Símbolo da arquitectura romântica nacional
Texto: José Manuel Carneiro / Ippar
Residência real de veraneio, o Palácio Nacional da
Pena constitui uma das expressões máximas do romantismo aplicado ao património
edificado no século XIX em Portugal.
A cerca de 30 quilómetros de Lisboa, no cimo da serra
de Sintra, ergue-se, em majestade, o símbolo maior da arquitectura romântica
nacional, o Palácio Nacional da Pena.
Residência real de veraneio, este paço acastelado foi
mandado construir por D. Fernando de Saxe Coburgo-Gotha (1816-1885) com quem a
nossa rainha D. Maria II (1819-1853) contraiu matrimónio a 9 de Abril de 1836,
na Sé de Lisboa.
Na construção do Palácio foram aproveitadas as ruínas
de um pequeno convento já existente neste local, mandado edifica no século XVI
pelo Rei D. Manuel I, em comemoração da segunda viagem do navegador Vasco da
Gama à India.
O pequeno convento Jerónimo de Nossa Senhora da Pena
estava, no momento em que foi adquirido pelo rei-consorte em 1838, em avançado
estado de ruína na sequência do terramoto que arrasou Lisboa em 1755 e da
extinção das ordens religiosas, decretada em 1834.
O projecto inicial consistia na recuperação do antigo
convento, mas a pequenez das instalações para os fins em vista levou o mecenas
à ampliação da construção com um conjunto de novas construções a que se chamou
o Palácio Novo. Este projecto de maior envergadura, que corresponde á parte do
edifício de tonalidade amarela e revestido a azulejos, teve a colaboração do
barão Von Eschwege, engenheiro de minas alemão que se encontrava entre nós.
O gosto romântico do rei-artista (como D. Fernando II
ficou conhecido entre nós) aliado a uma versatilidade de interesses como as
artes decorativas, a pintura, a escultura e o seu grande entusiasmo pelos
espaços verdes levou á criação de um magnífico jardim romântico, sendo o parque
da Pena um exemplo acabado do paisagismo pitoresco tão ao gosto da época
plantado uma invulgar colecção de plantas e árvores que são hoje ex-libris do
verde sintrense.
O Palácio Nacional da Pena constitui um exemplo de
tendências arquitectónicas e decorativas ímpares do período romântico e da
riquíssima personalidade de D. Fernando II. A estrutura arquitectónica de
características únicas explorando o ideário nacional, o eclectismo e o exotismo
oriental e islâmico criaram o programa romântico de todo o conjunto
constituindo-se, espaço verde e espaço edificado, como “obra de arte total”.
Uma estrutura arquitectónica de características
únicas emolduradas pela beleza da Serra de Sintra.
Fonte: Jornal Diário de Notícias
22 de Janeiro de 2006Texto: José Manuel Carneiro / Ippar
Depoimento
Um bálsamo para os espíritos mais exigentes
É a coisa mais bela que tenho visto. Este é o
verdadeiro Jardim de Klingsor – e, lá no alto, está o Castelo do Santo Graal.
Richard Strauss, referindo-se ao Palácio da Pena
Qualquer caminho que conduza o visitante a Sintra
encontrará como marco de referência o Palácio da Pena, bem no alto da Serra de
Sintra. Venhamos nós das praias, nesses dias únicos de fogosos entardeceres, ou
do pouco romântico IC19, que entroncava algures na mítica Estrada de Sintra, o
certo é adoçarmos o olhar quando entrevemos o Castelo da Pena.
A Pena é um lugar mágico a que não se escapa. Consta
já desde o século XII que aquele era um local de devoção cristã por ter sido
testemunhada a aparição de Nossa Senhora sobre uma penha. Mas será só com D.
Manuel que o mosteiro da Pena viverá uma ampliação, permitindo receber,
condignamente, a Ordem dos frades Jerónimos. Com o passar dos séculos começará
a sua lenta degradação que culminará com a extinção das ordens religiosas em
1834.
Mas, tal como num conto de fadas de “era uma vez”,
surge D. Fernando II que , em 1838, arremata em hasta pública por 700 mil réis
o Mosteiro de Nossa Senhora da Pena, ressalvando o Diário do Governo que a
compra se fazia “ com expressa cláusula de ficar o arrematante obrigado a
cuidar da sua boa conservação(…), visto ser um monumento nacional, e conter uma
Igreja um retábulo de primorosa escultura”.
D. Fernando apaixonou-se por Sintra e, após a morte
de D. Maria II, casou, anos mais tarde, com a cantora lírica Elisa Hensler, a
condessa d’Edla. E será a cumplicidade do casal que irá permitir o fabuloso
nascimento do Palácio e Parque da Pena.
Convido-vos a visitar ambos, porque é ainda
perceptível o desvelo aplicado na reabilitação do Palácio, bem como a
exuberância patente nas múltiplas espécies arbóreas existentes no Parque.
Não posso nem quero terminar este meu singelo
depoimento sem uma palavra de homenagem à direcção do Ippar e em particular ao
Director do Palácio da Pena, que desde há alguns anos mantém uma perfeita
ambiance, aguardando, em qualquer momento, a chegada do rei, para jantar…
Sem saudosismos do passado mas sabendo recriar a
História, a Pena foi, e será um bálsamo para os espíritos mais exigentes. Para
os restantes, comuns mortais, resta-nos o anseio do Poeta de uma outra Serra:
“Pelo sonho é que vamos!”
Fonte: Presidente da Câmara Municipal de Sintra
Dr. Fernando Seara
Por: CarlosCoelho