quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

E se um meteorito nos cair em cima?

É mais provável do que se pensava. Muitos explodem na atmosfera e outros caem no mar. A ameaça hoje chama-se Apophis e pode embater na Terra em 2036.


“ De repente o céu dividiu-se em dois e o fogo apareceu sobre a floresta. Todo o lado norte ficou coberto de fogo. Nesse momento fiquei tão quente que não o consegui suportar, como se a minha camisola estivesse a arder. Queria tirá-la, mas de repente o céu fechou-se, houve um grande trovão e fui projectado alguns metros. Depois disso ouvi um barulho como se rochas estivessem a cair ou canhões a disparar e a terra tremeu. Quando o céu abriu, um vento quente corria entre as casas. Mais tarde vimos que muitas janelas estavam partidas.”


O relato é de S. Semenov, um russo que há exactamente um século vivia em Vanavara, na zona central da Sibéria. O homem provavelmente morreu sem saber o que viu ás 7h17 daquela manhã de 30 de Junho de 1908, quando se preparava para tomar o pequeno-almoço. Não foi o único a partir na ignorância. Foram precisos muitos anos para se saber exactamente o que em poucos minutos destruiu 2150 km2 de floresta (mais de 80 milhões de árvores); provocou um movimento sísmico equivalente a um terramoto de grau 5 na escala de Richter; fez os barómetros em Inglaterra registar uma onda de choque atmosférica que deu volta ao globo; causou a formação de nuvens a grande altitude que reflectiam a luz solar e permitiam ler os títulos dos jornais à meia-noite em alguns locais da Europa e da Ásia; e provocou uma explosão de cerca de 15 megatoneladas de TNT (mil vezes a potência de Little Boy, a bomba largada em Hiroxima, em 1945).


As duvidas sobre o que aconteceu permaneceram durante anos. A revolução bolchevique, a Primeira Guerra Mundial e o isolamento da região adiaram as expedições ao local, que só foi visitado em 1921 pelo cientista russo Leonid Kulik. Desde logo concluiu que o desastre de Tunguska (assim baptizado por ter ocorrido sobre o rio com o mesmo nome) tinha sido provocado por um meteorito. Mias tarde Kulik conseguiu convencer o governo a financiar nova expedição, que chegou em 1927. Para sua surpresa não encontrou nenhuma cratera que indicasse o ponto de impacto. 


As árvores destruídas continuavam a marcar a rota do meteoro e na zona de explosão ainda havia algumas de pé, com pequenos ramos. A ausência de uma cratera motivou, durante décadas, diversos rumores sobre o sucedido, inclusive a queda de um OVNI – Tunguska tornou-se um local de culto para aqueles que procuram vida extraterrestre e o desastre foi várias vezes mencionado na série Ficheiros Secretos como um dos grandes mistérios da humanidade.
Hoje, a opinião unânime entre os cientistas é que o meteorito ou asteróide, depois de entrar na atmosfera, acabou por não resistir à pressão e explodiu a cerca de oito quilómetros de altitude. Até há alguns anos, julgava-se que pra provocar uma destruição semelhante, o corpo celeste teria de ter entre 50 e 80 metros de diâmetro. No entanto, um estudo recente do Sandia National Liboratory, no Novo México, publicado no Internacional Journal of Impact Engineering, indica que o asteróide poderia ter apenas 30 a 50 metros. Através de uma simulação num supercomputador, a equipa liderada pelo cientista Mark Boslough concluiu que o meteoro entrou na atmosfera a 15km por segundo, num ângulo de 35º sobre o horizonte. A onda de choque terá embatido no solo a 180km por hora e provocado vários equivalentes a um furacão de categoria 3.
Além de detalhar o que sucedeu há 100 anos na Sibéria, o trabalho de Boslough permite outra conclusão: os meteoritos mais pequenos também são perigosos. “ Os pequenos asteróides são muito mais do que os grandes e explodem antes de chegar ao solo. Só os que têm mais de 100 metros é que fazem crateras”, explica o cientista.


Devido ao movimento de rotação da terra, se o asteróide de Tunguska tivesse caído quatro horas mais tarde, a cidade imperial de S. Petersburgo teria sido arrasada. Já no que toca Lisboa, Mark Boslough não tem dúvidas: “ Um asteróide muito pequeno, com 40 metros de diâmetro, podia destrui-la.” Ainda assim, o cientista diz que é mais provável a capital portuguesa ser atingida por um terramoto do que por um meteoro. “ A maioria explode demasiado alto na atmosfera para ser uma ameaça. A probabilidade de alguém ser morto por um asteróide é de uma num milhão”, diz.
No entanto, as hipóteses têm vindo a aumentar com a descoberta de novos corpos celestes. Tem sido assim ao longo das últimas décadas. Em 1980 havia apenas 86 asteróides conhecidos a uma distância próxima da Terra. Dez anos mais tarde o número tinha subido para 170. No ínicio do ano 2000 eram 921. Hoje, de acordo com os números da NASA, são para cima de 5576 e novos corpos são descobertos todos os meses.
Mais importante: na viragem do milénio eram conhecidos 300 objectos que ultrapassavam um quilómetro de diâmetro. Actualmente, esse registo já vai nos 747. A preocupação poderá aumentar com as observações dos cientistas a estenderem-se para lá daquela que é conhecida como a Cintura dos Asteróides, entre Marte e Júpiter. Em 1992, os astrónomos da Universidade do Havai e do Massachusetts Institute of Technology, David Jewitt e Jane Luu, localizaram uma gigantesca região de asteróides que começa em Neptuno. Baptizada de cintura de Kuiper, contém pelo menos mil objectos suficientemente grandes para serem vistos da Terra. Ou seja, têm mais de 100 km de diâmetro. São os chamados “assassinos de planetas”.
A probabilidade de um meteorito destruir uma cidade também é baixa devido à composição da Terra. Com 70% do planeta coberto de água, é mais comum um  objecto vindo do espaço cair nos oceanos do que num dos cinco continentes. Assim se explica a existência de poucas crateras provocadas por meteoritos e foi essa lógica que levou a geofísica Dallas Abbott, da Universidade de Columbia, a passar a última década no fundo do mar à procura de crateras que não tivessem sido provocadas por vulcões. “Esperava encontrar entre 10 e 100 crateras com menos de 180 milhões de anos e talvez uma com menos de 1 milhão de anos com 20 km de diâmetro ou mais largas”. Foi por isso que ficou “surpreendida” por ter encontrado 14 marcas de quedas de jovens asteróides de grandes dimensões, num período curto em termos geológicos.


