quarta-feira, 11 de maio de 2016

Salvador Dali

Herança maldita

 
Quando Salvador Dali disse “ Para mim, o erótico deve ser sempre feio, o estético divino e a morte bela “ nunca imaginou que, após a sua própria morte (23 de Janeiro de 1989), os direitos de utilização das suas obras fizessem correr tanta tinta…
A mais recente sentença, saída de um tribunal alemão, estabelece que a Demart Pro Arte, dirigida por Robert Descharnes – amigo e colaborador íntimo do pintor espanhol, tem todos os direitos sobre a obra de Dali e obriga a sociedade de autores Bild Kunst a pagar àquela empresa todas as transacções realizadas até ao momento, incorrendo numa multa de 250 mil de euros. A sentença serve também para o estado espanhol, a Fundação Gala-Dali e a companhia Vegap – dentro do território da Alemanha, até 11 de Maio de 2004, data em que expirou o contrato celebrado entre Dali e o amigo.

O tribunal civil de Frankfurt, na Alemanha, determinou ainda que  a sociedade de autores do seu país deve entregar a Descharnes toda a  informação relativa às licenças outorgadas desde 1997, altura em que decidiu rescindir o contrato que existia entre as partes, condenando-a igualmente a pagar à empresa Demart todos os gastos e perdas ocasionais pelas suas ações.
 
Toma lá dá cá contudo a fundação Gali-Dalí representante legal do Estado espanhol- não reconhece tal sentença, nem tão pouco a veracidade do contracto realizado entre o pintor e o amigo, afirmando que o mesmo foi apenas verbal. Um processo que se adivinha moroso, já que não se vislumbra uma solução satisfatória para os homens que fazem um braço-de-ferro sem cessar – Robert Descharnes, empresário e  Ramon Boixodós, presidente da fundação – ambos interessados na gestão dos direitos de propriedade intelectual do pintor.

Senão vejamos já em Setembro de 1994, o Ministério da Cultura espanhol enviara uma carta a Robert descarnes advertindo-o de que o documento firmado entre ele e Dalí não era um contrato de cedência de direitos, mas sim um mandato verbal que se extinguiu imediatamente após a morte do pintor. Mas há mais. Em Março um julgado de primeira estância de Madrid despojou Descharnes de tais direitos em benefício do Estado espanhol. Ficou ainda sentenciado que; até Janeiro de 2003, a Demart Pro Art deverá dar conta da sua gestão e entregar bens e rendimentos obtidos ao longo dos anos ao Ministério da Cultura espanhol.
 
O descobrimento da América por Cristóvão Colombo 
 
Ainda sobre a decisão do tribunal alemão, a fundação e o Estado espanhol consideram que a mesma não interfere na situação actual nem no contencioso existente entre a Demart e a Fundação. Esta entidade não só remeteu a sentença para o território Alemão, como é peremptória em afirmar que a tudo isto se sobrepõe as palavras de Dalí. “ Sempre que haja qualquer dúvida, dever-se-ão pautar pela legislação espanhola”. Quanto à cobrança, diz fonte daquela instituição que “Demart cobra agora à Bild Kunt, mas mais cedo ou mais tarde terá de prestar contas ao Estado Espanhol”.

Fontes de discórdia discreta tem sido a postura de Robert Descharnes, mas o empresário não deixa os seus créditos em mãos alheias e já recorreu ao tribunal de oito países, em quatro dos quais obteve sentença favorável contra o Estado espanhol e a Fundação Gala-Dalí. Os tribunais do Japão, França e Suiça reconheceram a veracidade do contrato celebrado entre Dalí e o seu colaborador sobre a “utilização dos direitos de propriedade intelectual” do mestre, vigente até 2004. Contudo tanto a Fundação como o Ministério da Cultura espanhol minimizam as sentenças de outros países. Alegam que compareceram apenas no tribunal francês para solicitar que se suspendesse o processo e afirmam que “determinar os direitos sobre a obra do pintor é competência dos tribunais espanhóis”.
 
O grande masturbador
Fonte da Fundação afirmou que o país vizinho lhe deu ouvidos, tanto que Descharnes foi expulso da sociedade de direitos franceses (ADAGP) e, ainda que tenha havido irregularidade nesta expulsão, a verdade é que nada se alterou. O Juiz não concedeu àquela sociedade de autores o direito de gerir a obra de Dalí em representação da Demart.

Mas afinal a quem pertence a exploração dos direitos de autor de Salvador Dalí? Para já é uma incógnita. Por muito surreal e bizarro, este é um conflito que se adivinha interminável e, infelizmente é graças a ele que muitos países não têm podido apreciar a obra do mestre espanhol. Sobretudo quando se trata de exposições comissariadas por Robert Descharnes.

O mestre Excêntrico

As suas aptidões para as belas-artes manifestaram-se bem cedo. Filho de um notário de Figueres, Salvador Dalí nasceu em Port Lligart, a 11 de Maio de 1904 e, desde muito jovem, dedicou-se ao desenho e à pintura. Em 1922 entrou nas Belas-Artes, em Madrid, e durante a sua estada na residência de estudantes manteve uma grande amizade com o Poeta Garcia Lorca e o cineasta Luis Buñuel, com o qual levou a cabo numerosos projectos artísticos vanguardistas.
Depois de estudar em Madrid e de participar nos debates artísticos renovadores dos anos 20 na Catalunha, Dalí rumou a Paris e integrou-se num grupo de pintores e escritores surrealistas. Deste período datam algumas das obras que o converteram num dos máximos representantes do surrealismo, como “O grande masturbador” ou “O Espectro do sex-appeal”.
 
 
O Espectro do sex-appeal

Em 1929 conheceu a jovem russa Helena Diakonova, conhecida por Gala, que se tornou sua modelo e companheira. Com o ínicio da Segunda Guerra Mundial, Salvador Dalí e Gala estabeleceram-se durante alguns anos nos Estados-Unidos, onde a sua pintura de estilo realista e onírica obteve enorme êxito.
Dali converteu-se num dos pintores mais famosos do outro lado do Atlântico mas em 1948 regressaria  à Europa.
A religião, a história e a ciência ocuparam grande parte da sua obra durante os anos 50 e 60. “A Última Ceia” e “O descobrimento da América por Cristóvão Colombo” são desse período e das pinturas mais conhecidas de Dalí.
 
Fundação Gala-Salvador
 
Nos anos 70 o pintor dedica-se à criação e inauguração do Teatro-Museu Dali em Figueres, onde se encontra exposta a maior colecção da sua obra, e em 1983 criou a Fundação Gala-Salvador Gali, a instituição que gere, protege e fomenta o seu legado artístico e intelectual.

Fonte: Revista Correio da Manhã Domingo
Texto de: Teresa Oliveira
Fotos da Net

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© Carlos Coelho 

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