César
101 – 44 antes de J. C.
Magistrado supremo da
Républica romana, encarregado, em circunstancias extraordinárias, de substituir
os dois cônsules e possuído por um poder absoluto, o Ditador ficou com o seu
nome no vocabulário corrente, para designar todo aquele que, general vitorioso,
presidente da Républica, ministro ou simples particular, se arvorou com plenos
poderes ou os recebeu dos corpos constituídos, para governar o Estado.
César, o grande
predecessor, o modelo e o inspirador de todos os ditadores que apareceram
depois dele. Foi homem de génio, e sob todos os aspectos: militar, político,
oratório, literário. Ambicioso, até ao ponto de não admitir que fosse o segundo
em Roma; aristocrata por nascimento, por natureza e por carácter, mas democrata
por cálculo até à demagogia, afasta-se do partido conservador onde só vê
rivais, e volta-se para o povo que cumula de favores, para os soldados, a quem
causa extraordinária admiração. Junta vitórias sobre vitorias em todos os
campos de batalhas do mundo antigo e nas questões da política. Um chefe que vem
acabar somente pelo assassinato.
Quando, em 78, a morte
de Sila lhe deixou o campo livre, sobe ao poder, solicita, umas após outras, todas
as funções, empregando para as obter todos os meios, mesmo os bons. Tribuno dos
soldados, consegue a simpatia dos tribunos do povo.
Questor em Espanha, não
perde o seu tempo; voltando para Roma, vai pacificar algumas colónias latinas
que pretendiam revoltar-se. Não abandona, todavia, o caminho legal: torna-se
sucessivamente edil, soberano pontífice, pretor e, como chefe da justiça,
instruir com brandura o processo da conjuração Catilina. O pretoriado levou-o a
um governo de província, pelo que foi para Espanha. Ao voltar a Roma, para
entrar no consulado, aproxima-se dos chefes do partido conservador, casa com
Calpúrnia em quartas núpcias, entrando assim na família patrícia dos Pisões;
tornou Pompeu seu genro, casando-o com a sua filha Júlia; alia-se com Crassus,
o rico banqueiro.
Em 59 é nomeado cônsul,
parece ter ganho a partida. Consegue afastar Bìbulos, seu colega, e passa a
governar, de facto, como ditador. Jogos, distribuições de trigo, concessões de
terras, confirmam as suas mãos largas para o povo. Mas a oposição começou a
guerreá-lo, obrigando-o, depois do seu consulado, a aceitar o governo da Gália
latina. Então, exorbitando do seu poder, empreende e consegue a conquista de
Gália transalpina, entra na Grã-Bretanha, passa para além do Reino; depois,
quando estava senhor de tropas que lhe eram devotadas e de despojos que o
haviam tornado prodigiosamente rico, tira a máscara e, como resposta às censuras
do Senado, passa o Rubicão, apequena ribeira limite da Itália propriamente
dita, que era interdito transpor a qualquer general com as suas tropas.
Legionário romano, com a adaga rectangular, o gládio e a lança
Ao terem conhecimento
dessa nova, o Senado, os cônsules, Pompeu, põem-se em fuga; em menos de
sessenta dias, César esta senhor de Itália. Começa então uma assombrosa série
de vitórias: vence os lugares-tenentes de Pompeu em Espanha, o próprio Pompeu
na Grécia (Farsália); e catão, que representava a última esperança do Partido Republicano,
é batido em África: entrando novamente em Roma, recebe, com as honras do
triunfo, a ditadura por dez anos. Uma última Victória sobre o filho de Pompeu,
e fica ditador para toda a vida.Legionário romano, com a adaga rectangular, o gládio e a lança
O primeiro destes títulos
torna-o chefe da república. Pertenciam-lhe, com efeito, como principais
prerrogativas, além do poder tribunício, o comando único e permanente de todas as
legiões; o direito de declarar a guerra e de fazer a paz; o de indicar os
governadores das províncias pretorianas, mesmo das mais importantes; o de
nomear os magistrados curules; o de ser o primeiro a falar nas sessões do
Senado; o de presidir aos jogos, o que era uma inapreciável dignidade, etc.
Acessoriamente, o
vencedor de Gália e de Pompeu foi considerado como um semi-deus. Mostra-o uma
inscrição gravada no Capitólio, junto da sua estátua, em frente da de Júpiter.
Não parece que a
ditadura por toda a vida acrescentasse ao seu poder mais nada que uma maior
duração. Entretanto o Senado, ainda faz melhor; desapossa-se, em seu favor, da
administração do erário publico, proclama-o o Pai da Pátria e tem a honra de
organizar a sua guarda particular. Todo o estado, decididamente, se resume a ele.
No decorrer dos dois
breves anos (46-44) em que o deixaram em sossego os seus inimigos políticos,
manifesta-se um hábil administrador. Agricultura, colonização, justiça,
obras-publicas, a tudo presta atenção, tudo dirige com tanta competência como a
que manifestara na guerra.
Às honras que lhe
concediam respondia ele com liberalidades para o povo e para os soldados; aos
veteranos que lhe pediam para repousar das fadigas da guerra, concede-lhes
tratos de terra para cultivarem; a todos os legionários, prémios, aumentos de
sôldo; dos sem-trabalho faz colonos das regiões conquistadas; aos seus inimigos
políticos concede uma generosa amnistia…
Local onde Julio César foi assassinado
Mas nada faz desarmar o
ódio de certos adversários, ambiciosos e insaciáveis. Aqueles a quem César tudo
perdoara, não lhe perdoam; e nos idos de março, em plena sessão do Senado, foi
raivosamente atravessado por vinte e três punhaladas, pelos mesmos que julgava
serem seus amigos.
Fonte: Almanaque Lello
/ 1934
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© Carlos Coelho