Uma das descobertas “mais excitantes” para a cientista foi a da cratera no golfo de Carpentária, a norte da Austrália. Abbot acredita que um objecto com 300 metros de diâmetro atingiu o golfo no ano 536. Um objecto desse tamanho podia libertar tanta energia como mil bombas nucleares. “ Esperamos relacionar as nossas descobertas a factos da História da humanidade, mas ainda estamos a trabalhar nisso”, diz. Alguns relactos da época, incluindo do historiador bizantino Procópio, dão contas de céus nublados, fracas colheitas e Verões frios entre 536 e 537. Mas, como o asteróide caiu no mar, os efeitos passaram rapidamente.


Muito mais preocupante foi o que Abbot descobriu ao largo da costa de Madagáscar, no Oceano Índico. No fundo do mar, a cientista encontrou indícios da queda de um objecto espacial com três a cinco quilómetros de diâmetro há cerca de 4800 anos. O seu impacto terá provocado um tsunami com 180 metros de atura (várias vezes superior ao de 2004) que atingiu o Oceano Pacífico. Se tivesse caído em terra, o seu impacto teria levantado uma gigantesca nuvem de pó e grande parte do continente africano teria entrado numa idade do gelo.
Alguns cientistas afirmam que ocorreu um processo semelhante a esse na América do Norte há 13 mil anos e que levou à extinção dos mamutes, tigres-dentes-de-sabre e outros animais selvagens. Em 2005, uma equipa liderada por Richard Firestone, do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, na Califórnia, chegou à conclusão de que “um cometa de 10km, que talvez se tenha composto a partir dos restos de uma explosão de uma supernova, pode ter atingido a América do Norte há 13 mil anos”. Para defender esta tese, a equipa de Firestone realizou análises do solo por toda a América do Norte e, na maioria delas, encontrou irídio, um elemento raro na Terra mas comum no espaço. A explosão deste corpo celeste sobre o Canadá (não existe cratera) terá alterado o clima de uma forma tão radical que começou ai um período de arrefecimento global.


Neste momento, a NASA tem sob observação 210 corpos celestes com possibilidade de embater na Terra num futuro próximo (http://neo.jpl.nasa.gov/risk/) , apesar de essa probabilidade ser reduzida. Aquele que mais tem chamado a atenção dos cientistas é o 99942 Apophis, descoberto a 19 de Junho de 2004, que tem uma hipótese em 45 mil de colidir com a Terra em 2036. Com apenas 300 metros, o seu impacto teria uma força semelhante à de 60 mil bombas de Hiroxima.
Os astrónomos têm-se preocupado em estabelecer as rotas precisas dos asteróides para conseguir prever algum possível impacto. “Na última década  descobrimos a órbita da grande maioria de asteróides conhecidos e sabemos que não vão atingir a Terra (ou pelo menos é improvável que tal aconteça)”, explica Mark Boslough. “ Deviriamos enviar um emissor para o Apophis rapidamente para garantirmos que a Terra não estará na sua rota. Quanto mais depressa for feito, mais tempo teríamos para descobrir o que fazer se houver uma trajectória de impacto.”
Quem esta de acordo com Boslough é Rusty Schweickart, antigo astronauta e actual director da Fundação B612. Criada a 7 de Outubro de 2002, esta instituição (baptizada com o nome de asteróide de O Principezinho, de Antoine Saint-Exupéry) tem por objectivo conseguir “alterar significativamente a órbita de um asteróide de uma forma controlada até 2025.” Nesse sentido, a fundação elaborou uma simulação por computador  com um corredor de risco definido, onde o Apophis poderia embater. Dessa rota fazem parte a Rússia, Califórnia, México, Nicarágua, Costa Rica, Colômbia e Venezuela. Depois cairia no Atlântico. Além dos milhões de mortos, a queda do Apophis provavelmente daria origem a um violento tsunami.


Para já há  poucas formas de interceptar um objecto espacial. Com algum tempo de aviso, Mark Boslough diz que seria possível recorrer a tractores gravitacionais – algo que atraísse os asteróides para longe da gravidade terrestre.
No imediato, teria de se recorrer a uma “intercepção nuclear”. No entanto, o processo não é tão simples como parece em filmes como Armageddon, no qual uma equipa de astronautas vai colocar uma bomba nuclear no objecto espacial. A par da impossibilidade de o fazer, um tratado internacional em vigor desde 1963 proíbe o uso de armas nucleares no espaço. Segundo o cientista, esta seria a parte de mais fácil resolução do problema: ”Acredito que haveria um acordo se a alternativa fosse a aniquilação do planeta.”
http://neo.jpl.nasa.gov/stars/

Quedas assinaladas por descobertas recentes

A maioria dos meteoritos não chega a embater no solo. Muitos explodem no ar. Os que atingem o planeta têm grandes hipóteses de cair no Oceano.


- Tunguska – A ausência de uma cratera intrigou os cientistas durante anos. Hoje acredita-se que o meteoro explodiu a cerca de oito quilómetros de altitude, no centro da Sibéria, em 1908. Destruiu 2150km2.

- Golfo de Carpentária – A cratera de um meteorito com 300 metros foi localizado a norte da Austrália por Dallas Abbott. Terá caído no ano 536. Relatos da época dão conta de céus nublados, fracas colheitas e Verões frios.


- Madagáscar - Ao largo deste país africano, Dallas Ababott encontrou indícios da queda de um objecto espacial com três a cinco quilómetros há cerca de 4800 anos. Terá provocado um tsunami com 180 metros de altura.


