Europa Mediterrânea –
Acontecimentos
Logo ao terminar a Segunda
Guerra Púnica com a derrota de Cartago (202 a.C.), o estado romano começou a
aplicar uma decisiva política de expansão. No Norte da Itália, os povos
celtas e as tribos lígures que haviam apoiado Aníbal foram rapidamente vencidos
e submetidos e em seus territórios foram fundadas colónias de direito romano ou
latino. Às colónias mais antigas, como Cremona e Piacenza, que foram reforçadas
(190 a.C.), se somaram outras novas, como Módena e Parma (183 a. C.), Aquiléia
(181 a.C.) e Luna (177 a. C.). Com o troço da Via Emília entre Piacenza e
Rímini e a construção da Via Postúmia entre Gênova e Aquiléia melhorou-se o
sistema viário, eixo da romanização.
(Foto, Mapa temático da
ampliação do Império Romano no transcurso do século I a. C.)
Por outro lado, a leste,
Roma tropeçou com o poderoso estado da macedónia, encabeçado por Filipe V, que
já durante a Segunda Guerra Púnica havia procurado ajudar Aníbal várias vezes,
com a intensão de limitar os alvos expansionistas de Roma. Em 197 a. C., em
Cinoscéfalos (Tessália), o cônsul Tito Quíncio Flaminino, com o apoio da
Liga Etólia, Rodes e Pérgamo, se sublevou, tendo uma vitória decisiva. Filipe V
teve que renunciar às conquistas anteriores, pagar uma pesada indenização de
guerra e entregar a frota.
Em Corinto, um ano mais
tarde, por ocasião dos Jogos Ístmicos, Flaminino proclamou a liberdade de toda
Grécia. A situação agravou-se com a subida ao trono macedónio de Perseu, filho
de Filipe V, que sentia animosidade pelos romanos. A guerra foi inevitável e
terminou em Pidna (168 a. C.), com a vitória do cônsul Lúcio Emílio Paulo. Vinte
anos depois, por causa de uma rebelião capitaneada por um tal Andrisco, Roma
interveio novamente e a macedônia foi convertida em província romana. Em 146 a.
C., depois da rebelião da Liga Aquéia, a Grécia foi incorporada a esta
província.
(Foto, Baixo-relevo com cena
de um combate de gladiadores. Na escola de gladiadores de Cápua começou a
guerra servil, conhecida também como rebelião dos escravos.)
Naquele período, os povos
ibéricos das duas províncias de Espanha (Citerior e Posterior, criadas pelo
senado romano em 197 a. C.,) revoltaram-se, aproveitando as campanhas militares
de Roma na África e Grécia. Os lusitanos, guiados por Viriato, um audaz chefe
militar, derrotam várias vezes os generais romanos, até que em 140 a. C.
obtiveram a paz e o seu reconhecimento como aliados do povo romano. Mas o
assassinato à traição de Viriato (138 a.C.) obrigou-os a renderem-se. Por outro
lado, os celtiberos, que que se fortaleceram na cidade de Numância, foram
derrotados definitivamente em 133 a. C. por Cipião Emiliano, depois de um longo
assédio. Mas as guerras e conquistas da primeira metade do século II a. C.
causaram transtornos graves no estado romano. A invasão de Aníbal e a longa
permanência no serviço militar de muitos pequenos proprietários de terras
arruinaram a agricultura italiana, provocando, por um lado, a expansão do latifúndio
e, por outro, o êxodo para Roma de grandes massas de camponeses. Além disso, a
grande afluência de escravos, que na sua maioria trabalhavam nos latifúndios em
condições sub-humanas, logo causou graves desordens públicas que, amiúde,
desembocaram em rebeliões declaradas, como a que explodiu na Sicília,
encabeçada pelo sírio Êunoo. Tibério Semprônio Graco fez uma primeira
tentativa de solucionar a situação caótica e em 133 a. C. propôs uma reforma
agrária. A reforma, que não suprimiu a propriedade privada e procurou
favorecer a classe dos pequenos proprietários, chocou com a tenaz resistência
da oligarquia romana e acabou degenerando em desordens, durante as quais
Tibério Graco e muitos dos seus seguidores encontraram a morte.
(Foto, Mosaico com cena da
distribuição do trigo para a plebe (Óstia, Piazzalle delle Corporazioni). As guerras
de conquista do século II a. C. foram
nefastas para a agricultura itálica (Museu Nacional Romano, Roma).
