domingo, 17 de setembro de 2023

Os sete anões de Auschwitz

Nesta história também havia sete anões. Também viviam numa aldeia. Também se entretinham com música. Também andavam sorridentes. Mas não eram só homens, nem sequer tinham barba, como as personagens da lenda popular recolhida pelos irmãos Grimm há 201 anos. Estes anões reais pareciam bonecos de porcelana e andavam impecavelmente arranjados, segundo os relatos dos anos 30 e 40.

Por essa altura, os descendentes do judeu Shimshon Eizik Ovitz, também anão, eram famosos na Europa Central pelos seus espectáculos com “performances únicas”, mas caíram no esquecimento. A vida dos Ovitz (em especial a forma como sobreviveram ao Holocausto) só voltou a ser falada quando a estação Britânica ITV transmitiu na série Perspectivas o documentário Os Sete Anões de Auschwitz, história escolhida e narrada pelo actor anão Warwick Davis.

Quando os sete anões da Branca de Neve de Walt Disney surgiram no cinema, em 1937, os de origem romena, da aldeia de Rozavlea, tornaram-se estrelas. Eram a Trupe Lilliput e num espectáculo itinerante de duas horas interpretavam temas em iídiche (idioma judaico), húngaro, romeno, russo e alemão. E cada um tocava um instrumento miniatura. Por exemplo, Perla ficava com a guitarra, Rosyka e Franzika com os violinos. Frieda com o címbalo (de percussão com baquetas), Mieki com o acordeão e Elizabeth com o tambor. Tinham uma carreira de êxito, até  que na sexta-feira 19 de Maio de 1944 foram deportados para o maior campo nazi de extermínio de judeus: Auschwitz.

Á saída do comboio, os Ovitz não passaram despercebidos aos guardas SS, nem ao médico Josef Mengele, conhecido como O Anjo Exterminador. Mengele viu-os como extraordinárias cobaias humanas. “Queria descobrir as causas psicológicas e biológicas do nazismo e demonstrar a teoria racial, segundo a qual os judeus haviam degenerado numa estripe de anões e aleijados”, escreveu o jornal espanhol El Mundo.

Para concretizar as experiências, Mengele ofereceu-lhes condições privilegiadas: podiam usar penicos em vez de latrinas; manter a roupa e não rapar o cabelo. Em contrapartida, eram constantemente obrigados a recolhas de sangue e extracções de medula óssea, dentes, cabelos e pestanas. Mas a camara de gás estava reservada à família Ovitz, como a todos os outros. Um dia, os soldados empurraram-nos a todos, despidos, para as salas da morte. A execução colectiva foi interrompida por um grito: “Onde está a minha família de anões?!” Era Mengele. Continuaram vivos e a servir-lhe de cobaias.

Segundo ElizabethOvitz, o médico retirava fluidos da coluna vertebral dos anões, fazia diversos tipos de testes invasivos, incluindo ginecológicos e cerebrais, além de invadir regiões sensíveis como a boca e o nariz. O médico chegou a obrigar a família a ficar nua na frente do exército nazista, para que ele pudesse explicar suas conclusões sobre o nanismo.

Esse pesadelo durou sete meses, até que o campo de concentração fosse libertado, em janeiro de 1945. Os Ovitz retornaram então para Rozavlea, ao chegarem perceberam que a cidade estava um caos, assim como toda a Europa, porém, os seus bens ainda estavam escondidos no mesmo lugar.

Com esse dinheiro, eles migraram durante algum tempo até encontrarem seu novo lar em Israel, onde continuaram com apresentações da trupe até 1955. Os irmãos decidiram encerrar a companhia depois disso, já que estavam fisicamente muito desgastados.

Os anões viveram por muitos anos depois da tragédia pela qual passaram. Micki e Avram morreram em 1972, aos 69 e 63 anos respectivamente. Freida faleceu em 1985, aos 70 anos. Franzika morreu em 1980, aos 90 anos de idade, em 1984, foi a vez da primogênita Rosika, que se foi aos 98 anos. Elizabeth morreu aos 78 anos, em 1992. E Perla foi a última da família a morrer, em 9 de setembro de 2001, aos 80 anos.

A linhagem dos Ovitz continuou com o legado artístico da família, os anões homens tiveram filhos de altura normal, porém, as mulheres jamais conseguiram engravidar devido às experiências em Auschwitz.

O médico cruel

Josef Mengele mandou queimar outros anões do campo de extermínio.

Mengele era obcecado com anões e não os poupava em Auschwitz. Três meses antes da chegada dos Ovitz, o médico ordenou que queimassem os esqueletos de um anão corcunda e do filho. E mandou imergir em ácido o cadáver de outro anão.

Fonte: Revista Sábado

Texto: Raquel Lito

Fotos da net

Sem comentários:

Enviar um comentário