segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Raul Dufy


No dia 23 de Março de 1953 as artes Plásticas perderam um dos seus cultivadores mais apaixonados – o pintor Raul Dufy.
Em 1952, na Bienal de Veneza – onde lhe reservaram uma sala no Pavilhão francês -, obteve o grande prémio da pintura internacional. Repórteres procuram-no para entrevistas – encontram-no a pintar uma procissão na Praça de S. Marcos.
No Verão de 1952, em Genebra, tem uma última alegria ao ver a exposição retrospectiva organizada pelo Museu desta cidade.
Já não assistiu à inauguração da bela exposição do Museu de Arte de Paris – que até hoje nunca consagrara tão grande certame a um só pintor. O catálogo desta exposição – prefaciado por Jean Cassou e anotado por Benard Dorival – assinalava mais de 260 obras.


Com setenta e cinco anos Dufy demonstrou sempre, com clareza e serenidade, o seu bom humor e a sua agudeza de observação.
Gravador, pintor, ceramista, cartazista, decorador de teatro, de tecidos e tapeçarias, em tudo demonstrou talento.
Jamais se poderá olvidar o gravador das madeiras do Bestiaire, de Apollinaire; ou o gravador dos cobres de La Belle Enfant. É inegável que se lhe deve a ressurreição da gravura no livro de luxo.
As cerâmicas decorativas dos jardins-miniaturas de Artigas são duma enorme graciosidade.
Em pleno período 1910/25, em que as Artes Plásticas sofrem forte influência do «ballet» russo, da exposição de Artes decorativas de Munique, do Salão de Outono (Paris, 1910) e sobretudo das criações do costureiro Paulo Poiret, em 1920 Dufy torna-se um inovador da impressão de tecidos – O Caçador é simplesmente admirável.
As tapeçarias O Sena, O Oise,e o Marne dão-nos outra bela faceta deste homem elegante e levemente trocista.
Além de tudo isto executa a maior pintura mural feita nos últimos séculos – a decoração para o Pavilhão da Electricidade da Exposição Parisiense de 1937. Nestes magníficos painéis – que fazem a história da electricidade – estão expressos todos os dotes deste pintor: a profunda fantasia, a imaginação apoiada na realidade e a riqueza infinita da sua cor.


Esta última qualidade, a cor da sua paleta, creio bem que se filia no facto do seu nascimento no Havre. Foi a busca da cor, feita sem a menor nota de pessimismo, com um ar de simplicidade, que levou certos apressados a considera-lo um petit-maitre, foi essa busca que o levou a ser impressionista aos 21 anos, fauvista na maturidade, estudante apaixonado dos processos de Cezanne e admirador profundo de Van Gogh.
Os azuis, os verdes-amarelados, os vermelhos e os negros dos seus quadros hão-de ajudar a romper uns restos de falso academicismo porventura ainda existente.

Fonte: Almanaque Diário de Notícias (1954)
Texto/Autor: Joaquim Navarro
Foto da Net
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