Dez anos depois, Caio
Semprônio Graco procurou completar o trabalho que o seu irmão tinha começado,
mas envolvendo-o com uma série de iniciativas de maior envergadura para as
quais pretendia contar com a aprovação de uma parte da plebe, dos patrícios e
dos itálicos. Foi precisamente o projecto de concessão de cidadania aos
itálicos que desencadeou a reação do senado, que conseguiu isolar politicamente
Graco. Em 121 a. C., durante os violentos choques entre as facções opostas,
caio Graco e uns 3000 seguidores perderam a vida.
(Foto, escultura em mármore
da cabeça de Caio Mário (157-86 a. C. conservada nos Museus do Vaticano, em
Roma, Mário um chefe militar hábil,
realizou em 107 a. C. uma reforma profunda do exército, recrutou pela primeira
vez na história os pobres e os Itálicos.)
A guerra contra Jugurta na
África e a invasão dos povos bárbaros – teutões e cimbros – que se tinham deslocado
desde Jutlândia até ao sul de Gália e norte de Itália puseram em primeiro plano
a figura de Caio Mário, representante do partido popular e hábil chefe
militar. Ele foi o artífice de uma reforma do exército (c. 107 a. C.)
que teve consequências importantes; com efeito, recrutou também os pobres e os
itálicos, aos quais concedeu um pagamento e o direito a uma parte dos despojos
de guerra. Desta forma, produziu-se uma transformação radical na composição do
exército, que se tornou profissional, mais vinculado ao chefe, que o recrutava
e o mantinha economicamente, do que às instituições do estado.
(Foto, estela funerária de
Flávio Basso (Museo della Civiltá Romana, Roma). Entre os romanos a escultura
gozava de uma grande popularidade.)
Por não se solucionar o
problema da concessão de cidadania aos itálicos, que já havia sido abordado na
época dos Gracos sem nenhum êxito, em 91 a. C. explodiu um confronto armado (guerra
social) ente Roma e os seus antigos aliados (socci). Estes formaram
uma liga cuja capital estava perto da cidade de Corfínio, nos actuais Abruzos,
rebatizada com o nome de Itálica. Após sofrer numerosas derrotas Roma aplicou
uma política de concessões diferenciadas de cidadania, que debilitou a união de
seus adversários. A guerra terminou em 89 a.C. Em linhas gerais, os povos
itálicos conseguiram os direitos que pediam. Em 82 a. C., após uma inflamada e
sangrenta guerra civil, primeiro contra Caio Mário e, depois da sua morte,
contra seus seguidores, subiu ao poder Lúcio Cornélio Sila, que se fez
nomear ditador vitalício e desencadeou uma feroz repressão contra os
partidários de Mário. Para isso valeu-se de umas listas de proscrição
nas quais apareciam os nomes daqueles que deviam ser condenados á morte, cujos
bens seriam confiscados. No terreno político procurou reforçar o poder do
senado e diminuir o dos tribunos da plebe e o dos patrícios. Além disso
estabeleceu limites mínimos de idade para acesso a várias magistraturas e a
hierarquia com que deviam ser preenchidos os lugares. Em 79 a. C. Sila abdicou
e retirou-se para Cumas, onde morreu no ano seguinte.
(Foto,
cabeça de Cneu Pompeu Magno, valente general romano, (106- 48 a.C.), numa cópia
da época Claudia (Museu Arqueológico de Veneza.)
Os anos imediatamente
posteriores caracterizaram-se por duas graves tentativas de rebelião. A primeira
aconteceu em Hispânia, onde os lusitanos se revoltaram novamente, encabeçados
por Quinto Sertório, um general partidário de Mário, que após uma série de
êxitos contra os exércitos romanos apoderou-se de grande parte da Península
Ibérica. Roma enviou Cneu Pompeu para combate-lo, um jovem procônsul que já se
tinha distinguido ao serviço de Sila. Pompeu aproveitou as desavenças surgidas
entre os rebeldes e viu-se favorecido pelo assassinato de Sertório às mãos de Perpena,
outro chefe dos rebeldes. Com grandes dificuldades, em 71 a. C. conseguiu
restabelecer a ordem. A segunda rebelião (guerra servil) foi encabeçada
por um grupo de escravos que treinavam na escola de gladiadores de Cápua, aos
quais em pouco tempo uniram milhares de escravos fugitivos. Guiados por Espártaco,
durante mais de dois anos venceram os exércitos romanos e saquearam a Itália,
até que o comando das operações recaiu em Marco Licínio Crasso. Este foi limitando
o campo de acção dos rebeldes e conseguiu derrota-los em Apúlia. Espártaco foi
morto na batalha e aproximadamente 6000 dos seus companheiros foram crucificados
ao longo da Via Ápia. Os sobreviventes dirigiram-se para o norte e foram
aniquilados pelo exército de Pompeu, que voltava da Hispânia. Aproveitando o
descontentamento de boa parte da população, romana, Lúcio Sérgio Catilina,
um patrício que tinha sido lugar-tenente de Sila e por duas vezes havia tentado
ser cônsul, sem o conseguir, organizou em 62 a. C. uma conspiração que, mal
organizada, foi frustrada pelo cônsul e famoso orador Marco Túlio Cícero.
