domingo, 13 de novembro de 2016

Kama Sutra

Ginástica dos Sentidos


O Kama Sutra é o trabalho antigo mais completo sobre o amor e, talvez por isso , não perdeu actualidade nem deixou de se multiplicar pelo mundo em inúmeras edições para diferentes públicos. Há sempre algo novo a aprender: se não for o 69 vertical ou o carrinho de mão, que seja o poder de um beijo vigoroso ou de umas boas dentadas.


Os homens não tiram o turbante, as mulheres deixam ficar as jóias e o Kohl nos olhos para os enredar em mistério, mas tudo o mais é despido de preconceitos, para que os amantes dêem largas ao desejo amoroso que os consome. O sexo no Kama Sutra não é apenas sexo, por muito que as cenas de penetração em piruetas acrobáticas possam sugerir o contrário.

Há as palavras murmuradas ao ouvido, o segredo do abraço, os cheiros do outro, a técnica do beijo e das pressões, a sensação escorregadia da pele suada, o sabor a sal do parceiro. Além de ser aceite como o trabalho antigo, mais definitivo sob o amor na literatura sânscrita, o texto indiano escrito por Vatsyayana no século IV é, sobretudo, uma receita (sutra) para o gozo dos sentidos (kama). Talvez por isso se mantenha actual e seja continuamente reeditado em todo o mundo, ora com mais prosa e as ilustrações originais, ora com fotos recentes de casais modernos a provar que tudo aquilo é possível, incluindo as cambalhotas num baloiço em andamento.
«Ao contrário do que muitos pensam, o Kama Sutra não é um manual de sexo nem um trabalho sagrado ou religioso. Também não é um texto tântrico», explica Indra Sinha, escritor anglo-indiano que, a partir da década de 1980 se dedicou a estudar e a traduzir os ensinamentos amorosos dos clássicos para dar a conhecê-los aos apaixonados ocidentais. No Kama Sutra há capítulos sobre o amor físico e as posições sexuais a adoptar – são esses, de facto, os mais conhecidos dos leitores -, mas também considerações gerais sobre a busca de conhecimento, as prioridades da vida na época, o estímulo do desejo, tipos de carícias, uso de unhadas, dentadas, estaladas e gemidos, sexo oral, preliminares e remates, casamento, técnicas para relaxar e possuir a parceira, deveres e privilégios da esposa favorita e de outras mulheres, formas de fazer dinheiro e renovar amizades com antigos amantes, truques para melhorar a atracção física e conseguir benefícios em proveito próprio, análise de sentimentos, dicas para mobilar e decorar a casa, mezinhas para manter a virilidade e até investidas para conquistar sem esforço as mulheres de outros homens.
«O objectivo de Vatsyayana era definir a relação completa entre um homem e uma mulher e, ao fazê-lo ofereceu-nos um relance fascinante do quotidiano, da cultura e dos comportamentos no império gupta», sublinha Sinha. Naquele texto, faça-se o que se fizer – plantar um jardim ou rebolar na alcova -, não existe lugar para o pecado ou a timidez. O orgasmo é uma bênção dos deuses e não motivo de vergonha, a união de um casal considerada divina. «O Kama Sutra é amoral do princípio ao fim: o que mais próximo dele existe no Ocidente é Maquiavel», confirma o tradutor. Por outro lado, ao retractar em pormenor o lugar que homens e mulheres ocupavam na sociedade, o seu papel na hierarquia e a dinâmica dos poderes instituídos, acaba por ser igualmente um tratado fiel á Índia antiga.

Uma ode ao amor


Segundo a versão integral do Kama Sutra das Publicações Europa-América, inserida na colecção Grandes Clássicos Eróticos e reproduzindo a versão inglesa da autoria de Sir Richard Burton e Forster Fitzgerald Arbuthnot (publicada na Inglaterra em 1883), os aforismos sobre o amor de Vatsyayana contêm cerca de 1250 versículos divididos em sete partes, estas em 36 capítulos e estes em 64 parágrafos. Do autor sabe-se muito pouco, apenas que o seu nome seria Mallinaga ou Mrillana, sendo Vatsyayana o nome de família. Quanto ao livro está editado pela Relógio d’Água, Penguin Books, Civilização Editora, Bertrand, Virgin Books, Gailivro, Asa, Albin Michel, Madras, Eros Trading, Robinson Publishing, Wordsworth, Lustre Press, Brijbasi, Contre-Dire, Hamlyn ou Octopus, entre muitas outras, em alguns casos mantendo a versão integral, noutra adaptados por autores diversos de forma a caber em manuais práticos, livros ilustrados de cabeceira, de bolso, exigências modernas, técnicas clássicas, amor homossexual, escapadelas no escritório, melhores posições e Kama Sutra na cama e fora dela. Todas as versões são populares e, dizem os editores, têm sempre aceitação junto do público.


