terça-feira, 8 de novembro de 2016

Argentina – Ushuaia

A derradeira cidade da Argentina

Cidade de Ushuaia

Deixei El Calafate e segui para sul até à cidade mais austral do Planeta – Cidade de Ushuaia. Entalada entre os montes Marciais, a cidade estende-se pela encosta da montanha frente ao canal Beagle. No horizonte estão as últimas ilhas chilenas e ao fundo começa o Oceano Glaciar Antártico. Por lá ficaram os últimos Índios Yaghan, convivendo entre emigrantes ingleses e o povo argentino. O que resta é natureza e silêncio.
A caminho do melhor hotel da cidade, o meu guia, prazenteiro, de olhos rasgados e cabelo hirsuto, não deve ter com toda a certeza sangue índio, diz-me que foi Fernão de Magalhães quem primeiro cruzou aquelas paragens. “Sim, foi ele mesmo quem provou que a ligação entre o Atlântico e o Pacífico era possível através do longuíssimo e estreito canal, a qual viria mais tarde a ser baptizado com o seu nome.” Respondi-lhe que sabia e que estava contente por ele mo contar.
O las Hayas Resort Hotel, belíssimo, fica suspenso a meio da encosta, com vista sobre a cidade. Foi de lá que assisti ao mais raro pôr-do-sol da minha vida. O factor atmosférico não me permitiu dar largas ao programa que tinha delineado e tive de me contentar com alternativas que me souberam a pouco.
Cai uma chuva miudinha à medida que passeio pela cidade para conhecer os lugares de maior destaque e reparo nos telhados coloridos e nas casas de chapa ondulada, pintadas de tons garridos contrastantes. Desde logo me apercebo do clima pitoresco da pequena cidade de Ushuaia. 

Avenida Maipu

Visto o curioso Museu do Fim do Mundo, em plena Avenida Maipu, que reúne objectos descobertos ao longo dos tempos e que narram histórias da Terra do Fogo. Mais tarde, uma volta pela zona comercial na Calle San Martin mostra-me artigos de artesanato que fazem as minhas delícias.

Calle San Martin

Às 14.30 horas embarco para uma excursão através do canal Beagle. O mar revolto e negro, as nuvens violetas e um nevoeiro intenso, que pouco ou nada me deixa observar, acabam por estragar o tão desejado passeio. Pinguins, poucos, lobos-marinhos, alguns, e outros tantos animais cuja oportunidade de ver e fotografar era aquela, a única. Desiludida, regresso, gelada, ao hotel, acompanhada por um temporal.
No dia seguinte dou um passeio no Tren del Fin del Mundo em direcção ao Parque Nacional Terra do Fogo, percorrendo devagar uma paisagem soberba. Apesar de tudo, sempre estava a passear no mítico comboio. O mais austral do mundo!

Tren del Fin del Mundo - Parque Nacional Terra do Fogo

O Parque Nacional é um esplendor. Rodeado pelas montanhas chilenas e argentinas, com mais de 63 mil hectares praticamente inexplorados, sou conduzida por entre bosques até Ensenada e Lagoa Negra e por último levam-me à escura Baía Lapataia. 

Ensenada e Lagoa Negra

É precisamente ali que a cordilheira dos Andes mergulha no mar e acaba o continente. É o fim do território argentino e da célebre estrada nacional nº3, com mais de 3600 quilómetros.

Mirante Baia Lapataia

E porque gosto de celebrar despedidas com uma boa refeição, qual não é o meu espanto quando me dizem que em Ushuaia se encontra um dos melhores restaurantes do Mundo. Não posso perder esta oportunidade. O Kaupé é um restaurante muito particular. O chefe e gentil proprietário apresenta-me um cardápio de difícil escolha. Foi isso mesmo, um festim e um regalo para o olhar.
Muitas foram as razões que me levaram a conhecer este lugar mítico. Parece um sítio inventado, irreal. Agora sei porque lhe chamam “as terras do fim do mundo”.

Fonte: Revista Caras / Viagens
Texto /Autor: Maria da Assunção Avillez
Fotos da Net
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domingo, 6 de novembro de 2016

Maquiavel


Viveu há 500 anos e o seu nome ainda é um sinónimo de cinismo, crueldade e falta de escrúpulos. Injustiça? Parece que era um marido carinhoso e um bom pai.