- América do Norte – Em 2005, uma equipa liderada por Richard Firestone apresentou provas da queda de um meteorito no Canadá há 13 mil anos que matou animais como mamutes e tigres-dente-de-sabre e originou uma idade do gelo.


Fonte: Revista Sábado
Texto: Nuno Tiago Pinto
Fotos da Net
𺰘¨¨˜°ºðCarlosCoelho𺰘¨¨˜°ºð

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Selam, a menina australopiteca


Depois de milhares de horas de escavações durante cinco anos, uma equipa de antropólogos desenterrou, finalmente, o esqueleto de uma menina de 3 anos que viveu há 3,3 milhões de anos – e que surge assim perante os nossos olhos como a criança mais antiga até hoje conhecida.
Foi encontrada na região de Dikika, no Nordeste da Etiópia, onde terá morrido devido a uma inundação, e ali ficou, coberta por areias e rochas, adormecida no tempo.
Neste regresso à luz do dia, a criança foi rebaptizada pelos antropólogos de Selam – que significa ‘paz’ em armárico, a língua etíope -, embora a revista Nature, que anunciou a descoberta, tenha falado dela como «a filha de Lucy», por esta ser tida pelo nosso antepassado mais antigo até há pouco conhecido e por pertencer à mesma fase histórica, a dos Australopithecus afarensis.
Mas Selam terá vivido 150 mil anos antes de Lucy e o seu estado de conservação é bem melhor: tinha o crânio, a face e o tronco praticamente intactos, além de partes dos membros superiores e inferiores.
Os investigadores acreditam que podem, através dela, desvendar muito mais sobre o modo de vida dos seres que são considerados os nossos mais remotos antepassados.

Fonte: Revista Visão
Texto/Autor: Desconhecido
Foto da Net
𺰘¨¨˜°ºðCarlosCoelho𺰘¨¨˜°ºð

domingo, 18 de dezembro de 2016

A Necrópole de Alcácer do Sal


Perto de Alcácer do Sal, a pouco mais de mil metros para o ocidente, existe uma vasta necrópole, cuja exploração tem prendido, de há meio século a esta parte, as atenções de distintos arqueólogos, como por exemplo, o sr. dr. Vergílio Correia que dedicou uma larga actividade ao estudo da interessante região.
Todo o espólio da necrópole de Alcácer do Sal, é composto por coisas romanas e coisas anteriores ao domínio Romano em Portugal. Daqui se pode facilmente concluir que a necrópole foi utilizada durante um largo período.


Dos inúmeros objectos que lá foram encontrados e cujo estudo pode prestar óptimos esclarecimentos ao investigador de diversos povos habitantes desta zona, reproduzimos uma interessante falcata, uma adaga de antenas e a empunhadura de um escudo.

Falcata é uma espada de folha curta e recurva que se encontra com frequência na península, principalmente ao sul, e que já no século V era usada pelos guerreiros gregos.


Não é fácil determinar como entrou o seu uso na Iberia, no entanto, introduzida por via guerreira ou comercial, o que é certo é que este instrumento se encontra em quantidade por toda a região da Meseta.


A mais rica Falcata que se conhece, é de Almedinilla, e constitui uma bela peça, de maravilhosa execução, encantadoramente decorada com motivos característicos Jónicos.
A Falcata que reproduzimos, apresenta ainda duas braçadeiras da bainha, tam largas como o bocal, o que indica que ela era rectangular, á maneira grega.


A adaga de antenas encontra-se também em Espanha meridional e central e abunda segundo a sistematização de Jimpera, no século IV e princípios do III.

Esta arma que foi introduzida nas coortes romanas por altura da segunda guerra púnica, depois dos formidáveis movimentos bélicos dessa época, que arregimentaram mercenários de toda a conca mediterrânica, era dsnominada, pela sua origem, por hispânica, e usada sobre a coxa direita.


A empunhadura de que igualmente damos reprodução é idêntica aos fragmentos de peças congéneres que foram encontrados em Almedinilla e que passaram para o Museu Arqueológico de Madrid.

Fonte: Almanaque Ilustrado O Século (1931)
Texto/Autor: Desconhecido
Fotos da net
𺰘¨¨˜°ºðCarlosCoelho𺰘¨¨˜°ºð

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Cerveja

A Loura que todos associam ao verão
Uma aliada da saúde

Já sabíamos que é a bebida alcoólica mais consumida em todo o Mundo. O que nunca se disse é que a cerveja protege contra os enfartes.

(A Estela de Hamurabi, onde estão escritas as leis mais antigas sobre a cerveja, no Museu do Louvre, em Paris)

A primeira cerveja de que há conhecimento foi fabricada há cerca de 5500 anos, pelos sumérios, um povo que habitava a Mesopotâmia. A estes é atribuída uma notável arte cervejeira a partir de um cereal que mais tarde seria chamado de cevada. Por ser uma nutritiva e agradável fonte de líquidos, era distribuída aos trabalhadores.

(Na altura essa bebida foi baptizada de Cerevisia, provavelmente em homenagem a Ceres, conhecida como sendo a “deusa das plantas que brotam” )(principalmente dos grãos).

(O primeiro documento escrito relatando o processo de produção de cerveja é uma placa de barro com inscrições cuneiformes, chamado de Hino à Ninkasi, escrito por um poeta Sumério, datado de 1800 a.C. Porém o Hino em si prova-se muito mais antigo que a escritura encontrada.)

Os sumérios difundiram a sua técnica a outros povos da Antiguidade, como os Assírios e os babilónios, que por sua vez a passaram a hebreus e a egípcios, entre outros. Mas foram os romanos que a difundiram pela Europa. No inicio da Idade Média, os mosteiros Europeus dedicaram-se à fabricação da bebida, que adquiriu o seu sabor característico pelas mãos dos monges. No tempo da quaresma, os padres alimentavam-se exclusivamente da cerveja. Em Portugal, esta bebida é consumida desde o século XII.
Uma das características principais desta beberagem é a sua capacidade de formar espuma abundante e estável. Para que esta seja realçada, o copo deve estar limpo e seco, sem vestígios de gordura. As cervejas são ricas em aromas e gostos diversos, de acordo com as matérias-primas, o processo de produção utilizado e a levedura escolhida.