Muitos dos conjurados foram detidos e julgados de forma sumária. Catilina, que
se tinha unido na Etrúria a um exército de revoltosos, morreu na batalha de
Pistóia (62 a. C.)
Em 60 a. C. os três homens
mais poderosos de Roma – Crasso, César e Pompeu –
assinaram um acordo particular de aliança (o primeiro triunvirato).
Graças a ele, César chegou a cônsul e, no ano seguinte, obteve o governo da
Gália Cisalpina e da Gália Narbonense, e permaneceu cinco anos no cargo. Esta circunstância
permitiu-lhe ocupar o único posto de comando militar que o podia levar a tomar
o poder. Em Luca, em 56 a. C., numa nova reunião, César viu prorrogado por três
anos o seu mandato sobre a Gália, enquanto que Pompeu e Crasso corresponderam
respectivamente a Hispânia, a Síria e a África. A morte de Crasso em mãos dos
partos, na batalha de carras, agudizou a rivalidade entre césar e Pompeu. Em 49
a. C. Pompeu conseguiu que o Senado lhe desse poderes extraordinários ,
enquanto que a posição política de César tornou-se cada vez mais precária. Vendo
que todas as tentativas de pacto com Pompeu e o Senado era inútil, César
decidiu atravessar o rio Rubicão, fronteira entre a Gália Cisalpina e a Itália,
e marchar para Roma (49 a. C.). Pompeu e a maioria dos senadores, surpreendidos
por esta jogada, fugiram para a Grécia, para depois dirigirem-se ao Oriente. O choque
final teve lugar em Farsália, Tessália, em 48 a. C. Pompeu, vencido, buscou
refúgio no Egipto, na corte do muito jovem Ptolomeu XII, que o mandou matar.
César voltou a Roma e empreendeu algumas reformas, mas despertou suspeitas de
pretender a restauração da monarquia. Em 15 de março de 44 a. C. (idos de
Março) caiu vítima de uma conjura urdida por elementos republicanos,
chefiados por Bruto, seu filho adotivo.
Os anos seguintes foram
marcados pelos confrontos entre os dois sucessores de César, Marco António
e Caio Otávio, também filho adoptivo de César e que com a adopção havia
passado a chamar-se Caio Júlio César Otaviano. Ambos chegaram a um
primeiro acordo em Bolonha, onde em companhia de Marco Emílio Lépido
formaram um triunvirato que oficialmente propunha a reorganização do Estado. Após
terem derrotado em Filipos os assassinos de César, os triunviratos repartiram
os territórios do Estado Romano. Otaviano ficou com a Itália e a Hispânia,
Lépido com a África e marco António com a Gália e o Oriente. Cedo Lépido foi
afastado e, a partir de 36 a. C.
Otaviano e Marco António governaram, respectivamente, o Ocidente e o
Oriente. A intenção de António de criar no Oriente, coma ajuda da Rainha egípcia
Cleópatra, uma monarquia de modelo helenístico foi habilmente explorada com
fins propagandistas por Otaviano, que se proclamou único defensor dos antigos
costumes romanos.
Conseguiu assim que o senado
declarasse guerra a Cleópatra e em 31 a. C., nas águas do Actium, a frota
Otaviano venceu Marco Antônio e Cleópatra, que se suicidaram para não serem
capturados.
(Foto, columbário dos
libertos da casa Júlio-Cláudia (primeira metade do século I), Vigna Codino,
Roma.)