«Embora o Kama Sutra seja muito mais do que um livro do que hoje se chamaria sexologia, continua a ser considerado o maior e melhor manual do Mundo sobre sexo», explica o director editorial da Europa-América, Francisco Lyon de Castro, justificando assim a adesão generalizada ao longo dos tempos. «É difícil saber o que leva as pessoas a comprarem tanto Kama Sutra, mas a verdade é que a edição ilustrada de Alicia Galotti, a mais abrangente de todas as que tem feito, já vendeu mais de cem mil exemplares e tem sido reeditada ao longo dos anos», confirma Maria João Costa, editora do Livros d’Hoje (do grupo Leya), sustentando que o sexo continua a vender mas não tanto como há três ou quatro anos. «Há quem compre o livro por brincadeira ou para oferecer a alguém, há os que compram por curiosidade, para saberem se existe algo que desconhecem sobre o tema e estão a perder alguma coisa. E, aqui, o Novo Kama Sutra Ilustrado continua a ser o que vendemos mais, talvez por ser o mais conhecido e ter imagens subtis», adianta a responsável, referindo que Alicia Galotti, especializada em sexo e relações interpessoais, escreveu outros livros que derivaram do primeiro (Kama Sutra Gay, Lésbico, do Sexo Oral, para a Mulher e Outros) sem, contudo, terem a mesma procura.
«Até há 10 anos explorou-se tanto esta área que as pessoas se cansaram um bocado. O grande boom de vendas ocorreu nos primeiros anos, numa altura em que quase não havia livros de sexo em Portugal. Hoje em dia já toda a gente satisfez a sua curiosidade e existe um grande manancial de informação no mercado, é natural que as vendas também se dispersem», conclui Maria João Costa. Em última análise, qualquer que seja a edição escolhida, o livro vale a pena ser lido ainda que apenas uma vez: mesmo que o casal não faça o pino, não fique suspenso sobre os braços nem consiga passar as pernas por cima da cabeça do parceiro, os risinhos e a cumplicidade que a leitura proporciona resultam em excelentes preliminares.

O tamanho conta


Vatsyayana revela que os homens se dividem entre três classes – homem lebre, homem touro e homem cavalo – segundo o tamanho do seu linga (o pénis, símbolo da energia criativa masculina), enquanto as mulheres têm outras três categorias de acordo com a profundidade da Yoni (a vagina): corça, égua e elefante fêmea. «Quando uma mulher vê que o amante está fatigado por uma cópula prolongada sem que o seu desejo tenha sido satisfeito, deve, com a permissão dele, deitá-lo de costas e ajuda-lo a desempenhar o seu papel. Ela pode também fazê-lo para satisfazer a curiosidade do homem ou o seu próprio desejo de inovação». Os actos que devem ser depois realizados pelo homem, diz, são o movimento para a frente, friccionar ou bater, perfurar, roçar, pressionar, desferir um golpe, os golpes do javali e do touro (quando o linga roça apenas uma parte ou ambos os lados da yoni, respectivamente) e o saltitar do pardal (quando o linga está dentro da yoni e se move frequentemente para baixo e para cima sem ser retirado).


«Por muito reservada que seja a mulher e por muito que oculte os seus sentimentos, quando se coloca sobre o homem, não pode evitar que todo o seu amor e desejo se tornem evidentes. O homem deve concluir pelo comportamento da mulher qual a disposição em que ela se encontra e de que maneira gosta de ser gozada», aconselha Vatsyayana, lembrando sempre a importância de não descurar pormenores como a música ou o canto, um bom copo nas mãos, a conversa trivial e a segurança de um abraço para que os amantes possam brincar na cama como antes brincaram com a comida. «As mulheres, precisamente porque são de natureza terna, precisam de prelúdios ternos. O homem deverá abordar a jovem segundo as preferências dela e adoptar os procedimentos que lhe possibilitem insinuar-se cada vez mais na sua confiança. Após a confiança dela ter aumentado, ele deve afagar-lhe o corpo com as mãos e beijá-la por toda a parte, massajando-lhe as coxas e a junção. O homem deve fazer estas coisas sobre vários pretextos, mas não iniciar a união sexual propriamente dita, antes ensinar-lhe as sessenta e quatro artes, dizer-lhe quanto a ama e descrever-lhe as esperanças que anteriormente alimentava em relação a ela.» A revolução sexual dos anos sessenta relançou a importância do Kama Sutra na literatura, nas artes, no cinema e na música, salientando as suas inúmeras vertentes e afugentando desde então, muitos dos receios das pessoas relativamente ao sexo. As várias interpretações do texto original ajudaram a democratizá-lo, limaram as referências à especialidade da cultura indiana e converteram-no em manual para os amantes que gostam de tirar o máximo partido das relações e do amor. E se o contorcionismo pode ser bom para tonificar os músculos e alongar a espinha, a obra é mais um tratado sobre como gozar a boa vida do que uma competição pelo melhor desempenho.

