quarta-feira, 1 de março de 2023

A Universidade chegou a Portugal no dia 1 de Março de 1290

 Liberdade para estudar há 733 anos.

A universidade portuguesa é uma das mais antigas do mundo. Num documento com o selo de D. Dinis, datado de 1 de Março de 1290, o rei anuncia ter decidido ordenar a criação, em Lisboa, de um Estudo Geral – em honra de Deus, da Virgem maria e de S. Vicente (padroeiro da cidade) – com “cópia de doutores em todas as artes e robustecida com muitos privilégios”, garantindo ainda a protecção dos estudantes.

Cinco meses depois, a 9 de Agosto, o Papa Nicolau IV confirmou a fundação da Universidade pela bula De statu regni Portugaliae, lembrando que alguns prelados, abades de Cister, priores das Ordens de santo Agostinho e de S. Bento e reitores de algumas igrejas seculares tinham prometido pagar, das suas rendas o salário dos mestres. Na mesma bula, o Papa aprovava o ensino das “faculdades lícitas”, com excepção de Teologia (cujo estudo ficava reservada aos frades dominicanos e franciscanos; só mais tarde integrou a Universidade): artes (incluindo a Gramática, a Lógica e a Filosofia Natural, antepassada das ciências), Direito Canónico, Direito Cívil e Medicina.

A Universidade ficou instalada em Lisboa, perto de S. Vicente de Fora, onde ainda hoje fica a Rua das Escolas Gerais. Em 1308, D. Dinis decide transferir o Estudo Geral para Coimbra, atribuindo-lhe o Paço Real da Alcáçova. Ali se mantém até 1338 quando foi de novo transferida para Lisboa, mas por pouco tempo: em 1354 voltou a Coimbra, regressando à capital em1377, onde ficou quase dois séculos. Em 1537, já no reinado de D. João III, foi instalada definitivamente em Coimbra, dominada pela torre do sino que gerações de estudantes conheceram como “a cabra”.

Os primeiros estatutos da universidade, Magna charta privilegiorum, datam ainda do reinado de D. Dinis, em 1309. Em 1431, o Infante D. Henrique, então protector da Universidade, atribuiu novos estatutos, no mesmo ano em que fez uma doação de casas, em Lisboa, para instalar as aulas de Geometria, Astronomia, Aritmética e Música.

O título de protector passou a pertencer a rei a partir de D. Manuel I, que, em 1503, outorgou novos estatutos. Em 1513 foi criada a cátedra de Astrologia – que incluía o ensino de matemática e da Astronomia. Foi como professor dessas matérias que se distinguiu Pedro Nunes, já depois da transferência definitiva para Coimbra.

Em 1559, o cardeal D. Henrique, em nome de D. Sebastião, fundou a Universidade de Évora. Dirigida pelos jesuítas, foi extinta exactamente 200 anos depois, em 1759, quando o Marquês de Pombal expulsou de Portugal a Companhia de Jesus. Também em 1559 entraram em vigor novos estatutos em Coimbra, que viriam a ser alterados em 1591, por Filipe I.

Nos séculos XVII e XVIII, a Universidade entrou num período de decadência. Enquanto na europa se vivia a revolução científica das experiências e dos laboratórios Coimbra entrincheirava-se em defesa da Física aristotélica e repudiava as descobertas de Descartes e Newton. Luís António Verney, em O verdadeiro Método de Estudar, publicado em 1746, denunciava o atraso e dava o exemplo da Faculdade de Medicina, onde a anatomia humana era aprendida em carneiros. É tambémVerney quem, perante o panorama da educação em Portugal, desabafa: “É lástima que homens que passaram tantos anos nas escolas não saibam escrever uma carta!” A situação só mudou com a reforma radical da universidade imposta pelo Marquês de Pombal e pelo reitor-reformador D. Francisco de Lemas, em 1772.

Datam dessa altura o laboratório Químico, o Jardim Botânico, o gabinete de física e o Observatório Astronómico, que colocaram Coimbra na vanguarda da ciência experimental europeia. No século XIX a universidade afastou-se do espírito da reforma pombalina e voltou a fechar-se sobre si própria. Em 1911, a Républica acabou com o monopólio de Coimbra e criou as Universidades de Lisboa e do Porto.

(Universidade de Coimbra)

O Fundador D. Dinis

O primeiro Rei de Portugal que foi mais governante do que guerreiro – passou á História como “o Lavrador” -, D. Dinis (1261-1336), “nacionalizou” as ordens religiosas e salvou os templários portugueses ao criar a Ordem de Cristo. Desenvolveu a agricultura e prometeu o povoamento. Além de ter fundado a universidade, protegeu a cultura, tendo sido ele próprio poeta. Foi durante o seu reinado que os documentos oficiais passaram a ser escritos em português.

Fonte: Revista Notícias Sábado

Texto/autor: João Ferreira

Fotos da net

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