Octaviano, depois de tomar
as rédeas do poder romano em 27 a. C., devolveu ao senado e ao povo os poderes
especiais que lhe haviam concedido. Seu poder, na aparência igual ao de
qualquer outro magistrado, na realidade era superior, graças ao seu prestígio
pessoal. À medida que os anos foram passado, Otaviano foi acumulando cargos,
convertendo-se no único árbitro da situação (prínceps), ainda que, formalmente,
tenha continuado a respeitar os princípios republicanos. Para que seu poder
também tivesse um aspecto religioso, foi-lhe outorgado o título de Augusto
e desempenhou certas funções sacerdotais, como a de pontífice máximo.
(Foto, estátua de mármore do
Imperador Augusto (Museus do Vaticano, Roma.)
Augusto conquistou a parte
setentrional da Península Ibérica e criou a nova província da Lusitânia. Ampliou
o território da província Hispânia Citerior, que passou a chamar-se Terraconense,
e, juntamente com a Lusitânia, ficou sob o seu controle. Em troca, a Espanha
Ulterior, com o novo nome de Bética (Andaluzia), ficou sob o controlo do
senado. Estas províncias, nas quais se fundaram novas colônias, estavam
subdivididas em assembleias jurídicas (conventtus) qua abarcavam
numerosas comunidades urbanas onde se desenvolveu um culto autônomo ao
imperador.
Para assegurar o transito
pelos Alpes e prevendo futuras campanhas militares para expansão até á Europa
Central, entre 25 e 9 a. C., Augusto dominou vários povos alpinos que, graças
ao escarpado da região, conseguiram manter-se independentes. Tibério e Druso,
enteados de Augusto, distinguiram-se nesta campanha. Na política interna, Augusto
empreendeu a reorganização do exército, convertido em permanente, da frota, que
atracou nos portos de Ravena e cabo Miseno, da burocracia e das emissões
monetárias. Além do fisco, do tesouro pessoal do Imperador (distinto do erário)
e do tesouro do Estado, em 6 d.C. foi criado o Erário militar para aliviar o
passivo originado pelos gastos militares. Além disso, Augusto promulgou uma
série de disposições para proteger a moralidade dos costumes, como a lei sobre
o adultério, e par estimular o crescimento demográfico, como os impostos que
taxavam os solteiros, viúvos, divorciados e casais sem filhos, ao lado da
facilidades e honras para aqueles que tinha três filhos ou mais. Por último,
fez uma nova organização da cidade de Roma, dividida em 14 distritos, e da
Itália, cujo território foi dividido em 11 regiões.
Em 14 d. C. Augusto morreu
sem deixar herdeiros, já que todos os sucessores por ele designados
desapareceram um atrás do outro. Tibério, da família dos cláudios e
filho do primeiro casamento de Lívia, sua terceira esposa, foi seu sucessor. No
princípio, Tibério seguiu uma trajectória política moderada, procurando conter
os gastos e reforçar as fronteiras do Império, mas depois devido a algumas
dificuldades na administração do Estado e à reduzida aprovação que encontrou
entre os seus súditos – foi acusado de ter matado o seu sobrinho Germânico em
19 d. C. – foi endurecendo a sua postura. Vários anos depois, em 27, talvez
devido aos atentados contra a sua vida, exilou-se na Ilha de Capri. O afastamento
voluntário do Imperador aumentou em Roma o poder do Cônsul e prefeito do
pretório Sejano, que em 31 tentou tomar o poder com um golpe de estado. Tibério
descobriu a conspiração e fez com que Sejano fosse executado.
Em 37 Tibério morreu e foi
aclamado o seu sucessor o jovem filho de Germânico, Caio César, chamado
Calígula. Ele tratou de abandonar a forma de principado criada por Augusto para
instaurar, através do terror, uma monarquia absoluta do tipo oriental.
(Foto, pessoas surpreendidas
num porão durante a trágica destruição de Pompeia pela erupção do Vesúvio em 79
a. C.)
Em 41, de pois de quatro
anos de reinado, morreu juntamente com a esposa e a única filha, ás mãos dos
pretorianos, que proclamaram Cláudio, irmão de Germânico, como Imperador. Claúdio
ampliou e reforçou o domínio de Roma e concedeu a cidadania romana aos membros
mais importantes das populações das províncias. Para facilitar a administração
do Império, concentrou o aparelho burocrático imperial em vários departamentos,
nele colocou os seus fiéis libertos, o que lhe valeu a má vontade da
aristocracia. Também se deve a ele uma intensa política de obras públicas, ás
vezes de grande envergadura, como a construção do porto de Óstia e a secagem do
lago Fucino. Em 48 mandou executar a sua terceira esposa Messalina, acusada de
adultério e de conspirar contra ele, e casou-se com Agripina, que o convenceu a
adoptar seu filho Nero. Cláudio morreu repentinamente em 54, talvez assassinado
por sua mulher, que convenceu os pretorianos a reconhecer Nero como Imperador.