Fonte: Revista Notícias Magazine
Texto: Ana Pago
Fotos da Net
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sábado, 12 de novembro de 2016

Lacoste

Do ténis para a montra chique


Lacoste é uma lenda. Uma lenda que começou há noventa e três anos, mais precisamente durante a Taça Davis, em Boston, onde um certo jogador da equipa francesa, René Lacoste, foi desafiado para uma aposta: se ganhasse um determinado jogo teria como oferta uma mala em pele de crocodilo. Ele não ganhou, mas segundo um jornalista americano, Lacoste bateu-se como um crocodilo. Em sinal de estime por parte de um amigo, René chegou a França e tinha à sua espera num blazer um crocodilo bordado. O símbolo nasceu aí. O negócio veio mais tarde, quando René quis sentir-se mais confortável a praticar ténis. Dez anos depois estava já a jogar com uma inovadora camisa de pólo de manga curta com um crocodilo verde bordado. A famosa camisa branca em algodão leve. E. obviamente, Lacoste começou a comercializar essas camisas. Se quisermos, ele foi o inventor sportsweer, que poderia ser usado não só em actividades desportivas como também na vida prática social. A moda pegou e meio mundo começou a aderir ao crocodilo, em especial praticantes de ténis, golfe e desportos náuticos. A mítica camisa ganhou a designação “1212” e, naquela altura, o crocodilo era maior e tinha outro disign.


Não por acaso, René Lacoste notabilizava-se como tenista em 1927, ao fazer parte da equipa de França que venceu a Taça Davis. Uma equipa que também ganhou a alcunha de “Mosqueteiros” e já era constituída por Henri Cochet, Jacques Brugnon e Jean Borotra, homens que mudaram a face do ténis em França e que obrigaram à construção de um grande recinto em Paris, Roland Garros. E também não foi por acaso que recentemente Roland Garros foi escolhido como cenário do aniversário da marca. Afinal de contas Lacoste é sinónimo de ténis. E para quem é fã hardcore do desporto nada melhor do que descobrir a importância da marca e de René Lacoste no Museu do Ténis, em Paris-Roland Garros.

René, o Inventor


Antes de a camisa Lacoste se tornar um produto best seller mundialmente, René Lacoste tentou estar sempre na linha da frente em matéria de inovações. Não contente com a camisa de manga curta em algodão petit piquet foi ainda o inventor de uma máquina lança-bolas para efeitos de treino. Já depois da sua reforma como tenista, René continuou a ser o responsável por mais invenções. A primeira rede da raqueta anti vibratória foi ideia sua, mas a mais radical foi uma raqueta de ferro, pondo de parte a total supremacia das raquetas de madeira. Em 1978, Jimmy Connors chegou mesmo a vencer um Grad Slam com a raqueta de Lacoste. Próximo da sua morte René estava a desenvolver a criação de um novo tipo de bola de ténis. Seja como for, o legado em termos de indústria da marca de roupa continuou com mais sucesso com o seu filho Bernard, ainda hoje o todo-poderoso da La Chemise Lacoste. E pra o negócio continuar a lucrar, ou melhor, para milhares e milhares de pessoas do mundo inteiro aceitarem pagar bom dinheiro na compra de camisas (e não só) com um crocodilo bordado, Bernard Lacoste apostou num modelo de gestão familiar. Familiar e à base do partnership internacional, em especial com os líderes têxteis da Devanlay.
E se ao longo dos tempos houve períodos menos bons nas vendas internacionais, a verdade é que a credibilidade do crocodilo nunca esteve em causa, mesmo quando a nível de design haja quem possa ter apontado alguma estagnação. Hoje nesta fase septuagenária, a Lacoste vira-se para o futuro. Sabe que não pode perder a tradição clássica, mas também não descura atrair uma faixa de público mais jovem e preocupada com um certo sentido estético fashion. Para isso, estão a ser lançadas as “boutiques do amanhã”, lojas com um conceito de design moderno e que vendem roupa eventualmente mais estilizada. Essa transformação pode ser sentida através de campanhas publicitárias e até na escolha de um realizador como Wong Kar-wai (Disponível para Amar) para um dos seus filmes comerciais. O que igualmente não é inocente nesta subtil mudança é a escolha do estilista Christophe Pillet, um jovem que percebeu a importância da universalidade e acessibilidade da marca, sem com isso deixar de poder fazer algumas experiências de estilo, provavelmente entre o dandy e o “betinho”. Há quem lhe chame o fridaywear.

