Diamantes quase eternos
Existe no nosso planeta um território sem fronteiras. É um espaço cujo limite será o infinito povoado por cidadãos, que evoluem noutra dimensão apenas através de gostos exóticos e exclusivos. Chama-se Império do Luxo.
Desde a criação do Homem, que se verificou uma
luta pelo direito à diferença. Se politicamente os esforços vão no sentido
inverso, socialmente constata-se que o acesso a um estilo de vida mais
restrito, a aquisição de bens especiais e a vaidade humana, são realidades
indestrutíveis. Diferente entre iguais, é o objectivo próprio da ambição
individual de cada ser. A pensar nesta mesma filosofia, nasceram personalidades
cuja vida foi dedicada a proporcionar aos outros o acesso àquilo que só muito
dinheiro consegue garantir.
Num universo repleto de marcas, de ideias
consumistas e de autênticos ícones sociais, iremos descobrir ao longo de 10
capítulos, quem inventou, encontrou, promoveu e fabricou, os mais apelativos
produtos de aparato e ostentação, que conhecemos através dos rótulos, com que
sonhamos. E se tudo começou com a fricção de duas pedras, que originaram o
fogo, a nossa história também se pode iniciar da mesma forma, mas apenas com
uma: o diamante!
Erotismo
A imagem feminina como se pode apreciar através
de Isabeli Fontana está permanentemente associada a jóias, quase transmitindo a
ideia de que tudo quanto é belo será raro… e caro!
São mundialmente conhecidas, marcas que
comercializam jóias de excepção: Tiffany’s, Van Cleef & Arpels, Cartier,
Boucheron, Fred, Harry Winston e tantos outros joalheiros, cujas criações ofuscam
tanto pelo trabalho de lapidação, como pela imaginação que constitui o seu
design, sempre diferente e permanentemente capaz de surpreender pela
originalidade, qualidade e meticulosidade aplicadas na sua elaboração. Por
detrás desta enorme visibilidade, esconde-se uma empresa que explora o famoso
minério, desde a África do Sul até á Rússia: De Beers!
Criada e controlada pela família Oppenheimer,
esta multinacional com escritórios espalhados pelo Mundo inteiro, tem a sua
sede em Juanesburgo, onde o Harry, Frederick, bisneto do fundador, gere este
império avaliado em biliões de dólares, que sozinho representa metade das
erxportações de toda a África do Sul.(Harry e Nicky Uma sucessão quase dinástica na família Oppenheimer)
(Harry e Nicky Uma sucessão quase dinástica na família Oppenheimer)
Responsável por cerca de 85 por cento da extracção
mundial de diamantes, a De Beers pode ser considerada monopolista no mercado do
“brilho”. De origem Holandesa, a família Oppenheimer prima pela descrição e por
um comportamento quase tímido. Deve salientar-se que nesta esfera, os negócios
se tratam com enorme confidencialidade, embora transpirem alguns números. Em 1977
por exemplo, a De Beers pagou á União Soviética o montante de 500 milhões de
dólares, pelos direitos exclusivos da comercialização de diamantes retirados do
subsolo soviético.
A dinastia Oppenheimer, e a sua megaempresa,
mantêm-se com enorme destaque na liderança internacional do mercado de pedras
preciosas, criando uma dependência absoluta, aos seus compradores finais, ou
seja a joalharia mundial.
Bailes, guerras e comunicação
Talvez o leitor não saiba que os colares, anéis,
pulseiras, brincos ou coroas, elaborados com diamantes de diversos tipos e
origens, partilham a sua matéria prima com simples cabos eléctricos, que
recorrem ao diamante industrial, específico de determinadas minas, para obter
melhor qualidade de transmissão.
As guerrilhas africanas, assim como as suas
eternas lutas pelo podes, são financiadas, com alguma regularidade, pelo nobre
minério, que não é aparentemente tão inocente como aparenta, quando colocado em
volta de um pescoço de Hollywood, de uma aristocrata austríaca, ou de um modelo
da casa Cartier. Para além do fascínio que reconhecidamente exerce sobre as mulheres,
esta simples pedra, responsável por tantos conflitos, pode também salvar vidas.
Também no cinema os diamantes ornamentaram os
mais ilustres corpos, dando o mote a numerosos filmes como A Pantera Cor-de-Rosa Volta a Atacar, Pequeno-Almoço no Tiffany’s, Os
Diamantes são Eternos – 007 e tantos outros.
Sempre que as palavras luxo e riqueza são
mencionadas, a joalharia está presente. Mesmo nas grandes convulsões
internacionais, nas crises económicas, ou nas crashes bolsistas, os diamantes
são a melhor forma de transportar dinheiro. O pequeno volume que ocupam e, o
interesse que criam à sua volta, permitem ao seu detentor a rápida realização
de liquidez. Antuérpia é historicamente a plataforma giratória para transacções
rápidas, mas Nova Iorque também tem um estatuto de relevo. As grandes marcas de
joalharia que já citámos, e eventos ao estilo dos Oscars de Hollywood, do
festival de Cannes ou dos Bailes do Mónaco, são apenas o lado mediático de um
negócio multimilionário, insensível a tendências de moda ou á ditadura feroz
dos estilistas. Eles são intemporais. Como cantava
Shirley Bassey, Diamonds are Forever…
(Os
Diamantes são eternos) ou será que a saudosa Marylin Monroe detinha a verdade
ao interpretar Diamonds are a Girl’s
Best Friend? (Os Diamantes São os Melhores Amigos da Mulher?).
Portugal na Rota
No Século XVI, os portugueses descobrem o
caminho marítimo para a Índia. Na altura eram os judeus que controlavam o
mercado mundial de diamantes, cujas extracções se concentrava justamente em
território indiano. A comunidade judaica estabelecida em Portugal, e na época
constituída por judeus não europeus, rapidamente fez acordos com os oficiais da
armada portuguesa, para que os mesmos negociassem as valiosas pedras,
directamente em Goa, transportando-as depois para Lisboa a bordo das caravelas
lusas, transformando-a na entrada europeia para este mercado.
Burton – Taylor
Em 1966 foi extraída de uma mina sul-africana,
uma gema fabulosa com cerca de 244 carates. Adquirida pela casa Harry Winston,
a pedra foi talhada e polida em forma de pêra e posteriormente vendida a Vera
Krupp, mulher do rei do aço, Alfred Krupp, agora com “apenas “ 66 carates,
ficando conhecido por Krupp Diamond. Três anos depois a sua proprietária levou
a leilão, sendo a Cartier, quem venceu a licitação. No dia seguinte, o actor
Richard Burton, comprou-a ao conhecido joalheiro, por montante não revelado, e
ofereceu-o à sua mulher Elizabeth Taylor, passando então a ser conhecido por
Diamante Burton – Taylor.
Dez anos após esta oferta, Elizabeth leva
novamente a jóia a leilão, obtendo três milhões de dólares, por parte de um
comprador saudita. A verba foi oferecida pela actriz a um fundo de
solidariedade, para a construção de um hospital no Botswana, curiosamente um
país com enormes jazidas deste minério, mas escandalosamente pobre! Nos nossos
dias, o valor seria substancialmente superior, mas regista-se o acto de nobreza
da famosa actriz.
Fonte: Revista Nova Gente
Texto: Miguel Soares
Foto da net
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