Foi entre tratamentos de radioterapia e uma biopsia que Elena Desserich comemorou o sexto aniversário: Os pais conseguiram fazer um almoço em família. A troca de prendas foi no quarto de hospital. A criança recebeu uma guitarra da tia e uma máquina fotográfica digital dos avós.
Pouco tempo antes tinha-lhe sido diagnosticado um cancro cerebral. Os médicos deram-lhe 135 dias de vida, mas ela aguentou 255 – morreu em 2007. Quando fez 6 anos, Elena já conhecia o alfabeto de A a E, e sabia escrever algumas palavras como “mãe”, “pai”, “obrigada”, “sede”, “fome” e “orgulho”. A irmã também a ensinara a escrever alguns palavrões para ela poder expressar a raiva nos momentos mais difíceis.
Os pais incentivaram-na a comunicar por bilhetes, quando começou a ficar com a boca paralisada. Foi com surpresa que, depois de Elena morrer, começaram a encontrar recados por toda a casa. “É difícil descobri-los porque estão em sítios mais incríveis, mas esperemos que nunca acabem”, desabafou o pai, Keith Desserich, ao canal norte-americano NBC.
Os pais decidiram não abrir os recados que Elena deixou dentro de envelopes selados. “Assim temos o conforto de pensar queainda há uns especiais”, contou a mãe, Brooke.
Não encontravam nenhuma nota há seis meses. Mas há duas semanas descobriram mais três, durante as limpezas a um armário onde Elena guardava os trabalhos manuais. O livro agora publicado nos Estados Unidos, Notes left Behind (recados deixados para trás), contém várias das mensagens e excertos do diário onde os pais descrevem os últimos diasde Elena.
Na primeira página contam os seus últimos desejos, como ir a um restaurante comer esparguete à bolonhesa e passear por uma rua com lojas de vestidos de noiva. “ Ela pede-me para a levar às lojas onde sempre pensei levá-la quando fosse pedida em casamento. Agora questiono-me se algum dia chegará tão longe”, escreve a mãe. Outro dos seus desejos era celebrar o Natal, por isso, os pais montaram a árvore logo em Novembro, apesar de terem por regra só o fazerem a 15 de Dezembro. O diário não regista só os bons momentos. O quotidiano da miúda desenrola-se, sobretudo nos corredores de uma ala pediátrica de oncologia. “A Elena desenvolveu um medo de luvas azuis.
Estou a pensar comprar um pacote de luvas transparentes para os médicos da ala dela só para acalmar a sua ansiedade”. Assim, entre desenhos cheios de amor e histórias felizes, os pais narram a perda de movimentos, da capacidade de andar, de mexer o lado direito do corpo ou de falar: Agora convidam qualquer um a enviar recados à Elena através do Twitter.
Elena escreveu mensagens curtas, como “amo-vos, mãe e pai” e fez desenhos da família e corações recortados.
Os pais encontraram bilhetes em gavetas das meias, em livros, entre CDS, em malas de viagem e em armários.
Nunca os contaram, mas as centenas de papéis enchem três grandes caixas.
Costumam ser os pais a deixar bilhetes aos filhos quando têm uma doença fatal. Mas uma miúda de 6 anos deixou notas para a família encontrar quando ela morresse.
Revista Sábado 23 de Dezembro de 2009Fonte: Ioli Campos
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