Salvador é um boião de cultura
afro-brasileira, herança do passado que se manifesta na vida e na arte.
© Carlos Coelho
Salvador fascina. É uma
encruzilhada de raças e credos como não se vê em nenhum outro lugar do Brasil.
Por ter sido o maior porto de entrada de escravos africanos, essa monumental
injecção de sangue negro aliada à assimilação dos costumes e tradições
africanas tornou a capital da Bahia um boião de cultura afro-brasileira.
Pelas ruelas ouvem-se batuques; no Pelourinho há musica de tambor e berimbau. Mas nem sempre foi assim: até 1835, ano em que a escravatura foi abolida no Brasil, o largo principal, a Praça Terreiro de Jesus, recebeu os escravos que eram para chicotear. A paisagem urbana não mudou muito: as grandes moradias marcam a cidade há séculos.
Essa herança está
particularmente presente na religião, na música, na dança e no artesanato, mas
não é preciso ser muito conservador para concluir que o tesouro mais palpável
da capital da Bahia tem o nome do senhor. Sim. Esta é a cidade que se orgulha
de ter 365 igrejas, frequentadas tanto por católicos como por seguidores do
Candomblé.
Onde Santo António também é louvado como o deus Oxumaré e São Jorge
como o deus Ogum. Cidade também da devoção aos Orixás e das mais belas igrejas
do Brasil.
Que dizer de um lugar assim,
onde as fachadas solenes dos templos e dos casarões dos séculos XVII e XVIII
estremecem diariamente com os ritmos do batuque baiano e com os ensaios do
bloco Olodum, cuja música é uma fusão de samba, reggae e ritmos jamaicanos?
Salvador é uma encruzilhada com costela portuguesa particularmente visível no
altaneiro centro histórico, dito Pelourinho, que também podia ser declarado
museu de arte sacra ao ar livre, tantas e tão belas são as igrejas que se
encontram.
O melhor é mesmo subir a rua
empedrada que dá acesso à casa de Jorge Amado e seguir para a Praça Terreiro de
Jesus, em calçada portuguesa, onde há várias igrejas para admirar: a Catedral
Basílica (Sé), a Igreja de São Pedro, a Igreja de São Domingos e, acima de
todas, as Igrejas de São Francisco e a Ordem Terceira de São Francisco.
A primeira (1708), de fachada
sóbria e interiores sumptuosos, representa o ideal português da «Igreja
Dourada» do final do séc.XVII. A combinação entre azulejos portugueses e as
esculturas em talha dourada produz um efeito impressionante e não são poucos os
que estremecem com a visão desta obra – prima repartida por três naves. Para
muitos, esta é a Igreja mais bonita do Brasil.
Depois, é dar corda aos sapatos
e caminhar ao acaso pelas ruas e vielas setecentistas do Pelourinho, prestando
atenção aos casarões impecavelmente restaurados e ás dezenas de igrejas que
parecem surgir do nada com o mesmo nome – Portugal – profundamente impregnado
nas fachadas. Nos anos 80, quando a UNESCO considerou a cidade Património da Humanidade, o Pelô ganhou novo folego. Foi nesse momento que se criou a nova animação cultural que hoje não deixa a cidade parar.
Fonte: Revista Domingo CM
Texto: André Pipa
Fotos da Net
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