D. Maria I perdeu o juízo
com medo das penas do inferno
A primeira mulher que
governou Portugal morreu faz hoje dia 20 de Março, 201 anos. D. Maria I
(1734-1816) subiu ao trono com a promessa de apaziguar a sociedade portuguesa,
crispada pelas medidas reformadoras impostas com pulso de ferro pelo Marquês de
Pombal. Logo nos primeiros meses de reinado, em 1777, decretou um indulto geral
que libertou perto de 800 presos – entre nobres (incluindo familiares dos
Távoras, como a Poetisa marquesa de Alorna, que estava fechada no convento de
Chelas desde 1759), eclesiásticos (como o Bispo de Coimbra e vários jesuítas)
e, sobretudo, gente do povo. Foram iniciativas como esta que logo associaram à
nova rainha o cognome de a Piedosa.
A demissão de Pombal, a
mudança de pessoal político – embora tivessem continuado no Governo alguns
discípulos do marquês – e a influência recuperada pela alta nobreza caída em
desgraça no reinado de D. José fizeram com que este período ficasse conhecido
como a “Viradeira”.
A Aristocracia era
encabeçada pelo marido (e tio) da rainha, D. Pedro III, irmão de D. José. À
falta de atractivos físicos aliava o rei consorte a pouca inteligência. Na
corte puseram-lhe a alcunha de “capacidónio”: era uma das suas palavras
preferidas e com ela se referia às pessoas a quem tencionava atribuir um cargo,
depois de ter apanhado de ouvido que alguém era “capaz e idóneo” para
determinado emprego…
Além da sua nobreza,
também a Igreja regressou ao poder com a Viradeira. D. Maria era extremamente
devota e a sua religiosidade exacerbada tocava as raias da superstição, já
desde os tempos de princesa na corte do avô D. João V. Por altura da sua
aclamação, um viajante francês escreveu que o confessor a convencia a gastar em
penitências o tempo que deveria empregar com mais utilidade para o bem do povo.
No entanto, era precisamente esse confessor – D. Frei Inácio de S. Caetano,
arcebispo de Tessalónica e inquisidor-geral, nomeado ainda pelo Marquês de
Pombal – quem acalmava os exageros da devoção que atormentavam D. Maria.
A Rainha Maria I e o rei
D. Pedro III de Portugal
A morte de D. Pedro III,
em 1786, afectou-a, mas o grande golpe na sua saúde mental foi a dupla perda que
sofreu em 1788. A 11 de Setembro, morreu com um ataque de bexigas, o filho mais
velho, o príncipe herdeiro D. José, com 27 anos.
Poucos meses depois, a 29
de Dezembro, morreu D. Frei Inácio de S. Caetano. Sucedeu-lhe como confessor da
rainha o inquisidor-geral o bispo do Algarve, D. José Maria de Melo, um dos
homens mais reaccionários da corte.
O novo confessor
atormentava constantemente a soberana, lembrando-lhe as penas que o pai, D.
José I, estaria a sofrer no inferno por ter consentido a política de Pombal.
Não perdia uma oportunidade de alimentar a perturbação de D. Maria, dividida
entre os deveres de rainha e de filha – recusava-se a condenar a memória
paterna, o que resultava numa incessante tortura psicológica. As notícias da
Revolução Francesa encontraram-na num estado de grande fragilidade. Acabou por
perder completamente o juízo.
No princípio de 1792, a
rainha foi sangrada e levada a banhos, mas, no dia 10 de Fevereiro, os mais
prestigiados médicos do reino assinaram um boletim confirmando que “a saúde de
Sua Majestade no estado em que se acha” não lhe
permitia ocupar-se dos assuntos de Estado. Tinha 57 anos e estava,
oficialmente, louca.
D. João VI
O príncipe D. João (futuro
D. João VI) passou a governar em nome da mãe, mas só em Julho de 1799 assumiu o
título de príncipe regente. A última aparição pública de D. Maria I em Portugal
foi a 27 de Novembro de 1807, no dia em que a corte embarcou para o Brasil,
para escapar à evasão francesa, comandada por Junot. Perante a confusão geral
da fuga, a rainha, já com 73 anos, teve um assomo de lucidez, resistindo a
descer do coche: “Mais devagar! Diriam que fugimos.”
Morreu no Rio de Janeiro,
com 81 anos. Está sepultada na Basílica da Estrela, em Lisboa.
Basílica da Estrela
Basílica da Estrela
A Basílica da Estrela, em
Lisboa, entregue às Carmelitas Descalças de Santa Teresa, foi a grande obra
edificada no reinado de D. Maria I. Mas outras medidas ficaram para a história.
A Iluminação pública das
ruas da capital; imposta à força (e paga com um tributo legal) pelo intendente
da polícia Pina Manique, em 1780, foi um acto de civilização. Tal como a
criação da Academia das Ciências de Lisboa, em 1779, por iniciativa do Duque de
Lafões e do Abade Correia da Serra. Pina Manique foi também o impulsionador da
Casa Pia, em 1783.
Fonte: Revista Notícias
Sábado
Texto/Autor: João Ferreira
(Histórias da História)
Fotos da Net
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