A Importância de ser crocodilo


O pequeno crocodilo verde é ainda um símbolo de valores de elegância e casualidade. Alem de se ter criado a ideia de ser “bem” vestir Lacoste, também se conseguiu comunicar que é confortável e prático usar polos desta marca – que o digam uma série de figuras conhecidas, nacionais e internacionais, bem como o campeão alemão de golfe Bernhard Langer e o tenista Arnaud Clément. Os estudiosos de comunicação já fizeram estudos sobre o fenómeno. Por exemplo, o professor Jean-Noel Kapferer defende que o sucesso da Lacoste depende da sua identidade, muito mais do que da imagem. Segundo ele, o consumidor é atraído a esta marca muito para além do tempo e do espaço. Tudo terá a ver com a simbiose entre a vida e o desporto. Depois para complementar a sua mais-valia perante a contrafacção e as marcas de imitação, está a difícil e directa identificação com o símbolo. O pequeno crocodilo é um ângulo simpático e respeitável de tomada de valores de identidade. O próprio animal é um símbolo de tenacidade e discrição, do género não ir em modas. Além do mais, chega com ele o factor código, como se fosse uma garantia inabalável. “O crocodilo é o garante de todos os nossos produtos. É a nossa linguagem universal”, garante Bernard Lacoste. E há ainda o nome. O tal “Lacoste”, cheio de carga de mito, cheio de França, o que nestas coisas de mercado e de lenda quer dizer prestígio internacional. A isto junta-se uma comunicação sempre baseada num estilo de vida saudável, muito natural e sempre desportivo. O segredo, para muitos, é também a recusa de um discurso publicitário ostentativo. Ainda assim,  e mesmo parecendo um contra-senso, a marca Lacoste só resulta porque está disposta em termos globais, ou seja, chega a todo o lado. O Tio tem, o vizinho tem, toda a gente pode ter. a distribuição massificada é outro dos segredos. O consumidor nunca pode pensar que é inacessível. Nesse aspecto é uma marca que volta sempre às suas origens desportivas.
Em Portugal, para continuar a respeitar o espírito do negócio de família, a Lacoste é representada pela Manuel F.Monteiro & Filho, Lda, uma empresa toda ela gerida pela mesma família. Nem de propósito.

Fonte: Revista Notícias Magazine
Texto/Autor: desconhecido
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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Pasteur


 Luís Pasteur, filho dum surrador de couros, discípulo dilecto do insigne químico João Baptista Dumas, em cujo laboratório se apurou a sua genial perspicácia, teve uma suprema ambição, que lhe deu glória e a admiração do Mundo – a luta da ciência em vencer a morte. Nenhum sábio moderno se pode comparar a Pasteur, que foi grande, imensamente grande, até na modéstia: quando, na casinha humilde onde nascera, foi colocada lápida comemorativa de tão excelsa data, ele, sem conseguir reter as lágrimas, exclamou comovidamente: «Ó meu pai e minha mãe, meus queridos ausentes, que vivestes aqui, longe de todas as vaidades, é a vós que tudo devo quanto hoje sou»!
Nunca ninguém se apegou tanto ao valor da experiência que esse iminentíssimo director do laboratório da Rua Ulm: baniu do campo científico a crença na inspiração, para substituir para método experimental, que sempre conduz às mais belas e úteis descobertas. Pasteur praticou o método experimental com maravilhosa habilidade e penetração. Diante de um fenómeno já estudado por outros, sujeitava-o à sua portentosa crítica experimental, e tendo cuidado punha em seus estudos que conseguia eliminar, a pouco e pouco, o erro, para, vitoriosamente, encontrar a verdade, em todo o seu esplendor apoteótico. Como ele se encantava diante das retortas e do microscópio, em busca do mistério que envolve a origem e restauração da vida! Foi ele, em audácias de génio, que soube descobrir o vasto mundo dos micróbios, mundo novo, onde o mal existia num inimigo infinitamente pequeno, e a sua doutrina surge nos preceitos seguintes: os fenómenos da vida devem-se ao trabalho de agentes biológicos; estes agentes são os infinitamente pequenos, que se encontram em todos os organismos; eles mesmo contêm em si o remédio aos males que possam causar. Assim num autêntico milagre cientifico , Pasteur cria a microbiologia, o primeiro passo dado no combate contra a Morte, sombra tétrica que aflige a Humanidade inteira.


Estuda o vírus carbunculoso e descobre o poder da imunidade da vacina correspondente. Trava discussão com os veterinários de Turim, e, depois de lhes mostrar o motivo porque se frustraram as experiências, ei-lo, corajosamente, ante da prova realizada em Pouilly-le-Fort, num rebanho de cinquenta carneiros. Fica vencedor, e a gloria pertence à França, a essa França que ele tanto ama, e as homenagens, logo prestadas ao seu saber e admirável sagacidade, quase o intimidam, como o hino nacional tocado em sua honra, no famoso congresso internacional de Medicina, em Londres, hino que ele supõe ser executado para anunciar a presença do Príncipe de Gales.
As descobertas deste sábio apresentam-se tão extraordinárias que abrangem a Medicina, a Veterinária, a Agricultura e as Indústrias. A França deve-lhe tudo: é o processo de conservar os vinhos; a maneira de evitar a doença nos bichos-da-seda, para produzirem casulos bons; o melhor fabrico de cerveja; a cura da cólera das galinhas, pela vacinação.