O ano de 1513 foi péssimo para Nicolau Maquiavel. Perdeu o emprego na segunda Chancelaria do Governo de Florença e foi obrigado a pagar uma multa de mil florins. O ditador Piero Soderini acabara de ser derrubado, regressando o poder às mãos da poderosa família dos Médici.
Acusado de conspiração contra os novos governantes, Maquiavel foi preso e torturado durante 22 dias e desterrado para a aldeia de Sant’Andrea.
O pensador queria voltar à política rapidamente. Sem possibilidades de sustentar a família, escreveu no desterro O Príncipe, para impressionar os novos líderes. O livro pretendia mostrar que só um governante forte podia unificar os fragmentados reinos italianos. O Príncipe entraria na história como um manual para atingir os fins sem olhar a meios, uma espécie de guia do político sem escrúpulos.
Maquiavel nunca mais voltaria à política até morrer em 1527.
Uma nova biografia, Machiavelli, escrita pelo historiador Milles J. Unger, afirma que o pensador italiano era extremoso para com os seus seis filhos (quatro rapazes e duas raparigas) e tratava a mulher, Marietta Corsini, como uma princesa. Tinha até uma veia romântica que passava para o papel em poesia e em peças de teatro.
Diz Unger na introdução: “O nome de Maquiavel transformou-se hoje num adjectivo que descreve um acto cínico ou a sede de poder sem consciência. Este estereótipo é errado e injusto.” O autor defende que a obra de Maquiavel foi mal interpretada. O florentino foi pioneiro na defesa de um governo independente da Igreja e expressou uma visão realista da brutal natureza humana. Talvez por isso mesmo, o Vaticano o excomungou e, no teatro, foi dezenas de vezes representado como o Diabo.
Mas uma Característica essencial está presente na biografia: a ambição que marcou toda a vida de Maquiavel. Unger descreve as suas origens humildes, a adolescência sem meios para estudar, os tempos livres, ocupados com leituras, prostitutas e jogo.
Com 29 anos, entrou para o governo e começou a integrar missões de diplomacia e espionagem da República de Florença, negociando com Luís XII, de França, com o Papa Alexandre VI e com o seu filho César Bórgia – sua inspiração para o Príncipe.

Fonte: Revista  Sábado
Texto/Autor: Tiago Carrasco
Foto da Net
𺰘¨¨˜°ºðCarlosCoelho𺰘¨¨˜°ºð

sábado, 5 de novembro de 2016

Elvas

Sabe qual é a cidade do Mundo com o maior conjunto de fortificações do tipo Baluarte?
É Elvas, na planície alentejana, com Badajoz à vista e, por via dessa vizinhança e das invasões castelhanas que por lá vinham, cedo transformada em praça-forte.
Pois esta singularidade foi recompensada pela UNESCO, que, de entre 33 candidatas, fez da cidade raiana portuguesa Património da Humanidade.
A região alentejana passou a contar com dois títulos de Património Mundial: o centro histórico de Évora e as fortificações de Elvas.
O orgulho dos elvenses é indisfarçável, já que de mero ponto de passagem a caminho de Espanha, a sua cidade se transformou em local de paragem quase obrigatória dos turistas nacionais e estrangeiros.

(A batalha aqui travada em Janeiro de 1659 teve importância fundamental na Guerra da Restauração.)


As poderosas defesas de Évora remontam ao reinado de D. Sancho II, no século XIII. Porém, o que lhes confere carácter único são as muralhas em estrela, construídas no século XVII segundo o estilo desenvolvido pelo engenheiro francês Vauban e que desempenharam papel inestimável durante a Guerra da Restauração, pela qual Portugal garantiu a sua Independência após 60 anos de união ibérica. Do monumental conjunto defensivo fazem ainda parte os Forte de Santa Luzia e da Graça e o Aqueduto da Amoreira.

Aqueduto da Amoreira

Forte de Santa Luzia

Forte da Graça 

A propósito: as famosas ameixas de Elvas serão os frutos deste nome, que inegavelmente existem na região, ou os projécteis disparados das fortificações sobre um inimigo condenado a não passar?...

