sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Paul Gauguin



Uma amendoeira estende os ramos por cima de uma campa discreta. Sobre uma pedra redonda, gravado numa laje, lemos em letras brancas: Paul Gauguin, 1848-1903. No cemitério de Atuona, na Ilha d’Hiva Oa, nas Marquesas, Polinésia, repousa o célebre pintor francês. Tal como Van Gogh (muito menos desprezado, no entanto), Paul Gauguin não assistiu em vida, ao reconhecimento da sua obra.

(“Cavaliers Sur la Plage”)

(“Vairumati (1892)”)

Até aos 34 anos teve uma vida perfeitamente normal. Foi aprendiz de piloto da marinha mercante e empregado de um agente de câmbios, tendo alcançado sucesso como corrector da Bolsa de Paris. Começou a sua actividade na pintura na qualidade de amador e expôs, pela primeira vez, no ano de 1876. Foi em 1883 que rompeu radicalmente com o passado, ao sair de casa, abandonando a família e um emprego estável. Mudou-se para Pont-Aven, na Bretanha, onde repartiu a casa com o pintor Charles Laval. Posteriormente, fez uma série de viagens e regressa, novamente á Europa. Em Arles, aprofunda a sua relação com Van Gogh, de quem se tornaria grande amigo. Foi o próprio artista holandês que o convidou para uma estada em sua casa. Ao fim de alguns meses, uma terrível discussão entre os dois – ambos de temperamento difícil – colocou um fim à convivência. Gauguin partiu e Van Gogh, num acto de desespero e remorso, cortou a sua própria orelha.

(“Sob o Pandanus (1891”)

Paul Gauguin aproximou-se do impressionismo, na altura, uma corrente de pintura que fazia moda em Paris. No entanto, o pintor manteve sempre alguma relutância em relação a alguns métodos do movimento. O extremo cuidado com o tratamento da luz, típico dos impressionistas, era posto de lado pelo artista. Este entendia que a luz deveria ser “exterior” à pintura; por isso, centrava-se em aspectos “interiores”, como a superfície, a cor e o desenho. Por ter criado uma linguagem artística que contemplava a autonomia da cor e o tratamento do tema com expressão simbólica, Gauguin, a par de Cézanne e Van Gogh, foi integrado na corrente pós-impressionista. Este movimento surge, assim, como consequência da constante renovação e pesquisa plástica implementadas pelos pintores impressionistas.

(“O Nascimento de Cristo (Te tamari no atua) (1896)”)

Em reacção contra a rotina parisiense, Paul Gauguin sofreu de neurastenia. Por esta razão, em 1891, fugiu para o Taiti, num “acesso de irresponsabilidade”. Deixou a sua mulher no momento em que esta esperava o quinto filho. Alguns meses mais tarde, a mulher de Paul Gauguin voltaria para casa da família, em Copenhaga, com o intuito de proteger a sua prole.

(“Jeunne Fille á La Mangue”)

O Taiti deslumbrou Gauguin. Andou descalço por aquelas terras paradisíacas, pescou com os aldeões e partilhou a sua vida com uma jovem havaiana, de quem teve um filho. À procura de dinheiro e sedento de reconhecimento público, o pintor regressa a Paris. Porém a venda dos seus quadros é um fracasso. Em 1895, parte, novamente, para o Taiti.

No cais da estação de comboios de Lyon, Paul Gauguin está lavado em lágrimas, pois sabe que nunca mais regressará a França.

(“Spirit of the Dead”)

Um novo ponto de viragem dar-se-ia na vida de Gauguin quando um merchand d’art lhe oferece uma mensalidade de 300 francos pela produção de quadros. Com este dinheiro, o pintor parte para as Ilhas Marquesas, na Polinésia, e instala-se numa palhota de bambu. Como provocador que era, baptiza-a com o nome de Casa do Orgasmo e aí “acolhe” uma rapariga muito jovem, espicaçando o colégio interno católico seu vizinho. Desta união, e tal como tinha acontecido no Taiti, nasce mais uma criança, da qual descende todo o ramo genealógico de Gauguin nas Ilhas Marquesas.

No centenário da sua morte, toda a família do pintor se juntou para a fotografia, na ponte do Iate Paul Gauguin. Encontramos maria, bisneta Dinamarquesa do pós-impressionista, tal como uma amálgama de casais, de filhos e netos, todos eles descendentes seus nos mais diversos graus. Além disso, os habitantes de da Atuona, uma “capital de bolso” nos trópicos participaram nas celebrações do centenário da sua morte. Sem ressentimentos, o pároco daquela localidade celebrou uma grande missa em memória do artista e foi inaugurado um centro cultural dedicado a Gauguin.

(“Two Thaitian Woman”)

Como nos tempos de Koke (contracção do nome de Gauguin no idioma marquisienne), as jovens desfilaram envergando vestidos de missionárias, retomando, assim, a pose dos quadros mais célebres do pintor. Por fim, esteve patente, no Grand Palais, em Paris, uma exposição intitulada Gauguin – Tahiti, L’Atelier des Tropiques, focalizada em torno das duas estadas consecutivas do artista no Taiti (1891-1893, 1895-1901) e, depois nas Ilhas Marquesas (1901-1903). Desde 1949 que não era feita uma mostra desta dimensão com os seus trabalhos.

(“Ta Matete”)

A “viagem” que iniciou no pacífico começa a ser entendida como uma grande aventura. No fundo, e como muitos acreditam, esta foi uma entrega á sua grande paixão: a pintura. No meio dos autóctones, livrou-se das influências da civilização. Nada mais quis do que a arte simples, muito simples e, para o conseguir, necessitou de se retemperar na natureza virgem…

Fonte: Revista Vip

Texto/Autor: Jorge Freitas Ferreira

Fotos da net

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