Sabemos que não sabemos e por
isso esforçamo-nos por clarificar aspectos que possam ter a ver com o que aí
vem. Ou então angustiamo-nos. Porque o reino dos céus é só dos que da
ignorância sabem nada.
1 – Sabemos que não sabemos.
Não sabemos muito mais do que o
que sabemos sobre assunto algum, e o tamanho da nossa ignorância agiganta-se de
forma directamente proporcional à quantidade de conhecimento que conseguimos
assimilar e elaborar. Quanto mais sabemos, melhor percebemos o pouco que isso é
e, sem querer, vamos chegando a um qualquer entendimento dos dizeres
socráticos. Vamos dando conta das perguntas que somos capaz de formular, sem
vislumbre de respostas. Vamos percebendo como crenças arreigadas ocupam o lugar
de informação que não temos. Vamos entendendo como as nossas muitas duvidas nos
facilitam a aceitação de verdades mal esgalhadas. Vamos, dia a dia,
situando-nos como podemos, face às nossas incertezas e à volubilidade do
conhecimento que julgamos deter.
2 – Sabemos que não temos a
menor ideia de como será o que há-de vir.
Percebemos de forma indistinta
que o que guardamos como memória do passado, o nosso e o do mundo, é parcial,
rebuscado, opinioso e , eventualmente, mesmo falacioso.
Sabemos que aquilo que vamos
assumindo como certo, como bom ou como útil, dura o que dura, o que é sempre
demasiado, pouco para acalmar frustrações ou para permitir sonhos de certezas.
Vivemos, actuamos e procedemos
cheios de uma atitude de segurança que só pode vir, em função do que sabemos
sobre o que não sabemos, da nossa intrínseca capacidade de lidar com o
desconhecido.
3 – Porque sabemos que não
sabemos, alguns de nós, migalha a migalha, grão a grão, esforçam-se por aclarar
aspectos novos, diferentes ou negligenciados, de uma qualquer realidade, tão
parcelar e obscura como todas as realidades.
Outros, angustiam-se
terrivelmente pela consciência de desamparo que tamanha ignorância pode querer
significar e, ou invocam deuses novos e velhos em vão e a propósito de questões
triviais, ou deprimem-se e azedam num funeral precoce de toda a capacidade de
esperança.
Entre uns e outros, restam
todos os outros, que de conhecimento têm pouco e da ignorância sabem nada.
Parece que é deles um reino mítico dos céus.
Fonte: Revista Notícias
Magazine
Texto: Isabel Leal (Psicologa)
Foto da Revista
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