Fonte: Revista Visão
Texto/Autor: Desconhecido
Foto da Net
𺰘¨¨˜°ºðCarlosCoelho𺰘¨¨˜°ºð

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Tróia

A guerra e o cavalo de madeira


A lendária guerra de Tróia que, durante dez anos após aquela cidade da Ásia Menor às suas rivais da Grécia, começou quando Páris, filho do Rei de Tróia, raptou a bela Helena, mulher de Menelau, rei da cidade grega de Esparta. Durante nove anos a guerra arrastou-se com destruição e morte de ambos os lados, e até os deuses tomaram partido. Mas o conflito arrastava-se e nem quando Aquiles, o invencível guerreiro grego, matou Heitor – chefe militar dos troianos -, o conflito chegou ao fim. Aquiles era invulnerável porque a sua mãe o tinha mergulhado nas águas do Estige, um rio do Mundo Inferior. Como pegou na criança pelo calcanhar, esta zona ficou para sempre tão frágil como a de qualquer humano. Após a morte de Heitor, quando a paz já se anunciava, eis que Príamo, não querendo entregar Helena aos gregos, atirou uma seta envenenada que, acertando no calcanhar de Aquiles, lhe tirou a vida.


A guerra continuou, mais renhida que antes, e só viria a resolver-se quando Ulisses teve a ideia de simular uma retirada dos gregos durante a noite, deixando frente á porta principal de Tróia um enorme cavalo de madeira. Os troianos a princípio desconfiados, acabaram por levar o cavalo para dentro das muralhas, como recordação da sua vitória. Á noite festejaram com danças e vinho. Quando finalmente adormeceram, de dentro do cavalo saltaram 50 guerreiros gregos que depois de matarem os guardas, abriram as portas aos seus companheiros, que discretamente, tinham regressado.

Mortos ou aprisionados os troianos, a guerra  chegava ao fim, com o regresso de Helena a Esparta. Muitos dos chefes gregos, depois de tantos anos de ausência das suas terras, foram encontrar o lugar ocupado por outros.

Fonte: Revista Correio Da Manhã Domingo Magazine
Texto: Manuel Rosado
Foto da Net
𺰘¨¨˜°ºðCarlosCoelho𺰘¨¨˜°ºð

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

René Magritte

A Caixa negra de Magritte

O pintor surrealista que transfigurava objectos quotidianos, tem uma nova casa. Um museu com o seu nome, em Bruxelas, com alguns quadros que nunca reconheceríamos como “magrittianos”. A casa de um homem é como a sua alma: diversa


A metáfora arquitectónica assenta como uma luva a René. O Museu Magritte, inaugurado em Junho de 2006, é um grande edifício de linhas clássicas e janelas quadradas, dispostas em fileiras obedientes, que, no interior, se transfigura radicalmente em caixa negra. Como um cara e coroa a três dimensões. Um L’Empire des Lumières em escala rebentada.
Recordam-se deste quadro? Mostra a paisagem serena de uma rua, com uma casa semioculta no arvoredo, um céu de dia claro, pintado em cima, em baixo as cores de uma noite iluminada, por um candeeiro público. Um enigma pictório que levanta a pergunta «é isto possível?» aos espectadores. A realidade do mundo é, afinal, a aceitação do mistério, patente em muitos trabalhos do pintor. 

L’Empire des Lumières

L’Empire des Lumières está declinado em duas versões, uma de 1954, outra de 1961, na exposição patente no Museu: um mundo dividido em cinco andares, onde se  abriga a maior colecção de pinturas de René François Ghislain Magritte, o belga nascido na cidade de Lessines, a 21 de Novembro de 1898. Surrealista discreto, capaz de grandes rasgos.
Esse é o verdadeiro truque de prestidigitação, não a fachada renovada do antigo hotel Altenloh, na Place Royale. Nem as imagens mais conhecidas do artista que defendia que a realidade não era algo em que se pudesse confiar. Magritte desenhou objectos de contornos realistas em cenários oníricos, desarrumados em paradoxos ou contradições. 


Ele é  o artista que pintou um célebre cachimbo com a legenda Ceci N’est Pas une Pipe («Isto não é um cachimbo»). Não era um cachimbo, porque não se podia fumar com ele, linguagem provocatória para recordar que a   representação  de um objecto nunca é o próprio objecto. 

La Durée Poignarde

Dele são também os quadros em que um comboio fumegante sai de uma vulgar chaminé (La Durée Poignarde) desenhada a partir da que se encontrava na sala de estar da sua casa. 

Black Magic, 1945

Ou aqueles em que o corpo nu de uma mulher se funde num céu de nuvens brancas (Black Magic, 1945). Ou ainda as imagens em que homens de chapéu de coco e sobretudo descem dos céus ou se apresentam de rosto ausente ou tapado por uma maçã. Cite-se o pintor belga para ajustar os binóculos que permitem entender este universo: «Ver é um acto.» Ainda que o próprio René, enquanto estudante de artes, tinha ido visitar o Museu Ufizzi, em Florença, lá permanecendo apenas meia hora entre obras-primas e explicando que era bom, mas que «os postais também funcionavam».

