Um Dia Brasileiro
Nove de Janeiro de 1822,
Palácio do Governo, Rio de Janeiro. O príncipe regente D. Pedro, pressionado,
de um lado pelas cortes a regressar a Lisboa e, de outro, pelos patriotas
brasileiros que dele necessitavam para legitimar a independência, exclamou:
“Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto: diga ao
povo que fico!”D. Pedro I
D. Pedro I
Foi neste momento, que o
espírito brasileiro sintetizou como “Dia do Fico”, que se deu um passo
irreversível no processo de independência do Brasil. Antes do ano terminar já
D. Pedro teria sido coroado Imperador.
Aos 9 anos de idade, em 1808,
tinha D. Pedro chegado a terras brasileiras. Vinha com sua avó, a Rainha D.
Maria I, já enlouquecida, seu pai, o futuro D. João VI, acompanhados por quase
toda a corte portuguesa, fugindo das invasões francesas.
Estabelecida a corte no Rio de
Janeiro, assim elevada a capital do reino, o Brasil começou a libertar-se da
condição colonial: os portos e mercados são abertos às nações estrangeiras,
pondo fim ao monopólio comercial de Portugal; é concedida liberdade para o
estabelecimento de indústrias; os serviços da administração central são
reconstituídos no Brasil a todos os níveis, da economia à justiça e do ensino
às artes.
(Um monumento ao proclamador da
Independência fora idealizado em 1824 pelo Senado da Câmara, mas sua execução
foi suspensa após a abdicação do primeiro Imperador do Brasil em 1831. No
concurso de projetos, aberto pela Academia Imperial de Belas Artes em 1855,
saiu vencedor o secretário da Academia, João Maximiano Mafra. O terceiro
colocado no concurso, Luiz Rochet foi em seguida encarregado de executar o
monumento em Paris. D. Pedro II inaugurou o monumento em 30 de março de 1862.
Erguido no centro da praça Tiradentes é, na verdade, obra da concepção plástica
do escultor francês. É um bem cultural excepcional sob diversos pontos de
vista. Foi o primeiro monumento cívico da cidade; uma das maiores peças de arte
de bronze das Américas daquele tempo e é obra introdutora da escultura
romântica no Brasil. A escultura vigorosa e movimentada de d. Pedro se
apresenta sobre cavalo, acenando com a carta constitucional de 1824. Na base as
notáveis alegorias dinâmicas de quatro rios brasileiros (Amazonas, Paraná,
Madeira e São Francisco) são representadas por grupos escultóricos com
indígenas, animais selvagens e plantas nativas. No friso do pedestal estão os
escudos das vinte províncias do Brasil. Na face principal, junto das armas
brasileiras, lê-se: “a d. Pedro Primeiro gratidão dos brasileiros”. O
embasamento de granito carioca tem 3,30m de altura, o pedestal de bronze mede
6,40m até o alto da cornija e a estátua eqüestre tem 6,00m de altura.)
Esta onda de progresso será
traduzida pela elevação do Brasil à categoria de reino, o Reino Unido de
Portugal, do Brasil e dos Algarves, criado por carta de Lei de Dezembro de
1815. Por esta altura, já havia quatro anos que os franceses tinham deixado o nosso
País mas D. João, quando em 1816 ocupa o trono, não faz planos para regressar a
Portugal; nem quando, no ano seguinte, estoira uma revolta antiportuguesa,
independentista e republicana, em Pernambuco. Sua majestade mostra intenção de
regressar. Será necessária a revolução Liberal de 1820 em Portugal,
reivindicando uma Constituição e o regresso do Rei, para o trazer de volta a
Lisboa, após nomear seu filho D. Pedro regente do Brasil.
A revolução tinha sido bem
acolhida no Brasil, mas as eleições para as Cortes Constituintes tinham acabado
com tal disposição ao estabelecerem um desequilíbrio de 100 deputados de
Portugal para 69 de além-atlântico. Para agravar a situação foi restabelecido o
monopólio comercial português, única maneira de fazer face à concorrência
inglesa nos mercados brasileiros. Os benefícios concedidos anteriormente foram
anulados, o direito do rei a nomear regente questionado e finalmente, D. Pedro
intimado a voltar para Portugal, a fim de completar a sua educação democrática
pois, como disse o deputado Fernandes Tomás “Sabemos que o príncipe tem
talentos e desejos, o que lhe falta são estudos (…) Deve ver por seus olhos a
diferente glória que é ser o chefe de um povo ou o tirano de um povo escravo.
Mas se ele voltar iludido, o Congresso é superior e pode dizer-lhe: Vai-te!”
D. Pedro não foi, porque não
veio. Ficou, e os brasileiros celebrá-lo-ão para sempre.
O
grito do Ipiranga A partir daí o processo independentista no
Brasil acelerou-se em definitivo: o governo foi remodelado com políticos
partidários da separação e as tropas portuguesas estacionadas no Rio mandadas
regressar. Institui-se o “Cumpra-se”, por outras palavras, nenhuma lei das
Cortes portuguesas entrava em vigor no Brasil sem a autorização do regente que,
a partir de 13 de Maio assumiu o título de “Protector e Defensor Perpétuo do
Brasil”.
A 7 de Setembro de 1822, quando
D. Pedro se encontrava junto ao Rio Ipiranga, recebeu cartas de sua mulher, a
princesa Leopoldina, e do Ministro José Bonifácio, que lhe deram conhecimento
de dois decretos das Cortes portuguesas, impondo novo governo do Brasil, de
acordo com os interesses da metrópole e estabelecendo processos criminais para
todos os que tivessem desobedecido a ordens anteriores. Dirigindo-se à sua
escolta, D. Pedro lançou o famoso ‘grito de Ipiranga’, que marca a
independência ou morte. Estamos separados de Portugal”, disse convicto.
Aclamado formalmente Imperador do
Brasil em 12 de Outubro e coroado a 1 de Dezembro, o seu reinado duraria menos
de nove anos. De espírito aventureiro e voluntarioso não assistiu passivamente
à usurpação do trono de Portugal, por seu irmão D. Miguel, nem a hostilidade
que, no Brasil, crescia contra si, a qual o levou a abdicar em favor de seu
filho, D. Pedro de Alcântara, de seis anos: “Não querem mais saber de mim
porque sou português… Meu filho tem sobre mim a vantagem de ser brasileiro”. D.
Pedro II seria um Imperador moderno.
Fonte: Revista Correio da Manhã
Domingo
Texto de: Manuel Rosado
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