Esteve em Portugal em 2008 a
celebrar os 60 anos de carreira, que incluiu dois espetáculos: a 21 de Outubro
de 2008 na Casa da Música, no Porto e no dia seguinte na Aula Magna em Lisboa
que fizeram parte da sua digressão Mundial, cantou ao telefone “ É uma casa portuguesa… é com certeza uma
casa portuguesa… É assim, não é? Disse quase sem sotaque, o refrão do tema
popularizado por Amália.
Nascida em 1930, Omara foi
fruto de um casamento escandaloso nessa época: a mãe era uma herdeira
milionária espanhola que se apaixonou por um jogador de basebol negro. O casal
estabeleceu-se em Havana e encorajou a filha a seguir uma carreira artística.
Aos 15 anos estreou-se como bailarina no famoso Tropicana Club, ao lado da irmã
mais velha, Haydee. Só depois se dedicaram às canções, atuando em dueto até
aos anos 60, quando Omara iniciou a carreira a solo.
Cantou com os grandes nomes da
música mundial, como Edith Piaf ou Nat King Cole e tornou-se a grande diva da música
cubana. “ Só não consegui cantar com Amália, apesar de ter tentado encontrar-me
com ela uma ou duas vezes. Por uma razão ou por outra, esse encontro não
aconteceu. Mas já estive com a Mariza. Gostava muito de cantar com ela um dia.
Tem uma voz e um talento enormes.”
O isolamento do regime cubano
depois da subida de Fidel Castro ao poder fez com que alguns dos artistas que
ficaram na ilha não tivessem muita projeção e publicidade internacional. Mas
Omara Portuondo nunca se quis envolver muito em política – apesar de ter
interpretado um dos temas mais simbólicos, Hasta
Siempre, Comandante, dedicado a Ernesto ‘Che’ Guevara.
Sempre tive liberdade para
fazer digressões internacionais, mas durante várias décadas foi considerada “um
dos segredos mais bem guardados de Cuba”. O reconhecimento mundial só surgiu em
1996, quando o realizador Wim Wenders a convidou a entrar no célebre filme Buena Vista Social Club, ao lado de
outros dois mitos da música cubana, Ibrahim Ferrer e Company Segundo,
entretanto falecidos. Omara afirma que hoje os vê constantemente, como se
fossem os seus “fantasmas queridos”. “Sinto-os como se ainda estivessem aqui
comigo”, diz.
A diva não tem grandes segredos
para manter a voz e ainda cantar ao vivo, aos 86 anos. “ A natureza deu-me essa
bênção. Trabalho e descanso, isso é fundamental. Não fumo, não bebo e tento
manter uma vida saudável. Sou uma simples mulatinha. “E acrescenta com uma
gargalhada sonora: “Afinal não necessito de mais nada a não ser cantar. Tenho
boa saúde e gosto daquilo que faço.”
O público continua a encher os
espetáculos e agradece-lhe…
Fonte: Revista Sábado
Texto: Luís Silvestre
Fotos da Net