Visitações

É de outra ordem o jogo de ilusão provocado pela visita ao excelente Museu Magritte. Não sai nem de uma cartola de mágico nem de um qualquer chapéu de coco. Revela-se na surpresa de encontrar coisas novas num universo que se pensava já decifrado, repetido e esgotado em muitos postais. Há lugar para a ampla divulgação, por exemplo, da sua obra gráfica, quando trabalhou com o irmão antes de o sucesso chegar, cartazes publicitários ou ilustrações para partituras de música, de surpreendente eficácia. Ou para uma selecção de retratos dedicados a  patronos e amigos, mulheres loiras bizarramente sorridentes, mecenas que lembram sábios gregos. Há até a encomenda da companhia aérea Sabena, um óleo que mostra uma pomba a sobrevoar uma pista de aterragem, em L’Oiseaux de Ciel (1966).

L’Oiseaux de Ciel (1966

No espaço, pontuado por fotografias e citações nas paredes do próprio Magritte, o artista é-nos  dado num permanente jogo de revelações e ocultações. Em recantos inesperados, há manuscritos e filmes de época mostrando as brincadeiras domésticas com os amigos e a mulher, Georgette – fiel a todas as horas, de quem o museu mostra retratos da jovem lindíssima que era. Por ela, doente em Bruxelas num período difícil em que a guerra devastava a Europa, Magritte virá do Sul de França onde se refugiara, a primeira parte da viagem feita de bicicleta. 

Georgette 

Com medo e remorso. Há , aqui, quadros que contam essa história: arbustos de aves feridas e mochos vigilantes, como os povos mal tratados; ou a leveza do grande pássaro de nuvens a sobrevoar um ninho de Le Retour (1940).

Le Retour (1940

Há que andar entre andares organizados cronologicamente, e entre as esquinas desta caixa negra para ver estas obras, muitas delas que não se associaram à sua produção fortemente inspirada no quotidiano – nem que seja no dos sonhos deste rapazinho de família pobre, que aos 12 anos descobriria o corpo da mãe, fazedora de chapéus, que se suicidara. Sobe-se pelo elevador, cujos andares se vão revelando partes de um corpo: primeiro piso, uns pés. Depois, joelhos, um sexo feminino, uns seios, até chegar a  um rosto de mulher, última paragem, o topo do seu mundo. É esse o lugar onde decorrerão as exposições temporárias do espólio vasto: aqui está a produção integral das obras de Magritte, desde os anos académicos até ao último trabalho que deixou incompleto. O pintor seria primeiro influenciado pelo  construtivismo até ter uma epifania, em 1923, ao conhecer o trabalho de Georges de Chirico – talvez o primeiro pintor a abrir caminho para o território dos sonhos. É fácil de ver esse impacto no quadro L’Homme du Large (1927), uma silhueta sem rosto. 

L’Homme du Large 1927

Influenciado pelo cinema e pela literatura de Poe, Stevenson e Fantomas, passa pelo chamado Período Negro. Mas Magritte descobriu-se Magritte depois, com o manifesto surrealista proclamado em 1924 por André Breton. E nós descobrimos outro Magritte, ainda depois da ruptura com o escritor francês.

Experiências

Magritte fará a sua própria interpretação do pensamento sem travões morais do surrealismo, mesmo estando próximo do movimento: por exemplo, convidava o grupo para baptizar os seus quadros.

La page Blanche 

La page Blanche foi alterado por causa deles: a lua crescente passou a ser uma lua cheia pintada sobre os ramos das árvores, coisa impossível. A ruptura, brutal com o surrealismo, foi provocada também por aquilo a que alguns chamam o Período Renoir de Magritte: quadros próximos do universo impressionista, de cores vivas e traços arrastado de pincel, sóis que giram como os girassóis de Van Gogh, mulheres arco-íris que descansam na relva, árvores narigudas e fantasistas como fábulas infantis. A raiva causada pelo repúdio originou o que é, no museu, uma parede de grande impacto: convulsão de caricaturas e borrões de tinta em cores ácidas mas sem alegria, alinhada em cerca de 40 quadros, feita por Magritte em menos de 15 dias, e a que se chamou o Período Vache. A inspiração foi buscá-la a uma subversão dos comics, na altura uma produção bem-comportada. Magritte olha para  artistas cáusticos, expressionistas antes de tempo. No fim da parede, há um quadro com outro tom: La Part du Feu (1948), o que se tem de abandonar para atingir algo de maior. 