Os Portugueses e a Cerveja

Segundo dados fornecidos pela Associação Portuguesa de Produtores de Cerveja, no ano de 2003 produziram-se 735 milhões de litros desta bebida. O consumo total rondou os 601 milhões de litros, sendo que cada habitante bebeu aproximadamente 60 litros.

Cerveja Milagrosa

Beber cerveja de forma moderada apresenta vários benefícios para a saúde.
Coração – Ajuda a manter o nível de HDL, colesterol benéfico ao organismo. Diminui o risco de doenças cardiovasculares. Protege contra enfartes do miocárdio.
Cancro da Mama – Compostos presentes na cerveja podem inibir o crescimento do cancro da mama.
Digestão – A cerveja aumenta a produção de ácidos no estômago, estimulando o fluxo de sangue e facilitando a digestão.
Diurese – A cerveja tem um efeito diurético superior à água.

Matérias-Primas da Cerveja

Água – De preferência muito pura.
Cevada – Utilizada por ser muito rica em amido. Para a sua transformação em malte, os grãos são macerados em água até germinarem.
Lúpulo – Planta utilizada para aromatizar a cerveja. É ela que lhe confere o travo amargo que é característico desta bebida.
Levedura – É um organismo molecular que actua nos açucares provenientes do malte, transformando-os em álcool. O paladar e o carácter da cerveja dependem muito da levedura utilizada.

Fonte: Revista Nova Gente nº 1456
32/04/NG – Infografia Impala/ Luís Gaspar
𺰘¨¨˜°ºðCarlosCoelho𺰘¨¨˜°ºð

sábado, 19 de novembro de 2016

A espantosa inteligência dos animais


Há pouco tempo, passei uma manhã a tomar café com Kanzi. Foi ele quem me convidou, à sua habitual maneira arrevesada. Kanzi é um tipo de poucas falas – 384 palavras, numa contagem formal, embora provavelmente saiba mais algumas dezenas. Tem uma voz perfeitamente audível – clara, expressiva e muito alta. Mas não é especialmente bom a formar palavras. Nada de anormal, quando se é um bonobó, o parente mais próximo e sereno do chimpanzé.
Mesmo assim, Kanzi é conservador. Durante a maior parte do dia conserva uma espécie de glossário bem á mão, três folhas com centenas de símbolos coloridos que representam todas as palavras que lhe foram ensinadas pelos seus mentores ou aprendidas por ele próprio. Consegue construir pensamentos e frases, e até conjugar verbos, simplesmente apontando. As folhas incluem não apenas substantivos e verbos fáceis, como «correr» e «coçar», mas também palavras conceptuais como «de» e «mais tarde», e elementos gramaticais como as terminações para os gerúndios e pretéritos.


Kanzi sabe quebrar o gelo, antes de ir ao assunto. De modo que aponta para o ícone do café, no seu glossário. E, depois para mim. Chama então, pela primatóloga Sue Savage – Rumbaugh, investigadora do Great Ape Trust – o centro de investigação de Des Moines, no Lowa, onde Kanzi vive – e pelo supervisor de laboratório, Tyler Romine. Romine prepara quatro cafés e leva um a Kanzi, no seu recinto, por detrás de uma janela de plástico. O bonobó bebe – engole um trago, em boa verdade – e, como as nossas vozes são recolhidas por microfone, escuta o que dizemos.
«Dissemos-lhe que vinha cá um visitante», explica Savage – Rumbaugh. «Esta manhã, tem estado excitado e obstinado, e não conseguimos levá-lo para o quintal. Em troca, tivemos de negociar um pedaço de meloa.» Meloa ainda não faz parte da lista de palavras de Kanzi, pelo que o nosso amigo aponta para os símbolos de verde, amarelo e melancia. Quando provou couve, chamou-lhe «alface lenta», porque leva mais tempo a mastigar.


A Great Ape Trust, sem fins lucrativos, aloja sete bonobós, incluindo o filhote de Kanzi, Teco nascido a 1 de Junho de 2010. Kanzi não é o primeiro macaco a quem foi ensinada linguagem. Este centro adopta uma nova abordagem, criando macacos desde a nascença com linguagem falada e simbólica como característica constante dos seus dias. Tal como as mães humanas levam os bebés a passear e falam com eles sobre o que vêem, mesmo que a criança ainda não entenda, os cientistas deste centro também narram a vida aos seus bonobós. Com a ajuda dessa imersão total, os macacos aprendem a comunicar melhor, mais depressa e com maior complexidade.
Seja como for, Kanzi não está hoje interessado em falar muito, preferindo correr e saltar para mostrar os seus dotes físicos. «Bola», escolhe ele nas suas folhas do glossário, quando acaba o café. «Diga-lhe que a vai buscar», sugere-me Savage – Rumbaugh, mostrando-me onde estão os símbolos necessários na folha que tenho na mão. «Sim-eu-vou-caçar-a-bola», escolho lentamente. Caçar é uma palavra que Kanzi usa alternadamente com obter. Levo algum tempo a encontrar a bola num gabinete e, quando regresso, Savage-Rumbaugh pergunta verbalmente a Kanzi: «Estás pronto para jogar?» olha para nós sinistramente. «Passado pronto», indica.
Criaturas Conscientes
Os seres humanos têm uma relação plena com os animais. São nossos companheiros e nossos bens, membros da nossa família e nossos criados, nossos animais de estimação e nossas pestes. Adoramo-los e metemo-los em jaulas, admiramo-los e abusamos deles. E, claro, cozinhamo-los e comemo-los.
A nossa justificação sempre foi a de que podemos fazer com os animais o que quisermos porque eles não sofrem como nós. Não pensam, pelo menos de qualquer maneira significativa. Não se preocupam. Não têm sentido do futuro ou da sua própria mortalidade. Podem dedicar-se, mas não amam. Tanto quanto sabemos, podem nem ser conscientes. Para muita gente a Bíblia dá o argumento mais poderoso. Foi concedido aos seres humanos o «domínio sobre os animais do campo», e aí a discussão pode mais ou menos parar.
Mas as bermas que construímos entre nós e os animais estão a ser eliminados. Costumamos dizer que os seres humanos são os únicos animais que utilizam ferramentas. Então e os pássaros e macacos que sabemos que as usam? Os seres humanos são os únicos capazes de empatia e generosidade. E então os macacos que praticam a caridade e os elefantes que velam os seus mortos? Os seres humanos são os únicos que sentem alegria e conhecimento do futuro. Então e o estudo recentemente publicado, no Reino Unido, a mostrar que os porcos criados em ambientes confortáveis exigem optimismo, movendo-se em direcção a um novo som, em vez de fugirem temerosamente dele? E quanto aos seres humanos serem os únicos animais com linguagem? Kanzi explicar-nos-ia que não é verdade. Não basta, pois, estudar o cérebro dos animais, dizem agora os cientistas. Temos de conhecer a sua mente.


