Outra vez independentes
Ao fim de 60 anos de
domínio espanhol Portugal voltou a ter um rei português.
A 1 de dezembro de
1640, uma conspiração de nobres acabou com a união ibérica e aclamou rei D.
João IV (1604-1656). Quem restaurou a independência e entregou a coroa ao duque
de Bragança foram os sucessores dos nobres que em 1580 tinham reconhecido a
legitimidade de Filipe I (II de Espanha) porque este lhes garantia os seus
privilégios e interesses. Passados 60 anos, não quiseram suportar mais o peso
dos impostos, as guerras e as desc0nsiderações do Governo de Madrid.
Quando Filipe II de
Portugal (III de Espanha) fez a sua entrada solene em Lisboa, em junho de 1619,
foi recebido com festejos. Mas ao fim de poucas semanas de permanência eram
constantes os conflitos entre nobres portugueses e espanhóis da comitiva real.
Foi o último espanhol a visitar Portugal como rei do nosso país.
Filipe II de Portugal (III de Espanha)
Em 1621, sucedeu-lhe
Filipe III (IV de Espanha), que entregou o Governo a Gaspar de Gusmão, conde-duque
de Olivares, estadista consciente da decadência do império espanhol e da
necessidade de reformas. Uma das principais passava pelo fim da autonomia
portuguesa – garantida nas Cortes de Tomar de 1581, que aclamaram Filipe I - e pela redução do país à condição de
província espanhola. Entre outras medidas, notou-se desde logo o agravamento
dos impostos destinados a financiar as guerras em que Espanha estava envolvida,
com destaque para a “meia anata”, paga pela nobreza, e para o “real da água”,
imposto indirecto sobre o consumo da carne e do vinho, que atingia toda a
população.
Filipe III (IV de Espanha)
Os nobres começaram a
conspirar. Os monges de Alcobaça forjaram documentos “históricos” para
legitimar a independência de Portugal, como as actas das Cortes de Lamego. O
povo reagiu com revoltas sucessivas, com destaque para o motim das Maçarocas,
no Porto, em 1629, e as “alterações de Évora”, em 1637. Os revoltosos chegaram
a dominar a cidade alentejana e a publicar manifestos assinados por um tal
Manuelino, um louco da terra.
Olivares percebeu que
por detrás destas insurreições “espontâneas” estava um movimento organizado
visando destruir a união ibérica. Ao rebentar a revolta da Catalunha, em junho
de 1640, Olivares convocou todos os nobres portugueses para acompanharem o rei
a Aragão.
Revolta da Catalunha, em junho de 1640
A convocatória visava sobretudo o duque de Bragança, D. João, que no
ano anterior fora nomeado “governador geral das armas do reino de Portugal”. O
cargo destinava-se a mantê-lo sobre vigilância – ou não fosse ele o herdeiro da
última dinastia portuguesa, logo o principal pretendente à coroa, no caso de
uma eventual restauração da independência.
Sempre que o duque de
Bragança saía da sua “corte” de Vila Viçosa e se deslocava a Lisboa ou a outra
localidade era recebido com banhos de multidão. Foi o que aconteceu em Almada,
em junho de 1639, onde quatro nobres (D. Antão de Almada, D. Miguel de Almeida,
Jorge de Melo e Pedro de Mendonça Furtado) lhe expuseram os planos para
derrubar o Governo de vice-rainha D. Margarida, duquesa de Mântua.
D. Margarida, duquesa de Mântua
D. João não se comprometeu,
mas nomeou um homem da sua confiança, João Pinto Ribeiro, para acompanhar os
conspiradores.
Na manhã de 1 de
dezembro de 1640, os conjurados entraram no palácio do Governo, ao rossio (hoje
palácio da independência), dominaram os guardas, prenderam a vice-rainha,
mataram o secretário do Governo, Miguel de Vasconcelos, considerando português
traidor, e atiraram-no de uma janela. Foi dessa janela, perante o povo que,
entretanto, acorrera ao Rossio, que o velho D. Miguel de Almeida aclamou o
duque de Bragança como rei D. João IV.
D. João IV
Os representantes do
povo apoiaram desde logo o golpe da nobreza, que contara com a conivência do
clero, designadamente do bispo de Lisboa e dos jesuítas.
Apanhado de surpresa, O
Governo espanhol tardou a reagir,ocupado com a repressão da revolta da
Catalunha. O compasso de espera revelou-se precioso para sobrevivência da nova
dinastia portuguesa. Aclamado em todo o país e na maior parte do Império
ultramarino (com a excepção de Ceuta), D. João IV mobilizou todos os recursos para
a defesa.
A guerra da Restauração
durou 28 anos. Em 1668, pelo tratado de Madrid, a Espanha reconheceu a
independência de Portugal.
D. Luisa de Gusmão
Antes morrer reinando
Consciente dos riscos
que corria como herdeiro dos reis de Portugal, o duque de Bragança ficou
conhecido pela prudência que punha em todos os seus actos. Dele se dizia que
“era bom confessor: ouvia e calava”. Ao contrário, a mulher, D. Luísa de Gusmão
(1613-1666), da mais alta nobreza espanhola, era voluntariosa, e notando no
marido sinais de hesitação instigou-o a aceitar a coroa que lhe ofereciam os
conspiradores do 1 de dezembro: “Antes morrer reinando que acabar servindo”,
terá dito.
Fonte: Revista Notícias
Sábado
Texto: João Ferreira
Fotos da Net
© Carlos Coelho