La Part du Feu 1948

Uma mulher estende um prato a um homem deitado numa cama com um candelabro aos pés, alusão a uma última refeição. É-nos dito que talvez Magritte queira representar o funeral do surrealismo que ele tanto amou.
René Magritte defendia que as suas pinturas eram concebidas «como so sinais físicos da liberdade de pensamento». 

Le Domaine d’Arnheim 1962

E é em nome dessa liberdade, que no fim da caixa negra, atordoados por tantos símbolos e imagens oníricas, esmagados por esse quadro imenso da montanha  em forma de águia de Le Domaine d’Arnheim (1962) e confrontados com a palavra «rêve» («sonho») numa edificação de pedra em L’art de La Conversation(1950), é-nos lembrado que a interpretação que verdadeiramente interessa, e lhes interessava, é a de que olha. A nossa.

L’art de La Conversation 1950


Fonte: Revista Visão
Texto: Silvia Souto Cunha
Fotos : Revista Visão / Net
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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Soares dos Reis

As duas únicas estátuas que Soares dos reis esculpiu em granito

Retrato de Soares dos Reis por Marques de Oliveira

No alto da rua que o célebre Corregedor Almada e Mendonça abriu e tem o seu nome, ligando a «baixa» com o campo de Santo Ordeo, foi construída, no último quartel do século passado, a Capela do Divino Coração de Jesus, réplica da famosa «Sainte Chapelle» de Paris.

É do melhor granito de S. Gens e mandou-a edificar o abastado capitalista José Joaquim Guimarães Pestana da Silva, engenheiro e figura de grande relevo e destaque nos meios portuenses.
Tanto pelas linhas, conjunto arquitectónico e ornamental, como pelas preciosidades que a valorizam, interior e exteriormente, é um monumento digno de alto espírito do seu fundador e das melhores jóias do tesouro artístico da capital do norte.
É que na Capela do Divino Coração de Jesus, mais conhecida pela Capela dos Pestanas, encontram-se numerosos trabalhos do mais desventurado e genial artista português – Soares dos Reis -, que modelou e esculpiu no granito, ao jeito gótico, as estátuas de S. José e S. Joaquim; os ornatos do interior e do exterior; os pináculos, rosetões e mísulas, os doceis, as platibandas, etc.


A cerimónia do lançamento da primeira pedra realizou-se em fins de 1878, gastando-se na sua construção a avultadíssima soma de 22 mil libras.
«A frontaria é preenchida a meio por uma torre saliente e amparada nos cunhais, até à altura da nave, por gigantes decrescentes, de três secções, providos de cornijas. Rasgam-na interiormente arcos ogivais, um em cada face, de duas arquivoltas emolduradas, o que lhe permite servir de átrio ou alpendre, coberto com abóbada, nervada, uma rosácea em trevo, quadrilobulada e cingida por uma orla de miosótis soltos de oito pétalas, em alto-relevo, cujo vivo cerra um vitral, sobrepujando o arco da frente, á qual correspondem nos outros parâmetros seteiras vazadas.
«No andar superior, onde se guardam os sinos, alinham-se, em cada lado, janelas gémeas e ogivadas, mui esguias, de dois toros emoldurados e com os vivos ocultos com rótulas; nos ângulos das arestas chanfradas erguem-se colunelos, os quais rematam acima da cornija, pináculos apainelados e cogulados nas esquinas.
«Cada empena tem a decorá-la um sóbrio florão. Constitui a cobertura da torre um alto carochéu em flecha, vazado com duas séries de trilóbulos, no vértice do qual se firma a cruz de ferro à altura de 20 metros. Aos lados da fachada é que, em mísulas, estão as duas estátuas de S. José e S. Joaquim, as únicas que Soares dos Reis esculpiu em granito».


