter sido um desastre, permitiu aos críticos descobrirem um grande talento. Um ano mais tarde, em 1953, é designado Actor Revelação do Ano com a peça O Imoralista. Dean começa a assumir a sua carreira de forma obsessiva, alternando períodos de grande fulgor com momentos de profunda depressão.

A ascensão ao estrelato

Seria a participação em O Imoralista que o catapultaria para a sétima arte. É então que o mítico realizador Elia Kazan o convida a vestir o papel principal do filme A Leste do Paraíso – romance de John Steinbek.




Apesar de tudo, Kazan reconhece alguma imperfeição no actor – compara-o a outro símbolo da época: Marlon Brando. Ambos revelaram-se decisivos na reconversão dos modelos de representação no cinema. Brando surgia como um milagre de espontaneidade, temperada por uma técnica de aço. James Dean revelava a sua condição de prodígio impressionista, praticamente desprovido de técnica. Meses depois, a 4 de Janeiro, o actor aceita participar em Fúria de Viver, de Jim Clark e, a 12 de Maio, inicia Gigante, de George Stevens.




A primeira e terceira película em que participava valem-lhe duas nomeações para Oscar de Melhor Actor, mas nunca ganhou. Não obstante, nada disto diminui o deslumbramento das películas que funcionaram como um exercício de exposição da sua própria história pessoal – sofrida, insegura.
Amores e velocidade

Ao longo de 16 meses, tempo que durou a sua carreira na sétima arte, James Dean transportou para a vida a sua irresistível forma de conquistar.




Depois dos romances com Natalie Wood e Ursula Andress, o actor viveu, ao lado de Anna Maria Pier Angeli – actriz italiana – a experiência amorosa mais amarga da sua vida. A mãe de Anna impôs-se, profundamente, na relação do casal, empurrando a filha para um casamento indesejado. Destruído emocionalmente, o actor tenta afastar-se da realidade. Como alguém disse um dia: “James Dean veio ao mundo marcado pela tragédia.”




Recorre, então com mais frequência à velocidade, para esquecer os seus problemas. Numa sexta-feira, dia 30 de Setembro de 1955, um Ford despista-se na estrada a alta velocidade, chocando violentamente contra o Porche Spyder conduzido pelo actor; Dean teve morte instantânea aos 23 anos de idade.




Como o mundo, Anna Angeli não resistiu e suicidou-se em 1971, com 39 anos de idade, afirmando assim não suportar a saudade. Apesar da tragédia, James Dean viveu como quis; engoliu a vida num trago sôfrego e extasiante.
James Dean faria hoje 80 anos se estivesse entre nós.

C@rlos@lmeida
Fonte: Revista Vip
Texto: Jorge Freitas Ferreira