A eterna luta entre o bem e o
mal contada por Elizabeth Kostova. Pai e filha envolvem-se numa perigosa
jornada em busca do túmulo de Drácula.
A lenda negra do príncipe das
trevas não tem parado de atormentar os leitores desde que, em 1897, o irlandês
Bram Stoker ficcionou a história de Vlad Tepes – nobre transilvano que passou á
posteridade com o nome de Drácula, o filho do Dragão. Elizabeth Kostova está
longe de ser apenas mais uma continuadora deste género de sucesso garantido. Em
o Historiador, a escritora norte-americana recupera o mito do sangrento
aristocrata de dentes afiados.
O romance demorou oito anos a
ser escrito. O tempo necessário para criar uma inteligente combinação de
erudição, rigor histórico e domínio ficcional. Os direitos da obra para o
cinema foram comprados pelo mesmo produtor de O Gladiador, filme vencedor de
cinco Óscares.
Em 1972, uma adolescente de 16
anos, filha de um diplomata norte-americano em Amsterdão, descobre na
biblioteca do pai um misterioso livro antigo, com a imagem de um ladrão ao
centro, e um envelope cheio de papéis amarelados. Numa das cartas, escrita 42
anos antes, no Trinity College, da Universidade de Oxford, alguém lamenta o
fardo transmitido ao novo dono dos documentos: “ É com pesar que imagino, quem
quer que seja, a ler o relato que que me sinto na obrigação de registar.”
Intrigada a jovem narradora de O Historiador acaba por pedir ao pai que lhe
explique a origem da papelada.
Cerca de 20 anos antes, na
década de 50, Paul, o futuro diplomata, preparava o doutoramento sob orientação
do prof. Bartholomew Rossi. Mergulhado em estudos sobre o comércio holandês do
sec.XVII encontra, na sua mesa na biblioteca da universidade, um volume
estranho – “A encadernação era de couro macio, esmaecido, e as páginas pareciam
muito antigas. Abriu-se com facilidade justamente ao meio. Ocupando essas duas
páginas centrais, (…) uma xilogravura com a imagem de um dragão de asas abertas
e uma comprida cauda enrolada, uma fera à solta, enraivecida, as garras à
mostra. Das garras do dragão pendia um estandarte no qual havia uma única
palavra escrita em caracteres góticos: DRAKULYA.”
Depois de uma pesquisa prévia,
Paul recorre a Rossi. O nome impresso “ derivava da raiz latina significando
dragão ou demónio, o título honorífico de Vlad Tepes – o Empalador – da Valáquia,
um senhor feudal da região dos Cárpatos que torturava os seus súbditos e
prisioneiros de guerra de formas incrivelmente cruéis”. A história de Rossi tem
contornos ainda mais inquietantes e com repercussões no presente. Nos anos 30,
também ele encontrara um livro semelhante e iniciara, por conta própria, uma
perigosa investigação histórica. Numa biblioteca de Istambul, enquanto decifra
as legendas de um mapa medieval com indicações sobre o local da sepultura de Drácula
é surpreendido por um “homem alto e bem constituído”. O estranho diz-se ao
serviço do governo turco, confisca-lhe o mapa e avisa: “É para seu próprio bem.
É muito melhor deixar outra pessoa qualquer trabalhar nisso.”
O Individuo usava “bastos
bigodes caídos” e tinha “a pele amarelada e pálida, mas impecável, perfeita,
sem qualquer mancha e os lábios muito perfeitos”. Ao abandonar a sala com o
mapa confiscado, Rossi reparou no seu pescoço – em “duas crostas castanhas de
feridas (…), semelhantes a perfurações feitas por dois espinhos ou a cortes com
a ponta de uma faca.”
Na noite em que conta a
história, Rossi desaparece. No gabinete há restos de sangue, mas a policia não
consegue encontrar mais pistas. Depois disso, paul lança-se no rasto de Vlad, o
Empalador, e conhece Helen, outra estudante com a mesma obsessão. Acreditam que
se encontrarem o túmulo de Drácula também encontrarão Rossi. A escolha da
carreira diplomática acaba por ser um pretexto para cruzar a Europa visitando
os lugares mais obscuros ligados à lenda dos mortos-vivos. Quando a filha
descobre o livro todos se lançam numa luta entre o bem e o mal que os pode
destruir.
Vlad Tepes (1431-1476), príncipe
de Valáquia, inspirou Drácula
A autora que gosta de vampiros
Escreveu o primeiro romance
inspirada nas histórias contadas pelo pai, quando viajava pela Europa.
Nascida em 1964, no Connecticut,
e formada pela prestigiada Universidade de Yale, Elizabeth Kostova baseou-se
nas histórias de vampiros que o pai lhe costumava contar para escrever o
Historiador. A investigação e a escrita da obra duraram oito anos. Lançado em
2005, o romance conta já com edições em 30 línguas e a escritora vendeu os
direitos de adaptação cinematográfica por 1,027 milhões de euros.
Fonte: Revista Sábado
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Fotos da Net
© Carlos Coelho