Torna-se quase divino quando enfrenta, heroicamente, a luta contra a hidrofobia, ensaiando a inoculação da saliva dos cães raivosos em coelhos sãos! Estamos a vê-lo, com o tubo de vidro na boca, inclinado sobre um cão, sugando, sem receio da morte, a perigosíssima saliva! Dramática experiência a do soro anti-rábico, numa criança alsaciana, que,  ao fim de trinta e um dias, se encontra curada!
Pasteur merece as palavras seguintes, que um notável médico-escritor, em 1895, escreveu como preito de admiração: «Bendito seja este Moisés da Ciência! Glória àquele que trabalhou denodadamente para diminuir o padecimento sobre a Terra»!

Fonte: Almanaque Diário de Notícias (1954)
Texto/ Autor: Desconhecido
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terça-feira, 8 de novembro de 2016

Argentina – Ushuaia

A derradeira cidade da Argentina

Cidade de Ushuaia

Deixei El Calafate e segui para sul até à cidade mais austral do Planeta – Cidade de Ushuaia. Entalada entre os montes Marciais, a cidade estende-se pela encosta da montanha frente ao canal Beagle. No horizonte estão as últimas ilhas chilenas e ao fundo começa o Oceano Glaciar Antártico. Por lá ficaram os últimos Índios Yaghan, convivendo entre emigrantes ingleses e o povo argentino. O que resta é natureza e silêncio.
A caminho do melhor hotel da cidade, o meu guia, prazenteiro, de olhos rasgados e cabelo hirsuto, não deve ter com toda a certeza sangue índio, diz-me que foi Fernão de Magalhães quem primeiro cruzou aquelas paragens. “Sim, foi ele mesmo quem provou que a ligação entre o Atlântico e o Pacífico era possível através do longuíssimo e estreito canal, a qual viria mais tarde a ser baptizado com o seu nome.” Respondi-lhe que sabia e que estava contente por ele mo contar.
O las Hayas Resort Hotel, belíssimo, fica suspenso a meio da encosta, com vista sobre a cidade. Foi de lá que assisti ao mais raro pôr-do-sol da minha vida. O factor atmosférico não me permitiu dar largas ao programa que tinha delineado e tive de me contentar com alternativas que me souberam a pouco.
Cai uma chuva miudinha à medida que passeio pela cidade para conhecer os lugares de maior destaque e reparo nos telhados coloridos e nas casas de chapa ondulada, pintadas de tons garridos contrastantes. Desde logo me apercebo do clima pitoresco da pequena cidade de Ushuaia. 

Avenida Maipu

Visto o curioso Museu do Fim do Mundo, em plena Avenida Maipu, que reúne objectos descobertos ao longo dos tempos e que narram histórias da Terra do Fogo. Mais tarde, uma volta pela zona comercial na Calle San Martin mostra-me artigos de artesanato que fazem as minhas delícias.

Calle San Martin

Às 14.30 horas embarco para uma excursão através do canal Beagle. O mar revolto e negro, as nuvens violetas e um nevoeiro intenso, que pouco ou nada me deixa observar, acabam por estragar o tão desejado passeio. Pinguins, poucos, lobos-marinhos, alguns, e outros tantos animais cuja oportunidade de ver e fotografar era aquela, a única. Desiludida, regresso, gelada, ao hotel, acompanhada por um temporal.
No dia seguinte dou um passeio no Tren del Fin del Mundo em direcção ao Parque Nacional Terra do Fogo, percorrendo devagar uma paisagem soberba. Apesar de tudo, sempre estava a passear no mítico comboio. O mais austral do mundo!

Tren del Fin del Mundo - Parque Nacional Terra do Fogo

O Parque Nacional é um esplendor. Rodeado pelas montanhas chilenas e argentinas, com mais de 63 mil hectares praticamente inexplorados, sou conduzida por entre bosques até Ensenada e Lagoa Negra e por último levam-me à escura Baía Lapataia. 

Ensenada e Lagoa Negra

É precisamente ali que a cordilheira dos Andes mergulha no mar e acaba o continente. É o fim do território argentino e da célebre estrada nacional nº3, com mais de 3600 quilómetros.

Mirante Baia Lapataia

E porque gosto de celebrar despedidas com uma boa refeição, qual não é o meu espanto quando me dizem que em Ushuaia se encontra um dos melhores restaurantes do Mundo. Não posso perder esta oportunidade. O Kaupé é um restaurante muito particular. O chefe e gentil proprietário apresenta-me um cardápio de difícil escolha. Foi isso mesmo, um festim e um regalo para o olhar.
Muitas foram as razões que me levaram a conhecer este lugar mítico. Parece um sítio inventado, irreal. Agora sei porque lhe chamam “as terras do fim do mundo”.

