Liberdade para estudar há
733 anos.
A universidade portuguesa é
uma das mais antigas do mundo. Num documento com o selo de D. Dinis, datado de
1 de Março de 1290, o rei anuncia ter decidido ordenar a criação, em Lisboa, de
um Estudo Geral – em honra de Deus, da Virgem maria e de S. Vicente (padroeiro
da cidade) – com “cópia de doutores em todas as artes e robustecida com muitos
privilégios”, garantindo ainda a protecção dos estudantes.
Cinco meses depois, a 9 de
Agosto, o Papa Nicolau IV confirmou a fundação da Universidade pela bula De
statu regni Portugaliae, lembrando que alguns prelados, abades de Cister,
priores das Ordens de santo Agostinho e de S. Bento e reitores de algumas igrejas
seculares tinham prometido pagar, das suas rendas o salário dos mestres. Na mesma
bula, o Papa aprovava o ensino das “faculdades lícitas”, com excepção de
Teologia (cujo estudo ficava reservada aos frades dominicanos e franciscanos;
só mais tarde integrou a Universidade): artes (incluindo a Gramática, a Lógica
e a Filosofia Natural, antepassada das ciências), Direito Canónico, Direito
Cívil e Medicina.
A Universidade ficou
instalada em Lisboa, perto de S. Vicente de Fora, onde ainda hoje fica a Rua
das Escolas Gerais. Em 1308, D. Dinis decide transferir o Estudo Geral para
Coimbra, atribuindo-lhe o Paço Real da Alcáçova. Ali se mantém até 1338 quando
foi de novo transferida para Lisboa, mas por pouco tempo: em 1354 voltou a Coimbra,
regressando à capital em1377, onde ficou quase dois séculos. Em 1537, já no
reinado de D. João III, foi instalada definitivamente em Coimbra, dominada pela
torre do sino que gerações de estudantes conheceram como “a cabra”.
Os primeiros estatutos da
universidade, Magna charta privilegiorum, datam ainda do reinado de D. Dinis,
em 1309. Em 1431, o Infante D. Henrique, então protector da Universidade,
atribuiu novos estatutos, no mesmo ano em que fez uma doação de casas, em Lisboa,
para instalar as aulas de Geometria, Astronomia, Aritmética e Música.
O título de protector passou
a pertencer a rei a partir de D. Manuel I, que, em 1503, outorgou novos
estatutos. Em 1513 foi criada a cátedra de Astrologia – que incluía o ensino de
matemática e da Astronomia. Foi como professor dessas matérias que se
distinguiu Pedro Nunes, já depois da transferência definitiva para Coimbra.
Em 1559, o cardeal D.
Henrique, em nome de D. Sebastião, fundou a Universidade de Évora. Dirigida
pelos jesuítas, foi extinta exactamente 200 anos depois, em 1759, quando o
Marquês de Pombal expulsou de Portugal a Companhia de Jesus. Também em 1559
entraram em vigor novos estatutos em Coimbra, que viriam a ser alterados em
1591, por Filipe I.
Nos séculos XVII e XVIII, a
Universidade entrou num período de decadência. Enquanto na europa se vivia a
revolução científica das experiências e dos laboratórios Coimbra entrincheirava-se
em defesa da Física aristotélica e repudiava as descobertas de Descartes e
Newton. Luís António Verney, em O verdadeiro Método de Estudar, publicado em
1746, denunciava o atraso e dava o exemplo da Faculdade de Medicina, onde a
anatomia humana era aprendida em carneiros. É tambémVerney quem, perante o
panorama da educação em Portugal, desabafa: “É lástima que homens que passaram
tantos anos nas escolas não saibam escrever uma carta!” A situação só mudou com
a reforma radical da universidade imposta pelo Marquês de Pombal e pelo reitor-reformador
D. Francisco de Lemas, em 1772.
Datam dessa altura o
laboratório Químico, o Jardim Botânico, o gabinete de física e o Observatório
Astronómico, que colocaram Coimbra na vanguarda da ciência experimental
europeia. No século XIX a universidade afastou-se do espírito da reforma
pombalina e voltou a fechar-se sobre si própria. Em 1911, a Républica acabou
com o monopólio de Coimbra e criou as Universidades de Lisboa e do Porto.
(Universidade
de Coimbra)
O Fundador D. Dinis
O primeiro Rei de Portugal
que foi mais governante do que guerreiro – passou á História como “o Lavrador”
-, D. Dinis (1261-1336), “nacionalizou” as ordens religiosas e salvou os
templários portugueses ao criar a Ordem de Cristo. Desenvolveu a agricultura e
prometeu o povoamento. Além de ter fundado a universidade, protegeu a cultura,
tendo sido ele próprio poeta. Foi durante o seu reinado que os documentos
oficiais passaram a ser escritos em português.
Fonte: Revista Notícias
Sábado
Texto/autor: João Ferreira
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