sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Alzheimer


13 Questões sobre a doença de Alzheimer

Trata-se de uma enfermidade que evolui de modo progressivo, assistindo-se ao seu evoluir durante mais de uma década. Passa assim por vários estádios evolutivos que vão desde a demência ligeira, em que predominam as perturbações de memória, até à severa, já com alterações da fala, da leitura, do vestir, do alimentar… ou seja, com uma grande perda de autonomia. O Dr. Celso Pontes, neurologista, explicou-nos um pouco mais detalhadamente em que constitui esta doença e pode ser diagnosticada e acompanhada clinicamente.

1 – Que é a doença de Alzheimer e o que a provoca?

É uma doença crónica que surge mais nas pessoas idosas, de inicio gradual e lentamente progressiva caracterizada por uma alteração da memória e terminando num estado de demência. Reconhece-se, por oposição à forma esporádica da doença, que em geral tem um inicio em idades mais precoces e uma evolução mais rápida. Sabe-se que há uma grande diminuição das células nervosas, os neurónios, e acumulação anormal de proteína designada por amilóide. Esta acumulação perturba o funcionamento das células. A causa da acumulação pode derivar de um aumento da produção ou uma dificuldade de eliminação, processos estes que levam à doença.

2 – Todos nós estamos sujeitos a poder, um dia, vir a sofrer dela?

Verifica-se que a doença de Alzheimer é mais frequente na população mais idosa. À medida que aumenta a nossa idade, aumenta também o risco de virmos a sofrer da doença. A sua prevalência é de menos de 0,1 por cento antes dos 50 anos e entre 10-30 por cento depois dos 85 anos. Assim sendo á partida, todos estamos sujeitos a desenvolvê-la, embora a grande maioria nunca venha a ser afectada.

3 – Podemos considerar a existência de grupos de risco?

Sim. Sabe-se hoje que existem mutações genéticas determinantes da doença e estão identificados genes responsáveis por cerca de 10 a 20 por cento dos casos da doença de Alzheimer. Para além desses genes causais, existem genes facilitadores da ocorrência das formas esporádicas da doença, como é o caso de um gene ligado ao cromossoma 19 e à produção de uma proteína designada apoliproteína E. para além dos idosos, outros grupos de risco há que foram apontados sem que tenha sido ainda possível estabelecer uma relação consistente. De facto pensa-se que a doença pode ocorrer porque existe uma predisposição genética mas só quando determinados factores externos ocorrem. Assim foram apontados como factores facilitadores da doença antecedentes tão diversos como: traumatismo craniano,
Doença vascular cerebral, um baixo nível de instrução, menopausa e outros, mas que não estão devidamente fundamentados.

4 – Que tipo de sintomas costumam ser os mais frequentes?



As pessoas afectadas perdem progressivamente a capacidade de memorizar os acontecimentos mais recentes da sua vida. Assim pouco a pouco, ficam com dificuldade em executar o seu trabalho normal, em se orientarem, reconhecerem outras pessoas ou saberem as datas, as horas. Mais tarde deixam de saber executar gestos, como os de se vestirem correctamente, ou se servirem apropriadamente dos talheres para se alimentarem. Em fases mais adiantadas os doentes são totalmente dependentes de outras pessoas para executarem as tarefas mais básicas do dia-a-dia e mais tarde ficam mesmo acamados.

5 – De que forma a doença evolui e, em média, em quanto tempo?

Trata-se de uma doença que evolui lentamente e de modo progressivo, embora por vezes surjam agravamentos mais bruscos e acentuados. Em geral o diagnóstico só é estabelecido cerca de dois anos após o início dos primeiros sintomas porque estes não são de imediato reconhecidos pelo doente ou seus familiares. Depois de diagnosticada, assiste-se ao seu evoluir durante mais de uma década. Como o agravamento é progressivo podem-se distinguir grosseiramente vários estádios evolutivos: a demência ligeira, em que predominam as alterações de memória; a moderada, também com alterações de memória importantes, alterações das funções intelectuais e diminuição da autonomia; e a demência severa, com alterações da fala, da leitura, do cálculo, do vestir, do alimentar e com grande perda de autonomia.

6 – Através de que meios é possível detectar esta doença?

Para detectar a doença é fundamental que a generalidade das pessoas saiba que ela existe e que as suas primeiras manifestações são graves perturbações da memória. Por outro lado, recordar que é uma doença que afecta as pessoas em geral após os 50 anos, mas mais frequentemente os idosos. Assim, os familiares e amigos, e os próprios doentes, ao notarem alterações das capacidades intelectuais devem solicitar ajuda médica para esclarecer a situação.