Fonte: Revista Caras / Viagens
Texto /Autor: Maria da Assunção Avillez
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domingo, 6 de novembro de 2016

Maquiavel


Viveu há 500 anos e o seu nome ainda é um sinónimo de cinismo, crueldade e falta de escrúpulos. Injustiça? Parece que era um marido carinhoso e um bom pai.

O ano de 1513 foi péssimo para Nicolau Maquiavel. Perdeu o emprego na segunda Chancelaria do Governo de Florença e foi obrigado a pagar uma multa de mil florins. O ditador Piero Soderini acabara de ser derrubado, regressando o poder às mãos da poderosa família dos Médici.
Acusado de conspiração contra os novos governantes, Maquiavel foi preso e torturado durante 22 dias e desterrado para a aldeia de Sant’Andrea.
O pensador queria voltar à política rapidamente. Sem possibilidades de sustentar a família, escreveu no desterro O Príncipe, para impressionar os novos líderes. O livro pretendia mostrar que só um governante forte podia unificar os fragmentados reinos italianos. O Príncipe entraria na história como um manual para atingir os fins sem olhar a meios, uma espécie de guia do político sem escrúpulos.
Maquiavel nunca mais voltaria à política até morrer em 1527.
Uma nova biografia, Machiavelli, escrita pelo historiador Milles J. Unger, afirma que o pensador italiano era extremoso para com os seus seis filhos (quatro rapazes e duas raparigas) e tratava a mulher, Marietta Corsini, como uma princesa. Tinha até uma veia romântica que passava para o papel em poesia e em peças de teatro.
Diz Unger na introdução: “O nome de Maquiavel transformou-se hoje num adjectivo que descreve um acto cínico ou a sede de poder sem consciência. Este estereótipo é errado e injusto.” O autor defende que a obra de Maquiavel foi mal interpretada. O florentino foi pioneiro na defesa de um governo independente da Igreja e expressou uma visão realista da brutal natureza humana. Talvez por isso mesmo, o Vaticano o excomungou e, no teatro, foi dezenas de vezes representado como o Diabo.
Mas uma Característica essencial está presente na biografia: a ambição que marcou toda a vida de Maquiavel. Unger descreve as suas origens humildes, a adolescência sem meios para estudar, os tempos livres, ocupados com leituras, prostitutas e jogo.
Com 29 anos, entrou para o governo e começou a integrar missões de diplomacia e espionagem da República de Florença, negociando com Luís XII, de França, com o Papa Alexandre VI e com o seu filho César Bórgia – sua inspiração para o Príncipe.

Fonte: Revista  Sábado
Texto/Autor: Tiago Carrasco
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sábado, 5 de novembro de 2016

Elvas

Sabe qual é a cidade do Mundo com o maior conjunto de fortificações do tipo Baluarte?
É Elvas, na planície alentejana, com Badajoz à vista e, por via dessa vizinhança e das invasões castelhanas que por lá vinham, cedo transformada em praça-forte.
Pois esta singularidade foi recompensada pela UNESCO, que, de entre 33 candidatas, fez da cidade raiana portuguesa Património da Humanidade.
A região alentejana passou a contar com dois títulos de Património Mundial: o centro histórico de Évora e as fortificações de Elvas.
O orgulho dos elvenses é indisfarçável, já que de mero ponto de passagem a caminho de Espanha, a sua cidade se transformou em local de paragem quase obrigatória dos turistas nacionais e estrangeiros.

(A batalha aqui travada em Janeiro de 1659 teve importância fundamental na Guerra da Restauração.)


As poderosas defesas de Évora remontam ao reinado de D. Sancho II, no século XIII. Porém, o que lhes confere carácter único são as muralhas em estrela, construídas no século XVII segundo o estilo desenvolvido pelo engenheiro francês Vauban e que desempenharam papel inestimável durante a Guerra da Restauração, pela qual Portugal garantiu a sua Independência após 60 anos de união ibérica. Do monumental conjunto defensivo fazem ainda parte os Forte de Santa Luzia e da Graça e o Aqueduto da Amoreira.

Aqueduto da Amoreira

Forte de Santa Luzia

Forte da Graça 

A propósito: as famosas ameixas de Elvas serão os frutos deste nome, que inegavelmente existem na região, ou os projécteis disparados das fortificações sobre um inimigo condenado a não passar?...

Fonte: Revista Visão
Texto/Autor: Desconhecido
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sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Tróia

A guerra e o cavalo de madeira


A lendária guerra de Tróia que, durante dez anos após aquela cidade da Ásia Menor às suas rivais da Grécia, começou quando Páris, filho do Rei de Tróia, raptou a bela Helena, mulher de Menelau, rei da cidade grega de Esparta. Durante nove anos a guerra arrastou-se com destruição e morte de ambos os lados, e até os deuses tomaram partido. Mas o conflito arrastava-se e nem quando Aquiles, o invencível guerreiro grego, matou Heitor – chefe militar dos troianos -, o conflito chegou ao fim. Aquiles era invulnerável porque a sua mãe o tinha mergulhado nas águas do Estige, um rio do Mundo Inferior. Como pegou na criança pelo calcanhar, esta zona ficou para sempre tão frágil como a de qualquer humano. Após a morte de Heitor, quando a paz já se anunciava, eis que Príamo, não querendo entregar Helena aos gregos, atirou uma seta envenenada que, acertando no calcanhar de Aquiles, lhe tirou a vida.