Já aceitamos que os macacos e os golfinhos são conscientes. E gostamos de pensar que os cães e os gatos também o são. Mas e os ratos? E uma mosca? Passa-se com eles alguma coisa? Um cérebro diminuto num animal simples tem o suficiente para controlar apenas as funções básicas do corpo? A nossa avaliação é, com frequência, toldada por sentimentos adquiridos em relação a uma dada espécie. É provável que uma barata não tenha menos poder cerebral do que uma borboleta, mas somos céleres a negar-lhe consciência, porque é uma espécie que nos repugna. Ainda assim, a maioria dos cientistas concorda que a consciência brilha mais intensamente nos humanos e em outros animais superiores, diluindo-se para uma luz vacilante e, por fim, para a escuridão, nos seres inferiores.
Embora o tamanho do cérebro tenha, por certo, alguma relação com a esperteza, muito mais se poderá aprender da sua estrutura. O pensamento superior tem lugar no córtex cerebral, a região mais evoluída do cérebro e que falta a muitos animais. Os mamíferos são membros do clube do córtex cerebral e, como regra, quanto maior e mais complexa se mostra essa região, mais inteligente é o animal. Mas não é a única via para o pensamento criativo. Veja-se a utilização de ferramentas, através das lontras: dominaram a tarefa de esmagar moluscos com pedras para chegar à carne que está lá dentro, o que, embora primitivo, conta. Mas se a criatividade reside no córtex cerebral, porque razão os corvídeos a classe de aves que inclui os corvos e os gaios, usam melhor as ferramentas do que quase todas as espécies não humanas? Os corvos, por exemplo revelam-se adeptos de dobrar arame para criar um gancho que possa pescar comida no fundo de um tubo de plástico. Mais notável, ainda, verificou-se que a gralha, uma ave da família dos corvos, conseguia raciocinar o suficiente para deitar pedras num recipiente parcialmente cheio de água, a fim de fazer subir o nível e poder saciar a sede.
O modo como as aves realizaram tal habilidade sem possuírem um córtex cerebral tem provavelmente a ver com uma região cerebral que partilham com os mamíferos: os gânglios basais, estruturas mais primitivas envolvidas na aprendizagem. Os gânglios basais dos mamíferos são feitos de várias estruturas, enquanto os das aves se resumem a uma. Sucede porém que o cérebro das aves é multifacetado, efectuando diferentes tarefas ao mesmo tempo. O resultado é igual, com a informação processada. Só que as aves atingem-no de maneira mais eficaz.


No caso dos corvídeos e de outros animais, o que pode activar ainda mais a inteligência é a estrutura, não do seu cérebro, mas das suas sociedades – sobretudo quanto à caça. Veja-se o rei dos animais. 


«Os leões fazem coisas extraordinárias», diz a bióloga Christine Drea, da Universidade de Duke. «Um animal coloca-se para a emboscada, e outro espanta a presa nessa direcção.» Mais impressionante, ainda, é a hiena. «Só por si, uma hiena pode derrubar um gnu, mas são precisas várias para deitar ao chão uma zebra», explica Christine Drea. «De modo que planeiam previamente o tamanho da presa e saem para caçar uma em particular. Decidem que vão caçar uma zebra. Ignoram até um gnu, se passarem por algum no caminho.»
É certamente significativo que os corvos sejam as aves mais hábeis e sociais, com longas e estáveis ligações ao grupo. Também é elucidativo que os animais de manada, como as vacas e os búfalos, exibam pouca inteligência. Embora vivam colectivamente, a sua sociedade tem reduzida forma. «Numa manada de búfalos, o Manel não quer saber quem é a Maria», diz Drea. «Mas entre os primatas, carnívoros sociais, baleias e golfinhos, cada indivíduo tem o seu próprio lugar.»

Nós e os outros

A teoria da mente revela-se essencial para a comunicação e a autoconsciência – e alguns animais mostram-na. Os cães têm o entendimento inato do que significa apontar: há alguém com informação para partilhar e que está a chamar a sua atenção para que possa aprender também. Parece simples, mas só porque nascemos com essa capacidade e, a propósito, temos dedos para apontar. Os grandes macacos, apesar do seu impressionante intelecto e mãos com cinco dedos, não parecem programados de fábrica para apontar. Mas pode, tão só, faltar-lhe a oportunidade de o fazer. Um macaco bebé raramente se afasta da mãe, agarrando-se ao seu abdómen. Mas Kanzi, que foi criado em cativeiro, andou muitas vezes nos braços de seres humanos, e teve assim as mãos livres para comunicar.
Apontar não é o único indicador de uma espécie inteligente que adquire a teoria da mente. 


