As duas únicas estátuas que
Soares dos reis esculpiu em granito
Retrato
de Soares dos Reis por Marques de Oliveira
No alto da rua que o célebre
Corregedor Almada e Mendonça abriu e tem o seu nome, ligando a «baixa» com o
campo de Santo Ordeo, foi construída, no último quartel do século passado, a
Capela do Divino Coração de Jesus, réplica da famosa «Sainte Chapelle» de
Paris.
É do melhor granito de S. Gens
e mandou-a edificar o abastado capitalista José Joaquim Guimarães Pestana da
Silva, engenheiro e figura de grande relevo e destaque nos meios portuenses.
Tanto pelas linhas, conjunto
arquitectónico e ornamental, como pelas preciosidades que a valorizam, interior
e exteriormente, é um monumento digno de alto espírito do seu fundador e das
melhores jóias do tesouro artístico da capital do norte.
É que na Capela do Divino
Coração de Jesus, mais conhecida pela Capela dos Pestanas, encontram-se
numerosos trabalhos do mais desventurado e genial artista português – Soares
dos Reis -, que modelou e esculpiu no granito, ao jeito gótico, as estátuas de
S. José e S. Joaquim; os ornatos do interior e do exterior; os pináculos,
rosetões e mísulas, os doceis, as platibandas, etc.
A cerimónia do lançamento da
primeira pedra realizou-se em fins de 1878, gastando-se na sua construção a
avultadíssima soma de 22 mil libras.
«A frontaria é preenchida a
meio por uma torre saliente e amparada nos cunhais, até à altura da nave, por
gigantes decrescentes, de três secções, providos de cornijas. Rasgam-na
interiormente arcos ogivais, um em cada face, de duas arquivoltas emolduradas,
o que lhe permite servir de átrio ou alpendre, coberto com abóbada, nervada,
uma rosácea em trevo, quadrilobulada e cingida por uma orla de miosótis soltos
de oito pétalas, em alto-relevo, cujo vivo cerra um vitral, sobrepujando o arco
da frente, á qual correspondem nos outros parâmetros seteiras vazadas.
«No andar superior, onde se
guardam os sinos, alinham-se, em cada lado, janelas gémeas e ogivadas, mui
esguias, de dois toros emoldurados e com os vivos ocultos com rótulas; nos
ângulos das arestas chanfradas erguem-se colunelos, os quais rematam acima da
cornija, pináculos apainelados e cogulados nas esquinas.
«Cada empena tem a decorá-la um
sóbrio florão. Constitui a cobertura da torre um alto carochéu em flecha,
vazado com duas séries de trilóbulos, no vértice do qual se firma a cruz de
ferro à altura de 20 metros. Aos lados da fachada é que, em mísulas, estão as
duas estátuas de S. José e S. Joaquim, as únicas que Soares dos Reis esculpiu
em granito».
Esta é a descrição sucinta que
um arqueólogo e crítico de arte faz do exterior da Capela do Divino Coração de
Jesus, dando também conta das opiniões discordes de escritores ilustres sobre
as estátuas de S. José e S. Joaquim. Fortunato de Almeida apontou-lhe o defeito
de serem muito humanas e Teixeira Gomes classificou-as de obras de falsa
ingenuidade. O Professor Joaquim de Vasconcelos elogiou-as sem restrições,
sendo aplaudido pela maioria dos críticos e amadores de arte.
O interior da capela é muito
gracioso e a luz coada através dos vitrais dá místico encanto ao ambiente. Nas
paredes e nas abóbadas foram pintadas primorosas imitações de tapeçarias. Uma
grade de bronze separa a nave do altar-mor, também de bronze, dividido em sete
nichos de fundo esmaltado, ao gosto bizantino, sendo a base decorada com blocos
de cristal. O sacrário, lâmpadas e lampadários são góticos e de bronze dourado
e foram executados em Gand, sob desenhos do barão de Béltume.
Interior da Capela dos Pestanas
A Capela está ligada ao Palácio
dos Pestanas por uma «passerelle» coberta de vidro, que bastante lhe prejudica
a elegância e beleza. Se se encontrasse no meio de um jardim, em ponto elevado,
ofereceria aos olhos dos amadores de arte, motivo de surpreendente efeito,
ressaltando em toda a plenitude as suas linhas admiráveis.
Fonte: Almanaque Diário de
Notícias (1954)
Texto/Autor: Desconhecido
Fotos da Net
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