A guerra continuou, mais renhida que antes, e só viria a resolver-se quando Ulisses teve a ideia de simular uma retirada dos gregos durante a noite, deixando frente á porta principal de Tróia um enorme cavalo de madeira. Os troianos a princípio desconfiados, acabaram por levar o cavalo para dentro das muralhas, como recordação da sua vitória. Á noite festejaram com danças e vinho. Quando finalmente adormeceram, de dentro do cavalo saltaram 50 guerreiros gregos que depois de matarem os guardas, abriram as portas aos seus companheiros, que discretamente, tinham regressado.

Mortos ou aprisionados os troianos, a guerra  chegava ao fim, com o regresso de Helena a Esparta. Muitos dos chefes gregos, depois de tantos anos de ausência das suas terras, foram encontrar o lugar ocupado por outros.

Fonte: Revista Correio Da Manhã Domingo Magazine
Texto: Manuel Rosado
Foto da Net
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quinta-feira, 3 de novembro de 2016

René Magritte

A Caixa negra de Magritte

O pintor surrealista que transfigurava objectos quotidianos, tem uma nova casa. Um museu com o seu nome, em Bruxelas, com alguns quadros que nunca reconheceríamos como “magrittianos”. A casa de um homem é como a sua alma: diversa


A metáfora arquitectónica assenta como uma luva a René. O Museu Magritte, inaugurado em Junho de 2006, é um grande edifício de linhas clássicas e janelas quadradas, dispostas em fileiras obedientes, que, no interior, se transfigura radicalmente em caixa negra. Como um cara e coroa a três dimensões. Um L’Empire des Lumières em escala rebentada.
Recordam-se deste quadro? Mostra a paisagem serena de uma rua, com uma casa semioculta no arvoredo, um céu de dia claro, pintado em cima, em baixo as cores de uma noite iluminada, por um candeeiro público. Um enigma pictório que levanta a pergunta «é isto possível?» aos espectadores. A realidade do mundo é, afinal, a aceitação do mistério, patente em muitos trabalhos do pintor. 

L’Empire des Lumières

L’Empire des Lumières está declinado em duas versões, uma de 1954, outra de 1961, na exposição patente no Museu: um mundo dividido em cinco andares, onde se  abriga a maior colecção de pinturas de René François Ghislain Magritte, o belga nascido na cidade de Lessines, a 21 de Novembro de 1898. Surrealista discreto, capaz de grandes rasgos.
Esse é o verdadeiro truque de prestidigitação, não a fachada renovada do antigo hotel Altenloh, na Place Royale. Nem as imagens mais conhecidas do artista que defendia que a realidade não era algo em que se pudesse confiar. Magritte desenhou objectos de contornos realistas em cenários oníricos, desarrumados em paradoxos ou contradições. 


Ele é  o artista que pintou um célebre cachimbo com a legenda Ceci N’est Pas une Pipe («Isto não é um cachimbo»). Não era um cachimbo, porque não se podia fumar com ele, linguagem provocatória para recordar que a   representação  de um objecto nunca é o próprio objecto. 

La Durée Poignarde

Dele são também os quadros em que um comboio fumegante sai de uma vulgar chaminé (La Durée Poignarde) desenhada a partir da que se encontrava na sala de estar da sua casa. 

Black Magic, 1945

Ou aqueles em que o corpo nu de uma mulher se funde num céu de nuvens brancas (Black Magic, 1945). Ou ainda as imagens em que homens de chapéu de coco e sobretudo descem dos céus ou se apresentam de rosto ausente ou tapado por uma maçã. Cite-se o pintor belga para ajustar os binóculos que permitem entender este universo: «Ver é um acto.» Ainda que o próprio René, enquanto estudante de artes, tinha ido visitar o Museu Ufizzi, em Florença, lá permanecendo apenas meia hora entre obras-primas e explicando que era bom, mas que «os postais também funcionavam».

Visitações

É de outra ordem o jogo de ilusão provocado pela visita ao excelente Museu Magritte. Não sai nem de uma cartola de mágico nem de um qualquer chapéu de coco. Revela-se na surpresa de encontrar coisas novas num universo que se pensava já decifrado, repetido e esgotado em muitos postais. Há lugar para a ampla divulgação, por exemplo, da sua obra gráfica, quando trabalhou com o irmão antes de o sucesso chegar, cartazes publicitários ou ilustrações para partituras de música, de surpreendente eficácia. Ou para uma selecção de retratos dedicados a  patronos e amigos, mulheres loiras bizarramente sorridentes, mecenas que lembram sábios gregos. Há até a encomenda da companhia aérea Sabena, um óleo que mostra uma pomba a sobrevoar uma pista de aterragem, em L’Oiseaux de Ciel (1966).

