A maneira como a Humanidade lidou com o sexo,
ao longo dos tempos, é fascinante: criou tabus, cometeu excessos, riu-se dele,
tentou banir o prazer… mas não conseguiu. Há poucos temas tão férteis em
episódios caricatos que, ao mesmo tempo nos façam reflectir no quanto evoluíram
as mentalidades. Eis alguns exemplos contados por Richard Lewinsohn em “
História da Vida Sexual” (Livros do Brasil).
Isso é pecado!
A palavra onanismo, que significa
masturbação, deve o seu nome a um episódio do Antigo Testamento. Onan, por
morte do irmão, é obrigado a casar-se com a viúva deste para não a deixar
desamparada. Mas, no momento da verdade, “ emporcalha a sua honra e a da
família, lançando o esperma no chão em vez de o consagrar e dar a posteridade
ao irmão”, conta Lewinsohn. Deus castiga-o com a morte. Resta saber se a
descrição corresponde a masturbação ou ao coito interrompido.
Experimentar o Kama Sutra.
À letra, Kama Sutra significa “Preceitos de
Amor”, nasceu na Índia, criado por Malaniga Vatsyayana, um homem sábio e
religioso que acreditava que as alegrias dos sentidos são para se desfrutar em
pleno e que a mulher devia poder sentir prazer intenso. Mas este clássico
milenar não é apenas um compêndio sexual. Descreve 64 posições sexuais
diferentes, onde os beijos e abraços têm papel de destaque; acrescentou
conselhos para vencer a frigidez, aumentar a virilidade, “preservar a mulher da
infidelidade” e compatibilizar temperamentos. No entanto, Lewinsohn desvaloriza
o Kama Sutra: “ A técnica indiana do amor não ultrapassa o que, noutros países,
os jovens amantes descobrem sem qualquer estudo científico prévio.”
Messalina, a ninfomaníaca.
Entre as classes altas de Roma as mulheres
pareciam gozar de uma espantosa (e voraz) emancipação sexual, diz Lewinsohn. A
mais conhecida era Valéria Messalina, mulher do Imperador Cláudio, uma
devoradora de homens, que chegava a mandar raptar os que mais lhe agradavam par
a satisfazer entre lençóis… e ai dos que não conseguissem! Rezam as crónicas que
Messalina se divertia num bordel onde tinha um quarto próprio no qual atendia
clientes sob o nome de guerra “Licisca”.
Um prazer dos diabos.
Na idade média, o prazer era considerado
pecado, obra de Satanás. Acreditava-se em bruxas e que os seus contractos com o
diabo eram selados com sexo. Quando não era com a patrão dos infernos, era com
os seus subalternos: íncubos – que significa “deitados por cima”, responsáveis
por “angústias sexuais” – e súcubos – ou “deitados por baixo”, que garantias
prazeres inconfessáveis. Para tramar uma vizinha, bastava dizer que a tínhamos
surpreendido numa sessão de sexo infernal. Os teólogos achavam que a esfera
sexual do diabo era o rabo e acreditavam que as mulheres que lhes beijassem as
nádegas ganhavam poderes misteriosos.
Área de acesso vedado.
O cinto de castidade terá aparecido em
Florença e foi moda na Europa nos séculos XV e XVI. Um dia, um marido ciumento,
provavelmente da burguesia, pensou numa peça de metal, com a largura de uma
mão, que cobria completamente o sexo feminino e deixando apenas uma minúscula
abertura para as necessidades. Era fechado na anca e só o marido ficava com a
chave. É claro que as mais astuciosas tratavam de arranjar uma cópia. Os mais
ricos esmeravam-se e mandavam decorar os cintos de castidade com jóias. Quem é
amiguinho, quem é ?...
O protocolo do sexo.
Em 1621, a moral sexual em Espanha era tão
severa que nem os reis escapavam. Sempre que Filipe IV queria fazer uma visita
conjugal a Maria Ana de Áustria, tinha que seguir o protocolo. Vestia uma capa
negra, segurava um escudo debaixo do braço e uma espada na mão, enquanto uma
aia ia á frente com um candelabro numa mão e um penico na outra. Não admira que
maria Ana, que nunca se habituou a estas visitas nocturnas, dissesse nas cartas
que “preferia ser a última das freiras de Graz que rainha em Espanha.”
A Ousada valsa.
Hoje parece-nos uma inocente dança de salão,
mas, quando apareceu, a valsa causou escândalo por ser considerada demasiado
sensual. A dança era muito rápida, o contacto corporal intenso e podiam
trocar-se olhares e palavras mais ousadas. Os bailes eram autênticas feiras de
noivado e as mães rejubilavam sempre que viam as filhas valsar com um bom
partido – lembram-se de “Orgulho e preconceito”? Os protestos não tardaram. Até
Lorde Byron, que de modelo de virtudes não tinha nada e se fartava de seduzir
raparigas, a classificou como uma vergonhosa forma de promiscuidade.
Bide? Que é isso?
Em meados do século XIX, um século depois da
invenção do bidé pelos franceses, os ingleses vitorianos ainda desconheciam a
existência desta peça sanitária. E quando chegaram os primeiros relatos, o seu
uso foi desincentivado. Alias, Lewinsohn conta que a higiene íntima era banida
da rotina das raparigas decentes por poder incitar à masturbação… e a “maus
pensamentos.”
O perigoso Shakespeare.
A era vitoriana, em Inglaterra, trouxe uma
razia a livros e autores considerados indecentes. “Ulisses”, de James Joyce, e
“Aterra”, de Emile Zola; foram banidos das livrarias por uns tempos, e até a
“Bíblia” era considerada “extremamente perigosa, quando lida com impuros
pensamentos”, conta Lewinshon. De todos os autores, o pior era Shakespeare.
Fizeram-se edições onde as passagens mais sensuais (que qualquer inglês culto
conhecia de cor) foram retiradas.
Fonte: Revista Activa (2010)
Texto: Cristina tavares Correia
Fotos da net
© Carlos
Coelho