Esta é a descrição sucinta que um arqueólogo e crítico de arte faz do exterior da Capela do Divino Coração de Jesus, dando também conta das opiniões discordes de escritores ilustres sobre as estátuas de S. José e S. Joaquim. Fortunato de Almeida apontou-lhe o defeito de serem muito humanas e Teixeira Gomes classificou-as de obras de falsa ingenuidade. O Professor Joaquim de Vasconcelos elogiou-as sem restrições, sendo aplaudido pela maioria dos críticos e amadores de arte.
O interior da capela é muito gracioso e a luz coada através dos vitrais dá místico encanto ao ambiente. Nas paredes e nas abóbadas foram pintadas primorosas imitações de tapeçarias. Uma grade de bronze separa a nave do altar-mor, também de bronze, dividido em sete nichos de fundo esmaltado, ao gosto bizantino, sendo a base decorada com blocos de cristal. O sacrário, lâmpadas e lampadários são góticos e de bronze dourado e foram executados em Gand, sob desenhos do barão de Béltume.

Interior da Capela dos Pestanas

A Capela está ligada ao Palácio dos Pestanas por uma «passerelle» coberta de vidro, que bastante lhe prejudica a elegância e beleza. Se se encontrasse no meio de um jardim, em ponto elevado, ofereceria aos olhos dos amadores de arte, motivo de surpreendente efeito, ressaltando em toda a plenitude as suas linhas admiráveis.

Fonte: Almanaque Diário de Notícias (1954)
Texto/Autor: Desconhecido
Fotos da Net
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terça-feira, 11 de outubro de 2016

Não eram demónios

Não eram demónios, apenas alucinações


Quando os gregos praticavam os ritos de Eleusis em honra da Deusa Demeter e da sua filha Perséfone, bebiam uma poção chamada ‘kykeon’ que os induzia a estados de êxtase e que, por conseguinte, os levava a ter alicinações. Hoje, crê-se que a substância responsável por estas viagens imaginárias era o claviceps purpúrea, um fungo que parasita os cereais (principalmente o centeio). Possuidores de alcalóides, que têm como núcleo o ácido lisérgico, não só fazem a pessoa ‘flipar’ como intoxicam, e muito, o organismo humano. O seu efeito produz gangrena nos dedos, nariz e orelhas. Provoca também ataques epilépticos e asfixia. Em abundância, pode até causar a morte.
Até ao século XVII foram muitos os que comeram pão contaminado e que juraram a pés juntos ver demónios. É o caso de Santo António quando andava de eremita. Daí que o mal fosse conhecido por fogo de Santo António. Os antonianos consagraram-se suas vítimas e encomendaram o quadro que ilustra esta peça de Brueghel. O resultado é simplesmente alucinante.

Fonte: Revista Domingo
Foto da revista
𺰘¨¨˜°ºðCarlosCoelho𺰘¨¨˜°ºð

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Raul Dufy


No dia 23 de Março de 1953 as artes Plásticas perderam um dos seus cultivadores mais apaixonados – o pintor Raul Dufy.
Em 1952, na Bienal de Veneza – onde lhe reservaram uma sala no Pavilhão francês -, obteve o grande prémio da pintura internacional. Repórteres procuram-no para entrevistas – encontram-no a pintar uma procissão na Praça de S. Marcos.
No Verão de 1952, em Genebra, tem uma última alegria ao ver a exposição retrospectiva organizada pelo Museu desta cidade.
Já não assistiu à inauguração da bela exposição do Museu de Arte de Paris – que até hoje nunca consagrara tão grande certame a um só pintor. O catálogo desta exposição – prefaciado por Jean Cassou e anotado por Benard Dorival – assinalava mais de 260 obras.


Com setenta e cinco anos Dufy demonstrou sempre, com clareza e serenidade, o seu bom humor e a sua agudeza de observação.
Gravador, pintor, ceramista, cartazista, decorador de teatro, de tecidos e tapeçarias, em tudo demonstrou talento.
Jamais se poderá olvidar o gravador das madeiras do Bestiaire, de Apollinaire; ou o gravador dos cobres de La Belle Enfant. É inegável que se lhe deve a ressurreição da gravura no livro de luxo.
As cerâmicas decorativas dos jardins-miniaturas de Artigas são duma enorme graciosidade.
Em pleno período 1910/25, em que as Artes Plásticas sofrem forte influência do «ballet» russo, da exposição de Artes decorativas de Munique, do Salão de Outono (Paris, 1910) e sobretudo das criações do costureiro Paulo Poiret, em 1920 Dufy torna-se um inovador da impressão de tecidos – O Caçador é simplesmente admirável.
As tapeçarias O Sena, O Oise,e o Marne dão-nos outra bela faceta deste homem elegante e levemente trocista.
Além de tudo isto executa a maior pintura mural feita nos últimos séculos – a decoração para o Pavilhão da Electricidade da Exposição Parisiense de 1937. Nestes magníficos painéis – que fazem a história da electricidade – estão expressos todos os dotes deste pintor: a profunda fantasia, a imaginação apoiada na realidade e a riqueza infinita da sua cor.