Os gaios azuis – outro corvídeo – escondem alimentos para usarem mais tarde, e têm muito cuidado com a possibilidade de animais intrusos os estarem a ver. Se notar que foi observado, o gaio espera que o outro animal se afaste, e depois dissimula a comida num sítio diferente. Compreende, pois, que a outra criatura tem mente – e manipula-a.
O padrão ouro para demonstrar uma compreensão da distinção entre nós e os outros é o teste do espelho. Ou seja, se um animal consegue ver o seu reflexo e reconhecer o que é. Pode ser adorável ver um gato observar-se num espelho e correr para o outro lado em busca do imaginário companheiro. Mas não é sinal de grande cabeça. Os elefantes, os macacos, e os golfinhos são das poucas criaturas que conseguem passar o teste do espelho. Os três reagem apropriadamente, depois de ter sido aplicada uma marca na tinta na sua testa ou noutra parte do corpo. Os macacos e os elefantes irão tocar na marca com o dedo ou com a tromba, em vez de tentarem chegar ao reflexo. Os golfinhos colocam-se de maneira a verem melhor o reflexo da marca.
Se os animais podem raciocinar – mesmo de uma forma que consideremos rude -, a questão inevitável passa a ser: podem sentir? Sentirão empatia ou compaixão? Podem amar, preocupar-se, ansiar ou ter desgosto? E o que diz sobre o modo como os tratamos? São perguntas armadilhadas a que a Ciência não pode furtar-se.


Os elefantes parecem chorar os seus mortos, debruçando-se sobre um companheiro inerte com aparente desgosto. Os macacos também ficam durante dias perto do corpo sem vida de um dos seus. A empatia para com os membros vivos da mesma espécie não é, igualmente, novidade. 


«Quando os ratos estão em sofrimento, os companheiros que o vêem começam também a contorcer-se, partilhando a dor», diz Marc Hauser, professor de Psicologia e Biologia Antropóloga, em Havard. «Não precisamos de Neurobiologia para concluir que isso sugere consciência.» Já Frans de Waal, do Centro Nacional Yerkes de Investigação de Primatas, em Atlanta, coordenou um estudo em que macacos mostravam gosto em oferecer comida a companheiros, desde que fossem familiares ou, pelo menos, conhecidos. Estamos bem perto de pesquisas no cérebro humano, que revelam actividade nos centros de recompensa de alguém que concretiza u ato de solidariedade.


O glossário de Kanzi inclui, aliás, palavras como «bom» e «feliz», «ser» e «amanhã». Se é verdade que todos estes termos têm significado para ele, então a sua vida – e, por extensão, a de outros animais – pode ser rica e valer a pena.

Fonte: Revista Visão
Texto: Jeffrey Kluger
Fotos da net
𺰘¨¨˜°ºðCarlosCoelho𺰘¨¨˜°ºð

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

História romântica duma amorosa que foi rainha

(Rainha D. Mecia Lopes de Haro)


D. Mecia Lopes de Haro, Rainha de Portugal, mulher de D. Sancho II, era o que as novelas românticas chamam uma mulher fatal e as crónicas cinéfilas chamam uma vamp.
Os cronistas são concordes em dizer que ela era exactamente bela. E pela sedução que espalhou, pelas disputas a que deu lugar, pelos acontecimentos que desencadeou, somos levados a concluir que têm razão.(Rainha D. Mecia Lopes de Haro)

(Brasão da Casa de Haro. Mécia nasceu em berço nobre, estava ligada a sua família às casas reaias de Leão e Castela às casas de Haro e de Lara)

D. Mecia era filha de Lopo Dias de Haro, «O cabeça brava», senhor de Bicaya, e tinha das mulheres da sua raça a desenvoltura do corpo e o olhar de sonho que se inspira nos longínquos e enigmáticos horisontes do mar. Era de estirpe real, visto ser neta, por sua mãe de Afonso IX de Leão, e uma certa altivez junta ás graças da sua formosura tornavam-na dominadora. À sua simples passagem, deixava após si um perfume que enlouquecia e ficava sempre nas narinas e uma fascinação que envenenava e ficava para sempre no sangue, os venenos de mujer e de serpente de que fala Villaspaesa. Lopo Dias era um velho guerreiro experimentado em mil campanhas e enfeitado de mil proezas. Sua filha acompanhava-o em muitas dessas digressões heróicas e foi num acampamento que Alvaro Perez de Castro a viu e logo se enamorou.
Mas Alvaro Perez era casado com a condessa de Urgel. Alvaro Peres repudiou-a.
Foi preciso, porém, ainda disputa-la a Martins Sanches, o bastardo de D. Sanches I, a quem a presença de D. Mécia trazia enlevado e cativo.

E um dia que a bela biscainha se encontrava na sua tenda, fora do cêrco que o Rei de Castela havia pôsto às forças de Alvaro Perez, êse surgiu airoso e destemido no seu cavalo afogueado armado de todas as armas para um madrigal ou para um combate. Martins Sanches, rubro de ciúme, foi-lhe ao encontro, apenas vestido de manto e saio, com a primeira lança que encontrou. Mas Alvaro Perez, vendo o adversário sem armadura, deu-lhe desdenhosamente com o couto da sua lança e retirou para a vila cercada.
Foi talvez esta audaciosa incursão por amor dela, que tocou o coração de D. Mécia, porque algum tempo depois casava com Alvaro Perez, já então reconciliado com o seu Rei.
Mas não ficou inactiva, nem se recolheu à paz doméstica do seu lar, porque isso era incompatível com o seu feitio impetuoso e com as predilecções guerreiras que tinha adquirido no convívio com o pai. Acompanhou o marido em várias expedições, entrou em terra de mouros, assistiu a batalhas, presenciou morticínios e dizem as crónicas que esteve em riscos de ser raptada por Alhamar, wali de Arjona. Foi em Cordova, que Alvaro Perez governava, no Castelo de Martos, poderosa fortaleza que era a chave da Andaluzia, situado numa penha muito alta que dominava a cidade e donde se avistava toda a serra em redor e o vale profundo onde corria o Guadalquivir.
Alvaro Perez tinha ido à côrte e deixado o Castelo á guarda de seu sobrinho D. Telo. Este aproveitou a ocasião para fazer com os cavaleiros os seu comando umas correrias por terras de mouros, deixando o castelo abandonado.
Alhamar, que farejava nos arredores, cobiçoso do castelo e porventura da castelã, reuniu forças numerosas e marchou à conquista da penha de Martos. Mas D. Mécia ao avistar os pendões da moirama não perdeu o ânimo. Mobilizou as suas  donas e donzelas, revestiu-as de armas, colocou-as nas ameias do castelo em ar de batalha ao mesmo tempo que mandava avisar D. Telo dos perigos que corria. O ardil de D. Mécia deu resultado, porque os cavaleiros chegaram a tempo de defender o castelo e de derrotar Alhamar.
Pouco tempo depois, Alvaro Perez morria em Orgaz e D. Mécia, viúva e jovem, recolhia como dama de honor à côrte de D. Berengaria, mãe de D. Fernando III de Castela.

