segunda-feira, 20 de abril de 2020

D. Carlos III

O maior 'botellon' de sempre


Prática corrente nas ‘calles’ espanholas, as origens destas famosas reuniões de bebedores perdem-se no tempo, no século XVIII, por exemplo, ficou célebre a ‘loucura de Níjar’, como Ortega y Gasset comenta na obra ‘A rebelião das massas’
Aconteceu em Níjar, na região de Almería, em Espanha, a 13 de setembro de 1759, por ocasião da notícia da coroação do monarca Carlos III. As suas dimensões foram tais que o enorme ‘botellón’ ficou internacionalmente conhecido como a ‘loucura de Níjar’. Um cronista da época narra assim as doidas peripécias: “Tendo chegado a notícia dos senhores Alcaides de que o imediato sucessor à coroa de Espanha era o senhor D. Carlos III, e desejosos de manifestar o grande apreço e felicidade que lhe tributam, os seus vassalos convocaram todos os vizinhos na Praça pública para uma grande festa. 

Depois mandaram trazer álcool para dar de beber a toda aquela gente, que consumiu 77 arrobas de vinho e quatro jarros de aguardente. Com isto, aqueceram-se os espíritos de tal forma que com repetidos aplausos o povo encaminhou-se para o celeiro e atirou cá para fora todo o trigo que lá havia! Daqui os foliões passaram para as várias lojas, onde ordenaram que por elas se derramassem todos os géneros líquidos e comestíveis disponíveis, e retiraram 900 moedas dos seus cofres. Os quiosques de venda de tabaco também não foram poupados dos exuberantes festejos. O próprio estado eclesiástico incentivou as manobras, pedindo às mulheres para tirarem de casa tudo quanto lá tivessem. Não ficaram pães, farinha, pratos ou cadeiras para contar a história durante esta gigantesca mobilização popular. Não é necessário dizer que meia vila de Níjar ficou em estado de sítio com este ‘botellón’ em massa.

Fonte: Revista Domingo Magazine /Correio da Manhã
Fotos da Net
© Carlos Coelho