Muitas vezes a Motown é descrita como a editora que, nos anos 60, levava a música negra aos ouvidos da América branca... E de facto assim aconteceu.
Nomes como as Supremes, Temptations ou Martha & The Vandellas somaram êxitos logo nos primeiros anos de vida da editora. Êxitos que rapidamente ultrapassaram o público negro, que antes já seguia de perto o rhythm'n'blues, e que consquistaram aos poucos os ouvidos da América branca, num processo que faria da música soul, tal como o jazz, um dos primeiros espaços a ultrapassar velhos hábitos de segregação.
50 Anos ao serviço da “Soul”
Berry Gordy (n.1929), o fundador da companhia, seu responsável e figura tutelar até 1988, costumava contar que , ao contrário de outras editoras, a Motown não tinha sido fundada.
Nascera... E nasceu em Janeiro de 1959, em Detroit, quando o ex-jogador de boxe e antigo dono de uma loja de discos recebeu um empréstimo de 800 dólares.
Gordy somava já uma história de vida recheada em acontecimentos quando desses 800 dólares fez nascer uma editora. Tinha trabalhado na fábrica da Ford, tinha assinado uma canção de sucesso para Jackie Wilson ( o clássico Reet Petite) e até mesmo obtido o secesso com o single Money (That's What I Want).
O dinheiro que quis chegou da família e, desafiado por Smokey Robinson, passou a pensar os seus próprios discos. Robinson respondeu ao desafio lançado ao amigo, “ofererecendo” à editora, dois anos depois, o seu primeiro êxito com vendas superiores a um milhão de exemplares, com Shop Around.
No primeiro ano de vida, a editora apresentava-se como Tamla Records. Mas, nascida na cidade dos automóveis (muitas vezes referida como “motor city”), a editora acabaria por ser rebaptizada como Tamla Motown pouco depois. Antes da chegada dos êxitos que transformariam as suas finanças, a Tamla Motown era uma pequena operação. Era o próprio Berry Gordy quem embalava e enviava os discos para as lojas. E era também ele quem os levava às estações de rádio.
Com o tempo, a editora cresceu. Ao mesmo tempo ia definindo uma identidade que passava, em grande parte, por uma abaordagem à emergente música soul através de características da canção pop. Nasce assim o “som Motown”, que rápidamente se apresenta como o “som da América jovem”. Cruza barreiras e chega aos ouvidos da América branca. E a marca torna-se incontornável no panorama musical global depois de , em 1964, conquistar o seu primeiro número um, com My Guy, de Mary Wells. Seguem-se êxitos com as Supremes, Temptations, Frank Wilson, Four Tops, Gladys Knight & The Pips. Martha Reeves & The Vandellas. E , já nos anos 70, com os Jackson5, Marvin Gaye ou Stevie Wonder.
Hoje diluída entre as etiquetas do grupo Universal, a Motown é uma marca com sabor a história. Dividiu com a “rival” Stax Records (de Memphis, no Tennessee) algumas das páginas de maior protagonismo na construção de um género que lhes deve a existência: a música soul.
The Temptations
Um dos mais bem sucedidos grupos vocais masculinos da sua geração, os Temptations foram um dos nomes-chave da história da Motown e, do catálogo inicial da editora, são uma das raras carreiras ainda em actividade. Com pré-historia em grupos como os Primes e os Distants, o grupo teve várias formações, e entre elas passaram várias vozes. Fixo era o formato que previa um número mínimo de cinco cantores. O jogo de harmonias entre as vozes e as coreografias que acompanhavam a apresentação das canções ficaram registadas com a sua imagem de marca. O Período “clássico” da obra dos Temptations começa em 1965, quando gravam o tema de Bobby Rogers The Way You Do The Things You Do. Por quatro vezes atingiram o número um da tabela de vendas nos Estados Unidos, e 14 são os seus tpo one na tabela de R & B. Entre os seus maiores clássicos contam-se canções como My Girl (talvez o seu êxito de mais evidente expressão global), I Can't Get Next to You e entrando já pelos anos 70, Just My Imagination (Running Away Whit Me) e Papas Was A Rolling Stone.
The Supremes
Se nos pedirem o nome de um grupo que represente o “som Motown” as Supremes serão uma das primeiras escolhas.
Uma das mais famosas girl bands da história, começaram por se apresentar como The Primettes...Diana Ross, um dos elementos do trio, morava na mesma rua de Smokey Robinson, em Dertroit. É ele quem as leva à Motown, onde começam por cantar coros em discos de outros artistas. Em 1961 Berry Gordy convida-as a assinar pela editora, desde que aceitem mudar de nome...Nascem assim as Supremes que, devido á falta de grandes êxitos nos primeiros dias, dividem o tempo entre o grupo e os outros trabalhos na sede da editora. Durante esses primeiros anos alternaram a voz principal entre gravações. Mas depois dos primeiros grandes êxitos, Diana Ross ganha protagonismo e torna-se na evidente lider do grupo. Gravam êxitos como Where Did Our Love Go, Baby Love, Stop In The Name Of Love, You Can't Hury Love, The Happening ou You Keep Me Hanhging On, todos eles clássicos soul com evidente alma pop, afinal, a característica maior do “som Motown”. Em 1970 Diana Ross parte para uma carreira a solo. O grupo, embora com outras vozes, mantém-se activo até 1977.
Este mês a editora de Detroit somará 50 anos de vida. Como comemoração pelo feito. Foi lançada este mês uma antologia , para abrir um ano de celebrações de uma das casas discográficas de importãncia maior na história da música negra Norte-Americana.
Fonte: Jornal Diário de Noticias
Texto/Autor:Nuno Galopim