No dia 23 de Março de 1953 as
artes Plásticas perderam um dos seus cultivadores mais apaixonados – o pintor
Raul Dufy.
Em 1952, na Bienal de Veneza –
onde lhe reservaram uma sala no Pavilhão francês -, obteve o grande prémio da
pintura internacional. Repórteres procuram-no para entrevistas – encontram-no a
pintar uma procissão na Praça de S. Marcos.
No Verão de 1952, em Genebra,
tem uma última alegria ao ver a exposição retrospectiva organizada pelo Museu
desta cidade.
Já não assistiu à inauguração
da bela exposição do Museu de Arte de Paris – que até hoje nunca consagrara tão
grande certame a um só pintor. O catálogo desta exposição – prefaciado por Jean
Cassou e anotado por Benard Dorival – assinalava mais de 260 obras.
Com setenta e cinco anos Dufy
demonstrou sempre, com clareza e serenidade, o seu bom humor e a sua agudeza de
observação.
Gravador, pintor, ceramista,
cartazista, decorador de teatro, de tecidos e tapeçarias, em tudo demonstrou
talento.
Jamais se poderá olvidar o
gravador das madeiras do Bestiaire,
de Apollinaire; ou o gravador dos cobres de La
Belle Enfant. É inegável que se lhe deve a ressurreição da gravura no livro
de luxo.
As cerâmicas decorativas dos
jardins-miniaturas de Artigas são duma enorme graciosidade.
Em pleno período 1910/25, em
que as Artes Plásticas sofrem forte influência do «ballet» russo, da exposição
de Artes decorativas de Munique, do Salão de Outono (Paris, 1910) e sobretudo
das criações do costureiro Paulo Poiret, em 1920 Dufy torna-se um inovador da
impressão de tecidos – O Caçador é
simplesmente admirável.
As tapeçarias O Sena, O Oise,e o Marne dão-nos
outra bela faceta deste homem elegante e levemente trocista.
Além de tudo isto executa a
maior pintura mural feita nos últimos séculos – a decoração para o Pavilhão da
Electricidade da Exposição Parisiense de 1937. Nestes magníficos painéis – que
fazem a história da electricidade – estão expressos todos os dotes deste
pintor: a profunda fantasia, a imaginação apoiada na realidade e a riqueza
infinita da sua cor.
Esta última qualidade, a cor da
sua paleta, creio bem que se filia no facto do seu nascimento no Havre. Foi a
busca da cor, feita sem a menor nota de pessimismo, com um ar de simplicidade,
que levou certos apressados a considera-lo um petit-maitre, foi essa busca que o levou a ser impressionista aos
21 anos, fauvista na maturidade,
estudante apaixonado dos processos de Cezanne e admirador profundo de Van Gogh.
Os azuis, os verdes-amarelados,
os vermelhos e os negros dos seus quadros hão-de ajudar a romper uns restos de
falso academicismo porventura ainda existente.
Fonte: Almanaque Diário de
Notícias (1954)
Texto/Autor: Joaquim Navarro
Foto da Net
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