(D. Mécia casa entre 1242 e 1245 com D. Sancho II  de Portugal)

Foi nesta côrte que D. Sancho II a teria encontrado apaixonando-se desde logo por ela. Sabe-se que o Rei Português se interessou pela solução leonesa a favor do Rei castelhano e que entre eles ficaram relações que perduraram através dos revezes e amarguras do reinado melancólico de D. Sancho. É provável que fosse numa das suas Idas à côrte de D. Berengaria, para se avistar com o filho, que se deu o encontro que o enfeitiçou.
O que é certo é que D. Mécia, passado algum tempo da sua viuvez, aparece na côrte portuguesa, rainha pelo domínio da sua beleza e pela autoridade legítima do seu título. Muitos malefícios lhe são atribuídos pela decidida influência que exercia no ânimo do Rei. Mas também pode dizer-se que as únicas horas de felicidade que teve D. Sancho, a única consolação que por momentos o desviou das apreensões do seu destino, as encontrou no seio confortador de D. Mécia! Foi rápido o idílio, porque uma noite a rainha fugiu na garupa do cavalo de D. Raimundo de Porto Carrero. Alguns historiadores falam em rapto como se fosse possível, sem a conveniência de D. Mécia, penetrar na alcáçova e, sobretudo, arranca-la do leito conjugal, dos braços do marido, sem resistência e sem luta.
O quadro pode desenhar-se com segurança, mesmo a esta distância de séculos. D. Mécia desprendeu-se brandamente dos braços do Rei, caído em sono profundo, talvez depois de uma noite de amor, atravessou pé ante pé a alcova e os corredores frios do paço e entregou-se deliberadamente às mãos do seu captor.
Quais as razões da sua fuga? A ambição? Evidentemente que não, porque D. Mécia não podia ter ambição maior do que ser rainha e, por mais precária que fosse a segurança do trono de D. Sancho não era melhor a situação que lhe podiam dar.
O medo do Exilio? Mas o exilio de Ourem era com certeza mais desvantajoso para ela do que o exilio real de Toledo, com a sua dignidade de rainha, ao lado da côrte de Castela, onde tinha amigos, porque se D. Mécia era biscainha pela origem, era castelhana pelo coração.
A traição política? Menos provável ainda, porque D. Mécia não iria atraiçoar o homem que lhe deu o título de Rainha, nem uma causa que superasse todas as honras e bens de que gozava, tanto mais que D. Sancho tinha por seu lado as simpatias políticas de Fernando de Castela, o filho de D. Berengaria.
O quê então? A história é a tal respeito obscura, enigmática, indecifrável.
Mas pode deduzir-se do que narram secamente os cronistas que D. Mécia era uma grande amorosa e, portanto, o seu destêrro voluntario de Ourem, sem côrte, sem autoridade, sem honras, sem títulos, só se explica pela paixão.

(Depois de raptada, D. Mécia é levada para o Paço Real em Ourém)

Segundo Rui de Pina, o cronista de D. Sancho II D. Mécia fora levada de Ourém para a Galiza e nunca mais houve notícias suas. Ignora-se se realmente foi para a Galiza, nem há memória dela senão depois de um intervalo de dez anos. Existe um documento que, apesar de lhe faltar a indicação do lugar, mostra que ela vivia nessa época nos domínios de Castela: por esse documento, datado de 24 de Fevereiro de 1257, D. Mécia e o cunhado, D. Rodrigo Gonçalves, como testamenteiros de D. Theresa Aires, faziam entrega de certas igrejas ao convento de Benavides.
Naquele local perfilha o infante D. Fernando, o qual herda todos os bens e que entra ainda na disputa da herança de D. Sancho II pela viúva do obituário. Falecida em Palência, segundo a tradição, onde possuía terras, foi sepultada em Nájera no mosteiro beneditino de Santa Maria, na Capela da Cruz. Sobre o túmulo, suportado por quatro leões com as armas de Portugal ao peito, está o vulto com traje de Biscaia. D. Fernando encarregou-se de instituir seis capelões e uma missa diária pela sua alma.


A obra História de Portugal, de Alexandre Herculano, ainda hoje vastamente estudada por historiadores e cientistas, infere alguns capítulos sobre a biografia de D. Mécia e a sua importância na crise de 1245
“ (…) É certo, que o ter abandonado marido na adversidade foi um acto de ingratidão que nada pode justificar, mostrando que a heroína de Martos sabia melhor defender um castello sitiado pelo inimigo, do que retribuir o amor extremoso que lhe consagrára um principe infeliz, ou ao menos cercear-lhe os amargores do exilio e as saudades do throno perdido.

