segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Mosteiro da Batalha

De “casa de oraçam” a panteão da Casa de Avis



Nascido de uma promessa feita por D. João I na tarde de 14 de Agosto de 1385, véspera da Assunção, O Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, é a primeira e principal obra do tardo-gótico nacional.

Emblema legitimador da Dinastia de Avis, o Mosteiro de Santa Maria da Vitória, assim consagrado pelo sucesso do exército português na Batalha de Aljubarrota, é a primeira e principal obra do tardo-gótico nacional. Em vésperas da batalha, D. João I prometera construir uma “casa de oraçam”, mas o magnífico complexo iniciado em 1388 cedo ultrapassou essa modesta intenção. 


(Afonso Domingues)

Deve-se a Afonso Domingues o projecto geral da igreja, que adquiriu uma feição flamejante a partir de 1402, ano em os trabalhos passarem a ser dirigidos por Huguet, mestre de provável origem catalã. 
Terá sido ele a concluir o abobadamento do templo (incluindo a abóbada estrelada da Sala do Capítulo) e a realizar a fachada principal e a Capela do Fundador.


 (Abóbada estrelada da Sala do Capítulo)

A cenográfica e monumental frontaria foi revestida por uma “máscara” ornamental verticalizante, e o seu portal ilustra uma composição triunfal da igreja, presidida por Deus entronizado. A Capela do Fundador, em construção em 1426, foi destinada a panteão da Casa de Avis, nela repousando D. João I e D. Filipa de Lencastre e quatro dos seus filhos. 


(Túmulo de D. João I e D. Filipa de Lencastre)

Ao longo do século XV, praticamente todos os monarcas aqui deixaram a sua marca. D. Duarte patrocinou a construção a construção das Capelas Imperfeitas, obra que ficou inacabada ao nível do abobadamento, possivelmente por morte de Huguet. Em meados da centúria edificou-se o Claustro de D. Afonso V, propositadamente antiflamejante, desprovido de decoração.
Com D. Manuel edificou-se a grandiosa entrada para as Capelas Imperfeitas, mas a ruptura imposta por este rei no seio da Casa de Avis determinou que outros monumentos beneficiassem do seu directo patrocínio. Durante um século, a Batalha foi o centro simbólico do reino e o complexo então edificado á a marca inequívoca do dinamismo que caracterizou o Portugal quatrocentista.

Fonte: Paulo Almeida Fernandes/ Ippar

Depoimento

O Mosteiro que nasceu duma promessa de D. João I

 (D. João I)

O Mosteiro de Santa Maria da Vitória ou da Batalha, uma das obras mais conseguidas da arquitectura Portuguesa, nasceu duma promessa feita por D. João I na tarde do dia 14 de Agosto de 1385, véspera da Assunção. Perante a iminência do confronto em Aljubarrota, com as tropas de rei de Castela, D. João I solicitou o apoio da Virgem, prometendo-lhe erguer, em caso de vitória, um mosteiro: estava em jogo a sua coroa e, portanto, a independência de Portugal. 


(Batalha de Aljubarrota)
A vitória sorriu ao Rei português, que assim, em boa consciência, se apressou a cumprir aquele voto. Dois ou três anos após a batalha, iniciava a construção dum mosteiro que se assumia como símbolo do assentimento divino à aclamação de D. João I como rei de Portugal. Ganhara legitimidade definitiva a sua subida ao trono; ganhava foros de vontade divina a própria independência de Portugal – tudo se consubstanciando simbolicamente nesse mosteiro, entregue pelo rei aos dominicanos.

Em 1387, D. João I casa com D. Filipa de Lencastre, filha de João de Gaunt, Duque de Lencastre, fortalecendo por laços familiares os acordos do Tratado de Aliança Luso-Britânica, que perdura até hoje. Depois da morte em 1390 de João de Castela, sem herdeiros de D. Beatriz, a ameaça castelhana ao trono de Portugal estava definitivamente posta de parte. A partir de então, D. João I dedicou-se ao desenvolvimento económico e social do país, sem se envolver em mais disputas com a vizinha Castela ou a nível internacional. Teve como chanceler João das Regras que defendia a centralização do poder real. A partir de certa altura associou ao governo o filho D. Duarte.


(Casamento de D. João I e D. Filipa de Lencastre)


Quando o rei quis armar os seus filhos cavaleiros, estes propuseram a conquista de Ceuta, no Norte de África, em 1415, uma praça de importância estratégica no controle da navegação na costa de África que é conquistada a 21 de agosto. Após a sua conquista são armados cavaleiros, na anterior mesquita daquela cidade, os príncipes D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique. Entretanto, na véspera da partida de Lisboa, falecera a rainha D. Filipa de Lencastre.

(Bandeira pessoal de D. João I com a sua divisa «Pour bien».)

A sua importância espelha-se na sua grandeza. Afonso Domingues delineou-o e iniciou-o; Huguet conclui-o. Se o primeiro arquitecto avaliza soluções arcaizantes, o segundo introduz novidades do tardo-gótico europeu.
Entretanto D. João I decidira erguer a Capela – do Fundador – destinada a panteão familiar. A luz generoza que ilumina esse espaço cria uma ambiência mágica que aprofunda o simbolismo do mosteiro, simbolismo continuado por D. Duarte ao fazer outro panteão que, como os eu reinado, ficou incompleto – as Capelas Imperfeitas. Nelas se cumpre, afinal, o destino do Mosteiro da Batalha, quando D. Manuel quis concluí-las: Mateus Fernandes, derradeiro grande mestre batalhino, insuflou-lhes formas vibrantes de prodigiosa imaginação. E, se ficaram inacabadas, a verdade é que esse último sopro criador, na sua intrigante “incompletude” adensa a imagem simbólica de uma nação que aí se revê e contempla.

Fonte: Jornal Diário de Notícias
Texto/Autor: Professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
José Custódio Vieira da Silva
Fotos da net
𺰘¨¨˜°ºðCarlosCoelho𺰘¨¨˜°ºð

Sem comentários:

Enviar um comentário