sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Soares dos Reis

As duas únicas estátuas que Soares dos reis esculpiu em granito

Retrato de Soares dos Reis por Marques de Oliveira

No alto da rua que o célebre Corregedor Almada e Mendonça abriu e tem o seu nome, ligando a «baixa» com o campo de Santo Ordeo, foi construída, no último quartel do século passado, a Capela do Divino Coração de Jesus, réplica da famosa «Sainte Chapelle» de Paris.

É do melhor granito de S. Gens e mandou-a edificar o abastado capitalista José Joaquim Guimarães Pestana da Silva, engenheiro e figura de grande relevo e destaque nos meios portuenses.
Tanto pelas linhas, conjunto arquitectónico e ornamental, como pelas preciosidades que a valorizam, interior e exteriormente, é um monumento digno de alto espírito do seu fundador e das melhores jóias do tesouro artístico da capital do norte.
É que na Capela do Divino Coração de Jesus, mais conhecida pela Capela dos Pestanas, encontram-se numerosos trabalhos do mais desventurado e genial artista português – Soares dos Reis -, que modelou e esculpiu no granito, ao jeito gótico, as estátuas de S. José e S. Joaquim; os ornatos do interior e do exterior; os pináculos, rosetões e mísulas, os doceis, as platibandas, etc.


A cerimónia do lançamento da primeira pedra realizou-se em fins de 1878, gastando-se na sua construção a avultadíssima soma de 22 mil libras.
«A frontaria é preenchida a meio por uma torre saliente e amparada nos cunhais, até à altura da nave, por gigantes decrescentes, de três secções, providos de cornijas. Rasgam-na interiormente arcos ogivais, um em cada face, de duas arquivoltas emolduradas, o que lhe permite servir de átrio ou alpendre, coberto com abóbada, nervada, uma rosácea em trevo, quadrilobulada e cingida por uma orla de miosótis soltos de oito pétalas, em alto-relevo, cujo vivo cerra um vitral, sobrepujando o arco da frente, á qual correspondem nos outros parâmetros seteiras vazadas.
«No andar superior, onde se guardam os sinos, alinham-se, em cada lado, janelas gémeas e ogivadas, mui esguias, de dois toros emoldurados e com os vivos ocultos com rótulas; nos ângulos das arestas chanfradas erguem-se colunelos, os quais rematam acima da cornija, pináculos apainelados e cogulados nas esquinas.
«Cada empena tem a decorá-la um sóbrio florão. Constitui a cobertura da torre um alto carochéu em flecha, vazado com duas séries de trilóbulos, no vértice do qual se firma a cruz de ferro à altura de 20 metros. Aos lados da fachada é que, em mísulas, estão as duas estátuas de S. José e S. Joaquim, as únicas que Soares dos Reis esculpiu em granito».


Esta é a descrição sucinta que um arqueólogo e crítico de arte faz do exterior da Capela do Divino Coração de Jesus, dando também conta das opiniões discordes de escritores ilustres sobre as estátuas de S. José e S. Joaquim. Fortunato de Almeida apontou-lhe o defeito de serem muito humanas e Teixeira Gomes classificou-as de obras de falsa ingenuidade. O Professor Joaquim de Vasconcelos elogiou-as sem restrições, sendo aplaudido pela maioria dos críticos e amadores de arte.
O interior da capela é muito gracioso e a luz coada através dos vitrais dá místico encanto ao ambiente. Nas paredes e nas abóbadas foram pintadas primorosas imitações de tapeçarias. Uma grade de bronze separa a nave do altar-mor, também de bronze, dividido em sete nichos de fundo esmaltado, ao gosto bizantino, sendo a base decorada com blocos de cristal. O sacrário, lâmpadas e lampadários são góticos e de bronze dourado e foram executados em Gand, sob desenhos do barão de Béltume.

Interior da Capela dos Pestanas

A Capela está ligada ao Palácio dos Pestanas por uma «passerelle» coberta de vidro, que bastante lhe prejudica a elegância e beleza. Se se encontrasse no meio de um jardim, em ponto elevado, ofereceria aos olhos dos amadores de arte, motivo de surpreendente efeito, ressaltando em toda a plenitude as suas linhas admiráveis.

Fonte: Almanaque Diário de Notícias (1954)
Texto/Autor: Desconhecido
Fotos da Net
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