Fonte: Revista Ver e Crer nº 2 de Junho 1945
Texto: Carlos Olavo
Fotos da Net
𺰘¨¨˜°ºðCarlosCoelho𺰘¨¨˜°ºð

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Rio de Janeiro

O triunfo da Natureza no belo Rio de Janeiro


Que a Natureza estava inspirada quando criou o Rio de Janeiro é uma verdade que entra pelos olhos adentro.: desenhou-lhe baías de formas aerodinâmicas, esculpiu-lhe morros arredondados, banhou-o de sol, calor e humidade, rasgou-lhe cursos de água fresca em rios, cachoeiras, e lagoas e, à laia de remate, polvilhou a obra com um manto luxuriante de Mata Atlântica. Tamanho momento de inspiração resultou no seguinte: de todas as cidades do Mundo, o Rio é por ventura, aquela que tem o entorno natural mais belo. Pode elogiar-se o espírito alegre e desprendido dos cariocas e o ‘astral’ do Leblon, Ipanema e Copacabana, mas quem visita a ‘cidade maravilhosa’ não pode passar ao lado das belezas naturais que fazem em absoluto a sua singularidade. É delas que nos propomos falar – Jardim Botânico, Parque Nacional da Tijuca, Lagoa Rodrigo de Freitas.


DOM RODRIGO ALCUNHADA o ‘Coração do Rio’, por causa da forma, a Lagoa Rodrigo de Freitas deve o nome ao Capitão Português que em 1660 desposou Dona Petrolina Fagundes, filha de Sebastião Fagundes Varela, proprietário de um engenho e das terras em torno do lago. É, para muitos, a melhor representação da paisagem do Rio, na relação criada entre o espelho d’água da lagoa e os contrafortes do maciço da Serra Tijuca. Esta beleza natural é alimentada por águas que descem das montanhas pelos rios Cabeça, Rainha e dos Macacos, com um contorno de 10 km e que nem os prédios dos bairros circundantes desfeiam.


Para Norte, a parede quase a pique do morro do Corcovado, a Este, o morro dos Cabritos, para Sul Ipanema e para Oeste o Jardim Botânico. Apesar da mancha urbana, o verde ainda é o tom predominante. A lagoa, como os calçadões de Copacabana e de Ipanema, é um dos lugares eleitos pelos habitantes da Zona Sul para actividades desportivas e de lazer, como um ‘chopinho’ ao final de tarde nos quiosques do Parque dos Patins.


Preocupada em preservar a área, a prefeitura carioca criou, em 1990, uma área de protecção ambiental não só da lagoa mas também da zona envolvente de modo a salvaguardar a manutenção deste espelho de água cuja superfície original já foi quatro vezes maior e acabou consecutivamente diminuída ao longo de três séculos, devido a aterros. Para ver a Lagoa Rodrigo de Freitas em todo o esplendor, é imperioso subir à estátua do Cristo Redentor, preferencialmente ao pôr-do-sol. A lagoa fica
Bordejada de luzinhas, que surgem reflectidas no seu manto líquido numa visão inesquecível.


JARDIM BOTÂNICO. Perto da Rodrigo de Freitas fica o Jardim Botânico, designação do parque que acabou por baptizar o bairro vizinho. É uma das muitas jóias deixadas em herança pela Coroa Portuguesa ao Brasil. O jardim foi fundado em 1808 por D. João VI e agrupa numa superfície de 141 há um total de 138 mil plantas e árvores de 8600 espécies diferentes. Reserva da Biosfera da UNESCO desde 1991, o jardim viu assim reconhecida a sua relevância, sendo visitado por cerca de 450 mil pessoas em cada ano. As palmeiras imperiais originárias da América Central e que ladeiam a alameda Barbosa Rodrigues (antigo director e impulsionador do jardim), num total de 134, são o cartão-de-visita do parque. Acrescenta-se a título de curiosidade, que, quando estas palmeiras deram os seus primeiros frutos, o então director do jardim, cioso das suas árvores, tentou monopolizar o plantio. Em Vão: durante a noite, escravos subiam às árvores e colhiam as sementes, que depois vendiam. Daí resultou a disseminação desta palmeira por quase todo o Brasil. A Aprazibilidade do local levou à fixação de população que ali formou o embrião de um bairro tranquilo, que assumiu o nome do jardim e que hoje conta com duas extensões verdes, o parque Lage, recentemente renovado e uma zona conhecida como o Horto, situada nas traseiras do Jardim Botânico.(Museu do Amanhã e Transporte)

(Museu do Amanhã e Transporte)


(Museu de Arte Contemporânea)

PEDRO E A TIJUCA. Reza a história que no dia 11 de Dezembro de 1861, D. Pedro II, Imperador do Brasil aconselhado pelo barão do Dom Retiro, tomou uma decisão que viria a revelar-se providencial. Preocupado com os graves problemas de abastecimento de água à cidade decorrente da seca dos rios das serras da Carioca e da Tijuca por falta da cobertura arbórea, o monarca ordenou a expropriação de todas as fazendas de café e o replantio da serra tijucana, salvando uma boa porção da Mata Atlântica e criando o maior parque florestal urbano do Mundo com uma superfície de 3200 há, hoje classificado como Reserva da Biosfera. 

(Parque do Flamengo)

Encarregue da missão, Manuel Gomes Archer, major da Guarda Nacional, liderou a equipa que plantou mais de 80 mil plantas e assegurou a manutenção dos caminhos e outros acessos ao alto da serra. Diversas espécies de micos (macacos), Iguanas e esquilos voltaram ao antigo habitat, rios, ribeiros e cachoeiras voltaram a encher-se de água fresca, a cidade fluminense manteve o seu pulmão verde., hoje motivo de orgulho e lugar de lazer (mais um!) dos cariocas.

(Arcos do Lapa)
O Parque Florestal da Tijuca, tem três núcleos: a Serra da Carioca, onde fica o famoso miradouro da Vista Chinesa; a Floresta da Tijuca, que tem como atracções a cascatinha Taunay, a Capela Mayrink, o Mirante do Excelsior, o Açude da Solidão e o Museu do Açude; e o conjunto Pedra da Gávea/Pedra Bonita, onde ficam os trilhos que levam aos respectivos cumes e onde estão as rampas de lançamento de Asa Delta e Parapente, isto claro, para quem quiser matar a sede de emoções…



Fonte: Revista Domingo (Correio da Manhã)
Texto: André Pipa
Fotos da Net
𺰘¨¨˜°ºðCarlosCoelho𺰘¨¨˜°ºð