Pela Santa Liberdade – A Maria da Fonte foi grito de revolta do povo e arma de arremesso na luta pelo poder.
(Maria
da Fonte)
O temido jornalista e líder revolucionário Rodrigues Sampaio traçou a fronteira entre oposição e canalhice: “O paço dos nossos reis é um foco de corrupção política, mas não é de corrupção moral.”
Em Abril de 1846 Lisboa
assustou-se com as notícias de um levantamento popular no Minho. Os incidentes
tinham começado a 19 de março, no Lugar de Santo André de Frades, concelho de
Póvoa do Lanhoso. Quando o pároco se preparava para fazer o funeral a uma
mulher no cemitério local – em obediência ao decreto de 26 de Novembro do ano
anterior, conhecido como “lei da saúde”, que proibia os enterros nas igrejas,
para evitar focos de epidemias -, um grupo de mulheres armadas de chuços e foices
roçadoras obrigou-o a cumprir a tradição, sepultando a morta no interior do
templo.
Nos dias seguintes, outros
funerais foram interrompidos da mesma maneira até que o administrador de Póvoa
de Lanhoso mandou prender três mulheres da aldeia de Fonte de Arcada, onde
morava a que fora apontada como a cabecilha das desordens: uma tal Maria da
Fonte. Quando as três detidas estavam a ser levadas para a sede do concelho,
saiu ao caminho um grupo de vizinhas que pôs em fuga os polícias e libertou-as.
(Costa
Cabral)
Ao longo do mês de Abril, os distúrbios multiplicaram-se. Os funcionários do fisco que andavam pela região a fazer inquéritos para determinar o imposto a pagar pelos moradores tornaram-se no alvo preferido dos bandos armados. Quando as notícias chegaram ao Porto e a Lisboa, davam conta de uma rebelião que se estendia do Minho a Trás-os -Montes, chefiada por Maria da Fonte, que encabeçava as insurrectas armada com duas pistolas.
A revolta das minhotas foi o
pretexto ideal para juntar os inimigos do Governo autoritário de Costa Cabral,
chefe do partido cartista, que representava a direita moderada. Não por acaso,
os chefes das guerrilhas que fizeram frente às tropas enviadas pelo Governo
eram padres, como Casimiro José Vieira (imortalizado pelo seu seguidor e
cronista Camilo Castelo Branco), saudosistas do absolutismo do Rei D. Miguel.
(D.
Maria II)
Aos miguelistas juntaram-se os setembristas (a esquerda radical do regime) e até cartistas descontentes, numa aliança contranatura cimentada pela oposição a Costa Cabral. Este, a 20 de Abril de 1846, pediu e obteve suspensão das garantias constitucionais e enviou ao Porto o seu irmão José, ministro da Justiça, com plenos poderes para esmagar a revolta.
O rei do Norte, como lhe chamavam os adversários, lançou uma campanha repressiva, mas falhou o objectivo. A situação agravou-se em todo o país e a Rainha D. Maria II acabou por ser obrigada a demitir o Governo e a mandar os Cabrais para o Exílio em Espanha (20 de Maio).
(Tropas dirigidas por José Cabral aplicam vergastadas a um popular durante a Patuleia)As disputas entre os novos
senhores do poder – os Duques de Palmela, Terceira e Saldanha – não tardaram. Ingovernável,
o país mergulhou na Guerra Civil que ficou conhecida como Patuleia) da “pata ao
léu”, pés nus dos camponeses), entre Outubro de 1846 e Junho de 1847. Os revoltosos
chegaram a dominar todo o Norte de Portugal e só depuseram as armas depois da
intervenção militar espanhola e inglesa. Costa Cabral regressou ao poder pouco
depois, o que deu origem a nova instabilidade política que só terminou em 1851,
com a Regeneração.
(Póvoa
de Lanhoso oferece estátua a Maria da Fonte)
A Maria da Fonte ficaria na
memória pela lenda e por várias evocações artísticas. A maestro Ângelo Frondoni
compôs uma marcha, a Maria da Fonte ou a do Minho, que viria a ser o hino do
Partido Progressista (que reuniu os herdeiros do setembrismo e da patuleia). O
refrão cantava: Eia avante, portugueses/Eia avante não temer / Pela santa
Liberdade/ Triunfar ou perecer!
Fonte: Revista Notícias
Sábado
Texto/autor: João Ferreira
Fotos da Net
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