7 – Qualquer médico está apto a fazer o diagnóstico ou existem especialidades próprias?

Qualquer trabalho deve ser feito por quem tenha conhecimentos e competência para o fazer. Qualquer médico que esteja familiarizado com a doença poderá estabelecer o diagnóstico e é bom que assim seja, para mais rapidamente se detectarem estas situações. De qualquer modo, devido à sintomatologia que os doentes apresentam e sobretudo para excluir outras causas de demência, algumas delas com tratamentos diferentes, é desejável que todos os doentes sejam observados por um médico neurologista.

8 – Não existe ainda um tratamento que a cure em definitivo?

Ainda não existe um tratamento curativo para a doença. Isto não significa que os doentes não tenham tratamento, pois apesar de não se poder curar definitivamente é hoje possível fazer tratamento dos sintomas e assim “atrasar” a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida dos doentes. Nos últimos anos surgiram medicamentos capazes de influenciar e é provável que num futuro próximo surjam outros medicamentos, ou tratamentos, que permitam modificar a evolução da doença.

9 – Que meios complementares de diagnóstico podem ser usados para se confirmar o diagnóstico?

O diagnóstico de demência de Alzheimer baseia-se em critérios clínicos definidos pelo DMSIV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders). Existem testes de avaliação do estado metal. Um dos mais conhecidos e também mais simples é o MMSE (Mini Mental State Examination). Este teste permite despistar a doença mas não estabelece o diagnóstico. Outros testes de avaliação irão caracterizar melhor a demência e definir as perturbações da memória, da linguagem, da capacidade de execução e da capacidade de aprender e conhecer. Por outro lado o exame neurológico e alguns dos exames como o electroencefalograma, a tomografia computorizada e a ressonância magnética, entre outros, ajudam a confirmar a hipótese clínica e, sobretudo, a excluir outras causas de demência. Não são correntemente utilizadas as análises de tipo “marcador biológico”, isto é, que sejam indicativas da doença. Embora pareça confirmado que os doentes têm uma elevação da proteína Tau no líquido meníngeo, não é prática corrente efectuar-se esta determinação porque até agora a sensibilidade e especificidade do teste como diagnóstico não demonstra ser superior à avaliação clínica.

10 – Em que especialidade médica deve o doente ser seguido?

O acompanhamento destes doentes, devido à complexidade do quadro clínico, deve ser feito por uma equipa multidisciplinar, desde o psiquiatra, o neuropsicologo, e o internista até aos terapeutas ocupacionais e enfermeiros de reabilitação. Se o neurologista tem um papel central no seguimento destes doentes para avaliar a evolução e orientar o tratamento, é importante que possa sempre haver o concurso de outros profissionais de saúde. Em cada momento todas as necessidades do doente devem ser supridas pelo profissional que estiver mais habilitado para o fazer.

11 – Os familiares dos doentes recebem algum tipo de apoio médico para que eles próprios aprendam a lidar com a doença e com a pessoa que dela sofre?

O médico e os outros profissionais de saúde informam os interessados sobre a doença e sobre o doente. Mas os familiares podem também pedir informação e apoio, moral e material, à Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer (APFADA) que tem sedes em Lisboa, Coimbra e Porto. Esta Associação desenvolve há vários anos um esforço de divulgação do conhecimento da doença e da formação em especial para os cuidadores dos doentes. Junto dela é possível obter esclarecimentos vários sobre as ajudas sociais disponíveis e partilhar problemas resultantes da vivência com os doentes.

12 – Pode Morrer-se vítima da doença de Alzheimer?

Sim. A doença segue o seu curso e ao fim de alguns anos leva à morte. Podem também surgir infecções ou outros problemas médicos que se não forem devidamente tratados levam à morte mais cedo. Devemos todos assumir, no entanto, que estes doentes, apesar de prognóstico fatal, merecem o nosso carinho e respeito pela sua dignidade de ser humano, e serem tratados no sentido de lhes ser proporcionada a melhor qualidade de vida possível.

13 – Em Portugal há ideia de quantos doentes existem vítimas desta enfermidade?

Foram efectuados estudos nesse sentido que era importante ter essa informação, quer do ponto de vista da saúde, quer do ponto de vista económico. Tendo em conta a prevalência e adaptando-a a cada faixa etária da população existente chegou-se a um número da ordem do 50 a 60 000 doentes.

C@rlos@lmeida
Fonte: Revista GUIA
Coordenação: Paula Sentieiro