quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Audrey Hepburn

Uma “Lady” inesquecível

Impossível esquecer a personagem que a celebrizou: Eliza Doolitle, uma pobre florista mal educada, refilona, tagarela e com um forte sotaque cockney que, em My Fair Lady, o professor Higgins quer transformar numa senhora de alta sociedade. Depois de muito cantar The Rain In Spain Stays Mainly in the Plain, Higgins lá consegue transformer a gata borralheira numa verdadeira princesa.


A atriz deu voz às famosas canções do filme e ficou chocada quando viu que tinha sido dobrada por Marni Nixon, o que a fez ficar insegura, porque a sua escolha para interpretar Eliza, imposta ao realizador George Cukor, não tinha sido pacífica.
Este queria que o papel principal fosse atribuído a uma jovem estrela ascendente da Broadway, Julie Andrews (que nesse ano foi nomeada para o Óscar de melhor actriz com o filme Mary Poppins).


Apesar de todos estes contratempos, Audrey Hepburn fez de My Fair Lady um dos filmes mais emblemáticos da história do cinema, e ficou, ao longo da sua carreira, para sempre associada à imagem juvenil de Eliza.

Uma beleza que desobedecia aos padrões da Época

No Auge da carreira de Audrey, nos anos 50, o corpo franzino, mas esbelto, os seios pequenos e as ancas estreitas iam contra os padrões de beleza das estrelas mais famosas da altura, como Marilyn Monroe (que chegou a ser proposta para protagonista de Boneca de Luxo) e Elizabeth Taylor, mulheres de seios fartos e ancas bem torneadas. No entanto, o seu ar de maria-rapaz, assexuado quando comparado com as sex-symbols da altura, conquistou todos.


Talvez devido à sua aparente fragilidade, os actores que eram escolhidos para contracenar com Audrey ou eram mais velhos ou tinham ar de másculo e paternal. Humphrey Bogart (em Sabrina), Henry Fonda (em Guerra e Paz), Gary Cooper (em Ariane),Cary Grant (em Charada), Rex Harrison (em My Fair Lady) ou Sean Connery (em A Flecha e a Rosa) foram alguns dos seus pares românticos na tela.
O que mais fascinava os realizadores em Audrey era o seu porte majestoso embora humilde, os eu longo e belo pescoço de cisne, os seus olhos tristes, mas sobretudo, os eu rosto expressivo, para alguns só comparável ao de outras actrizes europeias, as igualmente grandes Greta Garbo e Ingrid Bergman.


O rosto de traços geométricos, a elegância e a fotogenia de Audrey desde cedo chamaram a atenção dos editores das revistas de moda. Foi sete vezes capa de uma das mais importantes publicações americanas, a “Life”, proeza só igualada por Marilyn Monroe.

De Princesa a Anjo-da-Guarda


Com o seu porte elegante, o rosto perfeito – dizia o realizador Billy Wilder: “Deus beijou o rosto de Audrey… e ei-la” – e um olhar doce e meigo, era impossível que Audrey não tivesse um papel de princesa no primeiro filme americano que protagonizou, ao lado de Gregory Peck, o adorável Férias em Roma, que lhe valeu um Óscar.


Edda Kathleen Van Heemstra Hepburn-Ruston pertencia, de facto, à aristocracia, pois era filha de uma baronesa Holandesa e de um banqueiro Britânico, nascida na Bélgica em 1929, teve uma adolescência difícil na Holanda ocupada pelos nazis, que destruíram o seu sonho de se tornar bailarina. O encontro com a escritora Colette, que insistiu que ela fosse a sua Gigi na Broadway, seria o primeiro passo na sua carreira de actriz. Daí em diante, os êxitos bateram-lhe à porta: Sabrina, Cinderela em Paris, Boneca de Luxo, entre outros.


Aos 60 anos, no seu último filme, Sempre, de Steven Spielberg, etérea, de branco vestida, Audrey encarnou a personagem que sempre pareceu: um anjo.
Filha de uma baronesa holandesa e de um banqueiro britânico, Audrey tinha para oferecer a Hollywood a distinção que faltava às americanas. O seu porte elegante, a sua graciosidade e os eu rosto perfeito, que Billy Wilder considerou uma dádiva divina, fizeram o resto.

Uma “Boneca de Luxo” humilde e generosa

Desde os tempos de “Sabrina” quem desenhava a roupa que Audrey usava nos filmes era Givenchy. Em “Quando Paris Delira” na foto e “Cinderela em Paris”, com Fred Astaire aparece elegante e sofisticada como sempre.
Se a sorte lhe sorriu em termos profissionais, na vida pessoal Audrey não foi muito feliz. Casada duas vezes, a primeira com o actor Mel Ferrer, a segunda com o neurologista italiano Andreia Dotti, teves grandes dificuldades em concretizar um dos seus maiores desejos: ser mãe. Ao longo da sua vida teve cinco abortos espontâneos, que nem o nascimento de dois filhos ajudou a ultrapassar. 


Fumava muito e perdia muito peso, ela que já era bastante magra. Talvez devido à sua dificuldade em engravidar, e pelo seu visível amor pelas crianças, em 1987 foi oficialmente nomeada embaixadora da boa vontade da UNICEF, uma organização para a qual anteriormente tinha contribuído, ajudando a angariar dinheiro. Nesta qualidade, viajou por todo o mundo, de Macau ao Japão, passando pela Etiópia, Honduras e Guatemala, levando ajuda financeira e a doçura do seu sorriso às crianças. 


Já afectada pelo cancro no cólon que a viria a matar, empreendeu a mais difícil dessas viagens, à Somália, onde a extrema pobreza que viu a marcou profundamente. A quatro meses do seu 64º aniversário, a doença venceu-a após um longo período de sofrimento. Audrey Hepburn morreu na sua casa, na Suíça, onde viveu nos últimos anos. A princesa tornava-se, finalmente, um anjo.

Fonte: Revista Caras
Fotos: Atlantis Press / AEI
CarlosCoelho