Nos primeiros anos do seu reinado, o jovem imperador foi assistido por sua mãe
e prestigiosos conselheiros, como o filósofo Sêneca e o chefe dos pretorianos,
Afrânio Burro. A sua política era moderada e conciliadora com os senadores. O assassinato
de sua mãe em 59, organizado por ele mesmo, coincidiu com profundas mudanças na
política económica, como a revalorização das moedas de prata em relação às de
Ouro para favorecer as classes inferiores, e coma tentativa de instaurar a
monarquia absoluta. Em 64, um violento incêndio, que destruiu grande parte de
Roma, serviu de pretexto para ser desencadeada a primeira perseguição contra os
cristãos.
Nos anos seguintes, Nero
esmagou duas tentativas de conspiração, em consequência das quais se suicidaram
intelectuais como Sêneca, Lucano e Petrônio. Em 68, na Hispânia, Galba e Otão,
governadores das províncias Terraconense e Lusitânia, respectivamente, se
sublevaram e marcharam sobre Roma com as suas legiões.
(Foto,
um denário com o busto de Tibério (34-47 d. C.)
Nero, após uma tentativa frustrada
de fuga, fez com que um escravo o matasse. Entre 68 e 69 sucederam-se três
imperadores (Galba, Otão e Vitélio), até que Flávio Vespasiano, chefe das
tropas que estavam a lutar na palestina contra a rebelião judia, tomou o poder.
Aplicou uma rígida política de saneamento financeiro do estado, mas também
impulsionou obras públicas grandiosas, como o Anfiteatro Flávio, que depois
seria chamado Coliseu. Com a sua morte, em 79, sucedeu-lhe o filho Tito.
Durante o seu reinado aconteceram duas grandes calamidades: a erupção do
Vesúvio, que destruiu as cidades de Pompeia, Herculano e Estábias (79), e um
grande incendio seguido de uma epidemia, que assolaram Roma (80).
Seutônio: Vida dos doze
Césares
O historiador Suetônio fez um retrato
particular de Augusto que contrasta singularmente com as representações
oficiais: «Prestava pouca atenção á comida e tinha gostos corriqueiros. Agradava-lhe
sobretudo o pão de qualidade comum, os peixes, o queijo de leite de vaca feito
á mão, os figos tenros ou não […] Por sua natureza era muito moderado no beber.
Cornélio Nepote conta-nos que no acampamento de Módena não acontecia de beber
mais de três vezes a cada refeição […] ele gostava muito de vinho rético, mas
nunca o bebia durante o dia.
Se tinha sede, em vez de
beber, tomava pão empapado em água fresca, ou uma rodela de pepino, ou uma
folha de alface, ou alguma fruta de suco ácido e vinhoso. Depois de comer descansava
um pouco sem desnudar-se ou descalçar-se, destapando as pernas e protegendo os
olhos com as mãos; depois de cear retirava-se para o seu leito de trabalho,
onde ficava até tarde a despachar todos os assuntos daquele dia, ou grande parte
deles. Depois ia para o seu dormitório e não dormia mais de sete horas, e
frequentemente nem sequer seguidamente, porque acontecia despertar três ou
quatro vezes […] Equilibrava-se mal com a bacia, o músculo e a perna esquerda,
de modo que, às vezes, coxeava e curava-se com banhos de lama e areia. Todos os
anos, periodicamente, padecia de várias doenças. Geralmente sentia-se mal nos
dias anteriores ao seu aniversário; e no começo da primavera inchava-lhe a
barriga, enquanto que quando soprava o siroco sentia a cabeça pesada […] no inverno protegia-se do frio agasalhava-se
com uma toga e quatro túnicas; além dos calções e meias grossas, vestia uma
camisa e um colete de lã.
No verão dormia com as portas
da alcova abertas, e ás vezes também dormia no peristilo, junto ao jorro de uma
fonte ou obrigava alguém para o abanar. Não podia suportar o sol, nem no
Inverno e nunca saia ao exterior sem chapéu, nem sequer no pátio da sua casa.
Seutônio, Vida dos doze
Césares, Vol. II, pp. 76-78 e 81-82.
Fonte: Enciclopédia Grande
História Universal
Texto/Autor: Elisabetta Bovo
/Alfredo Buonopane
Fotos da Enciclopédia