Esta última qualidade, a cor da sua paleta, creio bem que se filia no facto do seu nascimento no Havre. Foi a busca da cor, feita sem a menor nota de pessimismo, com um ar de simplicidade, que levou certos apressados a considera-lo um petit-maitre, foi essa busca que o levou a ser impressionista aos 21 anos, fauvista na maturidade, estudante apaixonado dos processos de Cezanne e admirador profundo de Van Gogh.
Os azuis, os verdes-amarelados, os vermelhos e os negros dos seus quadros hão-de ajudar a romper uns restos de falso academicismo porventura ainda existente.

Fonte: Almanaque Diário de Notícias (1954)
Texto/Autor: Joaquim Navarro
Foto da Net
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domingo, 9 de outubro de 2016

Grécia


Uma viagem cultural
Aliar o descanso à descoberta do passado é sinónimo de optar por uns dias de férias num país onde a cultura e as raízes passadas sempre falaram e continuam a falar por si mesmas.

Foi a anfitriã de um dos maiores encontros mundiais, ou seja dos Jogos Olímpicos, mas a Grécia tem, na sua natureza, muitas e diversas atracções turísticas. Na verdade, este é um país bastante procurado, tanto pela sua beleza como pela grandiosidade e sumptuosidade dos seus patrimónios centenários e afamados além-fronteiras. Se quer reunir a tranquilidade à ânsia de descoberta, a Grécia é um destino a ser considerado.

Um passado com história


De acordo com os historiadores, a Grécia antiga construiu uma civilização que, ainda hoje, continua a exercer o seu fascínio nos vários domínios do saber humano. Desde a ciência até à política, passando pela literatura, a filosofia, a arte, entre outros campos de interesse, a sua influência mantem-se intacta e vários são os turistas que procuram conhecer um pouco melhor os segredos de um país que está tipicamente ligado ao mistério e a um passado pautado de diversos testemunhos efémeros e eternos. Apesar de quase todas as cidades serem conhecidas pelas suas raízes históricas, Atenas parece ser, ainda hoje, o local mais procurado. Para além dos Mosteiros de Meterora, uma das curiosidades mais célebres da Grécia, os turistas poderão ainda admirar o centro religioso e monástico datado dos séculos XII ao XVII, constituindo-se como uma verdadeira obra de referência.

A Paixão pelos Deuses


Se há países que são conhecidos por serem católicos ou protestantes, esta é uma nação vista como puramente mitológica. Na verdade, falar da Grécia é falar da deusa Afrodite, da Atena ou mesmo do deus Dionísio e ninguém consegue dissociar a ideia da mitologia ao conhecimento mais profundo deste país. Quem visita os locais históricos depressa se vê a “penetrar” num mundo diferente onde descobrir é a premissa principal, ao mesmo tempo que nos deixamos levar pelo mistério de uma tradição singular e única.

O Povo


Para além dos monumentos tão populares, a Grécia é também conhecida pelo seu povo. Desde sempre os gregos se destacaram em variadíssimos temas, como por exemplo, na cultura, na escrita e na matemática. Quem não conhece as divagações de Sócrates ou então o tão falado Onassis, um empresário de renome, já falecido, mas em tempos portador de uma fortuna que, ainda hoje, é vista como a maior do mundo? Uma coisa é certa: quem visita este país não se dedica apenas ao descanso. Visitar a Grécia é aprofundar os nossos conhecimentos e, acima de tudo, aprender a gostar de uma cultura que, apesar de ser uma das mais antigas, continua a ser de referência e de eleição mundial.

Fonte: Revista Click In
Texto/Autor: Desconhecido
Fotos da Revista
𺰘¨¨˜°ºðCarlosCoelho𺰘¨¨˜°ºð

sábado, 8 de outubro de 2016

O Sushi

Japoneses e ocidentais estão a extinguir o atum azul, cuja carne é a base do sushi.
No Pacífico e no Índico já quase desapareceu.



