Ercole Pignetelli nasceu em Lecce, Itália, em 1935, numa villa do
século XVII, e começa por se deslumbrar com as formas e cores dos bordados da
avó materna. Apesar da oposição familiar, de 1950 a 1953 estuda no Instituto de
Arte Giuseppe Pellegrino com o escultor Aldo Calò e Luigi Gabrielle, enquanto
frequenta o estúdio de Lino Surpressa, que patrocina a sua primeira exposição
no Circolo Cittadino. Em Milão, em 1954, conhece Lucio Fontana e o poeta Basilo
Real, de quem ilustra o primeiro livro, Forse il Mare. Em 1957 cumpre serviço
militar na Força Aérea. Em 1960 conhece Kline, na Bienal de Veneza, que o
convida a participar numa colectiva onde expõem também Tamayo e Warhol, entre
outros, e em 1978 expõe na Bienal de Veneza. Foram-lhe atribuídos vários
prémios, como o San Fedele e o Ramazzotti.
Nesta obra, Pignatelli faz uma interpretação livre da obra O
Nascimento de Vénus, de Botticelli, um dos mestres maiores da pintura do
Quatrocento Italiano. O pintor repete aqui um processo de apropriação similar
ao que já havia assumido relativamente à obra de Picasso, em 1965, quando sente
a necessidade e de se tornar mais instintivo, ou em relação à obra de Di
Chirico, em 1967. Depois de, em 1964, já em Milão, a sua pintura ter assumido
um universo cromático mais cintilante e ácido e as figuras femininas tornado mais
“rotundas”, Pignatelli percorre um léxico, sobretudo no que se refere à
figuração, um pouco entre as gramáticas formais de Léger e as do neo-realismo –
às quais Picasso também aderiu no inicio da década de 20.
O pintor incorporou nas mesmas toda uma sensualidade barroca,
potenciada pela cor e pela exploração sensorial das texturas, a que aliou
recentemente a volúpia e a inconstância do espelho. Pignatelli persegue na sua
obra a emoção e a sensação aliadas à luminosidade e á cor.
Fonte: Revista Caras
Texto: Arte por Júlio Quaresma
© Carlos Coelho