Como a orientação homossexual
passou a ser considerada como uma legítima possibilidade, a maioria de
heterossexuais ficou desorientada.
A maior parte das pessoas é
heterossexual, acham que assim está muito bem e, em abono da verdade, nunca se
lhes colocou outra hipótese. Em função disso mesmo, consideram, ainda que
íntima e secretamente, as pessoas que não são como elas próprias- quer dizer,
as que são homossexuais ou as que, ao longo da vida, vão estabelecendo relações
sexuais amorosas, umas vezes com homens outras com mulheres - seres curiosos ou
aberrantes (dependendo este último considerando de muitos e variados factores
que não vêm agora para o caso).
Como há uns tempos para cá a
orientação homossexual passou a ser considerada, pelos poderes e pelos saberes
que organizam estas coisas, como uma legítima possibilidade – e foi descartada
a correlação com doença, vício, deformidade, genes tortos, mau carácter,
delinquência e outras suspeições de equivalente conotação negativa - , a tal
maioria de pessoas heterossexuais ficou com a curiosa preocupação de, afinal,
ser igual a uns tantos (que julgava diferentes) e não saber bem como se resolve
esta moderna dissonância cognitiva.
E se fôssemos nós?
É que (estão a ver?) se ser
homossexual ou heterossexual é mais ou menos a mesma coisa, então porque é que
uns são de uma maneira e outros de outra? Se não é uma escolha, uma decisão,
uma compulsão nem uma malformação do desejo mas apenas e tão-só uma casualidade
biográfica, entre outras, como é que se faz para controlar o desatino do
destino (ou será da estranheza da própria condição humana?).
Mais complicado ainda: se a
orientação sexual não é uma construção assim tão estável como isso, o que é que
pode acontecer, num futuro mais ou menos próximo ou distante, aos que
conhecemos e a nós próprios?
Quem é que garante que o nosso
devoto marido não nos troca um dia por um senhor bem-posto, em vez da
incontornável secretária com menos vinte anos?
Quem é que nos diz que a nossa
filha adolescente, tão feminina, tão preocupada com toilletes, não se vai apaixonar pela sua melhor amiga?
Quem é que nos garante que um
dia destes não nos baralhamos e na ressaca de uma separação violenta, daquelas
que nos põem cheios de raivas pelos «queridos» do sexo oposto, nos envolvemos,
sem dar por isso, com quem não devemos? (Será devemos? Queremos?...)
Como calculam, ninguém garante
nada a ninguém. Ainda assim, vale a pena reparar que há orientações e
desorientações sexuais, como aliás em tantos outros assuntos.
Desorientações
As orientações, como o próprio
nome indica, seguem direitinhas a fila esperada e no caso da sexualidade são
convicta e firmemente homossexuais e heterossexuais.
As desorientações, por seu
turno, e como convém à designação, têm momentos e experimentam-se como podem e
sabem: muitas vezes mal – independentemente de serem homo ou hetero.
Fonte: Revista Noticia Magazine
Texto: Isabel Leal (Psicóloga)
Foto de : José Fragateiro
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