Está a provocar a extinção de várias espécies de peixes. A pesca industrial já levou a que  12 tipos de tubarão ficassem comercialmente esgotados no Mar Mediterrâneo. No Mar do Norte, o fiel amigo, o bacalhau, praticamente desapareceu. E a próxima vítima, ao que parece, será o atum azul. A sua carne macia e muito apreciada – especialmente a da barriga – faz as delícias do Mundo inteiro, sob a forma de sushi e do seu “primo”, o sashimi.
A captura deste animal começou a duplicar regularmente durante a década de 1990, á medida que os pratos japoneses se tornavam populares na Europa (uma moda que chegou tarde a Portugal) e
Nos Estados Unidos da América. A actividade dotou-se de recursos tecnológicos poderosos – como sonares, aviões de reconhecimento e satélites – eliminando as hipóteses de fuga dos cardumes perseguidos.
No Mediterrâneo, há em vários países viveiros, para nde esta espécie é levada depois de pescada. Aí, ficam dentro de gaiolas, ou aquários, em processo de engorda. Quando atingem o peso ideal, são abatidos e comercializados. Claro que, com uma procura tão intensa, as populações não têm tempo para se renovar.


Cada exemplar nascido demora dez anos a ser capaz de procriar. Agora são capturados antes de conseguir fazê-lo. As duas principais zonas onde este ser cobiçado é apanhado são o Mediterrâneo e o Atlântico. Nas duas, as quantidades existentes hoje representam dez por cento das que havia na passada década de 1950. Nos oceanos Pacífico e Índico, os Japoneses capturaram-no com tal intensidade que se encontra semiextinto. Na Escandinávia, já não existe.
Mesmo nos viveiros que foram construídos no Ocidente, os stocks baixaram 25 por cento nos últimos dois anos.
Em Espanha, por exemplo, seis deles já foram encerrados.
Foi no ínicio dos anos 1960 que os nipónicos concluíram ser o atum azul um ingrediente inagualável na confecção do sushi. Mas só três décadas depois é que o consumo aumentou drasticamente.


Um estudo do Governo daquele país indica que a culpa foi do aumento do número de mulheres a trabalhar fora de casa e de pessoas a viver sozinhas. Os japoneses passaram a gastar menos 30 por cento com a alimentação no lar, ao passo que a compra de sushi em restaurantes de fast-food cresceu 30 por cento. Nos supermercados e lojas de conveniência a subida foi de 70 por cento.

Fonte: Revista Nova Gente
Texto: Rosana Zakabi/Revista Veja
Fotos da Net

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Tikashi Fukushima


Tikashi Fukushima nasceu em 1920 em Suma, Fukushima, no Japão. Trabalha na lavoura e como desenhador de aviões. Com 20 anos emigra para o Brasil, instalando-se no interior de São Paulo, em Lins, onde conhece Manabu Mabe. Começa a pintar. Seis anos depois muda-se para o Rio de Janeiro e estuda pintura com Tadashi Kaminagai. Regressando a São paulo, em 1949 casa-se com Ai Saito, abre uma oficina de molduras e forma o Grupo Guanabara, fazendo tertúlias com vários pintores, entre os quais Arcangelo Ianelli. Participa em diferentes iniciativas, como o Salão Paulista de Arte Moderna, tendo obtido vários galardões, entre os quais p Prémio Leirner na pintura, e figurado sete vezes na Bienal de São Paulo, desde o início, em 1951, até 1967. Foi eleito presidente da comissão do Salão de Artes Bunkyo, cargo que ocupou até 1999.


“ Composição em Vermelho e Azul”, óleo sobre tela (135,5cm x 65cm), executado em 1962.

Tikashi Fukushima é mais um dos pintores nipo-brasileiros que tem grande responsabilidade na afirmação da pintura abstracta no Brasil, talvez porque, no pensamento japonês, o abstracto é o concreto firmem relações dialécticas de proximidade e intensidade. Germinando no seio de uma comunidade que se fixa no Brasil na altura da Segunda Guerra Mundial, as linguagens abstractas permitem na sua padronização a liberdade individual expressa na cor, matéria e gestualidade, que marca formalmente a tela e se afirma no primeiro plano. A obra de Fukushima, inicialmente, nas décadas 40 e 50, centrada na pintura de paisagens com alguma referência pós-impressionista, a partir de 1957 evolui para um registo mais emocional e para uma linguagem claramente abstracta. Estruturada a partir de registos de grande carga dramática, que neste caso a enorme porção de vermelho acentua. A sua pintura é sobretudo uma exposição de sensações numa simbiose entre referências a estados de espírito subjectivos e paisagens atmosféricas ou eventos cósmicos.

Fonte: Revista Caras
Texto/Autor: Júlio Quaresma
Foto da Revista
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