L’Oiseaux de Ciel (1966

No espaço, pontuado por fotografias e citações nas paredes do próprio Magritte, o artista é-nos  dado num permanente jogo de revelações e ocultações. Em recantos inesperados, há manuscritos e filmes de época mostrando as brincadeiras domésticas com os amigos e a mulher, Georgette – fiel a todas as horas, de quem o museu mostra retratos da jovem lindíssima que era. Por ela, doente em Bruxelas num período difícil em que a guerra devastava a Europa, Magritte virá do Sul de França onde se refugiara, a primeira parte da viagem feita de bicicleta. 

Georgette 

Com medo e remorso. Há , aqui, quadros que contam essa história: arbustos de aves feridas e mochos vigilantes, como os povos mal tratados; ou a leveza do grande pássaro de nuvens a sobrevoar um ninho de Le Retour (1940).

Le Retour (1940

Há que andar entre andares organizados cronologicamente, e entre as esquinas desta caixa negra para ver estas obras, muitas delas que não se associaram à sua produção fortemente inspirada no quotidiano – nem que seja no dos sonhos deste rapazinho de família pobre, que aos 12 anos descobriria o corpo da mãe, fazedora de chapéus, que se suicidara. Sobe-se pelo elevador, cujos andares se vão revelando partes de um corpo: primeiro piso, uns pés. Depois, joelhos, um sexo feminino, uns seios, até chegar a  um rosto de mulher, última paragem, o topo do seu mundo. É esse o lugar onde decorrerão as exposições temporárias do espólio vasto: aqui está a produção integral das obras de Magritte, desde os anos académicos até ao último trabalho que deixou incompleto. O pintor seria primeiro influenciado pelo  construtivismo até ter uma epifania, em 1923, ao conhecer o trabalho de Georges de Chirico – talvez o primeiro pintor a abrir caminho para o território dos sonhos. É fácil de ver esse impacto no quadro L’Homme du Large (1927), uma silhueta sem rosto. 

L’Homme du Large 1927

Influenciado pelo cinema e pela literatura de Poe, Stevenson e Fantomas, passa pelo chamado Período Negro. Mas Magritte descobriu-se Magritte depois, com o manifesto surrealista proclamado em 1924 por André Breton. E nós descobrimos outro Magritte, ainda depois da ruptura com o escritor francês.

Experiências

Magritte fará a sua própria interpretação do pensamento sem travões morais do surrealismo, mesmo estando próximo do movimento: por exemplo, convidava o grupo para baptizar os seus quadros.

La page Blanche 

La page Blanche foi alterado por causa deles: a lua crescente passou a ser uma lua cheia pintada sobre os ramos das árvores, coisa impossível. A ruptura, brutal com o surrealismo, foi provocada também por aquilo a que alguns chamam o Período Renoir de Magritte: quadros próximos do universo impressionista, de cores vivas e traços arrastado de pincel, sóis que giram como os girassóis de Van Gogh, mulheres arco-íris que descansam na relva, árvores narigudas e fantasistas como fábulas infantis. A raiva causada pelo repúdio originou o que é, no museu, uma parede de grande impacto: convulsão de caricaturas e borrões de tinta em cores ácidas mas sem alegria, alinhada em cerca de 40 quadros, feita por Magritte em menos de 15 dias, e a que se chamou o Período Vache. A inspiração foi buscá-la a uma subversão dos comics, na altura uma produção bem-comportada. Magritte olha para  artistas cáusticos, expressionistas antes de tempo. No fim da parede, há um quadro com outro tom: La Part du Feu (1948), o que se tem de abandonar para atingir algo de maior. 

La Part du Feu 1948

Uma mulher estende um prato a um homem deitado numa cama com um candelabro aos pés, alusão a uma última refeição. É-nos dito que talvez Magritte queira representar o funeral do surrealismo que ele tanto amou.
René Magritte defendia que as suas pinturas eram concebidas «como so sinais físicos da liberdade de pensamento». 

Le Domaine d’Arnheim 1962

E é em nome dessa liberdade, que no fim da caixa negra, atordoados por tantos símbolos e imagens oníricas, esmagados por esse quadro imenso da montanha  em forma de águia de Le Domaine d’Arnheim (1962) e confrontados com a palavra «rêve» («sonho») numa edificação de pedra em L’art de La Conversation(1950), é-nos lembrado que a interpretação que verdadeiramente interessa, e lhes interessava, é a de que olha. A nossa.

L’art de La Conversation 1950


Fonte: Revista Visão
Texto: Silvia Souto Cunha
Fotos : Revista Visão / Net
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